Mercado de trigo segue pressionado por oferta global recorde e importações mais competitivas

Publicado em 05/11/2025 16:25 e atualizado em 05/11/2025 16:55
Élcio Bento - Analista da Safras & Mercado
Com estoques elevados e preços internacionais em queda, o Brasil deve aumentar as compras de trigo da Argentina e do Paraguai, enquanto produtores do Sul enfrentam margens cada vez menores.
Podcast

Mercado de trigo segue pressionado por oferta global recorde e importações mais competitivas

Logotipo Notícias Agrícolas 

O mercado de trigo segue pressionado no Brasil, em um cenário marcado por custos elevados, baixa atratividade de preços e dificuldades financeiras entre os produtores, especialmente no Rio Grande do Sul. De acordo com o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, a combinação de preços baixos, safras sucessivas com perdas climáticas e custos elevados tem pressionado as margens dos produtores, especialmente no Rio Grande do Sul. “Os produtores investiram menos este ano, principalmente em defensivos. Muitos deixaram de fazer o tratamento preventivo contra doenças fúngicas e passaram a atuar de forma reativa”, afirmou.

A menor aplicação de defensivos, segundo Bento, resultou em maior incidência de giberela, doença que reduz a produtividade e compromete a qualidade dos grãos. O problema já provocou devoluções de cargas por ultrapassar limites de micotoxinas aceitos pela indústria moageira.

Mesmo com as chuvas recentes dificultando a colheita do trigo, o analista destaca que o clima pode favorecer o plantio da soja de verão no estado — um alívio parcial após anos de frustração. “A safra de inverno no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, é tradicionalmente usada para gerar renda que financia a safra de verão. Mas com os preços atuais, essa função fica comprometida”, explicou.

Oferta externa recorde pressiona o mercado interno

Bento projeta que o Brasil deverá importar entre 7 e 8 milhões de toneladas de trigo nesta temporada, um dos maiores volumes da história recente. Apesar de o Rio Grande do Sul ser o único estado com superávit na produção, o país como um todo tem déficit e depende de importações para atender a demanda interna.

A Argentina, principal fornecedora do cereal ao Brasil, deve colher uma safra recorde de 23 milhões de toneladas, o que torna o produto argentino altamente competitivo. “O trigo argentino chega ao Brasil, especialmente ao Nordeste, com preços muito mais vantajosos do que os do trigo brasileiro ou de outros exportadores, como Rússia e Estados Unidos”, destacou.

O Paraguai também se consolida como fornecedor relevante. Em 2024, exportou cerca de 600 mil toneladas ao Brasil, e a expectativa é de que esse volume aumente, favorecido pela logística terrestre, que facilita o acesso a moinhos do Paraná e do Mato Grosso do Sul.

No cenário global, a oferta também é abundante. “Os principais exportadores — Rússia, União Europeia, Canadá, Austrália, Estados Unidos, Ucrânia e Argentina — tiveram safras cheias. A nova safra de inverno no Hemisfério Norte está praticamente concluída e, até agora, em boas condições”, afirmou o analista.

Os preços internacionais seguem em patamares historicamente baixos. “As cotações atuais estão abaixo da média dos últimos 25 anos para outubro e novembro. Desde o pico da guerra na Ucrânia, o mercado vem se ajustando a uma realidade de estoques elevados e menor volatilidade”, explicou Bento.

Embora os Estados Unidos tenham mantido bom desempenho nas exportações, com destaque para novos embarques ao Sudeste Asiático e uma possível retomada de vendas à China, o volume global segue suficiente para manter o mercado equilibrado.

Com margens negativas e baixa atratividade do preço, o ânimo do produtor gaúcho é baixo. “Se nada mudar até o momento da decisão de plantio, devemos ver nova redução na área de trigo. No ano passado já houve queda de 20%”, apontou Bento.

Enquanto regiões do Cerrado demonstram mais otimismo, graças a uma boa rentabilidade na última safra, o Sul do país vive um ciclo de retração. “O sentimento no campo é de desânimo. A canola até surge como alternativa, mas ainda de forma tímida. Precisamos de uma virada no mercado para reanimar o produtor”, concluiu.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Por:
Andressa Simão | Instagram @apautadodia
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário