Fala Produtor - Mensagem

  • Ari Baltazar Langer Gaúcha do Norte - MT 29/12/2008 23:00

    Olá João Batista Olivi. Olá telespectadores do canal terraviva. Eu sou produtor de soja, do município de gaúcha do norte – mato grosso. Em primeiro lugar, quero agradecer a ti, João Batista e ao teu programa que dá oportunidade a toda a nossa classe, para expor os problemas de cada região. Para o Brasil e o mundo João, quero deixar clara a nossa situação, para todos aqueles que acham que os agricultores choram à toa e de barriga cheia. Nós aqui estamos a 200 km de distância do asfalto, sem banco do Brasil, sem celular, sem cartório, sem fórum, só com uma treidding no município, sem nenhuma concorrência, que nos financia a produção da forma como ela quer, ou seja, um ano em troca de soja verde, no outro em dólar, sempre naquela que é a pior forma para o agricultor.

    Dívidas: nós nos endividamos em 2004, quando a soja valia 46,00 reais a saca de 60 kg. O trator que financiei valia 3 mil sacas de soja, o adubo custava neste ano também 155 dólares. Em 2005, a soja baixou para 23 reais e o adubo subiu para 255 dólares. Em 2006, a soja baixou para 14 reais e o adubo subiu para 435 dólares. Em 2007, a soja subiu para 18 reais, onde para sobrevivermos já tivemos que vender a produção de 2008 também por estes 18 reais. Em junho deste ano ainda tivemos que financiar o plantio 2008/2009 em dólar ao valor de 1,57 e pagamos 1192 dólares a tonelada de adubo, e a soja estava valendo 16,20 dólares o buxil de Chicago, e hoje para devolvermos este valor precisaremos, pelos preços atuais, produzir 50% a mais do que é a média do município apenas para conseguir cobrir os custos da produção. Do mesmo trator que financiei por 3 mil sacas em 2004, hoje devo mais de 10 mil sacas de soja, sendo pressionado de hora em hora pelo banco credor, inclusive recebendo ameaças de busca e apreensão do bem, e estou sem condições de pagar sequer 40% da parcela e muito menos pagar o valor da parcela integral e poder manter meu crédito.

    Por isso hoje já estamos completamente descapitalizados, sem dinheiro, e ainda com várias multas e embargos do meio ambiente, que apresentam valores absurdos, que representam de 4 até 5 vezes o valor da própria propriedade, o que eu considero a maior injustiça do mundo, pois só o proprietário de terras ou mato é que tem a obrigação de preservar e aqueles que realmente estão poluindo não têm obrigação nenhuma.

    Para poder continuar a produzir alimentos para fortalecer o programa fome zero de graça e sermos os maiores cabos eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nos jornais aparece com a popularidade em 80%. Porém, peço a ele que mande realizar uma pesquisa sobre sua popularidade em meio aos produtores, onde tenho certeza de que não atingirá 0,08%.

    Assim, nós produtores ficamos sem condições de manter nossos filhos no colégio, perdemos a saúde, estamos em depressão, sem vontade de permanecer no campo, sem ânimo para continuar produzindo sem retorno e perdendo o capital que já havíamos conquistado com muito trabalho e dedicação.

    Mas fazer o quê? Não sei fazer mensalão, nem dossiê, nem sou Marcos Valério, nem Zé Dirceu, Daniel Dantas ou Duda Mendonça...

    Peço para todos os produtores para nos unirmos e fazermos a fome zero com plantio zero, e assim vermos quem passará fome primeiro, se são aqueles que produzem de graça ou aqueles que não precisam trabalhar.

    Sem um plano agrícola e sem uma política agrícola adequada, com segurança e com renda para nós produtores rurais, não me animo mais.

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