Café: Bolsa de NY encerra semana com alta de 730 pontos; AÇÚCAR: ENCANTADORES DE SERPENTE

Publicado em 09/10/2015 17:57
análises de EDUARDO CARVALHAES e RODRIGO COSTA (mercado de café); e ARNALDO LUIZ CORREA (mercado de açúcar)
As cotações do café continuaram pautadas pela forte volatilidade do dólar frente ao real com a séria crise política e econômica brasileira. 

O recuo do valor do dólar, nesta semana, frente ao real e o sentimento de estarmos dentro de um delicado equilíbrio entre produção e consumo mundial, com um saudável e claro crescimento no consumo global, levaram a uma reação nas cotações do café em Nova Iorque. Os contratos com vencimento em dezembro próximo na ICE Futures US acumularam alta de 730 pontos na semana. 

Com todas as dificuldades climáticas, financeiras e políticas que está enfrentando, o Brasil mostrou mais uma vez sua capacidade para liderar as exportações e o abastecimento do mercado internacional de café. Exportamos no último mês de setembro 3, 078 milhões de sacas de 60 kg de café. Chama a atenção o fato das vendas externas de cafés diferenciados, de melhor qualidade, já superarem 25% do volume total embarcado pelo país. Foram 6,7 milhões de sacas neste ano, até setembro. Os cafés diferenciados conseguem um bom ágio em relação ao padrão comum exportado tradicionalmente pelo país. 

Os esforços dos técnicos, agrônomos e cafeicultores brasileiros em aliar produtividade e qualidade mudaram, nos últimos 25 anos, a imagem do café brasileiro. Nossos cafés ganham participação maior a cada ano nos mercados de café “gourmet”, deslocando concorrentes e conquistando novos consumidores em países que começam a se tornar clientes importantes. 

84,2 % do café exportado pelo Brasil em 2015 foram embarcados no Porto de Santos. 

A broca do café continua provocando sérios prejuízos para a cafeicultura brasileira. Considerado uma das principais pragas da cafeicultura brasileira, o inseto ataca o grão no período de maturação. O produto que era utilizado no combate da praga foi banido pela ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária em 2013, por deixar resíduos no grão. O problema é que os novos defensivos disponíveis no mercado não apresentam a mesma eficiência e ainda aumentam o custo de produção por hectare (fonte: Canal Rural). 

O CECAFÉ – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, informou que no último mês de setembro foram embarcadas 3.078.667 sacas de 60 kg de café aproximadamente 2,6 % (89.966 sacas) a mais que no mesmo mês de 2014 e 6,8 % (197.499 sacas) a mais que no último mês de agosto. Foram 2.492.168 sacas de café arábica e 332.974 sacas de café conillon, totalizando 2.825.142 sacas de café verde, que somadas a 251.476 sacas de solúvel e 2.049 sacas de torrado, totalizaram 3.078.667 sacas de café embarcadas. 

Até o dia 8 os embarques de outubro estavam em 390.595 sacas de café arábica, 30.653 sacas de café conillon, mais 54.420 sacas de café solúvel, totalizando 475.668 sacas embarcadas, contra 444.054 sacas no mesmo dia de setembro. Até o dia 8, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em outubro totalizavam 900.349 sacas, contra 818.199 sacas no mesmo dia do mês anterior. 

A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 2, sexta-feira, até o fechamento de sexta-feira, dia 9, subiu nos contratos para entrega em dezembro próximo, 730 pontos ou US$ 9,66 (R$ 36,23) por saca. Em reais, as cotações para entrega em dezembro próximo na ICE fecharam no dia 2 a R$ 648,32 por saca, e dia 9, a R$ 652,98 por saca.

Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em outubro a bolsa de Nova Iorque fechou com alta de 315 pontos.

(por EDUARDO CARVALHAES)
 

Mercado de café:  MACRO E CLIMA AJUDAM AS COTAÇÕES DE CAFÉ (por RODRIGO COSTA, da ASCHER)

 
Com tanto dinheiro impresso no mundo e mais estímulos esperados para evitar deflação fizeram os investidores voltarem a alocar seus recursos em ativos de risco durante a semana. Desde 2011 diversos índices acionários não tinham subido tanto como nos últimos cinco dias, um reflexo parcial da percepção de que o FOMC não aumentará os juros americanos até a primeira metade do ano de 2016.
 

Mercados emergentes se beneficiaram do maior apetite ao risco provocando uma apreciação de suas moedas. O enfraquecimento do dólar americano também contribuiu para o rally dos índices de commodities, com as melhores performances entre os componentes do CRB lideradas pelo suco de laranja, petróleo, gado, níquel e açúcar.

O café em Nova Iorque ficou na sexta colocação apreciando 3.10% na semana, e Londres puxou 2.85%. Além do ambiente macroeconômico favorável, as altas do arábica e do robusta foram também alimentadas pelo clima. No Brasil o volume de chuvas esperado para as principais regiões produtoras deixa em alerta os baixistas. A situação no Espírito Santo é a mais preocupante, embora não transpire tanto no noticiário. O racionamento que atinge diversos municípios limita também o cuidado e a irrigação das árvores do conillon – é bom atentarmos para o andamento da situação por lá.

No arábica as chuvas no Sul de Minas não voltaram de maneira consistente e em volumes significativos, e cada dia que o prognóstico não aponta uma possibilidade de melhora nas precipitações, menos vendas aparecem no mercado futuro e, do contrário, os participantes, receosos, compram proteções de alta.

O pregão de sexta-feira teve um volume de mais de 21 mil lotes de negociações de opções de compra (calls) fazendo com que a volatilidade implícita saltasse no mesmo dia 4%  –  mais do que subiu a cotação do futuro na semana inteira.

As opiniões se dividem entre os que acham ser prematuro se preocupar depois de um setembro tão “molhado” e os que falam de uma potencial perda da florada que abriu.

Como comentei neste espaço na semana anterior, muita gente está “confortável” apostando em uma grande safra brasileira em 2016/2017, não dando tanta atenção à necessidade de um quadro climático favorável. As altas temperaturas que os produtores têm observado no campo os fazem mais precavidos, motivo inclusive de uma movimentação do físico relativamente menor do que poderia estar acontecendo.

 

O FOB passou impressões distintas entre os comerciantes, com alguns mencionando ofertas mais baratas de qualidades melhores do Brasil, e produtores e intermediários mais agressivos no Vietnã – muito embora quem precisa comprar volume tem que pagar diferenciais ainda caros. Os vietnamitas aproveitaram a subida do terminal para descarregar fixações, reflexo de tanto tempo que vinham segurando vendas e do alívio de não terem sido “stopados” abaixo de 1500 dólares por tonelada.

A favor dos baixistas continua o ritmo alto das exportações brasileiras, 3,08 milhões de sacas em setembro, e os estoques visíveis que por ora só caem entre os certificados do contrato “C”. Fora isso o cenário já está bem menos baixista, tanto para o Real brasileiro, que não só parou de desvalorizar, mas voltou a negociar a 3.75, como também à tolerância ao risco mencionada nos dois primeiros parágrafos.

Notícias sobre os efeitos do El Nino por ora não atraíram atenção de quem potencialmente pode ficar altista, assim como ainda não vi ninguém comentar que os fundos de índice vão ser compradores de café no começo do ano de 2016 – dada desvalorização acentuada desta commodity em 2015.

O relatório do CFTC que mostra a posição dos comitentes indicou a cobertura de 7,954 contratos dos fundos até a última terça-feira. Nos últimos três dias outros 5 mil contratos devem ter sido liquidados. Os comerciais sabiamente estão aproveitando para vender, não por que não acreditem que há espaço para subir mais, mas pela cautela de travar preços que são suficientes para pagar suas contas.

A preocupação sobre as chuvas no Brasil traz de volta o mercado climático, o que significa dizer que a cada dia sem prognóstico de chuva relevante os preços vão subir, assim como tão logo se veja precipitações volumosas as cotações derreterão.

Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,

Rodrigo Costa*

 

Mercado de açúcar: ENCANTADORES DE SERPENTE (por Arnaldo Luiz Corrêa, da ARCHER)

O mercado de açúcar em NY fechou a semana com uma alta extremamente convincente com o vencimento março/2015 encerrando o pregão de sexta-feira a 14.34 centavos de dólar por libra-peso, o maior preço visto desde fevereiro deste ano. Na semana, houve apreciação de 81 pontos no março (quase 18 dólares por tonelada) e variações positivas em torno de 15 dólares por tonelada para 2016 e a metade disso para 2017.

Os fundos continuam a comprar o mercado e os volumes negociados batem recorde (veja abaixo). O total da posição comprada por eles é estimada em 105.000 lotes. É importante levar em consideração que boa parte dessa alta se deve aos fundos e à cobertura de posições descobertas, muito embora os fundamentos dão o pano de fundo. Em outras palavras, uma fixação de preço na exportação ao redor de R$ 1.250 por tonelada não pode e não deve ser desprezada pela simples razão que elas são remuneradoras se considerarmos que o custo médio de produção no Centro-Sul (sem depreciação nem custo financeiro) é de R$ 40.0695 por saca posto usina. Outra coisa é que apenas 29% da cana produzida vai para o açúcar de exportação, portanto se a usina fizer um bom trabalho de gestão de r isco no açúcar, terá mais folga no etanol e açúcar no mercado interno. Se o mercado continuar a subir, certamente se refletirá nos outros produtos por uma questão de arbitragem. Proteja-se.

O mercado em NY deve ter espaço para subir porque as usinas estão relativamente bem fixadas para o início de safra (veja abaixo). Os fundos observam o fato de que no acumulado do ano, o açúcar ainda amarga uma queda de 7.4% em um ano particularmente conturbado para as commodities agrícolas visto que a única commodity que apresenta variação positiva em 2015 é o cacau com apenas 4.4% de ganho no ano. O café, por exemplo, perde 25% até agora. Os fundos mais focados procuram oportunidades aliadas aos fundamentos, outros apenas olham os gráficos. Para eles o açúcar tem bom potencial ainda para subir principalmente porque há um ano negociava a 16.92 centavos de dólar por libra-peso e o cenário fundamental é mais positivo hoje. Simples assim.

Há exatamente um mês, quando NY negociava 11.30 centavos de dólar por libra-peso, enviamos por correio eletrônico exclusivamente para nossos clientes, a previsão de preços baseada no nosso modelo que apontava que o mercado de açúcar estava em curva ascendente, com perspectiva de chegar à média de 13.26 centavos de dólar por libra-peso no mês de dezembro. Naquele momento NY negociava o equivalente a R$ 1.004 por tonelada e o preço de 13.26 corresponderia (considerada uma operação de NDF) a R$ 1.200 por tonelada. O mercado subiu acima e mais rápido do que antecipáramos, mas o fechamento de sexta cravou R$ 1.250 por tonelada. Não se apaixone pela sua posição. Na pior das hipóteses, uma combinação de compra de put com trava de câmbio coloca um valor mínimo de fixação em reais para as usinas. Ges tores de risco, uni-vos.

Enquanto uns choram outros riem. Um executivo do setor comentava em recente jantar que algumas usinas se lamentavam das estruturas de hedge que fizeram e que dobram o volume das fixações caso o mercado futuro de açúcar chegasse a determinado nível. Pois bem, o mercado atingiu os tais níveis e agora estão todos coçando a cabeça. Caíram na conversa, segundo o mesmo executivo, dos “encantadores de serpente”.
O bom e velho conceito de que não existe almoço de graça foi esquecido por essas usinas quando fizeram estruturas com essa configuração. Se atendiam àquelas necessidades no momento que fecharam as operações, tudo bem. Se destinaram um percentual para elas, tudo bem. O problema reside quando seduzidas por um sentimento de conforto aparente que essa “terceirização” provoca, fizeram a totalidade de seu volume de vendas. A serpente não se encanta pelo som da flauta do encantador, mas pelo cheiro de urina de rato que ele que a faz sair da cesta para procurar sua presa. Nada é de graça, tudo tem um custo e mesmo aquilo que parece ser de graça, já está no pacote. Há apenas tr&ecir c;s meses, por exemplo, o valor em reais por tonelada (tomando o fechamento de NY vezes o câmbio) chegou a negociar a R$ 830 vis-à-vis o fechamento dessa sexta-feira a R$ 1.250.

O modelo da Archer Consulting apurou que o volume de fixação de preços das usinas até 30 de setembro alcançou o equivalente a 5.758.000 de toneladas de açúcar, ou 22.92% do total estimado de exportação brasileira para o ano safra de 2016/2017 ao preço médio de 12,39 centavos de dólar por libra-peso, equivalentes a R$ 1.020 por tonelada FOB. O valor médio de fixação das usinas é equivalente a 44.45 centavos de real por libra-peso. O dólar médio fixado pelas usinas no período é de 3.5864. Este é o maior percentual de fixação acumulada de açúcar em NY no período por parte das usinas desde que começamos a usar o modelo. Vale observar o volume de contratos futuros de açúcar negociados no mês de setembro foi recorde, chegando a 4.328.729 lotes negociados apenas nos futuros, superando o volume de 4.157.275 contratos negociados em fevereiro do ano passado.

 


 
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Fonte:
Escritório Carvalhaes

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