Quatro efeitos da crise do coronavírus na economia das empresas do agro, por José Luiz Rampazo Filho

Publicado em 24/04/2020 08:16
José Luiz Rampazo Filho é graduado em Economia pela FEARP/USP, mestre em Economia Política pela PUC/SP e sócio da Agrobrain Consultoria

“Isso não é o fim; não é nem o começo do fim; mas, talvez, seja o fim do começo”. A frase do mais famoso primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchill, após uma vitória-chave dos Aliados na África, em 1942, poderia muito bem resumir o sentimento da maioria dos empresários brasileiros, depois de pouco mais de um mês de vigência das medidas de distanciamento social para combater o avanço do novo coronavírus no País.

O cenário de incertezas ganhou novos contornos nos últimos dias com a demissão do então ministro da Saúde, Luiz Mandetta, após semanas de divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre a manutenção das medidas de quarentena. A princípio, o novo ministro da área, Nelson Teich, é mais alinhado ao presidente. Ainda assim, não há garantia da retomada das atividades porque estados e municípios têm autonomia para determinar o fechamento de comércios e indústrias.

Por prover produtos essenciais à população, o agronegócio brasileiro tem sido um dos setores menos afetados pela atual crise. Isso não significa, contudo, que o setor não sentirá os efeitos negativos do cenário macroeconômico, reforçando a necessidade de cautela e planejamento.

Ao analisarmos o atual cenário macroeconômico, identificamos alguns efeitos negativos que podem trazer dificuldades ao caixa dos agentes do agronegócio nos próximos meses, sendo que quatro deles requerem mais atenção:

Oferta de crédito

A taxa de básica de juros, a taxa Selic, está no seu nível histórico mais baixo, de 3,75%, com perspectiva de novas quedas com a forte retração da atividade econômica. Contudo, são justamente as incertezas no ambiente econômico que devem impedir o setor produtivo de se beneficiar do “custo” mais barato do dinheiro.

Em momentos de crise, os bancos são muito seletivos na liberação de empréstimos, e empresas com nota de crédito mais baixa acabam tendo dificuldade de acessar recursos para fortalecer o capital de giro ou acabam tomando dinheiro a juros mais elevados.

Acreditamos que o Banco Central, dentro do conjunto de medidas que tem tomado para minimizar os impactos do coronavírus na economia, deve agir em para evitar um “empoçamento” de liquidez no setor financeiro, criando incentivos necessários para a injeção de capital na economia e para preservar a liquidez das empresas.

Dólar em alta

Desde o início da crise, vimos uma disparada da moeda norte-americana em relação às moedas emergentes, com os investidores se desfazendo de suas posições a procura de ativos mais seguros, para se proteger dos efeitos da pandemia na atividade econômica. Atualmente, o dólar já cruzou a faixa dos R$ 5,20 e não há sinais de queda no curto prazo.

À primeira vista, essa seria uma boa notícia para os setores agropecuários exportadores, que se tornam mais competitivos e se beneficiam do aumento das receitas em reais. Porém, acreditamos que a alta do dólar também pressiona os custos setoriais, tendo em vista que muitos insumos da cadeia de produção são importados (fertilizantes e defensivos, por exemplo) e, portanto, dolarizados. A conta de energia também deve subir com esse patamar de dólar, uma vez que a energia da hidrelétrica de Itaipu é cotada na moeda norte-americana.

Falências e desemprego

A interrupção temporária das atividades de indústrias e estabelecimentos comerciais deve levar ao crescimento do número de falências e, consequentemente, do desemprego no Brasil, com o impacto sobre a retomada da economia mesmo após o fim das medidas de isolamento social.  Por isso, o governo federal tem adotado instrumentos de política fiscal e política monetária para mitigar os efeitos da crise, já pensando no cenário de retomada.  Esse cenário terá impacto mais significativo em cadeias produtivas de maior sensibilidade, tais como flores, frutas e lácteos, e em produtos de maior valor agregado, de acordo com análises da Agrobrain.

Assim, a adoção de medidas para preservar o caixa e a negociação com bancos para obtenção de linhas de créditos para reforçar o capital de giro são fundamentais para atravessar este momento de turbulência da economia. Do ponto de vista das famílias, o isolamento social incorrerá em queda do nível de renda, o que deve afetar a compra de produtos alimentícios de maior valor agregado (como iogurtes, bolachas, etc).

Custo futuro da crise

Um assunto pouco explorado até o momento é o custo futuro que a crise do coronavírus irá deixar para as empresas. Como mencionado anteriormente, o aumento do nível de desemprego deve afetar o ritmo de retomada da economia. O encarecimento do crédito, apesar da queda da Selic, deve elevar o custo do endividamento das empresas, os insumos produtivos também ficarão mais caros, pressionando as margens do setor.

O ritmo de retomada da economia brasileira nos meses subsequentes ao fim da pandemia dependerá essencialmente de dois fatores: da eficácia das medidas econômicas tomadas agora pelo governo federal e da recuperação da economia global. Dentro desse contexto de incertezas, não é possível descartar que novos momentos de isolamento social venham a ser adotados pelo Brasil e outros países enquanto não se desenvolve uma vacina efetiva ao combate do coronavírus.

Diante de tantas variáveis, a análise dos especialistas da Agrobrain para o agronegócio brasileiro é: proteja o caixa. Preservar a liquidez é condição vital para superar a crise e garantir a perenidade de longo prazo dos negócios.

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Fonte:
Ello Agronegócios

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