Pulses e o grão-de-bico: importante mercado mundial para o Brasil, por Sílvia Zoche Borges

Publicado em 09/06/2020 10:25
Sílvia Zoche Borges - Embrapa Agropecuária Oeste

Pulse é um termo usado para designar a semente seca comestível de várias leguminosas, consideradas como importante fonte de proteína. A palavra vem do latim “puls”, que significa sopa grossa com alta capacidade de saciedade.

Neste grupo estão incluídos, principalmente, o grão-de-bico, feijão-comum, feijão-caupi, fava, ervilha, lentilha, tremoço, guandu e feijão-bambara.

Pela importância das pulses, em dezembro de 2013, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o ano de 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas, para chamar a atenção a um grupo de commodities ainda não tão valorizado, apesar de suas várias qualidades.

Especialmente em relação ao grão-de-bico, que é uma cultura de outono-inverno, é fundamental dar ao agricultor brasileiro informações técnicas e condições que o permitam abastecer integralmente o mercado nacional e alcançar mercados mais rentáveis, como o Oriente e especificamente a Índia, que manifestou interesse em importar pulses do Brasil.

Este fato ocorreu durante visita à Ásia, no fim de 2016, de comitiva brasileira liderada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com a participação da Embrapa. A produção do grão-de-bico no Brasil sempre foi muito baixa, quase inexistente, mas foi a partir de 2016 que o cultivo aumentou de maneira significativa, como visto a seguir, com dados de área cultivada no Brasil nos últimos anos: 2013 – 26 ha; 2014 – 280 ha; 2015 – 300 ha; 2016 – 460 ha; 2017 – 800 ha; 2018 – estimativa de 10 mil ha.

Planta de grão-de-bico com vagens

O grão-de-bico é utilizado principalmente na alimentação humana por meio de suas sementes, mas também pode ser usado como forragem e adubo verde (plantio, corte no florescimento e incorporação da planta ao solo para enriquecê-lo com nutrientes, pela decomposição da massa vegetal). As sementes têm alto teor proteico, sendo que sua qualidade é considerada a melhor dentre todas as pulses, com a mais alta digestibilidade. Possuem quantidades significativas de aminoácidos essenciais, especialmente o triptofano que, dentre outras funções, é precursor bioquímico da melatonina e da serotonina.

Esta última, chamada popularmente de hormônio do bem-estar, desempenha papel importante no sistema nervoso, com funções cognitivas, regulação do sono, temperatura corporal, ritmo cardíaco, humor, comportamento alimentar (ingestão de alimentos e saciedade), etc. É rica em importantes lipídeos não saturados, como o ácido linoleico e ácido oleico. É também rica em fitosteróis, como beta-sitosterol, campesterol e stigmasterol, além de ser uma ótima fonte de elementos minerais, vitaminas (principalmente vitamina E e as do complexo B) e fibra alimentar.

A urbanização na maioria dos países é intensa, com aumento da idade média da população, maior renda per capita e maior exigência por alimentos mais saudáveis. A sociedade está em transformação, mais exigente em termos de qualidade nutricional dos alimentos que consome, ou seja, há necessidade de uma agricultura sustentável, que permita uma segurança alimentar permanente. Desse modo, é necessário ter em mente que é preciso haver mudança no padrão de produção, com uma combinação de alternativas para atender a demanda da sociedade, que exige alimentos mais proteicos e maior consumo de frutas, verduras e legumes.

Tendo isso em mente, as leguminosas trazem equilíbrio nas dietas, com foco na prevenção de doenças causadas por uma alimentação desbalanceada. Também é consenso entre especialistas que o combate à fome e desnutrição no mundo passa pelo maior plantio e consumo de leguminosas, fonte mais barata de proteínas de alto valor nutricional.

Para abastecer o mercado mundial de pulses, há necessidade de se aumentar a produção em, pelo menos, 20%. No caso específico da Índia, o déficit alimentar é maior do que na China. Ao contrário dos chineses, a população indiana continua a crescer a uma taxa média de 1,35% ao ano, além do aumento real do poder aquisitivo e do número elevado de vegetarianos.

Apesar da Índia ser responsável por cerca de 25% da produção mundial de pulses, ela é um mercado dependente de importações para complementar a produção interna. Com a economia indiana em expansão e o crescente consumo doméstico, a demanda de pulses, em geral, para 2050 é calculada em 39 milhões de toneladas.

Já para 2030 a previsão é de uma demanda de 30 milhões de toneladas, com importação de 10 milhões de toneladas. Além disso, apesar do consumo crescente de pulses na Índia, a sua produção anual estagnou nesta década, com cerca de 19 milhões de toneladas, para um consumo ao redor de 22 milhões de toneladas. Na safra 2017/2018 foram produzidos na Índia 11,2 milhões toneladas de grão-de-bico, representando 45,5% da produção total de pulses, que foi de 24,5 milhões de toneladas.

Também não se pode esquecer que o mercado brasileiro tende a crescer, tanto pela possibilidade de propaganda e oferecimento de produtos a preços mais reduzidos para o consumidor final, como pelo fato de que a população vegetariana está crescendo no país, havendo atualmente cerca de 14% de pessoas (quase 30 milhões de brasileiros) que não comem carne e necessitam de diversidade de vegetais ricos em proteína de alta qualidade.

De acordo com a Confederação Global dos Pulses (GPC, sigla em inglês), com sede nos Emirados Árabes Unidos e ligada a membros da cadeia produtiva em mais de 20 países, inclusive o Brasil, o mercado mundial para o grão-de-bico no mundo gira em torno de dois bilhões de dólares. O desenvolvimento dessa cultura no Brasil poderá abrir um mercado milionário às exportações brasileiras, além de suprir a demanda interna. A expectativa é a de que o Brasil seja um importante protagonista na produção e comércio mundial de pulses.

Origem

Há 12 mil anos o ser humano parou de ser apenas caçador e colhedor de vegetais para também criar animais e cultivar plantas selvagens para sua alimentação, período chamado de revolução neolítica. Isto fez as pessoas viverem em comunidades, depois em aldeias, cidades, estados, ou seja, foi o início do cultivo da terra e da domesticação de animais selvagens que induziu o surgimento das sociedades humanas.

A região onde isto ocorreu, ou seja, o nascimento da agricultura e das primeiras civilizações, foi no chamado “Crescente Fértil” (Figura 2), a mesma onde se iniciou a domesticação da espécie selvagem do grão-de-bico (Cicer arietinum L.), que é uma das principais espécies pertencentes ao grupo das pulses. Essa área está localizada entre o Oriente Médio (vales dos rios Tigre e Eufrates) e o Nordeste da África (vale do rio Nilo).

Atualmente, os países que possuem terras nessa região são o Iraque, Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Israel e Palestina, além da parte sudeste da Turquia e da área mais ocidental do território do Irã (Figura 2). A expressão Crescente Fértil faz referência ao formato desta região ser semelhante ao da lua na fase crescente e pela fertilidade do solo nos vales dos rios Nilo, Jordão, Tigre e Eufrates.

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Fonte:
Sílvia Zoche Borges

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