A delação radioativa de Joesley e seus efeitos possíveis

Publicado em 19/05/2017 12:17
Por Lygia Pimentel, analista da Agrifatto

A gravidade das informações contidas na delação de Joesley Batista traz desdobramentos de ordem macroeconômica e que refletem globalmente sobre os ativos vinculados, confirmando o que o mercado e, mais ainda, o eleitor brasileiro, já sabia de antemão: farra com dinheiro público via empréstimos baratos através do BNDES se transformando em contrapartida para a confecção de caixa dois, promovendo enorme poder político e desvios para a distribuição de benesses aos amigos do rei. O dinheiro, posteriormente, seria utilizado para comprar o silêncio dos envolvidos quando a bomba explodiu.

É por isso que, em meio a todo o turbilhão e ameaças representadas pela Operação Lava Jato à classe política, não surpreende que malas de dinheiro ainda estivessem circulando pelos esgotos do poder. Não era necessariamente falta de vergonha na cara ou desafio claro aos perigos representados pelas investigações, mas uma clara tentativa de promover o “salve-se quem puder”.

Na república das bananas, volatilidade é apenas um detalhe ao qual já temos nos acostumado. Mesmo assim, a reação do mercado foi forte.

A Bolsa acionou o circuit breaker após cair mais de 10%. O Dólar, obviamente na contramão, segue próximo ao limite de alta. As ações da JBS na BM&FBovespa também sofreram recuo de quase 15%.

O agronegócio também leva sua parcela de penalização. Preliminarmente, podemos considerar algumas possibilidades que ainda deverão ser confirmadas e ajustadas conforme avança todo o processo jurídico que envolve os detalhes a que temos tido acesso.

Por enquanto, podemos pontuar da seguinte forma:

1. No curto prazo, aversão ao risco
Hoje, boa parte das indústrias que processam carne bovina amanheceu fora das compras, aguardando maior clareza para dar continuidade ao seu posicionamento no mercado. Com isso, os contratos futuros de boi gordo caíam 1,13%, em média, na BM&F nesta manhã de quinta-feira, dia 18 de maio.

Como exportações e mercado interno devem sofrer com possíveis efeitos macroeconômicos apenas no médio-prazo, e ainda dependem de informações sobre a evolução do processo para, há possibilidade de que o mercado consiga se reaproximar dos valores prévios nos próximos dias, sem voltar, talvez, aos valores originais, ou seja, ainda sofrendo alguma penalização.

Não podemos nos esquecer, entretanto, de que há estoque de animais em idade de abate nos pastos e que o período frio e seco, ou seja, a safra, se aproxima. Isso deve fazer com que a queda de preços evolua não necessariamente pelos efeitos da crise política, mas simplesmente pela questão sazonal.

2. Economia brasileira bombardeada representa risco de alongamento ao período de baixo consumo de carne bovina
Os efeitos da crise política sobre a economia brasileira são perversos no curto e médio-prazos, apesar de apresentarem uma esperança de reforma política mais adiante. No momento, o que há é aversão ao risco e perda de confiança.

Dito isso, há de se lembrar que um novo motivo para afastamento dos investidores representa postergação da recuperação econômica, que afeta o consumo de carne por mais um tempo, até que as coisas se acalmem. Quando isso acontecerá, ninguém sabe.

3. O que acontece com a JBS?
É impossível dizer no momento, mas há muito medo no ar.

Há grande questionamento sobre a musculatura que o JBS possui para enfrentar uma crise tão profunda, duradoura, com tantos desdobramentos, e que traz impactos econômicos imediatos em sua matriz e suas subsidiárias internacionais. Outra questão a se considerar são os custos dos processos jurídicos que envolvem a empresa.

Considerando-se que JBS é a maior processadora de carne bovina do mundo, os prejuízos fiscais, econômicos e sociais seriam imensos no caso de falta de energia para superar os efeitos dessa crise.

Infelizmente, essas são as consequências da enorme distorção causada por um governo centralizador, que direciona investimentos, imprime dinheiro e manipula autoritariamente o fluxo do dinheiro em um país de dimensões continentais, como o Brasil.

De toda forma, deve-se aguardar que o mercado encontre mais calma e equilíbrio para avaliar financeiramente e juridicamente como isso impacta as operações da empresa.

4. Possibilidade de paralisação das reformas e cobrança do Funrural
Possivelmente, haverá mudanças significativas na base do governo, o que deve acarretar reorganização dessas bases para que possamos retomar as negociações e, posteriormente, votações de medidas provisórias e reformas.

A votação sobre a cobrança do Funrural pode entrar nessa, bem como as diretrizes do novo Plano Safra.

Entretanto, as diretrizes do Plano Safra deverão ser mantidas devido à sua alta dependência da política monetária e do nível dos juros no Brasil. Como o corte da taxa Selic deve se manter, isso deve se estender também para o Plano Safra.

5. Dólar
A crise política causa aversão ao risco. Em caso a repercussão das informações de hoje sera duradoura, existe a expectativa de afastamento do fluxo de Dólares do país, o que reduziria a oferta da moeda internamente, pressionando sua cotação para cima.

Isso favoreceria o poder de compra dos clientes internacionais, que possivelmente veriam sua moeda se valorizar perante o Real. Caso o fato se concretize, o movimento poderia ajudar no volume de vendas ao longo do ano e estimular a diluição dos efeitos da Operação Carne Fraca sobre as exportações de carne bovina.

Um desabafo
Tudo o que foi descrito aqui vem carregado com uma grande possibilidade de ser reconsiderado e modificado, dependendo da evolução das declarações, investigações e, especialmente, de como são conduzidas as ações relativas ao problema da corrupção no Brasil.

Pessoalmente, posso afirmar que a situação assusta e que coloca em cheque a fé do cidadão que trabalha honestamente para pagar suas contas e sustentar sua família. É desanimador.

Mas o fato é que poder representa perigo, e deixamos o poder dos desonestos crescer através da transferência de recursos para a classe política via impostos crescentes e progressivos ao longo das últimas décadas. Onde há dinheiro, há corrupção e há compra de poder.

Por isso, espero que sangremos tudo o que for necessário para conseguir recriar um país que se perdeu em meio à crença de que seria possível transferir a responsabilidade de resolver nossos próprios problemas para um governo demagogo e populista, que promete em sua constituição algo tão subjetivo quanto o conceito de felicidade, mas não é capaz de cumprir nem mesmo a função básica de ensinar matemática básica a suas crianças. Um país cuja voz já não é ouvida e que luta arduamente contra os tentáculos de um governo corrupto para retomar um pouco de sua autonomia.

Com certeza, vivemos tempos sombrios, mas o que se tem a fazer é crer que serão superados em benefício das próximas gerações. Seguimos em frente, portanto.

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Por:
Lygia Pimentel
Fonte:
Agrifatto

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