Os integrados da biotecnologia

Publicado em 18/02/2013 14:15
Engenheiro agrônomo, produtor rural e Presidente da Aprosoja Brasil
Eu tenho pregado muito sobre a importância da biotecnologia para os produtores e para o país, porém fatos recentes têm me feito repensar sobre aquilo que realmente é o melhor para nós produtores e para a segurança alimentar nacional. Recentemente a Monsanto começou a levar a campo um acordo individual com os produtores que tem me causado indignação pelos riscos que traz aos produtores, uma vez que eles acabam assumindo compromissos muitos questionáveis e acabam se tornando uma espécie de integrado da biotecnologia, ao menos no caso da Monsanto. Para me fazer entender melhor, vou descrever os fatos que nos trouxeram até esse momento.

A Aprosoja-RSe a Famato e Aprosoja-MT, por meio dos sindicatos rurais e outros signatários,têm ações estaduais impetradas na justiça questionando a cobrança de royalties sobre Soja RR1. No caso da ação do Rio Grande do Sulse questiona a legalidade da cobrança de royalties sobre a produção de soja (na moega), recolhida pelas tradings, cooperativas e cerealistas na comercialização.  Em abril de 2012, um juiz da 15ª Vara Cível de Porto Alegre deu ganho parcial e por liminar suspendeu a cobrança. A Monsanto recorreu, mas a ação seguiu tramitando aguardando um relator.

No caso de Mato Grosso a ação questiona a validade das patentes da tecnologia RR1 alegando que já estariam vencidas desdeagosto de 2010. A Monsanto se defende que a validade da tecnologia RR1 venceria em 2014, pois o último depósito ou registro foi feito quatro anos depois do primeiro. A legislação brasileira conta a validade das tecnologias a partir do primeiro registro ou depósito no país de origem.

A base do argumento da ação de Mato Grossoé de que até hoje nenhuma empresa conseguiujunto ao judiciário ganho de causa de extensão da patente. Empresas multinacionais de remédios, por exemplo, entraram com vários pedidos de extensão da validade de patente e não conseguiram. Sendo assim, se aplicarmos a similaridadede pedidos, a Monsanto não conseguirá estender a validade de sua patente até 2014, e por isso, já estaria cobrando ilegalmente nos últimos dois anos. E por tudo isso, ação pedia a suspensão imediata da cobrança de royalties ou que pudesse se depositar o valor em juízo. Neste caso, o juiz também deu ganho parcial e autorizou o depósito em juízo.

Em um último capítulo desta história, a CNA e outras 10 federações assinaram um termo de princípios que destaca as virtudes e importância da biotecnologia e de se remunerar as empresas de biotecnologia e de que as mesmas teriam direito de fazer teste de detecção de sua tecnologia para garantir essa remuneração. Também de que aos produtores que assinassem um acordo individual com a empresa, não precisariam mais pagar pelos royalties sobre a Soja RR1, mas dariam quitação recíproca de débitos sobre a tecnologia, ou seja, não entrariam na justiça questionando valores cobrados anteriormente.

Como resultado, esse acordo individual não consensual passou a ser vinculado ao acordo da CNA e federações, o que foi objeto de manifestação da entidade de que não assinou nenhum acordo em nome do produtor e que assinar o acordo individual é de responsabilidade e escolha exclusiva dos produtores.

Pois bem, inúmeras iniciativas de negociações foram travadas, mas infelizmente mesmo os produtores de Mato Grosso não tendo aceitado o acordo individual proposto pela Monsanto, a multinacional saiu a campo com todo seu poder de Golias induzindoos produtores a assinarem um contrato que a nosso ver vai deixar o futuro deles“negro”.

Por várias vezes dissemos a Monsanto que aceitávamos fazer um acordo que tratasse da tecnologia RR1, mas ao invés disso a empresa fez elaborou um acordo individual com cláusulas que comprometem o produtor e o sujeitam as condições e interesses unilaterais da multinacional. E ao examiná-lo, nos parece que a única cláusula favorável ao produtor é a que diz que ele só planta se quiser, mas isto se a multinacional não dominar o mercado com sua tecnologiaeao produtor sobrar ainda algum poder de escolha.

Oacordo individual implica que o produtor irá se licenciar para a nova tecnologia da Monsanto, mas não diz quais patentes e suas validades. Além disso, ao assinar o termo o produtor assume que concorda que a multinacional continue cobrando na moega, questionamento judicial da ação da Aprosoja-RS. E nós sabemos que a maioria dos produtores não concorda com esta questão,cobrar 2% sobre o valor da produçãoé muito pesado e no caso da Intacta 7,5% ou sabe lá quanto. Se o produtor colher 50 sacas 3,5 sacas já são da Monsanto.

E o que é muito importante, ao assinar o acordo os produtores estarão abrindo mão de futuros questionamentos como a cobrança na moega, como o tratamento dado em caso de contaminações de cargas, muito comuns com a Soja RR1.E o que é ainda pior, eles se tornariam meros integrados da multinacional. Por isso entendemos que assinar o contrato individual hoje seria prejudicial para os produtores. E,sendo assim, fica o questionamento: porque alguns produtores estariam assinando um documento que irá prejudica-los?

Primeiro porque estão desinformados da gravidade do documento. Muitos pensam que estão assinando apenas um documento onde eles abrem mão de questionar judicialmente ou receber qualquer indenização pelos dois ou sabe lá quantos anos de cobrança ilegal e em troca não precisariam mais pagar royalties nos próximos dois anos sobre a Soja RR1. Segundo por comodidade, afinal os produtores acabam pensando, que é melhor ele deixar de pagar, do que ter que contratar um advogado para depositar em juízo.

Muitos alegam que isso não vai dar em nada: a Monsanto é poderosa e a justiça é lenta. Infelizmente este é o retrato do pensamento de muitos brasileiros céticos com a justiça. Mas a Aprosoja Brasil de forma alguma deixaria de alertar, se posicionar, mostrando os riscos deste acordo individual.

Mas tenho fé no judiciário brasileiro que a pouco deu mostras julgando o Mensalão, que a justiça pode ser feita sim, e por isto acredito queem breve teremos a resposta a este gigante, de que o poder não pode tudo e de que não será no Brasil que esse Golias vencerá os nossos Davis que trabalham e produzem, mas que sabem para onde atiram as pedras e o fazem com precisão.

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Fonte:
Glauber Silveira

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2 comentários

  • ney ferreira pimentel Itararé - SP

    -Comprei um pé de Jabuticaba e ele era transgenico e plantei na minha propriedade e portanto após comprar esta muda ela passou a ser de minha propriedade,algum tempo depois gerou frutos e fui vender na feira,qual é minha surpresa quando apareceu a firma que fez a transgenia e falou que eu tinha que pagar de um tal de roiarti pra ela!!Gente burra do meu Brasil,se voce comprou um saco de semente;pagou;no capitalismo esta mercadoria é de sua propriedade,daqui a pouco voce vai comprar um carro,um trator e terá que pagar roiartis pra empresa por kilometrgem andada ou utilizada.A empresa esperta vai fazer transgenia de tudo que é planta e o exposto aqui vale pra tudo:se voce pagou,plantou e gerou frutos dentro da sua propriedade é seu..ou não?O galego a gente já conhece lá do juvevê..pode ser cabeceira da maçonaria e ex-quase tudo,mas não passa de filhinho de papai..ele não é produtor é empresário,politico..interesses particulares acima de tudo,o povo que se exploda!!A soja que era um plantinha nativa da China agora tem dono:a Monsanto.Daqui a pouco ela torna-se dona da jabuticaba,da mandioca,do feijão caubi,da cana de açucar etc etc.Nós somos burros de carga mesmo!!E vamos plantar ,trabalhar.. senão pára o Brasil!!

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  • ANTONIO REINALDO SCHNEID Maracaju - MS

    Glauber, parabéns pelo comentário e pela coragem de encarrar essa briga contra o poder da Monsanto e suas impossições. Fico triste em assistir a maioria dos colegas produtores, desinformados e na ânsia de se livrar de mais um pagamento de roaylts, assinarem um documento que na minha opinião é um engodo. Explico, segundo a legislação o direito a patente tem validade de criação, definida para 10 anos, depois fica de dominio público e se assim fosse, teriamos a tecnologia do RR1 vencido em 2010 e portanto a partir dai, sem direito de cobrança de royalts pela Monsanto. Como então os produtores aceitam trocarem seu direito por uma isenção de royalts para 2013 e 2014 do RR1, que não existe mais????

    Outra questão que deve ser colocada é o uso de cobrança de royalts ( definida para o direito da Tecnologia Industrial) sendo aplicada na Legislação de Sementes ( que possue uma legislação específica e não define o direito de cobrança de Royalts, mas sim o direito sobre o uso da tecnologia ). Essa dúvidas são suficientes para o questionamento e paralização de qualquer pagamento sobre o RR1. Pergunto, onde está nossa representação de classe do estado do MS, Famasul, Sinticatos, Aprosoja e principalmente o poder Judiciario para para essa sangria desfreada sem fundamentação legal e de direito???? Peço ãos colegas produtores, engenheiros agronômos, associações de classe e de direitos afins de se unirem para um NÃO, do tamanho dessa falta de direito da Monsanto.

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