Fala Produtor - Mensagem

  • José Luiz Gonçalves de Andrade Gurupi - TO 16/03/2009 00:00

    Um dos grandes empecilhos à sustentabilidade na agricultura chama-se ausência de política econômica, pois um país sustentável é aquele em que os elos, como os de uma corrente, são fortes, todos por igual;

    O Presidente Lula fez como chavão de sua política de votos o “nunca neste país a comida esteve tão barata à população”, mas isto teve um custo muito alto para todo o elo produtivo. O evento de Varginha-MG é o reflexo exato do que digo;

    A sustentabilidade passa primeiro pelo conhecimento da atividade rural no país ao longo do tempo. Sustentabilidade significa em primeiro lugar haver renda suficiente para ter LUCRO, para permanecer no ramo, investir, proteger o solo, modernizar. Para tudo isso há necessidade de crédito, SEGURO rural (pois a única indústria a céu aberto, e à mercê do tempo, no país é o campo), acesso à pesquisa aplicada, preços mínimos que garantam a sobrevivência com rentabilidade mínima nos períodos adversos;

    Condena-se o subsídio lá fora, mas aqui dentro ocorre o oposto: além de não o ter, o produtor é jogado às feras, sem nenhuma proteção, sobrevivendo, quando dá e como pode (veja a opinião do Dr. Guilherme Dias do IEA-SP);

    Quando o produtor financia uma máquina, ou adquire adubos, o banco já se garante com a hipoteca ou penhor, a indústria já recebe seu pagamento, o país já garante o abastecimento. Se algo dá errado, por intempérie, especulação, excesso de produção ou falta dela, a quem o produtor recorre? Ficou com o mico. Ele tenta Deus, que é o único acessível, mas também ele não faz milagres, só em condições especiais! Aqui minha crítica ao produtor rural, que deveria brigar pelo que lhe devem, resgatar sua dignidade e não viver de esmolas;

    A pecuária sempre foi de baixa rentabilidade, por isso, ao longo do tempo o pecuarista auferia lucro na valorização da terra e escapava, mesmo com a baixa renda (alto risco, alto lucro – caso dos especuladores nas bolsas; baixo risco, baixo lucro, segurança – este é o ritmo do pecuarista). Ele foi estimulado a desbravar para integrar: PROTERRA, POLOCENTRO, etc., etc.. PLANTE QUE O JOÃO GARANTE. Este era o mote de então, e como até hoje ainda há gente daquela época no campo (não se muda conceitos tão rapidamente, quando há pessoas de baixa escolaridade envolvida, que é o grosso da população rural). Os filhos já se mudaram para a metrópole faz tempo! Há tempos um amigo alertava que, aqui, o rabo andava balançando o cachorro, que estava tudo errado! Agora a especulação ficou evidente (?), apareceu e deu no que deu!

    A intensificação na pecuária passa pela diversificação, pela integração lavoura/pecuária, pela adoção de tecnologias que requerem aporte de recursos, entre outras coisas. Por que não há investimento, por que não há absorção de mão de obra, por que não há uso adequado de solo? Quando se quer comida barata, o solo é do produtor! Quando se quer proteger o solo, a sociedade, que se beneficia da comida barata, quer que o mesmo produtor gaste o que não tem para fazer curvas de nível no terreno, correção de solo, correção da fertilidade, melhoramento genético, etc. Quem não faz isto de bom grado quando o retorno é adequado? Ninguém o faz para agradar a quem quer que seja, se não houver recursos para tal! Daí a degradação! Ela nada mais é que a conseqüência de anos de expoliação da “roça” para produzir comida barata para a população. Veja o exemplo do café: analise como ocorreu e pra que serviu o confisco cambial do café!

    Veja porque produtores usam máquinas ao invés de empregarem mão-de-obra. E na indústria, no comércio, é diferente? Esta é a evolução do homem na sociedade no mundo inteiro: CADA DIA MENOS GENTE NO CAMPO ALIMENTANDO MAIS GENTE NAS CIDADES! O aumento da escala na exploração é uma necessidade da era moderna: a enxada substituída pelo trator de 50 HP, e hoje pelo de 250 HP. Será que é tão difícil assimilar estas mudanças? Os filmes de “bang bang” mostravam o homem correndo, há mais de cem anos atrás, para disputar as terras devolutas do tio SAM (lá, já naquela época tinha concorrência). Aqui, se propala uma reforma agrária completamente anacrônica. Da forma como é feita, tirando o pobre coitado da favela, para longe da vista da sociedade, obrigando-o a cultivar de enxada o seu ganha-pão, e sem seguro rural que o proteja das intempéries!!! Porque não há arrendatários de terras? Será que ninguém descobriu o filão (como empobrecer sem retorno)?

    Somos um país hipócrita, onde cafeicultores que ajudaram o país a se desenvolver, a promover sua industrialização, são hoje PRESOS por agredir o ambiente, depois de terem dado a alma para o país. Veja a manifestação de VARGINHA-MG. Temos um ministro, Minc, que não se manifesta sobre a ocupação dos morros do Rio de Janeiro, onde morre gente toda vez que dá uma chuvinha; os lixões a céu aberto no país inteiro não são também agressão ao meio ambiente? E a ocupação nas praias, no litoral, apenas com fim especulativo? Isto é ambiente degradado.

    A senadora Kátia Abreu, que nos livrou (o país inteiro) da CPMF, assumiu a CNA com um discurso firme, coerente, botando os pingos nos “iiis”, e nem sequer foi divulgada na grande mídia a sua posse na confederação do setor que carrega o país nas costas.

    A sociedade também é hipócrita quando não raciocina, quando é conivente, quando tira proveito de determinadas vantagens em detrimento de seu semelhante. Sugiro: Tragam o sr. Luis Hafers para uma entrevista. Ele é coerente, preparado, extremamente vivido, CULTO (este é um defeito grave nestas terras) e cafeicultor, coitado! (perdoe-me a deferencia “seu Luis”, sou um admirador seu)...

    Em defesa da verdade e da agropecuária! Saudações, José Luiz Gonçalves de Andrade, Pecuária de corte e leite (família de ex-cafeicultores, café com leite)- eng.agrº, especialização em sobrevivência. Gurupi-TO -

    (63)3312.4950.

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