Balança comercial e o neomercantilismo petista, por Bernardo Santoro

Publicado em 06/01/2016 15:24
Publicado pelo Instituto Liberal

O Governo Federal publicou, e os blogs nojentos financiados pelos bancos públicos republicaram com muito orgulho, os dados relativos à balança comercial de 2015. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, a balança comercial brasileira teve um superávit de R$ 19,69 bilhões, que teria sido o melhor ano desde 2011.

Preliminarmente, balança comercial é o resultado da diferença entre o que um país importa e o que um país exporta. Ou seja, se a balança é positiva, é porque o país exportou mais do que importou, e se a balança é negativa, é porque o país importou mais do que exportou.

Normalmente, uma balança comercial positiva é vista como algo positivo, pois se um país vendeu mais do que comprou, pressupõe-se que houve um enriquecimento desse país no ano que se passou.

Essa visão, de fato, pode ser bastante equivocada, e no caso concreto do Brasil em 2015, é muito equivocada.

A desvalorização recorde do real frente ao dólar fez com que, para estrangeiros, comprar produtos brasileiros fosse muito mais barato. Ao mesmo tempo, para um brasileiro, passou a ser cada vez mais difícil e caro comprar produtos importados.

Passamos a vender mais produtos para o mercado internacional, não porque nossos produtos se tornaram melhores, com maior valor agregado, ou porque tivemos um aumento na produtividade, mas simplesmente porque eles se tornaram mais baratos, e isso na verdade é uma medida de empobrecimento, e não de enriquecimento.

Em um exemplo concreto: se uma empresa brasileira, em 01/01/2015, produzisse 100 toneladas de um produto que vendesse a dez reais por tonelada para uma empresa estrangeira, com o dólar a R$ 2,70, naquele dia faturaria US$ 370,37. Em 31/12/2015, produzindo as mesmas 100 toneladas a dez reais cada tonelada, a venda para uma empresa estrangeira, com o dólar a R$ 4,00, resultaria em um faturamento de US$ 250. Pela mesma quantidade de trabalho, a empresa brasileira deixou de ganhar pouco mais de 120 dólares.

Se com essa perda econômica no valor unitário da venda de cada bem, captamos muito mais recursos do exterior, isso significa que, na prática, houve desabastecimento interno, sentimento esse que se mostra prático com a queda dos índices de produtividade da economia brasileira, resultando em aumento geral de preços de produtos e serviços para a população brasileira.

Na verdade, o aumento do superávit da balança comercial brasileira, em um cenário de desvalorização cambial e redução da produtividade, significa que o Brasil ficou mais pobre, com seus fatores de produção mais exauridos, em um cenário de aumento geral de preços por desabastecimento e com concentração de renda, pois todos ficaram mais pobres enquanto apenas os exportadores propriamente ditos ganharam alguma coisa nesse arranjo.

Em um cenário em que a poupança nacional real é negativa, pois a população consome mais do que produz, a desvalorização cambial gera necessariamente o fim dos investimentos externos no país, já que, para uma empresa estrangeira lucrar com investimento no Brasil, tem que superar não só o custo-Brasil da falta de infraestrutura, alta carga tributária, burocracia e baixa qualificação profissional, mas também superar a própria desvalorização do lucro.

Afinal, nesse cenário de desvalorização de mais de 50% da moeda nacional, se a empresa investir em dólar para lucrar em real, terá de ter um lucro realmente alto para superar o cenário inóspito e a falta de poder de compra da clientela nacional.

Uma última perspectiva se dá no que tange ao que é importado de fato. Como o Brasil é reconhecidamente uma nação de poucos avanços tecnológicos, para aumentar a produtividade nacional é necessária a importação de bens de capital e técnicas atreladas a recursos humanos. Com o baixo poder de compra do real, essa importação que gera riqueza futura fica inviabilizada, criando um sistema onde permanecemos dependentes da produção externa, sem o aumento de empregos e renda no país. Mesmo uma importação “boa” aos olhos desenvolvimentistas fica inviabilizada.

E por que então essa comemoração descabida?

Porque o Brasil ainda vive, do ponto de vista econômico, na era mercantilista que regeu a Europa nos séculos XV e XVI, a chamada era do mercantilismo, onde economistas achavam que a riqueza de uma nação está atrelada à acumulação de reservas, ao protecionismo e à balança comercial positiva, o que, como visto, é uma falácia. Esse é o neomercantilismo petista conectando o Brasil do passado ao Brasil do presente, na pior maneira possível.

Já está mais que provado que a verdadeira riqueza está no aumento do fluxo de negócios e seu bom ambiente econômico, na moeda forte e estável e nas instituições democráticas sólidas que respeitam a propriedade privada e a liberdade de empreender. Em suma, é tudo aquilo que acredita o liberalismo anti-petista que quer conectar o Brasil do presente ao Brasil de um futuro próspero e rico.

Não se deixe enganar por supostas boas notícias. No atual cenário econômico, desconfie de tudo o que o Governo publique. Em 99,9% dos casos, sua desconfiança se mostrará correta.

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Fonte:
Instituto Neoliberal

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2 comentários

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Muito boa matéria mesmo, pois já está mais que na hora dos produtores entenderem os efeitos das politicas sobre seus negócios, desde a desvalorização do dólar com seus efeitos de longo prazo, como o aumento recorde dos custos de produção do milho anunciado pelo Imea, até as politicas de juros Selic. De nada adianta festejar quando os produtos aumentam de preço devido ao cambio, para depois chorar os custos devido ao mesmo cambio. Continuo achando que o mar não está para peixe, espero a reação dos preços em Chicago e ela não vem, em seu lugar só péssimas noticias da China. Um aspecto importante abordado no artigo, diz respeito ao tema investimento e renda, acertando em cheio principalmente no caso dos granjeiros, pois o que acontecerá no Brasil é justamente isso, um descontrole na produção com diminuição dos investimentos e queda acentuada na renda. Enquanto os produtores de grãos se preparam para uma safra de milho com custos altissimos e altos niveis de incerteza.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Rodrigo, estamos diante de famílias dinásticas, Bunge, Cargill, no setor de commodities agrícolas. Quanto aos "chimicos" (Bayer, Monsanto, Pfizer), sim escrevo com "CH", pois era assim que se escrevia quando eles entraram na atividade e, estão hoje sendo os protagonistas mundiais dos lançamentos de novas moléculas para o controle de parasitas.

      Quanto a genética das plantas, as empresas têm nos bancos genéticos, mantido pelos governos, a sua mina para garimparem novos materiais. Veja o caso do soja, até meados da década passada, o agricultor tinha ao seu dispor cultivares que produziam 40/55 scs/ha. Hoje tem materiais com potencial de produção de até 80 scs/ha. Sobe-se os patamares de produtividade e, em seguida vem as elevações de custo, cujos materiais são de propriedade intelectual dessa elite.

      Os detentores do "inicio" e do "fim" são os mesmos há décadas e, vão continuar a manter a dominação da tecnologia, pois só assim serão "os donos da situação". Enquanto isso os "simples mortais" (produtores rurais) vão se alimentando de esperanças e, alimentando o mundo com alimentos cada vez mais baratos.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      He! He! (risos). Ontem tive a felicidade de aprender mais uma. O matemático e astrônomo alemão August Ferdinand Möbius (1790-1868) desenvolveu um estudo de um objeto que foi chamado de faixa de Möbius. É um espaço topológico obtido pela colagem das duas extremidades de uma faixa, após efetuar meia volta numa delas.

      A importância do estudo deste objeto, na época, prendia-se à noção de orientabilidade, que não era ainda bem compreendida. Möbius introduziu também a noção de triangulação no estudo de objetos geométricos do ponto de vista topológico.

      A faixa de Möbius:

      ? é uma superfície com uma componente de fronteira;

      ? não é orientável.

      ? possui apenas um lado.

      ? possui apenas uma borda.

      ? representa um caminho sem fim nem início, infinito, onde se pode percorrer toda a superfície da faixa que aparenta ter dois lados, mas só tem um.

      Estou citando esse fato, pois tem muito a ver com a nossa realidade:

      ESTAMOS A CAMINHAR SOBRE A FAIXA DE MÖBIUS !!!

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Rensi, infelizmente esse tem sido o pensamento predominante no Brasil, o de que as empresas, os empresários são os grandes vilões por não passarem de exploradores gananciosos. Por que será que não existem no Brasil grandes players globais na exportação de soja, não seria por que acima desses grandões existe um "mais grandão" ainda, chamado governo que possui muito mais poder e força? O que faz com que as pessoas pensem que a "tecnologia" produzida pela Embrapa seja gratuita? Basta que uma demagoga despreparada como Kátia Abreu passe um melzinho na boca dos produtores..."vocês são os heróis do Brasil"... para que encham o peito e fiquem a achar que são vocês os responsáveis por encher a barriga dos brasileiros. Nada é de graça. E quando chamo a atenção para a responsabilidade do governo, com suas politicas publicas, que são o câmbio, os juros, etc... no desabastecimento, no encarecimento dos produtos, no aumento dos custos, no barateamento das exportações, me dizem... "a culpa é dos capitalistas"... ou, "o problema deve ser resolvido entre as cadeias produtivas", como se isso fosse possivel, como se fosse verdade. Foram as politicas que produziram essa situação, não foram os produtores, que não querem ser heróis, querem renda e se não enxergam que o grande Leviatã está comendo lentamente essa renda, que continuem andando às cegas, perseguindo inimigos imaginários e poupando os verdadeiros culpados. Lamento o tom Sr. Rensi, gosto de ler seus comentários, são sempre instigantes, o papel das multinacionais deve ser discutido, não tenho dúvidas, mas não em relação ao que não possuem influência. Tudo não passa de uma troca de favores, os politicos e lideranças concedem privilégios aos grandes conglomerados estrangeiros, em troca de poderem colocar a culpa das mazelas provocadas por eles mesmos nas costas destas mesmas empresas. Mas o caso do desabastecimento e aumento record do preço milho não tem nada a ver com isso.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Rodrigo, NÃO SOU SOCIALISTA. Só estou dizendo sobre a nossa realidade. Quanto a EMBRAPA, ela cobra royalties dos seus materiais, como toda empresa cobra. Essa coisa de socialista de interferir no mercado, fazendo na mão pesada que certos serviços sejam de graça à população. O SUS é de graça...Vá lá com câncer para fazer um tratamento e, entre na fila para esperar DOIS ANOS para iniciar o tratamento.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      No País não há política, o que se tem é "politicagem", que é um balcão de negócios, onde grupos negociam interesses pessoais, ou troca de favores.

      Lendo o seu argumento, dá para antever qual será o próximo alvo do PT e seus asseclas. No inicio a maior empresa do país, a lucrativa Petrobrás foi alvo dos seus ataques. Veja o que aconteceu. Agora, todos dizem que o setor que apresenta lucro na atividade e, está produzindo, ainda alguma renda é o setor agropecuário. ESSE É O PRÓXIMO ALVO !!...SALVE-SE QUEM PUDER !!!

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  • Marcelo Marte Fortaleza - CE

    Excelente matéria. Não poderia resumir melhor a situação do Brasil como país que exporta seu unico bem que o governo ainda não conseguiu destruir, que é a produção agricola.

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    • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

      Excelente Artigo. A Balança Comercial tem sido um indicador muito mal interpretado e distorcido no Brasil, seja pelos Políticos como pela Imprensa em geral. Trata-se de um indicador que não pode ser avaliado de maneira simplista, apenas confrontando valores nominais entre o que entrou e o que saiu. Nosso modelo econômico é ridículo e frágil porque não agrega valor, lutamos por melhorar a margem do setor agrícola sem pensar na transformação correspondente que poderia estar sendo feita com muita competitividade. Nesse caso, os culpados somos todos, não apenas os Governos, mas fundamentalmente os próprios Agricultores, Associações de Classe e Industriais. Gritamos quando o Brasil importa Feijão da China, mas achamos normal importar todo o resto. Não exortamos a exportação de manufaturados que exigem a incorporação constante de um ativo intangível pouco valorizado por aqui - a Educação. Do ponto de vista do manejo das contas a nível macroeconômico, é uma desonestidade tremenda o Governo festejar como mérito de suas políticas o fato de existir um saldo positivo no Balanço Geral entre exportações e importações, pelo simples motivo que esse fluxo financeiro não lhe pertence, mas sim ao somatório dos participantes privados que executou as operações. Nesse sentido, a reserva cambiai oriunda de saldos comerciais "positivos" é uma mera conta gráfica, cujo valor "concreto" não está a disposição do Governo para ser usado indistintamente como instrumento de Política Econômica. Precisamos de medidas estruturais, de longo prazo e não paliativas para agradar este ou aquele setor.

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