Fala Produtor - Mensagem

  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP 19/02/2018 13:17

    Sobre a primeira reportagem (a análise da Reuters quanto às exportações brasileiras de milho em 5 anos): Me assusta uma previsão assim, baseada em teorias e deixando de lado a realidade. É o tipo de análise que acaba criando bolhas financeiras e prejudicando o setor produtivo.... Vou por partes:

    1). Atribuir perda de market share das exportações de milho as renegociações de acordos comerciais dos EUA com seus parceiros não passa de terrorismo político de quem esta assustado em perder uma teta para mamar. Já alardearam que o Brasil iria ganhar muito mercado de milho no México ano passado e esse ano, e no final era pura torcida e propaganda.

    2). Dizer que o Brasil está investindo pesadamente em logística me parece meio míope, pois na pratica não vemos quase nenhuma melhoria efetiva, apenas manutenção do que está ruim ou meio ruim. Não temos e nem teremos novos modais ativos e efetivos em 5 anos e acho que nem em 10 anos.

    Mesmo os EUA que agora estão começando a sentir o peso dos anos sobre as eclusas do Mississippi e algumas linhas férreas, ainda sim estão anos luzes a frente de nós e isso não vai mudar em décadas. O problema deles é de muito mais fácil solução que o nosso.

    Basta ver a diferença do custo médio de frete aqui e lá. Não adianta esses ditos pesados investimentos em portos se para o grão chegar no porto é um inferno, literalmente. Não vejo também uma mudança drástica o nosso sistema prontuário, vejo melhorias, mas melhorias em relação ao que tínhamos antes, não comparado aos países de primeiro mundo.

    Resumindo, todos têm problemas, mas se comparar os problemas dos EUA com o Brasil em infraestrutura, fica óbvio que eles estão em ótima condição nesse caso. Não me recordo exatamente, mas foi no evento Commodity Classic em San Antonio no Texas em 2016 que um palestrante disse aos Americanos "vocês acham as estradas aqui ruins?, precisam ver o que é estrada ruim no Brasil".

    3). Basear-se em uma previsão de queda de exportação de milho este ano nos EUA e uma leve alta na do Brasil para afirmar que isso é uma tendência de longo prazo é desconsiderar sazonalidade e particularidades do mercado.

    Também dizer que tomaremos lugar de outro produtor pois somos o primeiro em soja, suco e laranja e outras commodities carece de fundamentação técnica.

    4). Quanto a parte agronômica e climática, nós temos terras sim, mas temos código florestal, temos burocracia, temos socialismo atrapalhando tudo e todos.

    Quanto custa no Brasil, abrir um hectare de terra, nem digo de mata nativa, fiz uma cotação para destocar, limpar e corrigir uma área de pinheiros comerciais, entre operações de destoca, limpeza, correção de solo (calagem, gessagem, fosfatagem e potassagem) e operacões referente a essas correções se gasta tranquilamente 15 mil reais em um hectare. Isso que nem precisa de licenças ambientais e tudo mais, só em operação e corretivos/fertilizantes.

    Quanto a ter clima, vejo isso do clima tropical mais como propaganda ufanista, nosso clima não é tudo isso que dizem. É irregular quanto a regime pluviométrico, temperatura escaldante sendo tudo isso propicio a aparecimento de pragas, fungos e ervas daninhas nas lavouras.

    Nesses aspectos os climas subtropicais e temperados são muito mais favoráveis para a produção agrícola. Estabilidade e "baixa" pressão de pragas. Temos diversas questões agronômicas do clima tropical que são complexas sim.

    O que mais me assusta quanto ao milho, e aí faço coro ao que o colega Elcio Sakai comentou, duas safras não é vantagem alguma, estamos sendo forçados a fazer mais safras sobre a mesma área para conseguir diluir os pesados custos fixos e alguns semi variáveis como folha de pagamento operacional. Isso não está sendo vantagem alguma, estamos apenas jogando produção no mercado que acaba por desequilibrar ainda mais as relações de oferta e demanda das commodities e deprimir preços, apenas para conseguirmos manter as operações.

    Imaginem se o Brasil deixa de fazer uma safrinha de milho, vai fazer com que a soja suba, o milho suba o trigo suba e tudo mais, devido a competição por área que isso vai gerar.

    5) Particularidades agronômicas, no caso do milho, temos enormes entraves nessa cultura, fato evidente na perda de área de verão ano após ano no Brasil.

    Basta comparar a produtividade média dos EUA com a nossa, literalmente a média por hectare lá é o dobro da Brasileira.

    Milho é muito mais sensível a stress hídrico e oscilações de temperatura do que a soja, nesse caso o clima tropical não ajuda muito, tanto que estamos empurrando o milho para segunda safra, onde o clima é mais amenos apesar de menos chuvas.

    Sem contar questão do manejo de nitrogênio (N), o qual o milho é altamente dependente via aporte mineral/químico, nos falta tecnologia e técnicas para diagnosticar as necessidades e os momentos ideias da cultura além de nossas fontes do produto terem diversas interrogações.

    E o custo disso tudo, um kg de N hoje no Brasil custa bem mais que um Kg de N nos EUA, sendo que as vezes estamos aplicando esse fertilizante caro sem ferramentas que de diagnóstico e aplicação que tragam resposta desse investimento, coisa que fica evidente na produtividade média Brasileira em relação aos EUA.

    Duas safra de milho sequenciais é inviável, a de verão já está inviabilizada por custos de produção do milho serem o dobro da soja, imagine esse risco em pais como nosso, com clima instável e riscos financeiros altíssimos sem seguro agrícola. Produtor de milho de verão no Brasil está fazendo roleta russa, isso sim. Imagine fazer uma sequência de milho sobre milho, onde a área não vai ter a fixação natural de N que a soja propicia, aliás esse é um dos principais motivos da safrinha ainda ser viável no Brasil, a soja deixa de brinde em torno 80 kg de N no solo por há, reduzindo a necessidade compra de fertilizante químico/mineral.

    Vejo com muita ressalva essa análise, temos problemas sérios demais para mudar esse quadro que está sendo pintado.

    Não posso me estender mais no comentário agora durante a colheita, problemas demais para resolver.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Guilherme esse seu comentatio me fez lembrar a estoria do CORVO e da RAPOSA,

      onde a RAPOSA fica elogiando e enchendo a bola do CORVO no intuito do Corvo deixar cair o queijo que esta' segurando na boca---

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Exatamente Carlo, vamos a alguns números. Esse ano safra que abrange o período de fevereiro de 2017 a janeiro de 2018 o Brasil exportou 30,8 milhões de toneladas de milho, nosso Record em um ano safra.

      Os EUA no ano safra deles que abrangem um período diferente, deve atingir 52 milhões de toneladas.

      É muita distancia para se tirar em 5 anos com a nossa realidade, onde o milho verão perde área ano após ano por inviabilidade econômica e safrinha com riscos enormes para produtor também pode estar alcançado um limite de área.

      Eu mesmo esse ano reduzi 30% da área de milho safrinha, com planejamento financeiro para poder suportar os custos e despesas do período, pretendo não mais plantar safrinha em toda área salvo uma mudança radical no panorama de produção.

      Milho verão esta impraticável, custo altíssimo, risco climático, problemas de liquidez e mercadológicos.

      Difícil acreditar que vamos dobrar a nossa produtividade em 5 anos e chegar nos níveis dos EUA, e o mesmo ficara estagnado ou mesmo aumentar a area de milho no pais com essas condições.

      O que tem mais chances de crescer em área é soja.

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