Aquecimento global: natural ou antrópico?

Publicado em 16/12/2009 13:29 e atualizado em 09/03/2020 12:13
Pouco antes da Conferência de Copenhague (COP-15), em plena realização no momento em que alguém lê este artigo, dúvidas foram levantadas sobre as informações fornecidas pelo Centro Hadley e pela Universidade de East Anglia, no Reino Unido, que permitiram demonstrar a elevação do aquecimento do planeta a partir de 1860, ano em que os dados sobre fenômenos climáticos passaram a ser colhidos sistematicamente.

Os ecocientistas atribuem esta curva ascendente ao acúmulo progressivo de gases causadores do efeito estufa na atmosfera a partir da revolução industrial. Portanto, o aquecimento global teria origem humana (antrópica). Por sua vez, os céticos, não podendo negar o aquecimento, atribuem-no a fenômenos naturais.

Não sou especialista em climatologia. Por esta razão, preciso me informar sobre o aquecimento global ouvindo e lendo os especialistas. Como acontece com todo mundo, as conclusões e os juízos de uma pessoa com espírito científico têm muito de objetivo, mas nunca se livram de contaminações subjetivas. Não raro, alguém me traz artigos de cientistas que atribuem o aquecimento terrestre a fatores naturais, esperando minha resposta. Explico sempre que minha postura se apoia em estudiosos competentes e responsáveis.

A meu ver, não é possível que tantos estudiosos tributem às atividades humanas no planeta o aumento de produção de gases do efeito estufa e o aquecimento global de forma irresponsável. Tenho plena ciência de que já houve longos períodos de aquecimento da Terra não provocados por atividades econômicas humanas porque simplesmente o ser humano não existia.

O último aumento prolongado de temperatura do planeta sem responsabilidade humana direta, mas já com a nossa espécie existindo, ocorreu entre os anos 800 e 1300 da era cristã. A partir deste segundo ano, até 1860, consolidou-se uma pequena era do gelo, como mostra Brian Fagan no seu livro “Aquecimento Global: a influência do clima no apogeu e declínio das civilizações” (Larousse do Brasil: 2009).

Não basta usar gráficos que indiquem apenas a elevação da temperatura. É preciso correlacionar este gráfico a outro que mostre a acumulação de gases do efeito estufa. Isto já foi feito por Michael Mann, demonstrando uma impressionante similitude entre as duas curvas. Mesmo assim, os céticos continuam a duvidar que ações humanas estejam por trás ou por baixo do aquecimento planetário.

Na abertura da Conferência de Copenhague, a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) divulgou um novo gráfico comparando as informações fornecidas pelo Centro Hadley e pela Universidade de East Anglia com os dados provenientes da Nasa e da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, ambos dos Estados Unidos, um dos maiores países a gerar gases do aquecimento. Estes dados, que parecem insuspeitos, corroboram tanto os que foram contestados pelos céticos quanto o gráfico de Michael Mann.

Mais ainda, este gráfico totalizador revela que os últimos nove anos constituem a década mais quente desde 1860, sendo que a década de 90 foi mais quente que a anterior. 1998, por força de um El Niño acentuado, foi o ano mais quente registrado na fase atual de aquecimento. Assustador é que os anos mais quentes depois de 1998 foram os de 2005, 2003, 2002 e 2009.

Para os céticos, nada podemos fazer senão ajeitar as coisas aqui por baixo. Para os ecocientistas, além desta nova arrumação, é preciso também reduzir as emanações de gases do efeito estufa. Acredito nos segundos, ou será que vivemos uma histeria coletiva, com cientistas renomados e delegações dos países que formam a ONU reunidos para discutir uma grande ilusão ou uma grande farsa? O pior é que os Estados Nacionais e seus governantes estão muito aquem da gravidade das mudanças climáticas e devem tomar decisões pífias em nome do crescimento econômico. Decisões que podem inviabilizar o próprio processo de crescimento defendido.

Por Arthur Soffiati

Folha da Manhã - Campos de Goytacazes

Arthur Soffiati é professor da Universidade Federal Fluminense, Doutor em História Ambiental pela UFRJ e colunista/colaborador do Mania de Saúde.

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