Fala Produtor - Mensagem

  • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS 23/08/2016 22:46

    Caros Cassiano e Luiz, Realmente as distorções no Brasil são intermináveis e produzem questionamentos lógicos sobre a nossa falta de lógica. Na China, a incidência tributária sobre a importação de Soja está baseada inicialmente em 2 impostos: 1) VAT (Value Added Tax similar ao nosso ICMS) - 13%; 2) Imposto de Importação - 3%. A mecânica de cálculo não vem muito ao caso agora, mas é importante ter isso em conta numa avaliação rápida. A cotação da Soja é determinada pela Bolsa de Dalian - www.dce.com.cn/en e tem dois contratos em negociação, o tipo 1 e o tipo 2. O tipo 1 corresponde a Soja Convencional para consumo humano dentro de uma especificação que está fora do nosso padrão de exportação. O contrato tipo 2 corresponde a Soja importada, base GMO. O Óleo e o Farelo de Soja são igualmente objeto de negociação na Bolsa de Dalian, daí se extrai o cálculo do \"Crushing Margin\" ou \"Margem de Esmagamento\" que atualmente é positiva na China com a Soja importada e negativa por aqui. Isso é realmente curioso como bem apontado pelo Cassiano, já que da nossa conta por aqui não se incluiria o frete internacional, despesas portuárias, etc. A Lei Kandir veio a resolver boa parte das distorções do passado que retiravam a competitividade das exportações, mas por pressão de Governadores incompetentes a frente de Estados quebrados (como o nosso Rio Grande), acabaram tributando com ICMS a transformação da matéria prima por aqui. Abordando o exemplo mencionado pelo Luiz Viganó, a situação que envolve o maquinário agrícola já é mais explícita e indica uma pesada tributação sobre a atividade, se não estou enganado incidiriam PIS/Cofins, ICMS, IPI, I.I., etc... A impossibilidade dos Produtores de importarem, inclusive máquinas e implementos usados, me parece que beneficiam enormemente a esse pequeno Grupo de empresas. Uma situação que sempre me chamou a atenção é o nosso comportamento \"patrimonialista\" no Brasil no que se refere ao Maquinário. Enquanto na Argentina ou mesmo nos Estados Unidos são comuns as operações terceirizadas de todo o processo, por aqui há uma enorme imobilização de capital que agrava o índice de endividamento do setor.

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Eduardo, não é simplesmente patrimonialismo na questão da terceirização de atividades fim, o qual no Brasil é proibida pelas leis trabalhistas, por isso inexistem empresas formais voltadas diretamente a esse tipo de serviço no Brasil.

      http://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/148558-setor-produtivo-aguarda-aprovacao-de-projeto-de-lei-sobre-terceirizacao-na-atividade-agricola.html#.V73x2TUwCDk

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Nos EUA inexistem leis que proibam a terceirização como aqui, no caso do Brasil só atividades indiretas podem ser terceirizadas legalmente.

      Não há meios no Brasil de abrir um empresas de prestação de serviços agrícolas diretos como plantio, colheita, etc.

      E mesmo que abertas, o custo do serviço na maioria dos casos inviabiliza a contratação, por causa dos tributos e burocracias aqui vigentes.

      O contratante percebe que com que ele paga pelo serviço de colheita terceirizada, dependendo do modulo em questão, ele paga tranquilamente a parcela da maquina e os custos operacionais.

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Mesmo no mercado informal de prestação de serviços aqui no país somente fica viavel a contratação para quem não tem um modulo suficiente que permita diluir o custo da maquina.

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    • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

      Guilherme, suas ponderações são muito pertinentes com relação a terceirização dos serviços agrícolas. Conheço algumas empresas que já estão atuando nesse segmento, mas realmente não abarcam o serviço integral de plantio, pulverização e colheita, como já é comum na Argentina e no Uruguai.

      Ressalvando as questões fiscais e trabalhistas, como bem apontado no seu comentário, acredito que existe um enorme potencial para o desenvolvimento desse tipo de negócio por aqui.

      Me inclino a dizer que seria uma necessidade urgente na medida em que a ociosidade do parque de máquinas agrícolas é elevada devido a sazonalidade da utilização, assim como os seus custos de manutenção e a necessidade cada vez maior de se contar com mão de obra especializada.

      Minha maior preocupação reside na imobilização excessiva do Capital em ativos que possuem um retorno muito lento. Dentro de um cenário de endividamento crescente do setor, a Rentabilidade do Ativo Imobilizado (excluindo o valor das terras) é uma medida de eficiência muito importante e que é levada em conta na avaliação dos riscos do produtor e na determinação de limites de crédito.

      Concordo que módulos pequenos são os que melhor justificam esse tipo de contratação. Acho que é um tema muito interessante de ser abordado na forma de um Artigo Técnico aqui no NA, não lhe parece? Gostei muito da troca de idéias consigo. Abraço.

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Sim Eduardo, é extremamente pertinente um artigo técnico que levante com exatidão todos os motivos dos nossos problemas.

      Eu sou produtor de grãos, também sou graduado em administração de empresas e me dedico muito a análise de projetos e gestão de custos.

      Possuo uma colheitadeira classe 6, quando efetuei a compra analisei o quanto eu gastaria por safra contratando informalmente alguns indivíduos que prestam serviço de colheita na região, o tipo de serviço que eles prestam (perdas durante o processo, compromisso de agenda, etc) e pesando todos esses fatores nos meus cálculos se provou inviável terceirizar.

      O custo do hectare colhido não é baixo, e isso se justifica pois as maquinas são caras, a manutenção é cara (pneus que chegam a custar mais 15 mil reais cada em alguns casos), o diesel caro, o custo do operador, etc. Isso se deve basicamente ao custo Brasil, visto que muitas peças de reposição que comprei nos EUA chegaram a custar até 6 vezes menos que aqui.

      Depois entrava a questão do compromisso e de um problema endêmico que temos no Brasil no que diz respeito a confiança. Colheita muito malfeitas por esses prestadores de serviço, e como devido a todos esses problemas legais e burocráticos é inviável fazer um contrato formal, não há muitos meios eficientes de cobrar pela qualidade do serviço.

      Pesando e analisando todos os fatores, se mostrou muito caro e arriscado terceirizar.

      Ativo imobilizado pode ser um imenso problema sim, mas o que não tem sido no Brasil?? A questão que em geral quando temos as coisas em nossas mãos, os problemas são menores, é possível ter maior controle. Nesse ponto, fazendo um paralelo com a sociedade dos EUA onde há uma relação de confiança natural, premissa básica é a confiança, diferente do Brasil onde precisamos desconfiar de tudo primeiro, acaba sendo muito mais fácil e confiável contratar um serviço do gênero.

      Primeiro, lá o contrato entre as partes tem amplo amparo legal e em geral se for executado se resolve rapidamente, eu conheci um Americano que prestava serviço de colheita no Kansas, ele tinha um contrato muito simples de uma página que firmava objetivamente como limites de perdas na operação volume máximo grãos perdidos pela máquina), período em que se dará a colheita e coisa do gênero.

      Tive boas experiências visitando os EUA, mas não vou me estender muito aqui, porem como compro algumas peças para as minhas maquinas diretamente de lá, sei que muitos itens básicos podem custar até 5 vezes menos que aqui em alguns casos, ou o óleo diesel que na cotação de hoje no varejo na cidade de Indianapolis está em torno de 1,60 R$ por litro já convertidos, enquanto aqui custa 3,20 R$.

      Então eu não vejo como um questão de puro patrimonialismo (pejorativamente) e sim necessidade perante a enormidade de barreiras para se conseguir uma prestação de serviço de qualidade e confiança no Brasil.

      Se eu não tivesse um modulo que me permitisse diluir esses custos de ativos imobilizados "adequadamente" eu deixaria de plantar, arrendaria ou venderia as terras e sairia do país, aliás ando pensando nisso mesmo com um modulo razoável.

      Muitos dos pequenos não tem escolha e também sequer estão fazendo cálculos para avaliar a real viabilidade se plantar culturas que demanda maior escala em pequenas propriedades, como no Brasil não há ou há poucas alternativas muita gente força a situação, onde em geral acaba apenas empatando ano após ano ou se endividando lentamente. Em muitos casos que analisei e só tem prejuízo.

      Eu tenho alguns dados sobre os temas que mencionei, se achar pertinente me disponho a compartilhar.

      O assunto é muito complexo, extenso e é necessário focar nas causas dos nossos problemas, não nos efeitos.

      A causa ao meu ver está no modelo político socialista adotado no país, repleto de keynesianismo e crony capitalism, se não corrigir os problemas fundamentais nunca teremos ambiente econômico jurídico e social para prosperarmos.

      também é necessário atentar para realidade de se abrir um negócio no Brasil, recentemente encontrei essa explanação sobre a situação, que ao meu ver reflete perfeitamente a realidade:

      "Suponha comigo que você tem 35 anos, R$ 500.000,00 no banco e um Q.I. acima da média. O que fazer?

      Você pode abrir uma empresa. É o que jovens com esse perfil e boas ideias costumam fazer em países mais civilizados, por exemplo. Na verdade, esse é o objetivo de vida mais cobiçado em lugares como EUA, Inglaterra e Austrália: abrir uma empresa, ganhar MUITO dinheiro e, no processo de ficar podre de rico, empregar dezenas ou centenas de pessoas e gerar bens e serviços que vão elevar a qualidade de vida de todos.

      Mas vamos supor que você viva no Brasil. A média de lucro (a mais valia clássica, o retorno sobre o investimento do capitalista) vai de 3% a 5% (varejo), 6% (farmácias e drogarias), 10% (postos de gasolina) 11% a 13% (alimentação e serviços), pra citar alguns exemplos. Isso quando o empresário não opera no vermelho, pagando do próprio bolso pra manter o negócio e, com ele, os empregos de seus funcionários.

      Claro que não é só. Você vai gastar em média 2.600 horas/ano não fazendo o que você se propôs a fazer (produzindo bens ou prestando serviços) mas pra recolher os impostos, que vão incidir sobre o seu investimento ANTES que você tenha qualquer lucro. Em média, 40% do seu investimento vai pro governo; 24% vai pros trabalhadores; e, descontada a parte do banco (capital de giro, desconto de recebíveis, etc), a você será permitido ficar com apenas 7% do que gerou. Você será tratado como criminoso pela sociedade, será culpabilizado por tudo o que der errado no país, e será constantemente fiscalizado e esporadicamente autuado por conta do descumprimento de alguma obrigação acessória que nem seu advogado sabia que existia, mas que lhe renderá uma multa de 150%, além de juros de 1% ao mês e correção monetária. E claro, ocasionalmente seus funcionários o processarão, ainda que você tenha pago todos os direitos e obrigações, e sabe-se lá o que vai decidir o juiz do trabalho, que está lá na presunção de que você é um contraventor e o seu funcionário é um anjo. Depois de 3 anos, há 80% de chance de você estar falido, e com sua casa, carro e o que quer que tenha sobrado de seu capital inicial ameaçado por execuções fiscais e trabalhistas.

      Não parece um prospecto muito bom.

      Mas felizmente você vive no Brasil, e tem opções. Você pode emprestar aqueles seus R$ 500.000,00 ao governo, por exemplo. Uma aplicação no Tesouro Direto indexada ao IPCA rende hoje pouco mais de 18% ao ano, com liquidez semestral. Descontados os impostos, ainda sobra uns 14% limpos. Bem melhor do que os 3% a 11% que você obtém empreendendo, e com risco praticamente zero: ao contrário do que se dá com o empreendedor, o governo te tratará como rei, porque o governo é incapaz de gastar menos do que arrecada, e sempre vai precisar de gente como você para financiar o déficit endêmico. Ao final de 3 anos, você terá somado cerca de R$ 200.000,00 ao seu capital de R$ 500.000,00 (ajudado pela mágica dos juros capitalizados).

      Bem melhor, não?

      Ou então você pode empregar esse seu cérebro privilegiado e estudar para um concurso público. Salários de R$ 30.000,00, que a iniciativa privada só paga a altos executivos que tenham resultados pra apresentar e que estejam acostumados a viver sob intensa pressão, não são incomuns no funcionalismo, com o bônus de que você nunca será demitido, ainda que faça apenas o mínimo exigido, e, dependendo da carreira que escolher, será inclusive obrigatoriamente promovido.

      É essa a flora exótica na qual vivemos: tudo a todo momento grita pra que você não crie, não empreenda, não empregue. Se acumulou algum capital, seja rentista. Se tem uma boa educação, seja funcionário público.

      Vai dar certo sim, amigos."

      Autor Rafael Rosset

      https://www.facebook.com/rafael.rosset/posts/10208267517783860

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Apenas para esclarecer, não estou fazendo critica a terceirização em si. Sou defensor fervoroso do livre mercado e das liberdades individuais, onde cada um mantenha para si seus ganhos e patrimônio, gerindo-os como achar melhor.

      Meu ponto é identificar devidamente a causa dos problemas e não atacar efeitos.

      Essas leis que impedem a terceirização deveriam ser totalmente abolidas, não havendo restrição alguma para isso, o mesmo quanto a burocracia que faz com que se leve muitos meses para se abrir uma empresa aqui no Brasil e logo a mesma acabe falindo, levando outro ano para encerrar legalmente a atividade.

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    • Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS

      Realmente muito coerentes as suas considerações. O fator "confiança" ou a ausência dela em relação a terceiros cria distorções muito sérias, que só quem já sofreu algum dissabor ou que está diante de uma necessidade concreta pode mensurar corretamente.

      Nos Seguros e na Concessão de Crédito fala-se muito algo semelhante, o tal do "Risco Caráter". Infelizmente o nosso por aqui é bem elevado.

      Tenho uma convivência muito intensa com os argentinos e uruguaios já de alguns anos.

      Curiosamente, o sistema de terceirização integral é uma realidade há bastante tempo e com bons resultados.

      Conheci uma empresa muito interessante chamada "Agroservicios Pampeanos" que além da operação integral em máquinas bastante modernas, se encarrega da aplicação dos insumos e do acompanhamento das lavouras usando o que existe de melhor em Agricultura de Precisão. Assim como eles, existem vários outros de menor porte, o que permitiu a consolidação desse conceito inclusive junto a Produtores de maior escala. Mas, como você pontuou muito bem, a diferença de qualidade das Pessoas é um aspecto crítico e que torna decisões supostamente racionais do ponto de vista econômico mais arriscadas do que deveriam. Nesse sentido, concordo plenamente que o controle do processo se torna intransferível.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Eu aprendi na minha vida que terceirizaçao nao pode ser considerada uma atividade economicamente e estrategicamente viavel e so' deve ser usada quando nao houver alternativas---O falecido sr Egon começou a WEG do nada mas a tranformou na terceira maior fabrica do mundo hoje com 25000 dependentes---Fui amigo dele e sei que a sua estrategia de sucesso foi a VERTICALIZAÇAO TOTAL da atividade----Enquanto as outras fabricas fundiam componentes em terceirizadas e compravam madeira de embalagem de terceiros,

      ELE fazia tudo em casa e mantinha rigido controle de custos----Todos os concorrentes dele faliram e a WEG se tornou um sinbolo de estrondoso sucesso no mundo----entao esta' comprovado que ser DONO DO PROPRIO NARIZ e' financeiramente e estrategicamente melhor do que qualquer outra coisa ou modismo----

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Senhor Carlos, um bom exemplo demonstrado o caso da WEG. A verticalização possibilita certas sinergias e ou sintonias finas que em uma operação terceirizada não haveria condições de se obter em muitos casos.

      Concordo que a terceirização deve usada quando não há viabilidade alguma para executar certa função, por questão de diluição de custo ou por foco do empreendimento.

      Eu terceirizo há mais de uma década a coleta, analise solo, processamento dados e geração de informações das analises de solo e foliares. Nesse caso tenho um prestador de serviço diferenciado bem integrado as operações do fazenda.

      manter uma operação dessas verticalizada demandaria um modulo muito maior do que possuo atualmente, portanto é um caso que se mostra viável a terceirização.

      No mais, como já disse independente desses pontos de vistos, o mercado tem que ser aberto para quem queira investir nesse setor.

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