Fala Produtor - Mensagem

  • Marcelo Luiz Campina da Lagoa - PR 12/09/2014 00:00

    Ainda bem que temos este espaço do Notícias Agrícolas para discutir nossa atividade, nosso futuro... Com relação à monocultura de milho, como disse o companheiro Cácio, esta já existe no Paraná. Talvez não na mesma área, mas em propriedades vizinhas. No meu caso, já deixei de plantar milho safrinha por ser economicamente inviável. Mesmo com boas produtividades, o que sobra para os agricultores, na melhor das hipóteses, é a palhada... Mas geralmente ficam contas para pagar com a safra de soja.

    Voltando ao milho, eu planto no verão para fazer silagem. Minha lavoura já está emergida e ainda tem agricultor colhendo milho safrinha. Então durante o ano todo temos plantas de milho vegetando nas propriedades. Isto é temerário para o controle de pragas e doenças. Quando se iniciou o cultivo de milho safrinha, era inimaginável aplicar fungicidas. Hoje é obrigatório fazer duas aplicações. Alguns híbridos precisam de 03 aplicações. Para controle de percevejos, precisamos fazer 04 aplicações. Várias transgênias para controle de lagartas não funcionam mais.

    O ponto a que quero chegar é que não vi nenhum pesquisador ou autoridade sanitária levantar esta questão de aumento de pragas e doenças decorrentes do plantio ininterrupto de milho. Lembrem-se que ninguém guarda sementes de milho.

    Agora, quando os agricultores começaram a salvar suas sementes de soja na safrinha, instalou-se o pânico. Se pudéssemos guardar sementes na safra de verão, seria muito bom. Mas de uns anos para cá, com estas variedades mais modernas, as sementes perdem o vigor rapidamente. Não dá para colher em março e guardar até setembro. Não nasce.

    Na minha modesta opinião, estamos vendo uma tentativa comercial de barrar a produção própria de sementes de soja. De vez em quando aparece algum deputado ou senador não ligado ao campo com a proposta de proibir esta prática. Até hoje foram barrados. Mas estão tentando fazer isso usando a desculpa sanitária. Terrorismo sanitário mesmo... O que querem é que sejamos obrigados a comprar a semente de soja somente fiscalizada. Como no milho. Aí vamos ser integrados de lavoura de soja.

    Dizer que os fungicidas não mais controlarão a ferrugem da soja não cola. Se fosse assim teríamos que parar de usar vários defensivos. Os fabricantes de defensivos estão desenvolvendo novos princípios ativos para pragas e doenças. Este é o negócio deles. Ganham muito dinheiro com isso. Existe até comunicado de uma empresa de pesquisa que diz literalmente que, com a combinação de estrobirulina e triazol, a resistência da doença seria praticamente impossível.

    Companheiro Cácio, quando era membro da comissão de grãos da FAEP, ficamos muito tempo discutindo custos de produção. Muitos eram contra levarmos em consideração o custo da terra e o custo de oportunidade. A verdade é que os tais custos são maquiados e escondidos , pois se a verdade for mostrada, nossa atividade fica inviável. Não dá retorno de 2% ao ano. Por isso precisamos de custeio agrícola, juros subsidiados, PEPRO, renegociação, etc...

    Eu prefiro acreditar que o agricultor brasileiro é competente para plantar e conduzir qualquer lavoura que ele se disponha a ter. E que a ciência vai buscar novos produtos para sanar os eventuais problemas. O desafio é o combustível do progresso.

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