Café: Preços em altas históricas em um quadro equilibrado, por Rodrigo Costa

Publicado em 07/11/2016 10:21

O banco central dos Estados Unidos manteve os juros inalterados, como esperado, e o número de postos de trabalhos criados no país durante o mês de outubro ficou acima do necessário para fazer com que a taxa de desemprego fique baixa. A revisão de 35 mil vagas adicionais criadas em setembro também favorece o FOMC a “entregar” o ajuste dos juros em Dezembro precificado pelo mercado.

Bem, isto se não houver surpresas no resultado da eleição presidencial que de acordo com as pesquisas colocam Trump empatado com Hillary. Nesta terça-feira, dia 8 de novembro, os eleitores decidirão quem será o novo presidente da maior economia do planeta, sendo que o mercado teme que a republicano vença – motivo da queda das bolsas de ações nos últimos cinco dias e da baixa do índice do dólar.

Os três principais índices de commodities também cederam empurrados pelas perdas das matérias-primas energéticas, do cacau, do algodão, dos grãos e do açúcar – na verdade os metais preciosos, o suco de laranja e o café foram basicamente os componentes ganhadores na semana.

O café em Nova Iorque fez uma breve tentativa de realização após a divulgação do relatório de comitentes da semana passada ter mostrado os fundos com uma posição comprada grande, entretanto a queda na terça-feira foi tímida dada o suporte encontrado por compras de comerciais, que ao que parece correram atrás do mercado na quarta e quinta-feira. As apostas de alguns na baixa resultaram em uma correria de cobertura na sexta-feira, levando o contrato “C” a US$ 172.00 centavos por libra-peso – o maior patamar desde 20 de janeiro de 2015.

Se convertermos Nova Iorque em centavos de Real por libra-peso os preços fizeram uma nova alta histórica, ultrapassando a alta anterior de dezembro de 2014. A saca de café no mercado físico brasileiro não para de fazer recordes consecutivos, em valores absolutos, para quaisquer qualidades comerciais que se queira falar. O arábica da ICE convertido em centavos de Pesos Colombianos por libra também está excelente, com o fechamento a COP 5,244.15 centavos, próximo dos COP 5,552.52 centavos de março de 2011 – o mais alto patamar histórico. Para a Colômbia e o Brasil o rally vem em um momento muito bom, já que os dois países colhem safras grandes de arábica. O primeiro está mais feliz ainda, pois em 2011 produzia menos de oito milhões de sacas e hoje deve produzir próximo de 15 milhões de sacas.

O Commitment of Traders mostrou os fundos com um recorde de posição bruta comprada de 70,173 lotes, muito embora o líquido (comprado menos vendido) ainda esteja timidamente abaixo do recorde de 12 de fevereiro de 2008 – que era de 56,205 lotes e terça-feira passada estava em 55,917 contratos. Muito provavelmente temos um novo recorde com as altas de quinta e sexta-feira, pois os especuladores devem ter aumentado em outros seis mil contratos as suas posições.

O número de contratos em aberto do “C” também não para de bater recordes consecutivos com um total de 220,673 lotes, segundo o último dado disponível – ou um aumento de quase 35 mil contratos em um mês. Curiosamente a contínua alta do mercado se dá mesmo com o Real Brasileiro desvalorizando de 3.10 para 3.24 na semana e independentemente de outras correlações que o café estava tendo com algumas commodities.

O movimento se torna mais perigoso ainda de agora em diante, pois os fundos estão no “controle” (driving-seat) momentâneo do mercado em um momento aonde as origens dosam as vendas esperando por preços maiores, expondo, portanto, os vendidos a potenciais coberturas de seus shorts. Em outras palavras pode faltar venda e os vendedores naturais podem virar compradores.

Outro aspecto importante é o chamado depósito de boa-fé que em 2014 saiu de menos de três mil dólares para chegar a quase oito mil dólares por contrato. A bolsa na semana passada fez um aumento “simbólico” das margens iniciais e dada a performance recente não seria surpresa vermos um novo incremento. Se as chamadas de margens de variação já causam algum aperto no fluxo de caixa, um margeamento inicial maior pode “comprimir” um pouco mais o caixa, principalmente para os agentes menores.

A situação pode repetir o que vivemos em 2014, quando havia menos compradores em potencial no físico (reflexo do tamanho de linhas de crédito), alargando o diferencial e “atrapalhando” a marcação a mercado das posições do basis. Pior ainda é a demanda internacional estar relativamente acanhada, talvez pela cobertura ser boa de diferenciais a e preocupação dos torradores estar na cobertura de futuros. Ao menos se houvesse aonde “desovar” os estoques altos carregados por quem compra café físico e vende futuro, isto liberaria “recebíveis” para serem convertidos em dinheiro.

Operadores do físico se surpreendem inclusive com a força do mercado futuro quando a preocupação de disponibilidade de café no imediato e nos próximos meses é inexistente, seja pelos estoques nos países consumidores ou pelas ofertas relativamente baratas no FOB – o quadro da indústria brasileira é a exceção, pois o país não pode importar café.

Há também a exposição dos agentes que operam a famigerada arbitragem entre Nova Iorque e Londres. Explico: o quadro de oferta e procura mundial tem um déficit do robusta em função da safra menor Vietnamita e do conilon brasileiro, e um superávit do arábica, graças à safra recorde brasileira, a recuperação da produção na Colômbia e o incremento da safra de Honduras. Sendo assim, vender o arábica e comprar o robusta na bolsa se torna uma aposta teoricamente menos arriscada. Acontece que a arbitragem de março/março na sexta-feira, por exemplo, abriu de US$ 70.00 centavos de desconto para 75.00 centavos de desconto, ou quase o mesmo tanto do movimento de Nova Iorque. Para um gestor de risco, o sinal amarelo acende, e eventualmente pode forçar uma liquidação de uma operação teoricamente mais segura. Notem que a entrega do contrato de Novembro da bolsa levou o spread para prêmios de 31 dólares sobre o contrato de Janeiro.

Em resumo o terminal momentaneamente descola da situação presente no fundamento, negociando uma expectativa de squeeze de quem precisa comprar o flat-price. Considerando a necessidade de compra da indústria podemos dizer que o fim do movimento de alta se dará quando aumentarem o preço do torrado e moído e então fixarem seus cafés no mercado futuro, tirando então a aposta dos que estão comprando o mercado para “squeezá-los” na mesa e deixando os fundos a mercê deles mesmos. Até que aconteça isto podemos ver Nova Iorque primeiro romper os 180 centavos ou ficar irracional e ir rumo aos dois dólares, para talvez voltar abaixo de 150.00 centavos.

Irracional, entretanto, é a palavra que usamos para explicar uma movimentação do mercado que não foi prevista pelos agentes e analistas. Aos baixistas resta torcer para o Donald Trump ganhar as eleições americanas, o que trará uma enxurrada de venda de ativos de risco, incluindo o Real e o café.

Uma ótima semana e bons negócios a todos,

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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Fonte:
Archer Consulting

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