Estimativa da safra americana atrapalhou agosto

Publicado em 18/08/2017 11:44

Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires. Este material é um resumo mensal feito sobre assuntos nacionais e internacionais de relevância ao agro. ([email protected])

*Minha leitura dos fatos e fmpactos do agro em agosto de 2017

A nova estimativa da CONAB (agosto) para a safra de grãos 2016/2017 está em 238,22 milhões de toneladas, 27,7% a mais que as 186,6 milhões de 2015/16. Agregamos em apenas um ano 51,6 milhões de toneladas de grãos. A área cultivada é de quase 60,66 milhões de hectares, 4% maior que na safra anterior. Mais de 2,2 milhões de hectares adicionais servindo ao desenvolvimento do Brasil. Nos preços das commodities alimentares globais medidas pela FAO, julho foi bom. O índice de preços chegou a 179,1 pontos, 3,9% acima de junho e 10% acima do mesmo mês de 2016. Fomos ajudados pelo leite (subiu mais de 3,6%), cereais (5%) e açúcar (subiram 5%). As carnes e óleos vegetais ficaram na mesma.

Vamos verificar agora no próximo mês o efeito da estimativa de safra do USDA, que surpreendeu para cima em termos de produtividade e derrubou os preços de soja e milho. Em julho continuamos com excelente performance nas exportações. Foram US$ 8,3 bilhões, praticamente 5,8% mais que junho de 2016, deixando um superávit de US$ 7,2 bilhões. No acumulado de janeiro a julho o agro trouxe US$ 56,4 bilhões, quase 6,8% acima de 2016. O superávit deixado já esta em US$ 48 bilhões neste ano. A soja vem sendo o destaque do ano e em julho foram exportados mais US$ 3,1 bilhões.

Somente o complexo soja trouxe ao Brasil incríveis US$ 20 bilhões no primeiro semestre. Devemos exportar mais de 64 milhões de toneladas de soja (até julho já foram 51,9 milhões) que poderão trazer ao Brasil US$ 23,4 bilhões e somando óleo e farelo, chegamos perto de impressionantes US$ 30 bilhões. No milho podemos exportar mais de 30 milhões de toneladas neste ano. Somente em julho foram 3,3 milhões, ajudando a escoar esta grande segunda safra e não deixando os preços caírem mais aos produtores.

Nas carnes, que este ano tem margens melhores beneficiadas pelo menor custo de ração, também tivemos crescimento de 13,2%, acumulando US$ 1,3 bilhão em vendas. Segundo estudo da OMC, o Brasil é o terceiro exportador agrícola do mundo, atrás da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos, representando 5,1% do total mundial. Em 2016 quase 25% das nossas exportações foram para a China, e devem crescer.

Impulsionada por estes incríveis números do agronegócio, a balança comercial brasileira teve um superávit de US$ 6,3 bilhões em julho, advindos de US$ 18,76 bilhões em exportações (14,9% acima) e US$ 12,47 bilhões em importações (6,1% acima). No ano já acumulamos um superávit de US$ 42,51 bilhões, contra US$ 28,22 bilhões no mesmo período de 2016. Podemos fechar o ano com superávit de US$ 60 bilhões, dando grande contribuição ao Governo e à nossa sociedade neste momento de retomada da economia.

A novidade empresarial do mês foi a inauguração da usina de milho da FS Bioenergia em Lucas do Rio Verde, investimento de R$ 450 milhões com perspectivas de faturamento ao redor de R$ 500 milhões por ano. Produzirão etanol, óleo de milho (usado no biodiesel) e o farelo de milho, chamado de DDG (“distillers dried grains”). É próxima de uma fábrica de rações e de biodiesel, o que deve permitir a circularidade de produtos.

Esta unidade pode moer 50 mil toneladas de milho por mês e produzirá 240 milhões de litros por ano. O capital é de 75% de uma empresa americana Summit e 25% da Fiagril. A Datagro acredita que na safra 2017/18 teremos já 750 milhões de litros sendo produzidos no Brasil, mais etanol no mercado.

Enfim, as notícias de agosto no geral foram razoáveis ao agro em termos de produção e ligeiramente negativas em termos de preços pelos fatores listados acima. Tínhamos crescente expectativa que os preços de milho e soja subiriam, mas a divulgação da estimativa de safra do USDA foi uma ducha de água fria neste mês, mesmo com as crescentes importações chinesas. Resta esperar o próximo anúncio, dia 12 de setembro.

Até lá muita expectativa. No cenário econômico e político, na minha leitura aconteceu o menos pior. Deixamos este Governo que aí está terminar seu trabalho e vamos pressionando ferozmente pelas reformas estruturantes, privatizações e corte de gastos e de benefícios e estruturas estatais.

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Fonte:
Marcos Fava Neves

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2 comentários

  • Dalzir Vitoria Uberlândia - MG

    discordo do professor quando fala que estimativa de safra americana atrapalha preço..mas as fofocas de analistas..economistas..e jornalistas..foram maiores que a realidade de perdas e o produtor foi enrolado..engrupido pelos fofoqueiros de plantao...

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  • Dalzir Vitoria Uberlândia - MG

    de vez em quando vejo produtores reclamando em reduzir a produção para melhorar preços e temos um exemplo que o caminho é produzir com baixos custos que em existindo oferta se agregará valor com a industrialização e transformaçao de proteina vegetal em animal..olha a fabrica de etanol de milho...se não tivesse oferta de milho seria feita esta fabrica!!!!! claro que não..olha o DDG e seu uso em transformação da proteina vegetal em animal sairia esta fabrica!!!! claro que não...hoje se for ampliar abates de de aves..suinos,,bovinos..vão fazer onde!! em SC..RGS,,que não..vão onde tem milho e soja..por isto que num primeiro momento o produtor pode até ter um e outro desencontro...mas existindo a produção tem-se desenvolvimento e agregação de valor..e quem ganha com o tempo..o produtor rural com mais compradores e as comunidades onde se produz milho e soja..então cada cez mais tecnologia com resultados de melhora da produtividade com redução de custos para aumentar a produção e maiores ganhos...

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