Pragas Vorazes, por Rogério Arioli
Na irrefreável busca de aumento das receitas deixa-se sempre em segundo plano a antipática medida - do ponto de vista político- de cortar despesas. O estado de Mato Grosso através do decreto 854 cometeu o absurdo de taxar em 8,4% os fertilizantes utilizados nas lavouras o que onerará os produtores rurais em R$ 360 milhões, segundo o presidente da Famato Rui Prado. Não deveria ser necessário lembrar que o fertilizante é o principal insumo utilizado na agricultura mato-grossense, sendo responsável, em média, por 25% do custo total da produção de grãos e fibras. Qualquer técnico sabe que os solos de cerrado, por serem originalmente pobres em nutrientes, demandam adubações bem mais pesadas do que as utilizadas nas outras regiões do país. Ressalte-se ainda que os produtores já suportaram altas significativas nos preços internacionais deste insumo que, no ano de 2011, chegaram até 52% na uréia e 38% no caso do cloreto de potássio.
No atual panorama econômico em que o mundo globalizado se encontra o ano de 2012 não passa de um enorme ponto de interrogação. A crise européia de solução difícil e demorada pode afetar sobremaneira o desempenho de muitos países, entre os quais o Brasil. Apesar de o governo ainda trabalhar com um crescimento de 3,5% do PIB para este ano, parece ser o momento de buscar-se competitividade para que os momentos de dificuldades sejam superados. Tudo isso precisa ser lembrado, pois, não parece haver nenhuma racionalidade no aumento da carga tributária dos setores que ainda sustentam a estabilidade econômica brasileira. Ano passado foram arrecadados exorbitantes R$ 1,5 trilhão em impostos, o que carreou aos cofres públicos a expressiva parcela de 35,13% de toda riqueza produzida no país.
Embora todo este recurso tenha sido disponibilizado ao governo este fato não impediu que o Brasil ficasse em último lugar, segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), no que se refere ao retorno, na forma de serviços, destes recursos à população. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) brasileiro ainda é muito menor do que em países que possuem arrecadações bem menos impregnadas com a gulodice tributária nacional. Argentina e Uruguai são exemplos disso, só para ficar-se aqui por perto.
Não se poderia esperar nada de diferente, pois se utiliza 70% do valor arrecadado apenas para o custeio de uma máquina pública paquidérmica, perdulária e ineficiente. Acrescidos das despesas previdenciárias, juros da dívida pública e “otras cositas más”, sobram apenas 7% dos recursos para investimentos, o que é muito pouco, face às demandas existentes.
No mesmo diapasão da voracidade tributária federal encontra-se o governo do estado, buscando, ensandecidamente, recursos para a “Copa do Pantanal”. Não importa que para isto tenha de onerar as atividades agrícolas, pecuárias e industriais pelo aumento dos impostos proposto o que, segundo o IMEA (Instituto Mato Grossense de Economia Agrícola), atingirá a magnitude de R$ 1,1 bilhão. Recursos que serão subtraídos justamente de setores que carregam nos ombros o desenvolvimento de Mato Grosso.
O conhecimento técnico-científico atual possui capacidade de controlar de maneira econômica e integrada as principais pragas que atingem as culturas. Infelizmente, ainda não se conhece tratamento eficaz contra a praga representada pela ganância arrecadatória dos governos, que de maneira voraz e irresponsável avança sobre tudo e sobre todos, não importando os resultados destas desastrosas atitudes. Sobre esta praga o professor Augusto Paiva Netto se esqueceu de alertar-nos.
Rogério Arioli Silva
Engº Agrºe Produtor Rural
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