Clima e mercado, por Pedro Dejneka

Publicado em 01/08/2012 18:29 e atualizado em 01/08/2012 19:29
Dia vai, dia vem, a volatilidade continua, e INFELIZMENTE a SÍNDROME DO MÍOPE continua afetando os mercados ao redor do mundo.
A Síndrome do Míope não é exclusividade do mercado de commodities agrícolas não... ela é compartilhada através do universo de ativos de investimento ao redor do planeta...entraremos em detalhes sobre isto outro dia.
 
Para quem ainda não leu o relatório sobre a síndrome, segue a definição, do relatório do dia 18 de julho (quem ainda não leu e estiver curioso, acha no www.facebook.com/PHDerivativos ):
 
“Definindo então o que eu chamo de“SÍNDROME DO MÍOPE” nos mercados:
 
Esta síndrome se dá quando participantes do mercado focam em tentar MICRO-analisar tudo que se passa diariamente com os mercados e PERDEM NOÇÃO DO QUADRO GERAL.
Ou seja, vêem o que está perto (movimentos diários) mas não vêem o que está longe (tendência geral de preços).
 
Existe muito BARULHO por aí tentando justificar todo e qualquer movimento diário dos mercados...
 
Meus caros, mercados não são estáticos, estão em constante movimento... as negociações não param e não é toda baixa ou alta de 0,5% que tem uma história fantástica por trás... são movimentos normais de mercado e não mudam as tendências de médio prazo...”
Falando mais especificamente de commodities agrícolas aqui em Chicago, vemos hoje os mercados de SOJA, MILHO e TRIGO “presos” em um mercado climático, onde cada mapa metereológico pode mudar a tendência de CURTO prazo dos contratos.  Vemos prova disso na extrema recente volatilidade no contrato de SOJA pelo gráfico abaixo:
Clique aqui para ampliar!

Parece um monte de rabisco... mas não é!
Vamos ao resumo então:
Na última semana, desde terça-feira dia 24 de Julho, o contrato de Novembro da Soja teve os seguintes movimentos:
•         Alta de 4,8% em 20 horas, de terça pra quarta-feira
•         Seguido de baixa de 3,5% de quarta pra quinta
•         Seguido de nova alta de 5,5%, desta vez em 21 horas de operação dos mercados, de quinta á noite para abertura da sessão eletrônica no domingo.
•         Após certa “estabilidade” no início desta semana, tivemos, desde 1:00hs da madrugada de hoje, dia 1º, os seguintes movimentos:
o   Baixa de 3,5% até hoje de manhã, seguida de alta de quase 2% na última hora do pregão!!!!!!
 
É PRA QUALQUER UM FICAR LOUCO, NÃO?
 
Bom... quem sofre com a SÍNDROME DO MÍOPE sim...
Já quem consegue manter uma visão mais ampla do mercado, sabe que estes movimentos diários podem ser bruscos e vorazes, mas que ainda não afetam a tendência de médio prazo, QUE AINDA É DE ALTA.
Veja que apesar de todos os movimentos bruscos mencionados acima, o contrato de Novembro da Soja aqui em Chicago registrou ganho em torno de 5,75% neste período de 1 semana...
 
O mesmo gráfico acima através dos olhos do MÍOPE é assim:
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Já quem usa óculos que corrigem a MIOPIA vê o mesmo gráfico da seguinte maneira:
Clique aqui para ampliar!

Percebam como mesmo mercados altistas não sobem em linha reta...
Uma análise de mais longo prazo sempre ajuda á esclarecer tendências dominantes de médio a longo prazo.
Para comemorar o espírito olímpico, segue uma comparação:
Olhar o mercado sob um curto prazo e tentar dizer que a tendência de médio prazo mudou é loucura!  
Seria como assistir um jogo de tênis e falar que o jogador que ganhou o último GAME será o vencedor do JOGO! Imaginem só, quantas vezes a opinião de quem ganhará o jogo mudará ao longo do dia???
Muitas vezes no tênis, o favorito perde vários GAMES ou até SETS para seus competidores e ainda assim ganham o JOGO.
O favorito não entra em pânico com cada ponto, game ou set perdido... ele sabe de sua força e segue firme até que seu jogo vire supremo.
Por isso, favoritos são favoritos... pois sua força ao logo do tempo é muito mais uniforme e poderosa do que a de seus oponentes...
 
É assim nos mercados... as tendências de médio e longo prazo são FAVORITAS e as variações diárias as ZEBRAS.
 
Não deixem então que variações diárias atrapalhem a visão de médio prazo.
Volto a dizer que as tendências na soja e no milho ainda são de altas (o trigo irá junto).
As baixas continuarão sendo compradas... algumas baixas serão mais acentuadas que outras, mas ao decorrer do tempo, até a tendência climática virar e soubermos o tamanho real da safra Americana, valores continuarão subindo.  
Por agora, a alta não é “tão clara e rápida” como era antes...
O mercado para respirar, analisar os fatos após alta de mais de 30% na SOJA e 50% no milho desde Junho.
O próximo relatório do USDA vem aí dia 10 e até lá teremos uma boa idéia de como o clima se comportará durante Agosto.  Podemos muito bem ter uma retomada da forte tendência de alta durante a segunda metade de Agosto e primeira metade de Setembro – SE A TENDÊNCIA CLIMÁTICA CONTINUAR A MESMA... POUCAS CHUVAS E CALOR.
 
O mercado está bastante “nervoso” no momento quanto ao relatório do dia 10.
Bem possivelmente veremos uma tentativa de alta nos dias que antecedem o relatório.
Mas... não descarto a possibilidade de termos um pouco mais de realização de preços no final desta semana. Realização que, se existir, eventualmente será comprada... o “timing” e tamanho desta compra dependerá muito das previsões diárias de CLIMA.
 
Ontem e hoje o mercado de soja foi pressionado por relatos do governo Russo de “excesso confortável” de trigo para exportação este ano – o que pressionou bastante os contratos de trigo e “puxou” a soja e milho para baixo.
Isto porque uma das cartas nas mangas dos altistas do mercado é a possibilidade de mais um embargo nas exportações de Trigo Russo, assim como em 2010.
Esta declaração do governo de lá, “jogou água fria” nos ânimos e pressionou os preços.  
 
Adiciona-se á isso a volatilidade diária de mapas climáticos, a presença de chuvas em partes dos EUA (mesmo que pequena, ainda são chuvas e afetam a psicologia do mercado), e pressão gráfica nos contratos de trigo, e temos a receita para o incrível vai e vem de ontem e hoje.
Veremos se os mercados marcaram mais um “fundo de poço” técnico com as fortes baixas e subsequentes compras de hoje, ou se ainda teremos pressão temporária nos preços nos próximos dias...
 
Apenas lembrem-se... não deixem que “barulhos” no curto prazo atrapalhem a visão de médio e longo prazo.
 
A tendência continua sendo de alta – a tendência climática não virou – podemos ainda ter preços históricos este ano.
Toda cautela é pouca...
 
Aproveito para incluir matéria publicada ontem por Mariana Caetano do Valor Econômico abaixo, vale à pena a leitura:
 
Commodities: Mercado realiza lucros na bolsa de Chicago
 
O mercado de grãos foi surpreendido por um novo dia de liquidação de posições, com os investidores embolsando os lucros após as recentes altas e aproveitando para “dar um respiro” em meio à extrema volatilidade dos últimos dias.
 
Os contratos de soja com vencimento em novembro (os de maior liquidez no momento) fecharam em baixa de 0,19% (2,50 centavos), a US$ 16,41 por bushel. Houve hoje uma pressão adicional do modelo americano de previsão climática (o GFS, ou Global Forecasting System), que apontou tempo um pouco mais úmido para os próximos dias no Meio-Oeste americano, que vem sofrendo com a estiagem e as altas temperaturas. Porém, o modelo europeu, mais preciso até o momento, continua a indicar menos chuvas e calor. “A realidade é que as chuvas esparsas que aparecem desde a semana passada não são suficientes para reverter o quadro de perdas. A safra continua ‘andando para trás’, e enquanto tivermos este cenário, os preços acharão suporte”, explica Pedro Dejneka, analista da Futures Internacional, em Chicago.
 
As perdas da soja, contudo, foram menores que as do milho. A oleaginosa entra agora em seu período crítico de desenvolvimento (enchimento de grãos), quando qualquer alteração climática pode trazer grandes impactos à produtividade. O milho já passou por essa fase e os danos ao rendimento são irreversíveis.
Os papéis de milho com entrega para dezembro registraram hoje perdas de 1,08% (8,75 centavos), a US$ 8,0525 por bushel. Analistas especulam que os EUA poderiam cortar o mandato de produção de etanol – biocombustível derivado do milho no país –, o que prejudicaria os preços do grão e, consequentemente, do trigo, já que as duas commodities concorrem no mercado de alimentação animal.
 
Alguns analistas especulam que a soja pode ter fôlego para chegar a US$ 20 por bushel, e o milho a US$ 9 por bushel. Liones Severo, da corretora Grãos e Soja, aposta que a oleaginosa alcançará esse nível recorde até setembro. “O preço vai subir porque é preciso um patamar para que se controle a demanda”, diz. Dejneka não descarta essa possibilidade, mas afirma que tudo dependerá do clima em agosto nos EUA, dos dados de demanda e do apetite dos fundos de investimento para especulação. “Mas preços a estes patamares são perigosíssimos e quando o mercado tiver a ‘luz verde’ para realizar estes lucros, a realização virá com muito velocidade”, prevê.
 
A situação do tempo nas regiões produtoras dos EUA deverá nortear os preços até meados ou final de setembro, quando o mercado terá mais clareza sobre as reais perdas da safra local. Por isso, ainda não está claro para os analistas qual será o patamar de acomodação das cotações da soja, passada essa tormenta climática. O fato é que o tamanho da safra na América do Sul será um componente importante para determinar os preços, assim como uma melhor definição sobre a situação financeira mundial, em especial na Europa. “Podemos ver preços acima de US$ 18 por bushel até o final de setembro para o contrato novembro e abaixo de US$ 12 até final de dezembro para o contrato de março”, analisa Dejneka.
 
Ainda em Chicago, os preços do trigo recuaram hoje na esteira da baixa do milho e também por conta da expectativa de uma colheita mais farta na safra americana de primavera. Os contratos para setembro caíram 2,70% (26,25 centavos), a US$ 8,8825 por bushel. Ontem, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reportou uma melhora nas condições dos plantios do cereal no Meio-Oeste dos EUA: na semana até 29 de julho, 63% das plantações foram classificadas como boas ou excelentes, ante os 61% da semana anterior e os 70% de um ano atrás. Relatos indicam ainda que a safra canadense de trigo também poderá ter volumes significativos.
 
Sucesso a todos!
 
PEDRO H DEJNEKA
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Pedro Dejneka

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