Laranja no Deserto: A citricultura no Egito, por Paulo Celso Biasioli

Publicado em 17/04/2017 11:48
Paulo Celso Biasioli é Engenheiro de Alimentos

LARANJA NO DESERTO.

Por indicação de amigos europeus atendi a um honroso convite e fui passar uma semana numa das maiores empresas agrícolas do Egito, a Magrabi Agriculture.

O Egito, ou República Árabe do Egito, é um país localizado ao norte do continente africano, em uma parte que compreende a península do Sinai, banhado pelo Mar Mediterrâneo, de frente para a Europa. Só para lembrar, lá ficam as Pirâmides, o rio Nilo e o canal de Suez, locais admiráveis sempre citados nos nossos livros de geografia.

A MAGRABI AGRICULTURE, pertence à uma importante e tradicional família egípcia de nome Magrabi.

Há 25 anos, o senhor Sherife Magrabi, criou em PLENO deserto, nas cercanias na rodovia que liga a cidade do Cairo ao porto de Alexandria a Magrabi Farm - MAFA. Visionário como poucos, a quem tive o prazer de conhecer e passar dias juntos, a partir da areia, construiu e criou uma fazenda exemplar; irrigada pelas águas do rio Nilo que chegam até lá deslocada por canais artificiais e fartamente distribuídas nos seus quase 4.500 hectares (!).

A fazenda produz e manipula em pack-houses internos e específicos, frutas, legumes e vegetais, destinados na maioria ao mercado europeu que é atendido, a partir de Alexandria, por 5 dias de viagem de navio. Um total de 55 países são atendidos pela sua produção.

Tudo perfeito, moderno, limpo e controlado!

Os cuidados, já a partir de viveiros, e nas demais de produções são extremos, admiráveis e até mesmo, invejáveis. A citricultura é o forte da fazenda, chegando a produzir e exportar por safra 2 milhões de caixas padrão (40,8 kg); depois vem morangos, mangas, goiabas, romã e diversas outras culturas de verduras para saladas. Apenas para citar, a MAFA é a maior fornecedora de saladas para o Mc’ Donalds da região.

Daqui do sul da América pouco sabemos sobre esta e muitas outras empresas agrícolas deste mundo empoeirado e majoritariamente mulçumano. Impossível imaginar como o deserto que faz, há milênios, parte da vida deste povo deixou de ser um desafio. Muito ao contrário, a imensidão bem explorada, beneficia o povo.

Povo simples, simpático, empático e um pouco brasileiro nas suas manias e maneira de viver, adoram futebol, adoram música...super gentis. Me senti em casa mesmo depois de mais de 20 horas entre voos e aeroportos no trajeto de São Paulo-Roma-Cairo.

Cairo, uma cidade cosmopolita, louca e monocromática. Mais de 15 milhões de pessoas e carros, se esbarram entre si, buzinas e carros arranhados, eles falam alto e parece que estão sempre dando esporro, numa língua complicada e até assustadora.

Mulheres e homens se vestem de todas as maneiras; algumas mulheres com burcas e os famosos véus mulçumanos (niqab, chador, al-mira, shayla) se confundem com jeans e camisetas descoladas e modernas, muito legal! Na fazenda vi todas mulheres com avental uniforme e com os rostos cobertos, não vi nenhuma em cargo de comando. Na mesma linha, os homens também se vestem de forma bem diversificada; as tradicionais e as modernas. 

A Citricultura.

Hoje o Egito está entre os top 10 países no ranking da citricultura, produz ao longo do rio Nilo, cerca de 65 milhões de caixas, em pomares irrigados e obtendo frutas de variedades diversas como, Navel (Baia), Valência, Murcot, Limão Siciliano, Limão Tahiti, Grapefruit e outras locais. Quase metade de toda a produção é para exportação e boa parte dela atende ao mercado de frutas orgânicas. Poucas e raras doenças deixam o ambiente mais calmo e as produções mais segura.

Como está na linha do Equador, o clima do país é composto basicamente por duas estações; inverno (novembro a março) e verão (maio a setembro), com curtos períodos de transição entre as duas estações. Os invernos são frescos e moderados, e os verões são quentes. As temperaturas mínimas e máxima no mês de janeiro apresentam variação em média de 9 a 18°C; os meses de verão são quentes em todo o país, com temperaturas máximas em junho, ao meio dia, variando, em média, entre 33°C e 40°C. O período de chuvas abrange basicamente os meses de inverno. Em média, as chuvas são bastante escassas, mas variam de acordo com a região do país. Na região que estive a média é de 178 milímetros.

Segundo dados do www.gain.fas.usda.gov, a área plantada de citros (todos) no país é de quase 150.000 hectares e com crescimento estimados de 3 a 5% ao ano. Hoje a população de pés é de 19,5 milhões gerando anualmente uma produção de 3.000 milhões de toneladas de frutas ou que representam 73 milhões de caixas; portanto com uma produtividade em alto nível (3,6 cx/pé) !! Esta produção coloca o país em 6° lugar entre os maiores produtores mundiais, atrás de Brasil, China, USA e México e, portanto, com enorme potencial de fornecimento tanto de frutas in-natura, como na produção de sucos (NFC ou FCOJ), razão desta minha visita por lá.

A FAZENDA

Com cerca de 2.000 empregados fixos (a organização toda) e mais 2.500 safristas, a fazenda produz diversas frutas, verduras, legumes e ervas, conforme abaixo. Muito perfeito e cuidadosamente bem produzido e manuseado, pois a filosofia principal é produzir o melhor para o consumo humano. Enfim, uma movimentada cidade de 4.500 pessoas com sua área de 4.250 hectares com intensa produção assim distribuídos:

Em hectares:

- Citros (em produção e novos) 2.200
- Morango, Uvas, Romãs, outras 1.505
- Alface, Repolho, Pimentão, outras 75
- Repolho 25 - Ervas diversas (em estufa) 50
- Palmas 180
- Viveiros 50
- Estradas e Edifícios 170

Um destaque importante é a produção desta gama de produtos classificados e certificados como ORGÂNICOS.

De onde vem a água se a fazenda fica no deserto? Parte do Nilo, devidamente distribuída em canais e parte de poços profundos, anos atrás houve a mudança do conceito de irrigação de inundada para gotejamento; e esta mudança de técnica gerou uma economia brutal e que promoveu um consumo de 41 milhões de m³/ano, bem abaixo da quota de 163 milhões m3/ano!

A estrutura montada passa por uma atenção especial no aprimoramento da mão de obra, centros de treinamento, grêmio esportivo, creches, escolas e até um pequeno hospital.

O campo técnico tem práticas admiráveis quanto à testes varietais, produção de insetos benéficos, seleção de variedades, criação de polinização cruzada e programas de melhoramento contínuo. Certificada por inúmeras entidades mundiais, permite à MAFA, atender e fornecer aos mercados exigentes e específicos.

Meio ambiente é respeitado de maneira objetiva e forte, implementando o uso racional de pesticidas (mesmo que sacrifique de 10 a 15% da produção), uso de insetos benéficos, compensação das emissões de CO2 e oferta de produtos CO2 neutros aos clientes, programa de eliminação progressiva de agentes químicos de indução entre outros.

Para completar, uma gestão visionária, empreendedora, aplicada e sobretudo moderna; eles planejam entrar na produção de NFC para atender ao mercado local, aproveitando as frutas descartadas de PH (pack-house) deles e de outros na vizinhança.

Enfim, uma agradável surpresa...há laranja no deserto! 

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Fonte:
Paulo Celso Biasioli

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