Primavera pode apresentar diferentes regimes de chuvas pelo país, por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro

Publicado em 21/09/2017 11:05

No próximo dia 22 de setembro, às 17h02 de Brasília, iniciará a primavera, estação de transição entre o inverno e o verão, que neste ano deverá apresen-tar regimes pluviométricos distintos para as diferentes regiões do Brasil. A expectativa dos produtores de café é que as chuvas se iniciem em setembro, porém nas principais regiões produtoras isso ainda não aconteceu.

O clima de agosto

Agosto é, historicamente, um dos meses mais secos do ano (Figura 1a), todavia de acor-do com o quinto Distrito de Meteorologia de Minas Gerais (5º DISME/INMET) este foi um mês seco. A precipitação média no Sul de Minas e no Vale do Mucuri e Zona da Mata, com totais chegando a, aproximadamente, 100 mm no extremo Sul mineiro e abaixo de50 mm na faixa Leste (Figura 1b).

Figura 1 –Climatologia mensal de precipitação (a) e Precipitação mensal acumulada para maio (b). Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.Figura 1 –Climatologia mensal de precipitação (a) e Precipitação mensal acumulada para maio (b). Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.

                                                                       (a)                                                              (b)

Figura 1 –Climatologia mensal de precipitação (a) e Precipitação mensal acumulada para maio (b). Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.

Segundo o 5º DISME, o armazenamento de água no solo atingiu valores mínimos, inferiores a 5% da capacidade de campo, na maior parte do Estado Mineiro em razão da ausência de chuva por mais de um mês (Figura 2a). Fato este evidenciado pela condição de déficit hídrico que prevalece em Minas Gerais (Figura 2b).

Figura 1 –Climatologia mensal de precipitação (a) e Precipitação mensal acumulada para maio (b). Fonte: SEÇÃO DE ANÁLISE E PREVISÃO DO TEMPO (SEPRE - 5º DISME) BELO HORIZONTE.Figura 2 - Condição de déficit hídrico no dia 31 de agosto de 2017. Fonte: SISDAGRO – www.inmet.gov.br

(a)                                                                             (b)

Figura 2 - Condição de déficit hídrico no dia 31 de agosto de 2017. Fonte: SISDAGRO – www.inmet.gov.br

Em relação às temperaturas, agosto foi um mês com temperaturas mais amenas que o normal (Figuras 3a e 3b). Em relação à máxima pode-se dizer que no Noroeste, Triângulo Mineiro e em parte do Norte e Oeste, os valores estiveram dentro da média (Figuras 3c e 3d). No caso das mínimas, valores acima da média se restringiram a parte do Triângulo Mineiro e região Metropolitana. Não ocorreram episódios frios no mês de agosto, contudo, o predomínio de céu claro no período noturno favoreceu a formação de geada em pontos isolados do Sul do Estado no dia 25 deste mês. As médias mensais máximas e mínimas registraram intervalos entre 20-34ºC e 6-18ºC, respectivamente.

Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de Agosto/17Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de Agosto/2017

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Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de Agosto/2017Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de Agosto/2017

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Figura 3 –Anomalias e Média mensal de temperatura: (a,c) máxima e (b,d) mínima, no mês de Agosto/2017:

O fim da estação seca

O 5º DISME destaca que os meses de setembro e outubro, normalmente, marcam o declínio da estação seca e a transição para a estação chuvosa. No mês de setembro, geralmente, são observadas as primeiras pancadas de chuvas no Estado, ocorrendo de forma isolada, preferencialmente no período da tarde ou da noite, com intensidade moderada a forte, podendo ser acompanhadas de fortes rajadas de vento e queda de granizo. Nesses meses os totais acumulados podem chegar a 125 mm no Sul de Minas, mas ainda não é fato comum serem observadas chuvas no Norte e Nordeste do Estado. As chuvas se tornarão mais frequentes a partir da segunda quinzena do mês de outubro estabelecendo-se, o início da estação chuvosa no Centro-sul do Estado.

A chuva nos próximos meses

No mês de outubro há probabilidade de que as chuvas ocorram abaixo da média nas mesorregiões do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Noroeste e Norte de Minas e nos municípios de Peçanha, Governador Valadares e Mantena no Vale do Rio Doce. O mesmo ocorrerá nas regiões do Litoral norte e Noroeste do Espírito Santo, bem como, em toda a Bahia e no Sudoeste do Piaui.

Nas mesorregiões Oeste, Campo das Vertente, Sul/Sudeste de Minas, e nos municípios de Viçosa, Ubá e Juiz de Fora na Zona da Mata Mineira há probabilidade de que as chu-vas ocorram dentro da média normal do período ou um pouco acima desta.

No mês de novembro espera-se comportamento semelhante ao mês de outubro. Já no mês de dezembro há probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média em todo o Estado de Minas Gerais, com exceção do Noroeste de Minas. Chuvas acima da média são esperadas também para a região Centro Sul, Centro Norte e Vale do São Francisco, na Bahia, nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

La Niña para o verão?

Atualmente, o Oceano Atlântico, entre as latitudes 0 e 20 graus norte, está com a sua temperatura superficial aproximadamente um grau e meio acima do valor médio para este período do ano. Fato este que contribuí para o fortalecimento dos furacões que tem se formado nestas latitudes. O Oceano Pacífico, por sua vez, também está com sua temperatura aproximadamente 1 ºC acima da média na mesma latitude. Todavia, nas últimas semanas a faixa latitudinal entre 3º Norte e 3º Sul, da porção centro oriental do Oceano Pacífico, tem apresentado resfriamento com temperaturas variando entre 0,5 ºC e 1,0 ºC abaixo da média do período. Tal fato sugere uma possibilidade de que o atual estado neutro do fenômeno ENOS caminha em direção a ocorrência de um fenômeno La Niña que poderá ocorrer com fraca intensidade ao longo do verão do hemisfério Sul. A tendência da anomalia da temperatura na região denominada Nino 3.4 fica localizada aproximadamente entre as latitudes 120 e 170W no Oceano Pacífico (Figura 4).

Figura 4 – Tendência da pluma da anomalia da temperatura da superfície do oceano na região denominada Nino 3.4

Figura 4 – Tendência da pluma da anomalia da temperatura da superfície do oceano na região denominada Nino 3.4

Prognóstico estatístico trimestral para Minas segundo o 5º DISME/INMET

Considerando que os modelos de previsão numérica apresentam baixa previsibilidade climática para a faixa Central e Sudeste do Brasil, segue abaixo o prognóstico estocástico elaborado pela Coordenação de Desenvolvimento do INMET (INMET/CDP) (Figura 5). A tendência para o trimestre setembro, outubro e novembro é de chuvas variando de normal a abaixo da média no Centro-Sul e Oeste, e chuvas próximas à média histórica no Centro-Norte e Leste. As temperaturas tendem a situar-se dentro da normalidade climatológica em todo o Estado.

Figura 5 – Distribuição das chuvas em Minas Gerais, para os meses setembro, outubro e novembro, médias climatológicas 1961-1990Figura 5 – Distribuição das chuvas em Minas Gerais, para os meses setembro, outubro e novembro, médias climatológicas 1961-1990

Figura 5 – Distribuição das chuvas em Minas Gerais, para os meses setembro, outubro e novembro, médias climatológicas 1961-1990

Figura 5 – Distribuição das chuvas em Minas Gerais, para os meses setembro, outubro e novembro, médias climatológicas 1961-1990.

O Café

Com o surgimento da ferrugem tardia, observada nas regiões cafeeiras, tem ocorrido excessiva desfolha nas lavouras, fato este também favorecido pela escassez de chuvas nestas regiões. Nos municípios do Sul de Minas que apresentaram abertura de florada em razão das precipitações no mês de agosto, as lavouras necessitam que as chuvas ocorram o mais breve possível, para desta forma garantir o “pegamento da florada”. As regiões do Cerrado e da Zona da Mata Mineira que não tiveram ocorrência de chuvas encontram-se com baixo índice de umidade no solo. Todos os fatores supracitados podem comprometer a produção da próxima safra.

Considerando a atual escassez de chuvas, os produtores que já podaram seus cafezais estão em vantagem. Neste contexto, a realização da poda, em áreas comprometidas pelo desfolhamento, pode favorecer a recuperação vegetativa da lavoura para as próximas safras, uma vez que a safra atual das lavoras desfolhadas encontra-se comprometida.

O prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foi elaborada com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET (5º DISME)/CPTEC-INPE. O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a EMBRAPA Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Cli-matologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. - [email protected] ou [email protected]

Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. [email protected]

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Epamig

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