Brasil: capitalista rico ou comunista pobre?

Publicado em 07/08/2012 19:28 e atualizado em 08/08/2012 08:23
por *GLAUBER SILVEIRA


O 11º Congresso do Agronegócio que a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), realiza em S. Paulo, focou o tema “alimento e energia”, assunto muito importante não  só para o Brasil mas para o Mundo. A pauta “alimento e energia”, sem dúvida, precisa ser debatida, mas acima de tudo precisa de um planejamento estratégico,  pois os dois temas são fundamentais para a sociedade -- apesar de parecer, para alguns ditos ambientalistas, ser possível viver sem a produção de alimentos e de energia.

A América do Sul está se tornando o celeiro do mundo não pela sua produção - já que produz muito menos que os EUA e a China - mas pelo seu superávit. Ou seja,  produz muito mais do que consome..., Para o Brasil o mais importante é o nosso potencial, já que nenhum país do mundo tem terra, água e clima capazes de responderem à crescente demanda.

Ficou claro no evento a importância do agronegócio, isto pontuado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que frisou que a demanda é crescente e isto é uma oportunidade. Coutinho ainda apontou que o agronegócio brasileiro tem dado respostas às demandas da sociedade brasileira, sendo que em 2011 a contribuição do agronegócio o PIB foi de 22,15%, quando o superávit alcançou R$ 77,5 bilhões em 2011.

Luciano Coutinho pontuou as oportunidades ao setor produtivo: temos uma demanda interna crescente, uma demanda mundial por proteínas em alta, grande expansão do uso de biocombustíveis, por exemplo. O presidente do BNDES disse que poucos setores da economia têm dado uma resposta tão rápida à demanda e demonstrado tamanha eficiência no aumento de produtividade.

Claro que o setor produtivo tem grandes desafios como: inovação e tecnologia, eficiência e produtividade, sustentabilidade e o uso da terra, P&D e qualificação, irrigação. Nestes temas o setor privado tem buscado se superar... resta ao governo também fazer a sua parte. Ficou claro no Congresso da Abag a necessidade do governo dar sustentação ao crescimento e aumento de produtividade do que é plantado, porém, também ficou evidente que o governo pouco tem feito.

Neste tema “alimentos e energia” é incontestável o papel do Brasil como protagonista, mas devemos aproveitar esta demanda crescente para fazer acordos de longo prazo, onde o Brasil deixa de ser um grande exportador de matéria-prima para exportar produtos com alto valor agregado, para tanto precisamos de uma política industrial que priorize a agregação de valor.

Como faremos para exportar carne ao invés de grãos? Sem dúvida este é um desafio, já que a transformação de soja e milho em carne agrega valor e geramuitos empregos e ganho de capital. Temos agora uma oportunidade gerada em função da crise na produção agravada principalmente pela seca nos EUA, e também pela demanda crescente para os próximos 20 anos. Afinal, a China em 2020 estará importando 100 milhões de toneladas de soja, então por que não negociar contratos de longo prazo para o fornecimento de carnes?

A cada ano estamos produzindo mais. O mundo produz hoje mais de 2,6 bilhões de toneladas de alimentos, mas há contra-senso, pois a cada ano aumenta o número de pessoas que passam fome. Enquanto escrevo este artigo 360 crianças morreram de fome, já que 12 crianças morrem por minuto no mundo por esse motivo. Ou seja, o desafio da humanidade é produzir mais e mais barato, e para que isto aconteça precisamos de políticas de resultado.

A Abag foi muito eficiente em discutir este tema, pontuando a importância de marcos legais como o ambiental, trabalhista, tributário, entre outros. O Brasil é um grande potencial na produção de alimentos e energia, porém, está tendo pouca eficiência na condução equilibrada destes setores, uma vez que em 2020 mais de 40% do etanol viram dos grãos no mundo, para tanto é importante termos um planejamento estratégico para regular a competição entre alimentos e energia, pois ela é real.

O Estado tem que ter um papel indutor de crescimento e também regulador. O Brasil está sendo ineficiente. As políticas públicas necessárias para a consolidação do Brasil como grande fornecedor têm sido muito tímidas e não conseguem de forma alguma acompanhar o empreendedorismo do produtor.

O governo brasileiro precisa de uma vez por todas fazer sua parte dando respostas com tecnologia e segurança jurídica à produção. O problema é que o Brasil comemora todos os indicadores da produção como um país capitalista, mas, por outro lado, no governo tem uma turma que não rema - ou rema para trás - e com isso o produtor para produzir tem que correr uma maratona de obstáculos, e cito com exemplo que hoje para se produzir são necessárias mais de 40 licenças. Afinal, o que o Brasil quer ser neste cenário de alimentos e energia: capitalista rico ou comunista pobre?

GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E-mail: [email protected] Twitter: @GlauberAprosoja 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
NA

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

2 comentários

  • Fabrício Morais Brasília - DF

    Rodrigo, as perspectivas que o autor se refere de aumento de consumo são da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e estão de acordo como último relatório apresentado. Ao falar do BNDES, só aponta o que o Luciano Coutinho falou no evento, não faz nenhum juízo de valor as ações do Banco. Sobre a regulamentação, vamos concordar que o país tem um sem número de regulamentações que deixa em dúvida até os advogados, não os promotores. Não vejo paradoxo na colocação do autor quanto ao insetinvo e a "regulação" do Estado. É apenas uma forma de dizer que o Governo não tem feito o dever de casa para incentivar a pesquisa e o desenvolvimento, não cuidou da infraestrutura e logística e não tem uma política pública que garanta, por exemplo, que o milho bom e mais barato no Mato Grosso vá para regiões onde está escasso, como é o caso de Santa Catarina.

    0
  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Com o devido respeito, esse artigo parece piada. A começar pela demanda da carne que caiu no mercado internacional, deixando no infortúnio milhares de produtores, e ao contrário do que pensa o escritor do artigo não há nada que esse governo ou qualquer outro possa fazer. Ao propalar a eficiência do produtor não deixa de citar o BNDS, banco público de fomento, que tentou fazer isso que ele diz querer que se faça e em uma operação, ou uma tentativa de tornar-se um grande player internacional de exportação de carnes, perdeu alguns bilhões de reais, pois teve de socorrer uma operação fracassada. Por fim reclama da alta regulamentação ao mesmo tempo em que afirma que o estado deve ter papel indutor e regulador. E encerra perguntando se queremos ser comunistas pobres ou capitalistas ricos. Políticas públicas associadas à iniciativa privada não são novidade, começou na Itália e chamou-se fascismo, que é uma variante não menos nociva do comunismo.

    0