O que interessa é carne no prato e farinha na cuia

Publicado em 27/04/2011 07:52
O ovo de Colombo do marketing político mundial foi posto de pé pelo americano James Carville. Responsável pela campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos, ele fez o candidato movimentar os lábios sem pronunciar a frase que atravessaria o planeta como um mantra: "É a economia, estúpido!" No caso de nações ricas, como a dele, a leitura labial da palavra economia lembra pleno emprego, tecnologia de ponta, alta produtividade, etc. Mas no de países emergentes, como o nosso, poucos desses fatores têm a importância de um só - a inflação. A perda do valor de compra da moeda, que significa menos proteína (e, com o passar do tempo, menos comida em geral) na mesa do trabalhador, e o retardamento da girândola faz-vende-compra que Fernando Henrique pôs para rodar e seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, usou com sabedoria para evitar que o tsunami da crise imobiliária americana chegasse a nossas praias tropicais, tornando-o "marolas", devem ser evitados a todo custo.

O ex-presidente tucano promoveu a maior revolução social de nossa História recente com a solução genial do Plano Real para acabar com a deterioração do salário do operário. Ao envergar a faixa que era do antigo aliado transformado em adversário preferencial, o petista mostrou ter aprendido a lição ao traduzir para o "popularês" as fórmulas sofisticadas dos economistas que elaboraram a receita mágica da preservação do valor do dinheiro em seus inacessíveis idioletos acadêmicos. O sucesso da economia no mandarinato petê-lulista muito se deveu à profusão de fatores positivos nos oito anos de sua duração, dos quais se costumam destacar a conjuntura
internacional muito favorável e o magnífico desempenho da agroindústria nacional. Nada disso, contudo, produziria o efeito espetacular que se traduziu em crescimento acima do esperado e prestígio político inusitado para o chefe do governo se este não tivesse dado demonstrações firmes e perseverantes de sensatez ao não deixar a herança do antecessor se dissolver na balela desenvolvimentista de muitos de seus interlocutores. Como Fernando Henrique manteve Pedro Malan, Lula nunca permitiu que fosse perturbada a rigidez dos preceitos liberais clássicos que
conduziram sua política econômica sob a batuta de Henrique Meirelles.

Muita gente boa (inclusive o autor destas linhas) tem manifestado encantado júbilo com as diferenças de estilo entre a presidente Dilma Rousseff e o patrono que a inventou, lançou e elegeu. Como Lula falava pelos cotovelos, a boca fechada de Dilma faz soar uma melodia que nem sequer João Gilberto seria capaz de entoar melhor. O primado dos direitos humanos na política externa e a postura serena e digna no convívio com visitantes estrangeiros e visitados no exterior também a têm favorecido nessa comparação. Mas é provável que Dilma Rousseff - logo ela, a "gerentona" impecável, a cobradora implacável - desafine justamente na nota só do samba que sustenta a escala da economia. É isso mesmo: a inflação. Guido Mantega, um zero à esquerda no governo anterior, parece, de repente, ter sido deslocado para a direita; Alexandre Tombini dista anos-luz de seu antigo chefe; e o desfile parece descambar na desarmonia total.

O Tyrannosaurus rex da inflação dá sinais de que pode estar despertando do sono letárgico produzido pelas doses de realismo monetário injetadas entre suas escamas por Malan e Meirelles. Há uma certa tendência no Ministério da Fazenda e até mesmo no novo Banco Central a desdenhar do risco do despertar do monstro, com aquela conversinha para boi dormir da inflação importada, produzida apenas pelos fatores sazonais das safras agrícolas com consequências na produção de alimentos. Por mais que o boi durma, o dinossauro inflacionário zomba desse tipo de
soporífero e já afia suas garras. O diagnóstico da autoridade monetária é parcial, como insiste em mostrar a coleguinha Miriam Leitão. "A economia vai bem, a inflação assusta e a política monetária parece ter produzido pouco resultado até agora", resumiu magistralmente o companheiro Rolf Kuntz.

De Lula podia-se dizer que não fazia, só falava. Isso não significa necessariamente que, só por não falar, Dilma faça. Nunca antes na História deste país houve um político profissional que falasse tanto, embora não fizesse na mesma proporção, como o ex-dirigente sindical metalúrgico. Parte considerável de seu êxito eleitoral nas três últimas eleições federais, duas vitórias dele e uma de sua candidata tirada do nada, deveu-se à sua capacidade de se comunicar com o brasileiro do roçado, da favela, da cozinha e do quarto de empregada.

Mas de nada lhe teria esse talento notório valido se não fosse o bom senso de não transigir quando se tratou de manter a política econômica de pé sobre os pilares dos templos do satanizado neoliberalismo. Ele falava de futebol, bajulava o amigo persa Mahmoud Ahmadinejad, não dava ouvidos a quem ridicularizava suas tiradas autoindulgentes e desdenhava de quaisquer críticas, catalogadas em seus arquivos particulares como intrigas da oposição. E se garantiu no topo da popularidade enxotando a golpes de pragmatismo o corvo inflacionário. Mas trouxe-o de volta anabolizando gastos públicos para eleger Dilma Rousseff.

Esta começou a semana dizendo: "Todas as nossas atenções estarão voltadas para o combate acirrado à inflação". Mas de prático nada faz para impedir que riscos de corrosão do valor da moeda rondem os lares pobres. De acordo com a pesquisa do boletim Focus, divulgada pelo Banco Central, a expectativa para a inflação oficial continua distante de 4,5%, o centro da meta, flutuando de 6,29% para 6,34%.

Já é mais do que hora de ela passar de boas intenções à ação oficial, adotando medidas que ponham de novo o monstro para dormir. Agirá muito melhor se se preocupar menos com a Copa de 2014 e mais com a inflação: mais valem carne no prato e farinha na cuia do que bola na rede.

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Por:
José Nêumanne
Fonte:
O Estado de S. Paulo

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1 comentário

  • Adoniran Antunes de Oliveira Campo Mourão - PR

    Estes desgraçados Ptralhas, unidos ao seu babolarixá sapo barbudo, e a Rainha Muda primeira e única,sao os culpados diretos sobre o despertar do monstro da inflaçao, bem de como todas as mazelas que a economia brasileira vem enfrentando,e pior, vai enfrentar coisas muito piores.Porque sao culpados?Estes inuteis nada fizeram,mas nada mesmo, para contigenciar e cuidar pouco a pouco,fazendo as pequenas modificaçoes para que a herança bendita de FHC continuasse a ser nosso Norte,corrigindo pequenos desvios de percurso,para atualizar e nao deixar escangalhar o plano que efetivamente fez,lastimosamente por poucos anos,esta naçao sentir-se feliz e orgulhosa de seu poderio.Quando ao tempo de FHC, Lula criticava-o ferozmente por ter 23 ou 26 ministérios.Que fizeram Lula e a Muda?aumentaram para 40 o numero de ministérios,coisa que nao era e nao é necessária, e ademais disso aparelharam para a "cumpanherada"todos os cabides de empregos possíveis nos ministérios, nao por meritocracia mas sim por deixar bem a dita cumpanherada e esse partido que é a praga destruidora do BEM e da Honestidade na naçao brasileira. E, pior aparelhando estatais como Petrobras com a petralhada esfomeada por benesses e dinheiros publicos.Resultado> falaram e propagandearam o pré sal,"salvaçao"para todos os problemas sociais e de fome dos brasucas,e, hoje falta gazolina nos postos.Falta alcool nas bombas, e vergonha das vergonhas, importando o etanol de onde e para quem o Demiurgo Lula queria exportar dito combustivel, ou seja USA. O Brasil está quebrado,merce a ganancia dos safados ptistas, a petrobras está quebrada, e pior de tudo,agora querem quebrar a Vale, empresa saneada pela privatizaçao tao criticada pelos porcos ptistas.Agora,para tirarem da reta o seu,e tentar ainda manter a copa e olimpiadas no Brasil, que propos a Muda? Privatizar.Onde está a grande imprensa para cobrar desta mulher e do sapo barbudo,diuturnamente as promessas e criticas feitas durante a campanha presidencial ano passado?Qualquer e todo jornalista,tem por obrigaçao fazer Lula e Dilma calarem a boca em todo e qualquer ocasiao que queiram tegiversar das promessas eleitorais nao cumpridas.Valha-nos Deus,salve esta pátria, enviando os Ptralhas e seus lideres para os quintos dos infernos,porque o Brasil merece coisa melhor.Impeachment neles para todo o sempre, e cadeia aos deputados e senadores vendilhoes da patria.

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