Mercado do Boi Gordo: "Preços firmes até segunda ordem!"

Publicado em 11/04/2013 14:39
Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e analista de commodities.
Cá estou novamente para relatar os detalhes de nossa eterna tentativa de antecipar dos movimentos do mercado e de evitar dissabores – traduzidos por prejuízos e anos ruins para a atividade pecuária. É fato, amigos, que um programa organizado de negociações ao longo do ano tem poupado o sono e o bolso de quem considera o uso de ferramentas financeiras, sejam elas quais forem. Fora isso, a organização ajuda nas contas e no planejamento da propriedade. Falaremos sobre isso hoje.

Mas antes, tenho algumas boas novidades para vocês. Em primeira mão, anuncio que após um longo período de negociações, levamos a Agrifatto para integrar o time da INTL FCStone. Para quem não conhece, a INTL FCStone é uma renomada empresa de consultoria em mercado de commodities com atuação global no negócio e muita experiência para oferecer aos seus clientes. É uma honra estar escalada para fazer parte deste time de seletos profissionais, que primam pela seriedade, pelo gerenciamento do risco eficaz e pela solidez do negócio ao longo dos anos. O objetivo é aumentar o leque de soluções para aqueles que trabalham com a gente.

Bom, oficializada nossa nova posição, podemos voltar a falar sobre o mercado.

Depois de um bom tempo sem grandes alterações, os preços no mercado pecuário voltaram a se mexer em praticamente todo o país. Ficamos em uma posição de indecisão por tempo demais, praticamente três meses oscilando R$ 1 acima e R$ 1 abaixo de R$ 98,00/@. Para nossa surpresa – e apesar de a safra estar a todo vapor - os preços resolveram subir e a barreira dos R$ 99,00/@ foi rompida em São Paulo. O indicador registra negócios acima de R$ 101,00/@ à vista em São Paulo.

Esses valores não eram registrados desde janeiro de 2012 e chegamos a vender boi paulista por R$ 88,00/@ em agosto do ano passado. Por isso, a firmeza do mercado é uma boa notícia.
O motivo de tanta firmeza neste período atípico não é um, mas uma combinação de fatores importantes. Primeiramente, já falamos aqui sobre o clima. O atraso das chuvas no início do ano fez o boi atrasar. Janeiro mostrou precipitação muito abaixo da média para várias praças importantes no país, portanto, o animal que está sendo mantido nas pastagens não começou a aparecer ainda.

Agora, tem chovido demais. Municípios do Mato Grosso do Sul já declararam situação de emergência devido ao volume de águas, o que acaba com as estradas e deixa represados os animais, mesmo quando há intenção de embarcar. Tenho ouvido muitos relatos sobre isso, sem contar que aconteceu conosco, lá na fazenda no começo desta semana.

O segundo motivo é que a demanda por animais está grande. De acordo com dados do Serviço de Inspeção Federal, o SIF, houve aumento de mais de 20% para os abates ano-a-ano em janeiro e para fevereiro o movimento ficou em 2% de aceleração. Fora isso, diversos grupos divulgam para este ano reabertura de plantas que estavam paradas. Isso significa maior demanda pelo boi gordo. E o motivo disso é representado pelo gráfico a seguir:

Diferença entre o equivalente físico e a arroba do boi gordo em SP
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            Fonte: Cepea/INTL FCStone

A figura representa a margem do frigorífico com a venda de carne com osso frente ao que ele pagou pela arroba ao pecuarista. Normalmente, essa relação é negativa e ela consegue se pagar quando couro, sebo, miúdos, subprodutos e carne desossada são colocados na conta.

Como essa relação é negativa, calculamos a média dela nos últimos 5 anos: ela ficou em -6%. Hoje, está em -1% e já chegou a ficar positiva no segundo semestre do ano passado. No mesmo período do ano passado, ela estava em -3%, melhora considerável para uma relação que já estava melhor historicamente. É por isso que o apetite da indústria tem aumentado.

Fora isso, as exportações também têm ajudado a justificar o comportamento dos preços. Na comparação ano-a-ano, o volume embarcado aumentou 8,6%, o faturamento em dólares reagiu 2,8% e o faturamento em reais, aquilo que mais interessa, reagiu 13,6%. Bons números!

É bom demais ver todas essas variáveis a favor dos preços e sem matar a fonte dos dólares da nossa carteira, ou seja, frigorífico mantendo margens historicamente boas.
“E aí, o que faço com isso?”, você pode me perguntar. Bom, vamos pensar no futuro. O clima tem nos ajudado a dar o tom. Então olho nele! Observem:

Figura 1 - Previsão de chuvas para os próximos dias e % em relação à média

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            Fonte: NOAA

O mapa mostra que há boas chances de o volume de chuvas começar a diminuir a partir da segunda quinzena de abril. A partir de maio, a coisa começa a complicar. A expectativa é que em junho as pastagens já estejam novamente comprometidas e quando isso acontecer, o pecuarista começará a colocar os animais na escala para não perder o peso ganho durante as águas.

Ao mesmo tempo, o confinador também começa a colocar boi magro no cocho, o que sugere um vácuo de oferta para julho. Não teremos mais animais de pasto nem os bois de cocho estarão prontos ainda.

Então ainda estamos em um bom momento para a negociação compassada, calma e em bons níveis, considerando o histórico de preços atuais (e não os custos de produção, obviamente).

Para o boi de pasto, o benefício foi apenas ver um valor mais alto sendo negociado no início do ano em relação à entressafra, apesar dos custos ainda na casa do chapéu. Entretanto, para o confinador que é altamente dependente do alimento concentrado, isso muda muito o panorama da margem da atividade. O otimismo em relação à queda de custos é quase palpável, apesar dos preços baixos observados na BM&F. Para se ter uma ideia das negociações futuras, segue o gráfico 2.

Gráfico 2 - Curva dos futuros

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            Fonte: BM&F/INTL FCStone

Considerando que em abril temos um indicador cotado em R$ 99,78/@, o ágio do contrato de outubro pode ser considerado pequeno, principalmente quando consideramos uma alta média de 4% para o período nos últimos anos. Não é bom, mas é o que temos.

O boi em São Paulo acima dos R$ 100,00/@ já foi visto há alguns dias. Ótimo! Junte a isso a forte queda ocorrida para o preço dos grãos até o momento. Milho já recuou 13% desde o começo do ano e a soja, 19% (considerando o derretimento do prêmio) e acho que temos incentivo suficiente para que o volume de animais confinados volte a bater recorde em 2013.

Dei uma entrevista nesta quinta-feira ao Notícias Agrícolas falando exatamente sobre isso. Se alguém quiser conferir, segue o link: https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/entrevistas/120414-entrevista-confira-a-entrevista-com-lygia-pimentel---analista-da-fcstone.html

Bom, espero comentários e opiniões. Por enquanto é isso sobre o mercado.

Para encerrar, devo dizer que infelizmente, nossas conversas serão mais raras por enquanto. Na verdade, já têm sido, vocês perceberam. O mercado tem demandado dedicação completa ao gerenciamento de risco e ao planejamento, portanto, algumas prioridades tiveram que ser traçadas. Mas continuo aqui, sempre de olho e à disposição dos amigos como posso ajudar.

Deixo um abraço a todos, nos falaremos em breve!
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Fonte:
Agrifatto

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