Torrador de Café, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 21/01/2013 17:19
Por Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS.
Osvaldo Piccinin - novo
Só quem já viveu na roça vai entender estas baboseiras. Nosso sítio, apesar de relativamente pequeno, tinha muita fartura. Quase tudo que consumíamos, era lá produzido. 

Moravam lá cerca de cinqüenta pessoas, entre parentes e empregados, mas
cada um de nós tinha uma obrigação a cumprir, a partir dos sete anos de idade, e o sitio funcionava como um relógio porque havia comprometimento e senso de responsabilidade. Na tenra idade, até atingirmos mais ou menos dez anos, nossa tarefa era tratar dos porcos, galinhas, levar almoço no campo para os nossos pais e trabalhar na roça nas horas vagas – sem direito a reclamar.

Nossa pequena lavoura de café - muito bem cuidada - produzia muito. Na época da florada ocorria a queda das folhas e o cafezal se cobria de flores brancas em abundância, atraindo uma imensidão de insetos pelo seu peculiar perfume, principalmente abelhas de nossas colméias, de onde extraíamos um delicioso mel. 

Dos cuidados dispensados ao cafezal, eu gostava apenas da carpa, pelo fato de serem as ruas largas e sombreadas, fazendo com que trabalhássemos um pouco mais protegidos do sol escaldante. A colheita era manual e eu detestava! Puxávamos ramo a ramo seus frutos vermelhos, fazendo uma operação denominada derriça. Isso machucava nossas mãos e corríamos o risco de sermos picados por abelhas ou por cobras que se escondiam nas saias dos cafeeiros.

 Após a colheita os grãos eram recolhidos, ensacados e transportados até um grande terreiro para a secagem antes de serem armazenados numa tulha, para depois ser consumidos durante o ano.
Nesta época não tínhamos fogão a gás, apenas à lenha. O nosso fogão tinha cinco bocas e puxava a fumaça divinamente, dizia minha mãe, detalhe este muito importante, que fazia a diferença entre o bom e o fogão ruim.

Torrar café era uma tarefa para meninos ou velhos devido à paciência necessária. Minha mãe sempre me convocava nos piores momentos – exatamente quando eu me encontrava brincando com os amigos. Aquele tchec, tchec, parecia não ter fim. 

Somente sabíamos estar o café torrado - no ponto de ser moído - pelo maravilhoso cheiro exalado ao abrirmos a tampa do torrador. Aroma este que se esparramava por toda colônia anunciando que tinha café novo na área.

Tão desagradável como torrar, era a tarefa de moer café. Para conseguirmos um bom volume de pó, que satisfizesse minha mãe, demorava demais da conta, isso quando o aparador de pó não caía no chão botando tudo a perder. 

Torrador de café que tanto torrou “meu saco” lhe rendo minhas homenagens. Você juntamente com o coador de pano, o moinho e o bule sobre a chapa quente do fogão de lenha, forma o símbolo de uma casa típica da roça onde existe fartura apesar da simplicidade. Que o aroma dos grãos torrados em sua mágica bola de metal enegrecida perdure para sempre!

E VIVA O TORRADOR DE CAFÉ!

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Fonte:
Osvaldo Piccinin

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