Fala Produtor - Mensagem

  • Climaco Cézar de Souza Taguatinga - DF 20/12/2008 23:00

    Amigos do Noticias Agrícolas: Como um dos primeiros analistas a alertar sobre as sérias dificuldades da atual crise mundial e de seus possíveis efeitos na agricultura (03 dias após a quebras do Lehman Brothers e aqui neste site - vide histórico) sentimo-nos na obrigação de tentar auxiliar, agora, neste inicio de extremas dificuldades no Brasil, “o momento de inicio da comercialização agrícola em 2009”.

    A crise ainda não se instalou totalmente no Mundo. Ela iniciou-se por absoluta perda de confiança pelo consumidor no sistema financeiro e nos lideres de seus governos e entendemos que só haverá inicio de reversão, e de forma lenta, após a posse de Obama. Portanto, é de pouca valia o atual socorro financeiro a qualquer setor - e muito menos promover o consumo - quando se rompe a barreira da quebra de confiança nas instituições financeiras e em seus dirigentes, pois as famílias planejam seu dia de amanhã levando em considreração se terão ou não emprego..., e com isso, consomem muito menos e procuram poupar mais (vide crise de 1929).

    Assim, seus principais efeitos para o agronegócio brasileiro estão apenas começando, pois, infelizmente, ainda haverá muito redução de consumo e de demanda pelos produtos brasileiros lá fora, e aqui dentro. O que também leva à necessidade de ações serias do Governo e das Entidades, de forma a tentar minimizar as conseqüências contra nosso comércio exterior e agronegócio, qual numa verdadeira estratégia de guerra comercial (nossos concorrentes já estão fazendo isto e nós ainda estamos parados e só observando).

    Assim, não é preciso dizer que a crise e seus efeitos no Brasil estão ainda apenas começando e que teremos um muito difícil quadrimestre inicial em 2009, após passar a euforia de consumo externo e interno do Natal, do Ano Novo e da volta das férias (algumas já até coletivas e obrigatórias).

    Entretanto, certamente, esta crise vai ser vencida entre 2 e 5 anos, segundo as análises atuais e conforme cada País, e o agronegócio brasileiro vai triunfar após e por muitos anos, tornando-se a crise uma boa lição para todos.

    A nosso ver, o futuro do agronegócio brasileiro é o Cooperativismo e que precisará mudar muito doravante, com menos shows e mais efetividades, mas isto só ocorrerá após a urgente mudança da Legislação Cooperativa atual (e que, incrivelmente, muitos dirigentes não querem mudar..). É preciso abandonar a antiga e não funcional legislação de 01 cooperado = 01 voto, (que possibilita usos politicos das cooperativas e por pequenos grupos) e mudá-la para a legislação moderna e adotada em diversos países de "tantos atos cooperativos de compra ou venda" = tantos votos por cooperado, e que valoriza o verdadeiro associado participativo e que dinamiza as cooperativas sérias.

    O QUE FAZER ?

    Ninguém tem bola de cristal, mas algumas atitudes por parte dos produtores podem ser esperadas e levar a bons resultados - sobretudo se coordenadas e em grupo -, a saber:

    a) só vender com lucro e no mínimo de 25%, pois cerca de 15% já estará comprometido com o pagamento dos juros de endividamentos anteriores, mais seguros e/ou os atuais;

    POrtanto, pare um pouco e calcule, obrigatoriamente, o teu custo mínimo de produção (cada um tem o seu) e como resultado da soma de pelo menos os seis seguintes itens POR PRODUTO e SAFRA: 1) valores pagos pelos fertilizantes mais calcário; 2) dispêndios com agroquímicos; 3) custos com combustíveis e lubrificantes; 4) idem com sementes; 5) valores pagos pela mão-de-obra contratada mais encargos; 6) previsão de manutenção familiar nos próximos 12 meses e de no mínimo 3 salários-minimos por mês; Para embasar seus cálculos, a CNA disponibiliza em seu site ferramentas para calcular o custo para as culturas anuais e os "Ativos do Campo" mais direcionados para a pecuária em um Boletim citado no site. Vide em (www.cna.org.br/campofuturo). Para Telmo Heinen, “Quem não sabe quanto gasta, não sabe quanto ganha, por isto é essencial saber o CUSTO para poder efetuar uma venda, principalmente no mercado futuro”.

    b) estabeleça, então, o preço-minimo de venda com base num lucro mínimo de 25% por saca, acrescentado o valor ao custo detectado. Se não obter tal preço, não venda e espere pela ajuda do Governo; vender por menos pode significar não honrar com as dividas e as despesas familiares, futuras, e iniciar a quebradeira. Não aceite pressões dos credores, sobretudo de Bancos;

    c) não tenha pressa para vender e se possível venda aos poucos e faça armazenagem própria (mesmo que em silos bag, galpões, armazéns simples, sacas etc..) ou nas cooperativas; no caso da soja, não entregue e nem armazene nas trading, pois o interesse delas tende a aumentar muito após abril;

    d) retarde a colheita do milho. Haverá muito excesso de produto e de estoques e que somente serão enxugados se o Governo agir e iniciar comprando já ( agora em janeiro) ou auxiliando as exportações. É importante também lembrar que o setor mundial de aves, suínos e leite também estará passando por extremas dificuldades e comprando muito pouco até abril. Quanto ao milho safrinha ou sorgo, se possível não plante ou reduza o cultivo, pois dificilmente haverá lucro, pois o mercado precisará ser enxugado dos excessos (a demanda por aves, suínos e pecuária de leite deve reduzir pelo menos 20% no primeiro quadrimestre, no minimo igual a redução já em andamento dos alojamentos). Se for o caso, substitua o safrinha por uma oleaginosa para biodiesel, como o girassol, ou mesmo por uma gramínea rápida para pastagens, ou pelo trigo ou o milheto; no biodiesel, os subsídios dos leilões da ANP garantirão as compras e os preços mínimos, o que pode ampliar a renda com o segundo cultivo. Aliás, esta vertente também poderá ser a salvação de grande parte da soja, ou seja, vender, paulatinamente, para as esmagadoras produzirem biodiesel (o Governo poderia até lançar um plano inédito de estocagem preventiva e estratégica de biodiesel); também, o preço do trigo em 2009 tende a ser bem melhor do que o do milho-safrinha, embora tenha recuado muito recentemente (safra 2008), mas o Brasil precisará de muito mais trigo e o Governo terá que intervir e auxiliar o próximo plantio e sua comercialização, senão os preços dos derivados levarão a inflação ás alturas;

    e) se não obtiver a margem mínima acima descrita (que não remunera, realmente, a atividade sobretudo os custos fixos e financeiros) só venda para pagar as despesas imediatas e com o comércio local; o custeio alongado nos Bancos ainda vai demorar a vencer e os fornecedores sempre podem esperar um pouco, pois a situação deles pode estar melhor do que a tua e o Governo vai ter que agir também para eles (volta e liberação efetiva dos recursos do FRA); também, com certeza, o Presidente Lula irá afinal bater o martelo bem forte na cabeça dos dirigentes dos Bancos e do BACEN (seria desobediência civil ?) e exigir que os recursos cheguem, realmente, aos produtores rurais (quem sabe com o Tesouro assumindo até parte dos riscos de crédito, ou, realmente, mandando nos Bancos como precisaria/deveria), invés de os Bancos priorizarem as grandes empresas e o varejo (como querem) e inclusive mais que dobrando os atuais "spreads" (margens de lucro) ante os praticados antes das crise;

    f) as cotações futuras na BM&F e as Opções da CONAB neste momento ainda apontam para bons preços no inicio de 2009, mas tendem a terem fortes recuos proximamente. Assim, se já conhecer bem como funciona – ou tua cooperativa – faça estas vendas antecipadas e não demore muito.

    Infelizmente, as noticias não são boas, mas Deus, certamente, nos ajudará, sendo nosso único aliado e que nunca falta. NÃO DESANIME.

    FELIZ NATAL, BOAS FESTAS E UM BOM INICIO DE 2009.

    Atenciosamente

    Prof. Clímaco Cézar de Souza

    AGROVISION – Brasília

    www.agrovisions.com.br,

    Telmo Heinen

    ABRASGRÃOS

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