Açúcar: Tarefa hercúlea

Publicado em 04/04/2011 09:28
O mercado de açúcar em NY fechou a semana com pequena queda (5-10 dólares por tonelada) nos dois primeiros meses de negociação e altas de até 8 dólares por tonelada para os vencimentos mais longos. A curva de preços teve ligeira queda para os vencimentos curtos, mas os vencimentos a partir de outubro de 2011 subiram, como se a curva de preços fosse uma gangorra cujo ponto de apoio é em cima daquele mês.

Explicando melhor, o número de safra informado pela UNICA, sem surpresas para o mercado, mostra que estamos abaixo de nossa necessidade de cana, pois vamos produzir 568 milhões de toneladas de cana quando em verdade precisamos de 620-640 apenas no Centro Sul. Mas isso já está considerado no preço e a percepção de Índia exportando e de menor déficit mundial pressionam os vencimentos curtos que, por sua vez, refletem a demanda que está aí e não anima. No entanto, o problema de menor safra de cana vai estourar lá na frente e é lá que os preços apreciam. Teremos estoque de passagem estreito no final da 2011/2012, repetindo os preços altos do etanol já a partir de dezembro/2011. E a aderência do etanol com o açúcar se estreita a cada dia. A curva de preços do açúcar em NY a partir do vencimento de março/2012 se deslocou para cima com menor apreciação dos preços nos vencimentos mais curtos e com bem maior apreciação para os vencimentos mais longos.

O que o mercado parece tentar nos dizer?? “Não faça ainda hedge de venda para 2012/2013 em diante, pois o quadro tem muitas variáveis que podem alterar a curva mais positivamente”. Os valores em reais equivalentes para os vencimentos mais longos estão muito próximos uns dos outros. Isso é explicado pela combinação de uma curva descendente do açúcar (afinal estamos num mercado invertido) com uma curva ascendente de câmbio. Dessa forma, embora a diferença, por exemplo, entre os fechamentos de julho de 2011 para 2012 e deste para 2013 seja aproximadamente de 10% em dólares por tonelada, em reais a diferença míngua para 4-5%.

Rendimentos assim fazem coçar a mão e nem sempre os tomadores de decisão conseguem, podem ou querem correr o risco de não aproveitar preços remuneradores, afinal, esses compõem o bônus no final do ano. Talvez a solução seja um fence simples – acompra de uma put (opção de venda) com a venda de uma call, ou a venda de um put spread combinada com a compra de uma call, ou ainda, a compra de uma put combinada com a venda de um call spread.

Um “viva” para o contrato de etanol da BM&F Bovespa. A competente equipe agrícola da bolsa conseguiu colocar de pé o que parecia, há alguns anos, algo impossível: um contrato de etanol com liquidação financeira. Os números são animadores: quase 8.000 contratos em aberto dos quais cerca de 10% em opções. A projeção de volume em bases anuais sinaliza 7,5 bilhões de litros equivalente. Num seminário sobre açúcar e etanol ocorrido na semana que passou em São Paulo era comum nas rodas do cafezinho o comentário de vários participantes e potenciais operadores que olham o contrato como excelente ferramenta de proteção e arbitragem para esse mercado.

No mesmo seminário, aliás, foi lamentável a exposição de palestrantes ligados ao governo federal que parecem não enxergar a realidade do futuro do mercado de combustíveis no Brasil. Um deles disse que a única coisa que “o etanol tem que fazer é manter-se na paridade de 70% da gasolina” cujo preço Brasil, “está em linha com o mercado internacional” e, portanto não existem distorções entre eles. Veja bem, o etanol está no meio de duas commodities internacionais: açúcar e petróleo. Ambas são regidas pelas leis de mercado, leia-se oferta e demanda. Mas no Brasil, o produtor tem que viver o eterno dilema de produzir açúcar, para o qual ele pode visualizar o que o mercado futuro projeta em termos de preço e remuneração, ou produzir etanol, que fica aprisionado à paridade com a gasolina, cujo preço é controlado pelo governo. Manter a paridade enquanto o governo não tira o traseiro do conforto é, portanto, a missão hercúlea do produtor de etanol.

O velho argumento dos burocratas é que “quando o petróleo atingiu 150 dólares o barril no mercado internacional, o preço da gasolina no Brasil não mudou”. Uma bobagem sem precedente. Mercados controlados diminuem a transparência, aumentam a distorção de preços e afugentam os investidores. Tivéssemos um mercado de gasolina livre, o setor sucroalcooleiro teria se antecipado aos investimentos necessários e talvez não estaríamos hoje com um atraso na expansão que precisa atender a uma participação cada vez maior do etanol. Como é que faremos para atingir os 1 bilhão de toneladas de cana necessárias daqui a 5-6 anos? Como esperar que o etanol se torne uma commodity se um dos maiores produtores tem seu preço limitado e vinculado ao da gasolina controlada?

Como disse Marcos Jank, presidente da Única, e uma das cabeças mais privilegiadas e coerentes do setor, “não é só o preço da gasolina, existe um monte de impostos e um sistema [de impostos] muito complicado que poderia ser modificado, além do ICMS do etanol que precisaria ser equalizado”. Simples e objetivo.

Frase do ex-presidente José de Alencar, falecido na semana passada após lutar anos contra o câncer: ”Eu não tenho medo da morte, eu tenho medo da desonra”. Alencar foi um oásis no deserto que é a política brasileira, carente de homens de bem.

No Fundo Fictício da Archer Consulting, uma semana com um intervalo de preços pequeno é o sonho de todo vendedor de volatilidade. Dessa forma, sem fazer nada, apenas coletando time-value, adicionamos um ganho na semana de US$ 720,829.23 atingindo um ganho acumulado nesses 820 dias de existência de US$ 6,741,998.60 com rendimento líquido anualizado de 148,84%, ou seja, o dinheiro dobrou a cada 298 dias. Nosso delta está em 285 negativo e vamos zerá-lo na segunda-feira comprando na abertura.

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Fonte:
Archer Consulting

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