Para instruir a canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens.. (sobre Niemeyer)

Publicado em 07/12/2012 22:59 e atualizado em 22/05/2013 16:46
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Para instruir a canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens

Esta é a Universidade de Constantine, em Argel, na Argélia. A obra, independentemente do ambiente político que a cerca, que não é bom, é a prova do que pode o gênio humano. Foi projetada por Oscar Niemeyer e é, na minha opinião, um de seus mais belos trabalhos.

Mas…
Mas há os fatos. E não me importo em instruir os ignorantes. As reportagens das TVs e dos portais estão fazendo do “comunismo” de Niemeyer uma dimensão de sua generosidade. Como sabemos, ele achava Stálin um “líder fantástico”.

A partir de 1930, o dirigente soviético promove a coletivização forçada do campo. Isso implicava, como política de estado, a destruição dos “kulaks como classe”, a saber: dos camponeses que ainda eram proprietários de terras. Não, nem se tratava de latifundiários: era gente que produzia para a sua sobrevivência e que vivia da venda do excedente.

O principal alvo foram as terras férteis da Ucrânia. Stálin, o grande humanista de Niemeyer, decretou a expropriação de toda a produção rural e a coletivização da terra. Os camponeses resistiram. Morreram assassinadas ou de fome, nesse período, entre cinco milhões e sete milhões de pessoas. Segundo Niemeyer, “a revolução era mais importante”.

Abaixo, reproduzo um trecho da página 70 do livro “Stálin – A Corte do Czar Vermelho”, do respeitado historiador Simon Sebag Montefiore (Companhia das Letras). Vão se instruir, vagabundos!!! Era este homem que Niemeyer cultuou até o fim da vida como exemplo do humanismo comunista. Depois do texto, algumas fotos.
*
(…)
Em janeiro de 1930, Molotov planejou a destruição dos kulaks, que foram divididos em três categorias: “primeira categoria [...] a ser eliminada imediatamente”; a segunda deveria se aprisionada em campos de trabalho; a terceira, 150 mil famílias, deveria ser deportada. Molotov supervisionava os esquadrões da morte, os trens, os campos de concentração, como um comandante militar. Entre 5 e 7 milhões de pessoas caíram nas três categorias. Não havia maneira de selecionar um kulak (…).

Durante 1930-31, cerca de 1,68 milhão de pessoas foram deportadas para o Leste e o Norte. Em poucos meses, o plano de Stálin e Molotov levara a 2.200 rebeliões envolvendo mais de 800 mil pessoas. Kaganóvicth e Mikoian comandaram expedições ao campo com brigadas de soldados da OGPU e trens blindados como se fossem senhores da guerra. Suas cartas manuscritas a Stalin estão marcadas pela emoção fraternal de sua guerra, pelo aperfeiçoamento humano contra os camponeses desarmados: “Tomando todas as medidas quanto a alimentos e grãos”, relatou Mikoian a Stálin, citando a necessidade de acabar com os “sabotadores”: “Enfrentamos grande resistência [...]. Precisamos destruir a resistência”.

No álbum de fotografias de Kaganóvitch, o vemos indo para a Sibéria com o seu pelotão armado de facínoras de jaqueta de couro interrogando camponeses, investigando suas pilhas de feno, descobrindo os grãos, deportando os acusados e avançando novamente, exausto, caindo no sono entre paradas. “O trabalho de Molotov é realmente duro e muito cansativo”, contou Mikoian a Stálin: “O volume de trabalho é tão vasto que precisa de cavalos-vapor”.
(…)

Voltei
Stálin era tão obcecado pelos campos de concentração que andava com uma caderneta no bolso, que trazia a sua localização, quantidade pessoas etc. A inteligência não é incompatível com a canalhice intelectual. O escritor Máximo Gorki, comunista de carteirinha, visitou alguns em companhia do grande líder.

Abaixo, fotos dos corpos que os homens de Stálin foram deixando por onde passavam no processo de coletivização da agricultura. Retomo depois.

Na foto abaixo, os homens de Stálin em ação nas terras férteis da Ucrânia, com seus comboios que iam sequestrando a produção agrícola. A ordem, a depender da área,  era não deixar com os camponeses nem mesmo o suficiente para a sua subsistência. Matá-los de fome era uma determinação. Como é mesmo, Niemeyer: “A revolução era mais importante”.

Aqui, mais uma obra de Niemeyer: a Catedral de Brasília. Por isso separei o gênio do idiota; por isso separei o homem que celebrava a vida do homem que celebrava a morte. Sou um humanista.

 

Perguntem a Ricardo Boechat o que ele pensa a respeito. Perguntem a outros de sua espécie o que há de grandioso e heroico em tudo isso. Se Niemeyer admirasse Hitler, certamente não tentariam salvar do lixo nem mesmo a sua obra. Stálin só viria a ser superado em cadáveres por outro dos heróis do arquiteto: Mao Tsé-tung. O bigodudo matou uns 40 milhões. O tirano chinês quase dobrou a aposta: 70 milhões.

Ninguém quer tocar no assunto? Eu toco. Vejam de novo a catedral e o que pode o gênio humano. Niemeyer fez uma bela catedral sem acreditar em Deus. Não era preciso crer para ser bom. Niemeyer, no entanto, acreditava em Stálin e seus métodos.

E eu lembrei as duas coisas. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Do ateísmo e do ecumenismo no instante final

Vejo na televisão a cerimônia de sepultamento de Oscar Niemeyer. Representantes de diversas religiões, uma mensagem comovida dos irmãos homicidas que governam Cuba, a Banda de Ipanema (ou algo assim), saudação de “companheiros comunistas”, o Cristo ao fundo, braços abertos sobre a Guanabara. No Rio, até enterro termina em cartão-postal.

Não sei se Niemeyer deixou alguma instrução pedindo uma cerimônia ecumênica. Se deixou, acho bacana. Falo sério. Não há hora para aceitação de Deus, ainda que seja só “em homenagem ao nosso povo crente”. Se não deixou, então é um desrespeito – este, sim! Um ateu tem o direito de viver e de morrer segundo as suas convicções.

É preciso ter um mínimo de rigor nessas coisas. Ateísmo não é sinônimo de ecumenismo. Este implica reconhecer que todas as religiões, ou um grupo delas, têm uma base mística comum ou, ao menos, estão movidas pelo mesmo impulso e pelas mesmas intenções. Eu, por exemplo, que acho que a tolerância religiosa é expressão necessária de civilidade, não sou ecumênico.

Niemeyer, o que deixou expresso mais de uma vez, não acreditava no deus de nenhum daqueles senhores que lá estavam paramentados. Muitas convicções religiosas juntas não são suficientes para converter um homem vivo. E, por óbvio, não convertem um morto. Se, reitero, ele não deixou instruções a respeito em defesa da solenidade, tratou-se de uma arbitrariedade.

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma metade do PT é petista, e a outra também. Ou: E escrever que Getúlio Vargas era metade suicida e metade homicida, pode?

O Diretório Nacional do PT conclui hoje, em Brasília, uma reunião iniciada ontem para debater, ai, ai, a suposta criminalização do partido, que uniria forças tão díspares como a direita (alguém tem o endereço da direita brasileira pra gente mandar uma carta?), o Supremo Tribunal federal – especialmente na pessoa do ministro Joaquim Barbosa!!! – a “mídia” e, pasmem!, até a Polícia Federal, que está sob o comando do partido há dez anos. Até parece que alguém precisa empurrar petistas para ações criminosas… O que é do gosto regala a vida, a gente diz lá em Dois Córregos.

Neste sábado, os petistas divulgam uma resolução. Segundo o Estadão, o documento trará esta pérola:
“Sabe-se que denúncias de corrupção sempre foram usadas por conservadores no Brasil para desestabilizar governos populares (…) Vargas foi levado ao suicídio por insidiosa campanha de forças políticas, meios de comunicação e outros agentes inconformados com sua política nacionalista e de fortalecimento do estado. Dez anos depois, por razões semelhantes, esses mesmos atores se reuniram para derrubar o governo João Goulart e impor 20 anos de ditadura no país”.

A que vem essa síntese bucéfala da história brasileira? Ah, os petistas estão incomodados com os desdobramentos do processo do mensalão – todas as tramoias tentadas para melar o julgamento deram com os burros n’água – e com a operação Porto Seguro, que conduziu para o centro do escândalo uma amante, ou ex, de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele a havia instalado na chefia do escritório da Presidência em São Paulo. Uma vez lá, segundo a PF, aquela senhora passou a integrar uma quadrilha. Na mesma reunião, os petistas não esqueceram de demonizar o PSDB…

Vamos ver. Se a questão fosse voltar ao regime de 1964, seria o caso de lembrar que um dos entusiastas do AI-5, Delfim Netto, é hoje um lulista roxo. Figura de escol da ditadura, como se dizia naquele tempo, é Paulo Maluf, que se juntou aos petistas na cidade de São Paulo para cantar “Lula lá”.  Fernando Haddad, o prefeito eleito, já anunciou que uma parte da Prefeitura ficará sob os cuidados daquele condenado a devolver US$ 22 milhões aos… cofres na Prefeitura!!! José Sarney, ex-presidente do PDS e homem que comandou o partido na resistência à emenda das diretas, tornou-se, sob o petismo, vice-rei do Brasil.

O PSDB, demonizado no encontro – eu gostaria de saber por quê… O partido andou fazendo oposição, e eu nem percebi? Não incluo o senador Álvaro Dias (PR) na ironia, deixo claro. Ora, se o PT quer voltar àquela divisão antiga, resta evidente que o que se chamou impropriamente de “direita” no Brasil está com o… petismo! O PSDB, em muitos aspectos, está à esquerda dos companheiros.

A UDN
Mas gostei mesmo foi da referência à UDN e a Getúlio Vargas. A UDN que apelava a quartéis, com efeito, tem de ser condenada, mas a que denunciava a corrupção – que, de resto, era real – não! O governo de Getúlio estava, sim, infiltrado por larápios e destrambelhados! E não! Não foi a UDN que, como escreverei isso?, o “suicidou”. Ele próprio tomou a decisão porque, como se sabe, a tentativa de matar Carlos Lacerda partiu das entranhas de seu palácio. Era Getúlio quem havia decidido se cercar de gente capaz de conduzir o país à ruína institucional.

A propósito: haverá também comoção se eu disser que Getúlio era metade homicida e metade suicida? A segunda metade, exerceu-a quando governou como ditador; quando veio a democracia, ele se matou. A lógica elementar indica que, se tivesse ainda os instrumentos de exceção que tinha sob o Estado Novo, ele continuaria a matar os outros. É realmente interessante o fascínio que essa gente xexelenta tem por tiranetes e tiranossauros. A minha escolha é sempre a democracia. É por isso que as obras as mais fabulosas de Oscar Niemeyer me impedem de deixar de apontar que o gênio, muitas vezes, foi posto a serviço do idiota.

De fato, o que temos? Os petistas estão deixando claro que as instituições atrapalham os planos do partido. Percebam: eles querem, a todo custo, controlar a imprensa. Aliás, a legenda divulgou ontem uma resolução de apoio a Cristina Kirchner, aquela que está conduzindo a Argentina, de maneira célere e inexorável, para o buraco. Segundo a gente entende, a investida da Doida de Buenos Aires contra a imprensa deveria servir de modelo ao Brasil…  Os patriotas também estão inconformados com o STF. E ontem aproveitaram para esconjurar a Polícia Federal por causa da Operação Porto Seguro.

O Zé Caroço estava lá, é evidente! E anunciou, mais uma vez, que pretende percorrer as capitais para acusar a injustiça do julgamento etc. Que preguiça me dá esse cara!

Um pedido aos petistas
Peço aos companheiros que façam a lista da imprensa que consideram confiável. É muita sacanagem com o jornalismo adesista, que faz um esforço danado para puxar o saco do PT, ficar fazendo essa acusação genérica. Vejam, por exemplo, o caso de Ideli Salvatti. A mulher, com aquela retórica bailarina de sempre, confessou ontem que Dilma “nunca saiu do palanque” e que o tal plano elétrico é mesmo eleitoreiro e tem como alvo atingir a oposição. Não obstante, a sua fala praticamente sumiu da edição dos jornais, não vai para as rádios e ficará longe da TV.

Eu insisto: a acusação genérica que os petistas contra a imprensa é injusta com quem está de joelhos e injusta com quem está de pé. Pô, a coisa chegou a tal ponto que aprendi nestes dois dias que até o comunismo é uma das expressões da generosidade humana. Isso tem de ser valorizado pelos companheiros, né?

É que o PT não tem jeito… Uma metade do partido é petista, e a outra também…

Por Reinaldo Azevedo

 

PF decide indiciar Rosemary também por formação de quadrilha

Ao falar no Congresso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou que uma quadrilha operasse no seio do governo – em particular na Presidência da República, onde estava lotada Rosemary Nóvoa Noronha, a chefe de gabinete da representação presidencial em São Paulo.

Pois é… Pelo visto, a Polícia Federal discorda. Segundo informa o estadão, a PF decidiu indiciá-la também por formação de quadrilha. Ela já era investigada por tráfico de influência, corrupção ativa e falsidade ideológica.

O “amigo íntimo” de Rose, Lula, está na Alemanha para uma palestra a sindicalistas. Foi indagado por jornalistas se ficou surpreso com a operação. Disse que não. Pois é… Quem conhece, pelo visto, não tem por que se surpreender, né?

Por Reinaldo Azevedo

 

Gente como ele ajuda a sujar a imagem no Brasil no exterior e, diz a imprensa internacional, prejudica o país

José Dirceu, chefe da quadrilha do mensalão que vem sendo julgada pelo STF (Ueslei Marcelino/FuturaPress)

Na VEJA.com:
A economia do Brasil tem sido prejudicada pela corrupçãoe por problemas de infraestrutura, afirma o jornal britânico The Independent’, em artigo publicado nesta quinta-feira. A corrupção também é tema de uma reportagem da revista americana Time, que compara Brasil e México, afirmando que, apesar de o último ser um lugar mais fácil para se fazer negócios, o primeiro é mais transparente.

Segundo o The Independent, a infraestrutura pobre, preocupações sobre intervenção excessiva do governo na economia e dados fracos do Produto Interno Bruto (PIB) são alguns dos ventos contrários que ameaçam o maior país da América Latina. O jornal destaca ainda que, com a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil tem um trabalho difícil a fazer se quiser atingir seu potencial total.

Outro problema citado pelo jornal britânico foi a corrupção. A publicação destacou a Operação Porto Seguro da Polícia Federal que prendeu seis pessoas e indiciou 19 acusados de atuarem em vários órgãos do governo federal, intermediando interesses de empresas privadas mediante pagamento de propina.

A revista Time, por sua vez, afirma que, embora o país tenha ficado em 9º lugar entre os mais corruptos dos 26 países da América Latina e do Caribe no ranking anual de percepção de corrupção da organização não-governamental Transparência Internacional, e o México tenha ficado em 16º, o Brasil ainda tem longo caminho a percorrer. Uma evidência disso, diz a revista, é o escândalo do mensalão, que envolveu milhões de dólares em propinas a membros do Congresso e que resultou no maior julgamento de corrupção na história nacional.

A Transparência Internacional divulgou na quarta-feira o ranking anual de percepção de corrupção em que o Brasil subiu quatro posições, para 69º lugar, de 73º no ano passado. A nota do país melhorou para 43 neste ano, de 38 em 2011, onde zero significa “altamente corrupto” e 100 pontos mostra um país “muito limpo”. Foram analisados 176 países.

A ’Time ressalta que, apesar de os negócios e a burocracia serem considerados mais fáceis no México, no Brasil esses fatores são, segundo o Banco Mundial, mais transparentes. De acordo com a publicação, o fato de 38 acusados no caso do mensalão terem sido julgados e a maioria deles, incluindo José Dirceu, braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ter sido condenada “ajudou a campanha anticorrupção da atual presidente Dilma Rousseff”.

Segundo a revista, o México, enquanto isso, ainda pode ser visto como um país que se nega a reconhecer a corrupção enraizada, que, segundo o Banco Mundial, custa 9% de seu PIB a cada ano.

Por Reinaldo Azevedo

 

Carlinhos Cachoeira é condenado e preso novamente

Por Jean-Philip Struck, na VEJA.com:
Duas semanas depois de ser libertado, o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi preso novamente na tarde desta sexta-feira em Goiânia (GO). A prisão ocorre após a Justiça Federal de Goiás ter condenado também nesta sexta o contraventor a 39 anos e oito meses de prisão. O mandado de prisão foi expedido pelo juiz Alderico Rocha Santos, da 5ª Vara Federal. Cachoeira foi levado para a sede da sede da superintendência da Polícia Federal na capital goiana. De acordo com a sentença expedida pela Justiça, o bicheiro foi condenado pelos crimes de corrupção ativa, formação de quadrilha e peculato.

O Ministério Público Federal havia pedido 80 anos de prisão para Cachoeira. Além do bicheiro, outros sete réus investigados na operação Monte Carlo foram condenados. Lenine Araújo de Souza, primo de Cachoeira e apontando pela PF como sendo o braço-direito do bicheiro, foi sentenciado a 24 anos e quatro meses de prisão.

O araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, foi condenado a 19 anos e três meses. Já o ex-presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia Wladmir Garcez, apontado pela PF como o braço político de Cachoeira foi condenado a sete anos. José Olímpio Queiroga Neto, apontado pela procuradoria como o responsável pelo controle dos jogos ilegais no entorno do Distrito Federal, foi condenado 23 anos e quatro meses de prisão. Seu irmão, Raimundo, recebeu sentença de 12 anos e oito meses. O auxiliar Gleyb Ferreira da Cruz foi condenado a 7 anos e 8 meses. Já o contador Geovane Pereira da Silva, que atualmente está foragido, recebeu pena 13 anos e quatro meses. Todos os réus podem recorrer da sentença. 

Soltura
Cachoeira havia sido solto no dia 21 de novembro, após passar 265 dias encarcerado. O bicheiro foi o principal alvo da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desmontou uma quadrilha que explorava jogos ilegais. O caso também desencadeou a abertura de uma CPI no Congresso

Na ocasião, o alvará de libertação foi expedido após a juíza Ana Claudia Barreto, da 5ª Vara Criminal do Distrito Federal,  ter confirmado a condenação de Cachoeira a cinco anos de reclusão em regime semiaberto pelos crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência. A sentença se refere às atividades do contraventor em esquemas criminosos no Distrito Federal, investigados pela Operação Saint Michel, da Polícia Civil do DF. Segundo a polícia, o bando de Cachoeira tentou fraudar o sistema de bilhetagem eletrônica do transporte público na capital federal, tentando infiltrar uma empresa sul-coreana na empresa pública de transporte do Distrito Federal e, com isso, obter 50% dos lucros do contrato de bilhetagem. 

Monte Carlo
Carlinhos Cachoeira foi o protagonista da Operação Monte Carlo, que revelou que o esquema de contravenção que atuava para corromper empresas e governos estaduais em proveito do esquema criminoso. Os braços da quadrilha envolviam a construtora Delta, empreiteira que detém diversos contratos com o governo federal.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ideli Salvatti, a grosseira sincera, prova que eu estava certo: plano elétrico de Dilma está de olho nas urnas, não no país

A canalha petralha aproveita para me atacar até quando escrevo uma obviedade sobre Oscar Niemeyer porque sabe que eu conheço a sua natureza. E isso os deixa um pouco irritados. Se eu não tivesse leitores, tudo bem pra eles… Ocorre que são muitos milhares, né? Nesta sexta, lá vai o blog passar de 200 mil acessos de novo…

Na quarta-feira, escrevi um texto cujo título era este: Populismo Elétrico de Dilma agora está claríssimo, se combina com plano para aniquilar a oposição. Demonstro no texto que a presidente havia preparado uma armadilha para os governos tucanos de São Paulo, Minas e Paraná. Ou as grandes geradoras desses estados aderiam ao “plano” de barateamento da energia de Dilma e quebravam, ou faziam o certo, resistiam e seriam acusadas de estar contra o povo. Desde o início, o plano tinha laivos de aberta conspiração contra a economia desses três estados, de olho em 2014.

Fui acusado, claro!, de paranoico, de alimentar teorias conspiratórias infundadas (porque as existe com fundamento, é evidente!), de deixar o meu antipetismo subir á cabeça, essa bobajada… Quem é que vem a público para provar que eu estava certo? Quem é que vem a público para demonstrar – lamento, desafetos! – que Tio Rei enxerga longe e com aguda vista (apesar da miopia)? Quem é que vem a público para provar a cobertura vergonhosa que setores consideráveis da imprensa dispensam ao tema?

Ela! A musa da delicadeza, do pensamento sofisticado, da elegância de argumentos, do charme do convencimento: IDELI SALVATTI, que vem a ser ministra das Relações Institucionais. Eu adoro o nome dessa pasta. Faz supor que existam as “relações não-institucionais”. Bem, existem, né? São aquelas de que cuidavam ou cuidam José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Rosemary Noronha, Paulo Vieira… Leiam o que informa a Folha Online. Negrito algumas coisas por minha conta.

Prestem atenção ao vocabulário de beira de estrada de Ideli. Vejam como se comporta, entre os seus, uma ministra de Estado. Reparem como ela confessa que o plano de Dilma para o setor elétrico é, sim, eleitoreiro e como se trata de uma ação deliberada para ferrar a oposição. Volto depois:
*
Por Daniela Roncaglia:
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) admitiu, nesta sexta-feira (7), que a presidente Dilma Rousseff poderá enfrentar na eleição de 2014, além da oposição, um candidato da base aliada. “Nós não devemos estar desatentos a candidaturas alternativas, que começam a se desenhar”, afirmou a ministra. Nesta semana, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), que é apontado como presidenciável, fez duras críticas à política econômica de Dilma.
Segundo Ideli, a eleição de 2014 já está na rua. “Dizem que a Dilma já subiu no palanque. Ora, a Dilma não saiu do palanque. A Dilma é a nossa candidata e tenta a reeleição em 2014, obviamente”, afirmou a ministra. Questionada quem seria esse possível candidato, a ministra disse que ainda é cedo. Ideli discursou de um evento do PT paulista com prefeitos e vereadores eleitos, que acontece em um hotel em Embu das Artes (Grande SP).
Chumbo
Na sua fala, a ministra relacionou à eleição presidencial a decisão da Cemig e da Cesp, companhias energética de Minas Gerais e São Paulo, de não renovar concessão de todas as suas geradoras. Ambos os Estados são governados pelo PSDB. Na quarta, Dilma atacou a “falta de sensibilidade” dos governos tucanos e sinalizou que está disposta a bancar a redução de 20,2% da tarifa de energia. De forma indireta, Ideli criticou também o senador Aécio Neves (MG), provável candidato do PSDB à Presidência, pela decisão da estatal mineira. “O cara parece mais o presidente da Cemig do que candidato a presidente do Brasil”, disse. Segundo ela, a presidente deu uma “chapuletada” no senador tucano.

Para a ministra, os tucanos irão tomar “chumbo” do PT na eleição. “A eleição já está na rua. E eles já tomaram chumbo em 2002, 2006 e 2010. E neste modelito, tucano bico longo, em 2014 tem a possibilidade bastante grande de tomar chumbo”, disse. Ideli ainda afirmou que o PT não pode ficar desatento aos ataques da “direita e seus adeptos”.

“Eles não vão dar trégua. É muito importante saber com quem conta, onde está, porque está. E saber também quem é que vai nos atacar. Nós vamos ser permanentemente atacados”, disse.

Voltei
Eis aí. Segundo a ministra de estado, a presidente nunca desceu do palanque. Se é assim, então não governa, mas apenas faz política eleitoreira. Mais: ela própria se encarrega de deixar claro que a questão elétrica serve para o confronto partidário. Não se trata de pensar no bem do país, mas no resultado das urnas. Ideli fala a verdade. Como se pensaria no país tentando quebrar três empresas, né?.

Com Ideli é assim: a oposição não vai perder, mas “levar chumbo”, expressão que vem do mundo dos pistoleiros.  Um possível candidato do PSDB à Presidência é chamado de “o cara”. Dilma não critica, mas dá “chapuletada”. Um dos partidos adversários é nada menos do que “modelito tucano bico longo” – seja lá o que isso signifique, ela não acha bom.

Ideli é, de hábito, grosseira esteja falando a verdade ou não. No caso em questão, a grosseria vem acompanhada da sinceridade. Dilma já está em plena campanha eleitoral, e seu plano de energia será seu cavalo de batalha. Ela esperava que os tucanos fizessem a coisa certa (e ele fizeram), resistindo ao desmonte das geradoras de energia para ter, então, um palanque.

Por Reinaldo Azevedo

 

Por que Dilma deve aplicar a ontologia da Rosa, de Gertrude Stein, para ser mais tolerante com a divergência. Ou: Não chame as Forças Armadas contra a Economist, Soberana!

A presidente Dilma Rousseff precisa aprender que a opinião de uma revista é a opinião de uma revista é a opinião de uma revista. A presidente Dilma Rousseff precisa aprender a aplicar a ontologia da rosa, de Gertrude Stein, aos debates que se travam na imprensa internacional sobre a economia dos países, ora.

A The Economist, com efeito, classificou o crescimento brasileiro de “moribundo”, sustenta que Guido Mantega perdeu a parada para a realidade e sugere sua demissão. Diz ainda que a presidente Dilma está se metendo demais na economia e que isso tem sido contraproducente.

A revista britânica já deu conselhos aos governantes do Reino Unido, a Barack Obama, a dirigentes africanos… A Economist, a exemplo do jornalismo do mundo inteiro, é assim: analisa, opina, debate… Ora acerta, ora erra. Sua reputação certamente se deve ao fato de mais acertar do que errar. Mas já cometeu das suas… É velha o bastante para ter dito que não havia como os carros tomarem o lugar dos cavalos. Também se perguntou, certa feita, quem seria estúpido o bastante para passar muito tempo diante daquilo a que chamavam “televisão”… Pois é.

O bom de erros assim é que eles são, na verdade, irrelevantes. Já os erros dos governos podem significar a boa ou a má sorte de milhões de pessoas. Eis um bom motivo para que a imprensa sugira coisas ao governo, mas não o governo à imprensa. Fui muito sutil?

Dilma, vocês lerão na reportagem de Laryssa Borges e Tai Nalon, da VEJA.com, ficou furiosa com a Economist e resolveu evocar fundamentos da soberania nacional… Menos, presidente, menos! Se Vossa Excelência me permite uma opinião, isso é arrogância de pequenos. Por qualquer bobagem, vão longo botando a tropa na rua. Trata-se apenas da análise de… uma revista!

O que deve preocupar a presidente, aí sim, é o fato de que ela sabe que a Economist toca em problemas importantes da economia, para os quais não há resposta. O crescimento brasileiro será pífio neste ano (1,5%, por aí) e não dá sinais de que seja um portento no ano que vem. O estoque de medidas do governo parece esgotado – e sem dar os resultados esperados. O consumo como motor do crescimento parece ter batido no teto. A forte intervenção do estado na economia, em várias frentes, também está longe de produzir números vistosos.

Aí, então, é preciso mudar de rumo e de prosa. E a Economist não vê, a exemplo da esmagadora maioria dos brasileiros que lidam com o assunto, como pode ser Mantega a propor uma saída.

Espero que Dilma não chame as Forças Armadas. A revista não quer sabotar o Brasil, não, viu, excelência!? Quanto ao pito que a presidente dá na economia da Zona do Euro (algo como: “Os europeus que olhem para a própria cauda”…), não custa lembrar que o Reino Unido não pertence à… Zona do Euro!

Ademais, foi uma revista que criticou a condução da política econômica brasileira, não a comunidade europeia inteira. Ou o que devo fazer? Descer para brigar com o dono de um mercadinho aqui do bairro, que é espanhol? “E tem mais: o seu país tem um desemprego muito maior do que o meu…”. É preciso ter senso de proporção e de ridículo. Segue reportagem da VEJA.com.
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A presidente da República, Dilma Rousseff, rapidamente saiu em defesa do seu governo um dia após reportagem da revista britânica The Economist pedir a exoneração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, devido ao frustrante resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre – que mostrou um crescimento de apenas 0,6%

Depois da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, a presidente disse que não aceitará ser influenciada pela imprensa internacional, em uma referência direta ao artigo publicado pela revista nesta quinta-feira. A The Economist também sugeriu que ela indicasse uma nova equipe econômica “capaz de recuperar a confiança dos empresários”.

 No contra-ataque, Dilma afirmou que a situação econômica da zona do euro e dos Estados Unidos é muito pior que a brasileira e que, nem por isso, existe pressão para queda das cúpulas financeiras dos países desenvolvidos. “Vocês não sabem que a situação deles é pior que a nossa? Pelo amor de Deus, (é pior) desde 2008. Nenhum banco, como o Lehman Brothers, quebrou aqui. Nós não temos crise de dívida soberana, nossa relação dívida-PIB é de 35%, nossa inflação está sob controle. Temos 378 bilhões de dólares de reserva”, esbravejou.

Irritação
A presidente, mostrando clara irritação, ainda alfinetou a publicação dizendo que “em hipótese alguma o governo brasileiro, eleito pelo voto direito e secreto do povo brasileiro, vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira”, afirmou.

Mais cedo, ao lado de presidentes sul-americanos, Dilma havia defendido a integração de países do continente, incluindo membros associados do Mercosul, como forma de enfrentar as turbulências internacionais. “Há razões de sobra para que estejamos preocupados com a situação econômica mundial em um quadro de menor crescimento e de recessão. Devemos nos precaver contra essas condições”, afirmou na ocasião.

Em reportagem intitulada “Quebra de confiança: Se quer mesmo um segundo mandato, Dilma Rousseff tem de mudar a equipe econômica”, publicada na edição desta semana, a revista britânica pede a demissão do ministro da Fazenda. “Ela insiste que é tão pragmática. Se é mesmo, deveria demitir Mantega, cujas previsões exageradamente otimistas implicaram a perda de confiança dos investidores”, diz a publicação. A Economist classificou a economia brasileira de “moribunda” e atribuiu a Mantega sucessivos fracassos econômicos no ano. “Dilma deve designar uma nova equipe econômica capaz de conquistar a confiança do mercado”, disse a publicação.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aeroportos para a Copa, “prioridades” do governo Dilma, têm só 36% dos gastos prometidos

Na VEJA.com:
A apenas seis meses de receber a Copa das Confederações de 2013 (e a um ano e meio de sediar a Copa do Mundo de 2014), o Brasil continua fazendo menos do que poderia para melhorar sua infraestrutura para os megaeventos esportivos dos próximos anos. Nos aeroportos, por exemplo, as promessas do governo seguem não se confirmando na prática. Apesar das repetidas garantias de que o país terá uma infraestrutura aeroportuária muito melhor para o Mundial, os gastos no setor ainda não deslancharam. Mesmo com grande urgência, até outubro de 2012 a Infraero investiu apenas 39,1% dos recursos previstos no orçamento deste ano, indica levantamento feito pela ONG Contas Abertas. Do total de 2 bilhões de reais autorizados, só 787,1 milhões foram de fato aplicados. Do total orçado para a Infraero, uma fatia de 60% é destinada aos aeroportos das cidades-sede da Copa, um montante de 1,2 bilhão de reais. Até outubro, no entanto, apenas 441 milhões foram aplicados (o equivalente a só 36,7% dos recursos prometidos). Os dados são do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Conforme a Infraero, a baixa execução se deve aos atrasos registrados nos primeiros meses do ano, em decorrência de fortes chuvas e de problemas nos processos de contratação. “Esses atrasos deverão ser compensados nos próximos meses”, explica nota do órgão – que ressalta que, historicamente, as obras da Infraero costumam apresentar maior índice de execução no segundo semestre do ano. “Em 2011, por exemplo, 70% dos investimentos realizados pela empresa foram executados no segundo semestre.” O órgão ainda trabalha com a possibilidade de executar integralmente o orçamento aprovado e revisado de 2012. A estatal ressaltou que a realização de investimentos no primeiro, segundo e terceiro trimestres de 2012 foi superior ao realizado nos mesmos períodos de 2011. Em valores corrigidos, o montante investido até o quinto bimestre de 2012 representou um recorde para os últimos treze anos. Os valores investidos nos dez primeiros meses do ano têm aumentado em todos os exercícios desde 2008, já que a Infraero sabe que precisa trabalhar muito para que a capacidade do setor seja compatível com o aumento da demanda.

Apesar disso, a execução das obras ainda é considerada insuficiente. Para Adyr da Silva, especialista em aviação civil da Universidade de Brasília, a situação do sistema aeroportuário brasileira é uma tragédia. “Os aeroportos estão subcapacitados. Atualmente, temos condições de atender apenas 50% da demanda de 200 milhões de passageiros por ano. Se fizermos uma comparação, a curva de crescimento da demanda é muito maior do que a de crescimento da capacidade. E essa situação só tende a se agravar”, avisa ele. De acordo como ele, faltam gerenciamento e planejamento para projetos e execução de obras, o que implica diretamente nos resultados dos investimentos. “A capacidade de gastar da Infraero fica prejudicada.” Para Silva, o ponto crítico dos problemas do setor é a baixa capacitação. “Pessoas com nenhuma experiência estão ocupando cargos na Infraero.” Essa, segundo ele, deve ser a principal preocupação da estatal para conseguir executar os orçamentos e finalmente começar a corrigir a grande defasagem entre a demanda – já existente e que deve aumentar ainda mais – e a capacidade dos aeroportos.

“Problema angustiante”
O caso dos aeroportos das sedes da Copa é emblemático. Nas obras de construção da Torre de Controle no Aeroporto Internacional de Congonhas, de adequação do Aeroporto de Guarulhos e do Aeroporto Internacional de Viracopos, todas em São Paulo, foram aplicados apenas 50% dos 321 milhões de reais orçados para este ano. Em situação semelhante encontram-se as ações de adequação do Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerias, e do Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. No Rio de Janeiro, na reforma e ampliação do Terminal de Passageiros e do Sistema de Pistas e Pátios do Aeroporto Santos Dumont e adequação do Aeroporto Internacional do Galeão foram investidos apenas 18,6% do orçamento para 2012. Para Adyr da Silva, a Copa de 2014 é uma situação limite para a qual, apesar de ter havido movimentação, o Brasil não está preparado. “Na África do Sul, em 2010, nos momentos de pico houve cerca de 580 aviões num mesmo dia em um aeroporto. Nenhum aeroporto brasileiro suportaria tal demanda atualmente. É um problema angustiante”, alerta.

Apesar disso, na visão da Infraero, a baixa execução das obras não significa que o país esteja enfrentando dificuldades nos investimentos no setor. A assessoria do órgão ressaltou que outras obras já estão acontecendo e “vão beneficiar passageiros e demais usuários do transporte aéreo”. Em fórum sobre a Copa promovido pela revista Exame, da Editora Abril, que também publica VEJA, na segunda-feira, em São Paulo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, se disse satisfeito com o andamento dos trabalhos nessa área e mostrou confiança na capacidade brasileira de receber bem todos os visitantes que chegarão para o evento em 2014. “Não teremos nos aeroportos nenhum problema que inviabilize a Copa”, assegurou ele. Mesmo com as necessidades claras do país nessa área, a Infraero deve diminuir o valor dos investimentos no orçamento de 2013. Os gastos prometidos pela estatal deverão atingir a cifra de 1,5 bilhão de reais, meio bilhão a menos que o valor liberado para 2012. Para 2014 e 2015, no entanto, os valores devem voltar a crescer: a previsão é de que 3,5 bilhões de reais sejam investidos em cada ano.

Por Reinaldo Azevedo

 

Os detalhes do imbróglio que resultou na demissão de Ricardo Boechat, então um jornalista respeitado, da Globo e da TV Globo

Leitores ficaram curiosos para saber detalhes do imbróglio que resultou na demissão de Ricardo Boechat, então um jornalista respeitado, do jornal O Globo e da Rede Globo. Ela se seguiu a uma reportagem da VEJA, publicada em junho de 2001. Boechat me ataca na rádio sem ler o que escrevi. Eu leio o que ele fez e não o ataco. Apenas constato… Acompanhem.
*
O empresário Nelson Tanure é conhecido por se meter em grandes negócios. Baiano, 50 anos, formado em administração de empresas, em pouco mais de uma década já se aventurou por vários setores da economia nacional – quase sempre deixando atrás de si um rastro de polêmica. Foi assim com a Sade, produtora de turbinas para geração de energia elétrica. Em 1990, num controvertido episódio da era Collor, um grupo de fundos de pensão de estatais enterrou 11 milhões de dólares na empresa, que vivia em dificuldades financeiras. Por trás da compra da companhia de Tanure, estaria a mão forte da amiga do peito do empresário e então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, que teria pressionado os fundos a aderir à operação. Em sua meteórica trajetória ao olimpo dos grandes empresários, Tanure chegou a ser dono de três grandes estaleiros, que detinham 80% de toda a capacidade instalada da indústria naval do Brasil. Acumulou dívidas tão pesadas que, em 1997, afundou em sua megalomania, sendo obrigado a retalhar seu latifúndio. No ano passado, estima-se que tenha botado no bolso 100 milhões de reais, numa transação espetacular: foi o preço para acertar os ponteiros com os antigos proprietários do Banco Boavista, contra quem vivia em guerra judicial – estes por sua vez tiveram de aceitar o acordo com Tanure para conseguir vender o banco ao Bradesco, que queria comprá-lo sem nenhuma pendência judicial. Recentemente, Nelson Tanure comprou um dos mais tradicionais diários do país, o centenário Jornal do Brasil, estreando no ramo da comunicação.

Nos últimos três meses, Tanure tem-se dedicado de corpo e alma a outro negócio. Coisa de grande vulto e intrincada, como parece ser do seu gosto. Uma empreitada que, segundo se comenta nos meios empresariais, poderá engordar sua conta bancária em até 40 milhões de dólares, caso seja bem-sucedido. Trata-se de uma negociação para o grupo de telecomunicações canadense TIW, sócio de duas empresas de telefonia celular no Brasil: a Telemig Celular e a Tele Norte Celular, avaliadas em 2 bilhões de dólares. A tarefa de Tanure é desfazer o nó em que a TIW se embolou ao formar uma complicada e nada amigável sociedade com o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, outro baiano não menos polêmico. A sociedade foi formada na privatização do sistema Telebrás, em 1998, e tem ainda como parceiros cinco grandes fundos de pensão. O embaraço está no acordo de acionistas que Dantas conseguiu produzir, numa jogada de mestre. A TIW, por exemplo, uma operadora de telefonia que, pelo menos em tese, deveria intervir na gestão de uma companhia telefônica, não tem poder nem para nomear um contínuo. Por causa desse acordo, há quase três anos os sócios se engalfinham numa disputa sem tréguas pelo controle das empresas. 

Agora surge mais um ingrediente nesse enredo. Uma série de fitas, que mostram com crueza impressionante a montagem de uma operação de guerra para derrubar um adversário do mundo dos negócios. Nas últimas semanas, a existência dessas fitas, ao que tudo indica gravadas ilegalmente entre os meses de março e abril, tornou-se o rumor da hora entre jornalistas bem informados, empresários e políticos. VEJA teve acesso ao material gravado. Ali se apresenta um exemplo extraordinário de como funcionam os bastidores de algumas grandes negociações. Dos diálogos saltam estratégias secretas e ataques pesados, que permaneceriam para sempre camuflados pelos discursos oficiais, obviamente mais polidos, articulados. Pela primeira vez os bastidores de um caso concreto são revelados em estado bruto. As fitas mostram apenas um lado atuando, e o leitor deve levar essa peculiaridade em consideração.

As gravações reproduzem diálogos de Tanure com o presidente mundial da TIW, o canadense Bruno Ducharme, definindo estratégias de atuação contra o Banco Opportunity, de Daniel Dantas. Foram flagradas também conversas do principal assessor de Tanure, Paulo Marinho, uma peça ativa nas negociações em favor dos canadenses. Marinho, que até o ano passado trabalhava para Daniel Dantas, é um personagem bastante conhecido na sociedade carioca. Está sempre próximo de cabeças coroadas do mundo dos negócios e de mulheres bonitas, como a atriz Maitê Proença, com quem foi casado. As gravações envolvem também um dos mais influentes e respeitados jornalistas do país, o colunista Ricardo Boechat, do jornal O Globo.

Na fita, ele aparece participando de uma operação para ajudar Tanure. Em um dos diálogos, ocorrido em 15 de abril, Boechat conta a Marinho os termos da reportagem que está escrevendo para revelar manobras do Opportunity e que seria publicada no dia seguinte em O Globo. Pela conversa, fica evidente que a direção do jornal não foi informada sobre o grau de ligação do jornalista com Nelson Tanure e sobre o fato de que a reportagem foi minuciosamente discutida com Paulo Marinho (veja a reprodução de trechos). Não há nenhuma menção a favor, pagamento e outras práticas irregulares de compensação. Boechat e Marinho são, aliás, compadres e amigos de longa data. Curiosamente, a reportagem acabou sendo usada, dez dias depois, como peça de processo na ação judicial dos fundos de pensão – aliados da TIW – contra o Opportunity. Advogados utilizam com frequência reportagens para embasar ações que impetram. No caso de Boechat, a combinação anterior pelo telefone com Marinho – e, muito especialmente, os termos usados na conversa – é que torna a história constrangedora. “Minhas fontes não são o cardeal Eugênio Sales nem o presidente do Supremo Tribunal Federal. Já negociei matérias com Daniel Dantas também. Não levo vantagem financeira com isso”, diz Boechat. “O que quero é a notícia.” Em outro diálogo, não reproduzido nesta reportagem, o jornalista instrui Tanure sobre como agir e o que falar numa conversa com João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, para passar a imagem de um empresário sem ambições políticas nem projeto de poder – características que a Globo não veria com simpatia no concorrente dono do Jornal do Brasil. Uma análise feita na semana passada, a pedido de VEJA, pelo perito Ricardo Molina concluiu que “todas as evidências indicam que, acima de qualquer dúvida razoável, a voz analisada é do jornalista Ricardo Boechat”. Molina afirma também que “não existe nenhum indício de manipulação que possa representar tentativa de montagem”.

É evidente que o mundo dos negócios não vive permanentemente nesse clima de ataques abaixo da linha da cintura. Mas quando um dos personagens da briga é Daniel Dantas, um economista de 45 anos, considerado um dos mais brilhantes de sua geração, dificilmente se pode esperar um cenário de calmaria. O dono do Opportunity é um operador audacioso como poucos. Em apenas seis anos transformou seu banco num colosso que administra fundos de investimento no valor de 3,4 bilhões de dólares. Seus domínios se estendem a setores tão diversos quanto saneamento, transportes, telecomunicações, portos, metrô, internet e futebol. Tem uma capacidade para fazer inimigos tão espetacular quanto seu talento para os negócios. A briga pela Telemig Celular e pela Tele Norte Celular é a mais perfeita tradução do jeito Daniel Dantas de atuar.

Para participar do leilão de privatização das duas empresas, em 1998, o Opportunity se associou à TIW e aos fundos de pensão. A TIW entrou com 49% dos recursos necessários para a compra das empresas. Os fundos de pensão, por sua vez, entraram com 24% de investimento direto, mais 27% através de recursos aplicados em um fundo de investimento do Opportunity, que colocou ali uma parcela correspondente a menos de 1% do valor da operação. No leilão, o sócio canadense desembolsou, sozinho, 380 milhões de dólares, com a promessa de ter participação na gestão das empresas adquiridas. Foi feita uma carta de intenções estabelecendo essas bases para o contrato. Tudo ficou só como intenção. 

Batido o martelo, começou a confusão. Quinze dias depois do leilão, Dantas sinalizou para os canadenses que o acordo inicial não valia mais. Num estranho acerto com os presidentes dos fundos de pensão, o Opportunity montou uma sociedade totalmente diferente da desenhada inicialmente com os parceiros estrangeiros. Na época, os fundos eram capitaneados por Jair Bilachi, da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, e por Francisco Gonzaga, da Petros, o fundo de pensão da Petrobras, que deixaram o cargo sob suspeita de má gestão dos recursos dos fundos. A estratégia de Dantas foi juntar os recursos dos fundos de pensão em uma só empresa, a Newtel, que passou a deter 51% das ações da Telpart, holding da Telemig e da Tele Norte. Embora tivessem maioria das ações, os presidentes dos fundos concordaram em passar para Dantas o poder de gerir a companhia, incluído aí o direito de escolher todos os dirigentes das duas celulares e de definir todos os fornecedores. Assinaram ainda uma cláusula bizarra, em que os conselheiros dos fundos se obrigam a votar com o Opportunity, qualquer que seja a decisão do banco. Caso votem contra, são imediatamente destituídos. Dantas conseguiu manter-se forte enquanto teve os fundos do seu lado. No entanto, as novas diretorias dos fundos de pensão começaram a questionar os acordos feitos por seus antecessores. A briga esquentou quando os dois sócios se uniram contra Dantas. Os fundos e os canadenses querem que a Newtel seja desfeita e que, em seu lugar, seja criada uma sociedade em que os três sócios tenham pesos iguais.

Foi em março, no meio dessa confusão, que Nelson Tanure surgiu na história como a figura que poderia salvar os canadenses. O presidente da TIW, Bruno Ducharme, vislumbrou a chance de encontrar um competidor à altura de seu adversário. Tanure era o homem. O que fica claro nessa história é que os canadenses, que entendem quase nada de Brasil, acharam que Tanure conhece suficientemente as artimanhas do adversário para jogar um jogo de igual para igual. A manobra parece ter começado a dar resultado. Há cerca de um mês os sócios conseguiram uma vitória em cima do parceiro indesejado. Emplacaram o novo presidente da Telemig e da Tele Norte, que passou a ser o executivo Gunnar Vikberg. A manobra para a escolha do novo executivo foi montada com a ajuda de Tanure, que combinou a operação com Ducharme, por telefone. “Nosso foco é para tentar tirar o diretor (escolhido por Dantas)”, explica Tanure, num dos trechos grampeados. Deu certo, embora seja uma vitória provisória, questionada na Justiça pelo Opportunity, que já conseguiu destituir Vikberg da presidência da Telpart.

Enquanto os dois sócios se armam para tentar enfraquecer Daniel Dantas nas duas telefônicas, o banqueiro baiano tenta garantir as conquistas obtidas. Nos últimos meses, tem feito ofertas aos fundos para a compra das empresas. Quanto aos canadenses, embora sejam o maior acionista individual, suas ações não têm o mesmo poder de fogo sem o controle das empresas, que continua nas mãos de Dantas. Até o final da contenda, as entranhas dessa guerra bilionária deverão ficar cada vez mais à mostra. Mesmo porque o jogo de poder entre Dantas, Tanure, canadenses e fundos de pensão está longe do epílogo. Estão todos operando os meios à disposição com ferocidade.

*
Leiam este diálogo de Boechat com Paulo Marinho, assessor de Nelson Tanure:
Síntese:
 Nesta conversa que teve com Paulo Marinho, braço direito de Tanure, Boechat relata os detalhes de uma reportagem que escreveu e seria publicada no jornal O Globo no dia 16 de abril contando as manobras planejadas por Daniel Dantas para uma assembléia. O jornalista leu a reportagem inteira para o assessor de Tanure, que aprovou. “Tá ótima”, comentou Paulo Marinho. “A matéria diz tudo que a gente queria falar.” Dez dias depois, a reportagem de Boechat integraria os documentos de uma ação judicial (reproduzidos acima) movida pelos fundos de pensão contra o Opportunity. Tanure e os fundos estão do mesmo lado da trincheira.

Secretária – Pronto.
Boechat – Oi, o Paulo, por favor.
Secretária – Quem deseja?
Boechat – Ricardo Boechat.
Secretária – Um momento…
Boechat – Obrigado.
Paulo Marinho – Oi.
Boechat – Oi.
Paulo – Diga lá…
Boechat – Seguinte: primeiro acho que a matéria talvez saia assinada…
Paulo – Hum, por você?
Boechat – É…
Paulo – Tá…
Boechat – E aí temos que ver o seguinte… Eu estive pensando… Esta é uma possibilidade que eu preferi não perguntar. Vou te dizer o seguinte: eu também meio que descobri que não adianta muito tentar dissimular esta relação, não.
Paulo – Entendi.
Boechat – Eles já identificaram esta relação, certo?
Paulo – Certo.
Boechat – …que acabou sendo meio escancarada com este convite pra eu ir pro JB.
Paulo – Perfeito.
Boechat – E, por mais que eu tenha dado como uma iniciativa do Mario Sérgio (Conti, diretor de redação do JB)… Ninguém… ficou aquela… o João Roberto, o Merval, o Luiz Eduardo (integrantes da cúpula do jornal O Globo)… Todo mundo sabe que o Nelson (Tanure) tem uma relação de amizade pessoal.
Paulo – Certo.
Boechat – Eu pensei em dizer ‘não assina, não’. Mas preferi ficar calado.
Paulo – Acho que você dizer pra não assinar eu acho um erro. Tu não pode dar esta montaria pra esses caras…
Boechat – Sabe o que mais? O último detalhe é o seguinte: aquela última nota nossa do dia 3, quando a gente… quando teve a reunião do conselho, que eu dei a história da demissão, lembra? Da demissão do Arthur(Carvalho, cunhado, braço direito de Daniel Dantas no Opportunity e o representante do banco nos conselhos de administração das telefônicas)…
Paulo – Lembro.
Boechat – Eles… quando deu, eu assinei. Eu dei na Agência Globo sem assinar.
Paulo – Eu sei, você disse que eles identificaram em dois minutos que era sua a nota…
Boechat – Eles botaram no ar um desmentido com meu nome. Então é ridículo eu ficar dissimulando…
Paulo – Claro.
Boechat – Se fosse uma coisa clandestina.
Paulo – Também acho, você tem razão.
Boechat – Conheço o cara e… ele é uma fonte e tá me dando uma notícia…
Paulo – Exatamente. Aliás, é um erro dissimular isso. Agora também é o seguinte, quer dizer…
Boechat – …(inaudível) escancarar.
Paulo – Mas também se os caras não colocarem com seu nome, você não vai reclamar por causa disso.
Boechat – Não, de jeito nenhum. Enfim, outra coisa, diferentemente do seu material é preciso falar com o Nelson: “Nelson, a adjetivação não é uma característica da notícia. Não tem como adjetivar”.
Paulo – Perfeito.
Boechat – Então, o texto que eu mandei pro Duda, o cara que tá fechando a edição pra amanhã…
Paulo – Rãrã…
Boechat – Me disse que tá dando bem. Então, suponho que ele vá dar a matéria na íntegra, pá-pá-pá. Não sei que título ele vai dar. Seguinte: o texto que eu mandei, eu disse assim pro Mineiro (Luiz Antonio Mineiro, editor de Brasil de O Globo): ’Mineiro, aí vai a matéria. Eu não consegui falar com o pessoal da Economia, mas tentarei mais tarde. Estou no telefone tal. Se for preciso peça à telefonista… Acho que este assunto vai dar um bom caldo. A intenção de demitir os conselheiros dos fundos consta da ata da assembléia convocada pelo Opportunity no dia 17 no Monitor Mercantil (jornal carioca de economia). E a estréia do ex-governador (Antônio) Britto (que acabara de ser contratado pelo Opportunity) no fascinante mundo do lobby financeiro, quem diria?, ainda não foi revelada por ninguém’. Aí vai o texto…’. Um abraço, Boechat’ e tal. Aí, começei da seguinte maneira. É um texto curto e tal. Dizendo assim: (O jornalista lê na íntegra a reportagem que foi publicada em O Globo no dia seguinte.)
Paulo – Tá ótima a matéria, diz tudo o que a gente queria falar.
Boechat – Agora, não dá pra dizer que a atitude é ilegal, entendeu? Mas é isso aí.
Paulo – A matéria tá muito bem-feita, meu querido. Tá na conta. Não precisa botar mais p… nenhuma, não. O resto é como você falou: é adjetivação que você não pode colocar. (…)
Boechat – Os caras disseram que vão dar bem a matéria, vamos ver. (…)
Paulo – Amanhã, eu te ligo pra te dar notícia da matéria.
Boechat – Pra saber se deu certo

Por Reinaldo Azevedo

 

Niemeyer usou seu talento para apoiar as causas mais asquerosas. Como não sou comunista e não misturo as coisas, preservei a sua arquitetura do lixo do seu pensamento. Ou: A marcha da imbecilidade: sites petralhas incentivam os zurros. Ou: “Niemayer, Nielmayer, Noelmayer, Niermaier…”

É claro que a repercussão do que escrevi sobre Niemeyer é desproporcional. Até porque eu fiz o que deve ser feito: a devida distinção entre a obra e o homem. Tomar uma coisa por outra ou outra por uma pode piorar o que é bom e melhorar o que não tem conserto. O Niemeyer que assinou um manifesto em favor de José Dirceu e contra o STF, por exemplo, não criava edifícios; só depredava a ordem democrática.

Comigo não, violão!

A obra de Niemeyer, no mais das vezes, era boa, ainda que eu veja com maus olhos o seu lado cortesão, excessivamente grudado a governos. No caso da Brasília de Juscelino, vivia-se uma democracia. Mas ele também produziu para ditaduras, sem constrangimento. Ainda assim, destaco outra vez, tinha um compromisso com a beleza, com a gratuidade estética, que, entendo, deve ser o primeiro compromisso de um criador. Artista que tem agenda é militante político.

Já o pensamento político de Niemeyer era puro lixo autoritário e não tem conserto. Alguém que, no pleno gozo de suas faculdades mentais – e ele as conservou, consta, até o fim, o que é uma graça divina, embora ele não acreditasse nela –, chama um homicida como Stálin de “fantástico” e trata as Farc como força patriótica não está contribuindo para um mundo melhor, não! A SUA ARQUITETURA FAZIA O ELOGIO DA BELEZA E DA VIDA; SUAS IDEIAS POLÍTICAS ESTAVAM ASSENTADAS NUM TERRENO ONDE JAZIAM MILHÕES DE MORTOS.

Niemeyer tem ao menos uma obra hedionda: o Memorial da América Latina, em São Paulo, com aquela mão aberta em que o desenho do subcontinente simula o sangue escorrendo. Acho arte menor o que fica no meio do caminho da representação simbólica e da literalidade. É o caso. Só falta ao autor cutucar o braço do “receptor” para perguntar: “Entendeu o que eu quis dizer?”.

No sangue que escorre naquela mão estão, por exemplo, os 100 mil mortos pela ditadura dos Castro em Cuba (perto de 20 mil fuzilamentos; o resto morreu afogado tentando sair daquele paraíso…)? A resposta é “não”. Porque Niemeyer morreu “fidelista”. No post desta manhã, registro suas palavras considerando necessários e corretos os fuzilamentos determinados por Stálin. No sangue que escorre naquela mão estão milhares de pessoas assassinadas pelas Farc? Não! A julgar pelo apoio que ele dava à causa e por analogia com o que diz sobre Stalin, supõe-se que também esses eram “mortos necessários” porque, como é mesmo?, “a revolução era mais importante”.

Petralhas ensandecidos
A reação é coisa organizada, inclusive por blogs e sites que estão por aí, COM DINHEIRO PÚBLICO, a incentivar o linchamento do STF e dos ministros que votaram contra os mensaleiros. Como conhecem a minha opinião a respeito, querem usar a minha suposta e jamais havida “agressão ao gênio” para se vingar. Minutos depois que publiquei o primeiro post, quem já se manifestava no Twitter e, na prática, abria a temporada de “caça ao Reinaldo” era José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, diretor sei lá de quê da Petrobras e um dos que Dilma apelidou de “Os Três Porquinhos”.

Podem mandar brasa. Ontem, a página quase bate recorde de visitas num único dia. Quem sabe seja hoje… Os jumentos estão nos cascos. Enviam-me mensagens exaltando a obra de um certo “Niemayer”. Esses se deixam trair pelo ouvido apenas. Mas há também elogios a “Nielmayer”, “Noelmayer” e “Niermaier”, entre outras variações. Vale dizer: algumas mulas não conseguiram usar direito nem as orelhas.

Dizem que um coroa que faz programa de rock numa rádio – Deus do Céu! – me xingou e ameaçou me processar. Que bom! Que faça isso! Deve alegar que o meu crime é ter uma opinião diferente da dele…

Não concedo a nenhum homem, tenha 20 anos ou 105, a licença para fazer poesia sobre a morte. Niemeyer, aliás, disse certa feita que “a arquitetura não tem importância; o que tem importância é a vida”. É uma frase tonta porque, de fato, não quer dizer nada. Como foi dita por um ancião, supõe-se que haja alguma sabedoria secreta embutida. Não há! A arquitetura tem importância quando se precisa dela e traduz aspirações humanas; reflete um estado da cultura; expressa, sim, um momento da política e dos valores ideológicos etc. É o caso de Brasília.

Sim, o Brasil vivia uma democracia. É razoável a hipótese de que algo como aquilo só se fez porque o sonho das elites ilustradas e deslumbradas – de que Niemeyer fazia parte – tomou o lugar de algumas urgências que tinha (e ainda tem… urgências que duram no tempo!) o povo brasileiro.  O “sonho” de Brasília foi sonhado sobre indicadores sociais que faziam do país um dos piores lugares do mundo para se viver então. Poucos se dão conta disso. Mas “o povo” está presente na obra, entenderam?

No que concerne à cultura e ao ambiente para o debate, o país raramente esteve tão próximo do fascismo como está hoje. Hordas mobilizadas por vigaristas financiados por dinheiro público são mobilizadas para partir para a depredação, sem nem mesmo saber por que estão batendo. Felizmente, também há milhares de pessoas dispostas a ouvir os apelos da razão.

Niemeyer dizer que o que tinha importância “era a vida”? Por que escolheu, então, ser um justificador da morte? O jornalismo baba-ovo pretende fazer de seu “comunismo” uma parte da sua utopia, traduzida nos seus edifícios? Que vá em frente! Houvesse um pouco de decência E INFORMAÇÃO, a abordagem seria outra: foi um bom arquiteto APESAR DA SUA IDEOLOGIA. Não será com o meu silêncio. Ainda que eu fosse o único a considerar detestável seu pensamento; ainda que eu fosse o único a reconhecer que sua ideologia se assentava num terreno sangrento, não abriria mão de dizê-lo.

Um homem e sua obra também são suas circunstâncias. O único erro que posso ter cometido é o de proporção. Uma das mais recentes manifestações políticas de Niemeyer foi assinar – e estava absolutamente lúcido – um “manifesto de intelectuais” em apoio a José Dirceu. Isso, por si, diminui a metade cabida ao gênio e aumenta a parcela do idiota.

Resumo: Niemeyer usou a sua arquitetura para apoiar as causas mais asquerosas. Como não sou comunista e não misturo as coisas, eu preservei a sua arquitetura do lixo do seu pensamento.

Por Reinaldo Azevedo

 

O dono da opinião e a opinião que tem dono. Ou: Um tal Boechat

Fiquei sabendo que Ricardo Boechat, na rádio (acho que é na Band), me atacou, mas sem citar o nome porque não valeria a pena e coisa e tal. Chegou a fazer especulações sobre o que vai acontecer quando eu morrer. Tudo por causa, claro!, das mentiras que contei sobre o pensamento de Niemeyer. Como sou um homem bom, chamei a defesa que o arquiteto fazia de alguns homicidas de seu “lado idiota”. É claro que merecia qualificação mais dura.

Boechat não fala o meu nome, mas eu falo o dele. Abaixo, segue uma reportagem de 2001 da VEJA explicando por que ele foi sumariamente demitido do jornal O Globo e da TV Globo.

Pois é, Boechat… Você pode não gostar das minhas opiniões, mas são minhas. Sobre as suas, com quem se deve falar no momento?
*
Escândalo no setor de telefonia faz Globo demitir Ricardo Boechat

O jornalista Ricardo Boechat, que assinava a coluna mais lida do jornal O Globo, foi demitido neste domingo, depois que uma reportagem de VEJA revelou bastidores da guerra entre o grupo canadense TIW e o presidente do Banco Opportunity, Daniel Dantas, pelo controle de das empresas de telefonia celular Telemig Celular e Tele Norte Celular. Nesta segunda-feira, o jornal carioca não explica a saída de Boechat, mas informa na capa que a coluna Swann volta a ser publicada. O jornalista também foi afastado do Bom Dia Brasil, da Rede Globo.

Reportagem de VEJA desta semana divulga uma série de ligações telefônicas que desvenda a guerra entre dois grupos pelo controle de empresas de telefonia móvel. Em uma das ligações, Boechat conversa com Paulo Marinho, assessor de Nelson Tanure, aliado da TIW e acionista majoritário do Jornal do Brasil. Em um telefonema de 15 de abril, o jornalista conta a Marinho o teor do texto que seria publicado no dia seguinte sobre a disputa no setor de telefonia e explica detalhes dos procedimentos internos do jornal.

Pela conversa, fica claro que a direção de O Globo não sabia sobre o grau de ligação do jornalista com Tanure nem que a reportagem havia sido discutida com Marinho. Não há menção a favor, pagamento ou outras práticas irregulares de compensação. Dez dias depois da publicação, o texto foi usado como peça de processo na ação judicial dos fundos de pensão, aliados da TIW, contra o Opportunity.

Bastidores
De acordo com o Jornal do Brasil, Boechat conversou na manhã de domingo com o editor-chefe do jornal, Rodolfo Fernandes. O jornalista perguntou se deveria escrever um artigo explicando seu diálogo ou apresentar pedido de demissão. Como resposta, escutou que sua situação já estava insustentável. À noite, o diretor-executivo do jornal foi até a casa de Boechat e oficializou a demissão.

A decisão de demitir o jornalista foi unânime, ainda segundo o Jornal do Brasil. Os responsáveis pelo jornalismo das Organizações Globo consideraram que a conduta de Boechat feriu as normas do código de ética da empresa. Eles concordaram que o jornalista não poderia ter lido seu texto para Marinho nem discutir questões internas do jornal.

Instrução
As conversas gravadas sugerem que a participação de Boechat foi além da reportagem por encomenda que acabou por derrubá-lo. Em outro diálogo, não reproduzido por VEJA, Boechat instruiu Tanure sobre como agir e o que falar em uma conversa com o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho. O objetivo era passar a imagem de um empresário sem ambições políticas nem projeto de poder, o que seria visto com maus olhos no concorrente dono do Jornal do Brasil. Análise feita pelo perito Ricardo Molina comprova que a voz gravada na fita é de Boechat e aponta que não há indícios de que a gravação tenha sido editada.

Por Reinaldo Azevedo

 

A metade idiota de Niemeyer colaborou com os narcoterroristas das Farc, chamava de “líder fantástico” o assassino de 40 milhões, via no tirano Hugo Chávez um grande homem e justificava todos os crimes de Fidel. Bem pensado, sua genialidade ocupava apenas um terço do seu caráter… Se eu tiver de voltar ao assunto, reduzo para um quarto… Ou: “Idoso de esquerda tem problema”

O blog teve ontem 231.646 visitas. É a sua segunda maior marca num único dia. Só perde para 20 de outubro de 2010, às vésperas da eleição presidencial, quando atingiu 235.788. Parte considerável veio ontem em busca dos dois primeiros textos que escrevi sobre Oscar Niemeyer, que ecoavam, de resto, um post que fará seis anos no dia no próximo dia 15. Aqueles em que afirmo (e reafirmo agora) que ele era metade gênio e metade idiota. Em 2006, ninguém chiou. É que, no Brasil, a morte tem o condão de mudar as biografias. Isso nada tem a ver com nosso passado católico, senhores sociólogos! Isso tem a ver com a nossa indigência intelectual. Milhares de pessoas, é evidente, concordaram comigo. Vejam os comentários. Também publiquei discordâncias e só cortei as ofensas. Para me ofender, já existem os blogs dos Reinaldo-dependentes…

Se eu tivesse escrito que Jesus Cristo era metade santo e metade idiota, a reação não teria sido tão violenta. Isso só evidencia uma coisa: trata-se de uma corrente organizada, estimulada, em parte, por alguns notórios ladrões de dinheiro público, que vivem de rapinar estatais – vagabundos, enfim! Ainda me lembro da indignação que tomou conta de alguns “modernos” no Brasil quando a performance de um sedizente artista plástico, com apoio de dinheiro público, foi alvo do protesto de cristãos. Diante da plateia, o rapaz tirava um terço que ou havia introduzido em si mesmo ou nele haviam introduzido, entenderam? Cristãos reagiram mal. Indigentes intelectuais os mais variados acusaram uma tentativa de censura. As pessoas que se manifestavam contra a “performance” eram tachadas de atrasadas, carolas, reprimidas… Isso pode. Mas chamar o lado comunista de Niemeyer de idiota…

Escrevi ontem sobre o que chamei “Irmandade Petralha”, os patrulheiros que pretendem ser donos do pensamento. Esses cretinos nem sequer leram os textos. Atribuíram-me coisas que não escrevi e que não penso. Eu teria dito que Niemeyer não era de nada, que não teria importância nenhuma para a arquitetura e que seria mero chupim de dinheiro público. Atração por grana estatal, essa ele tinha. Mas sustento que fez uma grande obra mesmo assim. E é claro que essa não é uma avaliação acima da contestação. O tipo de arquitetura que fazia está em declínio do mundo, basta estudar um pouquinho. Mas isso não quer dizer que os que o contestam sejam melhores do que ele. Faço essa observação apenas para lembrar que, a exemplo de qualquer autor – suas obras são autorais –, também ele está sujeito à apreciação critica negativa.

Meu texto original, longe de patrulhar o legado de Niemeyer para a arquitetura, fazia justamente o contrário: procurava separar sua ideologia de sua obra. E fui até generoso com ele. Chamei o seu lado comuna de “a metade idiota”. Poderia tê-lo classificado de justificador do homicídio em massa, que é o que lhe confere a sua condição de comunista renitente! Atenção! Ele nunca deixou de ser… stalinista! Nem Krushev, que não matava tanto,  servia a Niemeyer!

Reproduzo, em vermelho, trecho de uma entrevista sua publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste, de 9 de dezembro de 2007. Prestem atenção:
Sem um líder da estatura de Stalin, prega Niemeyer, o mundo poderia ter tido outro destino, subjugado por Hitler. Apesar do regime de terror, o massacre de milhões de pessoas que se opunham ao governo, a eliminação de dois terços do Comitê Central do Partido Comunista Soviético, entre outros crimes. O arquiteto perdoa o ditador, morto em 1953. Aposta que a opinião pública mudará de ideia quando descobrir que Stálin foi vítima de uma “campanha odiosa”, movida pelas “forças reacionárias”:
“Stálin era fantástico. A Alemanha acabou por fazer dele uma imagem de que era um monstro, um bandido. Ele não mandou matar os militares soviéticos na guerra. Eles foram julgados, tinham lutado pelos alemães. Era preciso. Estava defendendo a revolução, que é mais importante. Os homens passam, a revolução está aí.”
O elogio não significa que Niemeyer seja um stalinista — ele nem chega a ser um militante comunista clássico. Serve, porém, para revelar um traço de sua personalidade política. Para além da ideologia, ele admira os políticos de personalidade forte. Empreendedores e ousados, como ele. No panteão do arquiteto, Stalin convive com o democrata Juscelino Kubitschek. Luís Carlos Prestes, Gustavo Capanema (ministro da Educação e Saúde Pública no Estado Novo), Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Houari Boumedienne (líder da revolução argelina), Fidel Castro e Hugo Chávez também fazem os olhos do arquiteto brilharem.

Como? “Stálin não mandou matar?” “Eles foram julgados?” Notem que o jornalista tenta limpar a barra do delirante…

Os que foram me atacar na televisão e no rádio por conta do texto que escrevi podem não ser apenas canalhas. Há uma boa chance de que sejam burros também. A opinião acima não é só “idiota”, não! É nojenta mesmo! Stálin matou ou mandou para os campos de concentração – em “comunistês”, se diz “de trabalhos forçados” – milhares de “artistas” como… Niemeyer. Para ele, tudo necessário: “A revolução era mais importante”! Entre matar e justificar a morte, a diferença é apenas penal, não moral.

“Ah, lá vai o Reinaldo cuidar dessas coisas do passado…” Errado! Niermeyer apoiava – apoio mesmo – alguns assassinos do presente. E não pensem que o terrorismo lhe era um limite ou um constrangimento.

As Farc
Não me ocupei do arquiteto só agora. No arquivo, há muitos textos sobre ele. No dia 16 de março de 2008, escrevi outro post, intitulado “Niemeyer e um artigo abjeto”. Começava assim o meu post:
“Se eu chamar Oscar Niemeyer de múmia moral, acusarão a minha agressividade com o velhinho. Afinal, está no seu pé biográfico: 100 anos. E ele é uma das nossas ‘figuras respeitáveis’, não é?, embora a experiência não o impeça de escrever sandices, que justificam o terror, a tortura, os campos de concentração, os assassinatos. Não desistirei jamais da pergunta: a mídia brasileira abrigaria textos defendendo o fascismo armado? Por que os facinorosos da esquerda e seus prosélitos têm essa licença?”

Por que escrevi o que vai acima? Num artigo publicado na Folha, o arquiteto atacava o governo constitucional e democrático da Colômbia e cantava as glórias dos narcoterroristas das Farc, com quem revela ter colaborado. Segue um trecho:
“Lembro-me do emissário desse grupo que, muitos anos atrás, me procurou em meu escritório de Copacabana, pedindo-me que desenhasse um cartaz contra o Plano Colômbia, que, organizado pelo governo norte-americano, visava intervir nas Farc, ferindo a soberania do país.
Recordo a maneira emocionada como aquele emissário me falava do assunto, da revolta que exibia ao comentar a violência com que o governo colombiano tentava destruí-los. Em poucos dias, desenhei o cartaz que ele havia me pedido -um protesto contra aquele plano odioso. Uma colaboração política que muito me agradou, ao saber ter sido aquele cartaz utilizado até na Europa.”

Viram com que poesia ele trata um grupo que sequestra, mata, trafica drogas, estupra, rapta crianças e mantém campos de concentração da selva colombiana? Quem ler o artigo vai perceber que Niemeyer não gosta mesmo é da democracia. E citava em socorro de sua tese a antepenúltima múmia comunista do planeta: Eric Hobsbawm. Por isso afirmei que a metade genial convivia com a metade idiota. Mas já começo a mudar de ideia. Metade é muita coisa.

“Idoso de esquerda tem problema”
Leiam esta declaração:
“Quem é mais de direita vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata. As coisas vão se confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito. Se você conhecer uma pessoa idosa esquerdista é porque está com problema. Se acontecer de conhecer alguém muito novo de direita é porque também está com problema. Quando a gente tem 60 anos está no equilíbrio porque a gente não é nem um e nem outro”.

Evidentemente, pelo estilo, a fala não é de Reinaldo Azevedo. O raciocínio é de Luiz Inácio Apedeuta da Silva. Quando fez 99 anos – ocasião em que escrevi aquele texto –, Niemeyer reagiu mal à opinião do companheiro. Estava decepcionado. A cachorrada que reagiu agora ao meu texto se calou diante da fala de Lula.

Finalmente
Os que me conhecem sabem que sou do tipo que se comove fácil. Uma notícia me fez refletir profundamente sobre o comunismo de Niemeyer em terras nativas. Ele deu de presente, por exemplo, uma casa a Luiz Carlos Prestes. Entendo. Mas não tinha preconceitos. Também projetou e construiu uma casa para seu motorista de décadas. Na Favela do Vidigal. Desculpem: favela é coisa de São Paulo. No Rio, o certo é dizer “Comunidade do Vidigal”.

Vamos lá, Irmandade Petralha! Reproduza este texto também. Ajude a divulgar o pensamento vivo de Niemeyer sobre humanistas como Stálin, Fidel, Hugo Chávez e os narcoterroristas das Farc. Já começo a flertar com a possibilidade de reduzir a tal genialidade a um sexto…

Texto publicado originalmente às 5h27

Por Reinaldo Azevedo

 

Lewandowski agora decide apelar até à Revolução Francesa para impedir que STF casse mandatos… Erra no mérito e na história

Vamos tratar um pouco do mundo dos vivos e dos muito vivos. O ministro Ricardo Lewandowski, até a semana passada, vinha fazendo uma sólida carreira no terreno, vamos dizer assim, do jocoso. Neste semana, ele decidiu ser também perigoso. Daqui a dois anos, Santo Deus!, o filho da amiga de Marisa Letícia vai presidir a corte. Se o Supremo não tomar cuidado, da mente divinal de Lewandowski sairá, o que há de assombrar o mundo pelo inusitado, deputado com direitos políticos cassados. Nunca antes na história da galáxia se terá visto algo assim.

Mais ainda: ele sugeriu ontem que, caso não sejam cassados por seus pares (na hipótese de triunfar seu ponto de vista), os ditos-cujos tenham uma licença especial (ou algo assim: ele quer um jeitinho) para participar das sessões legislativas, passando só a noite na prisão. Entendi: de dia, eles votam leis; à noite, cumprem pena. Se estiverem com seus mandatos, estarão também com as devidas prerrogativas, como participar de comissões e disputar cargos na Mesa. João Paulo poderia passar o dia na Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo, e, à noite, ser um apenado pela… Justiça!

Se a própria Câmara não tomar cuidado, Lewandowski inventará a figura do deputado-presidiário. Em seguida, será a vez, claro!, de inventar o presidiário-deputado. Marcola e Fernandinho Beira-Mar já podem ir escolhendo o partido de sua preferência… Se bem que escutas telefônicas feitas há alguns anos demonstram que o PCC, por exemplo, já fez a sua escolha.

Sim, senhores! O ministro Ricardo Lewandowski insistiu ontem em que a perda dos direitos políticos se distingue da cassação. Digamos que se distingam como etapas diferentes de uma mesma reação química, compreendem? Se alguém com direitos políticos suspensos não pode se candidatar porque lhe falta esse atributo que é requisito básico da representação, como pode um já representante ter retirado esse requisito e continuar a representar? Trata-se de uma aporia evidente. A tese é insana.

“Ah, mas a Constituição delega aos parlamentares a cassação”. Eu insisto: não é assim, não. Embora o texto constitucional, com efeito, crie confusão, o caminho da solução também está ali. Já expliquei por quê. Combinem-se os artigos 15 e 55, e se verá que bastará à Mesa da Câmara declarar a cassação. Mais: o Artigo 37 cassa os parlamentares condenados por crimes de improbidade. É o caso.

Contradições absurdas
Posso ter entendido errado, mas acho que percebi certo alinhamento entre a ministra Carmen Lúcia, que preside o TSE, e Ricardo Lewandowski… Que coisa! Os ministros que votaram a favor da tal Lei da Ficha Limpa decidiram que são inelegíveis pessoas condenadas por um colegiado – serve até conselho profissional, o que é uma barbaridade! –, antes da sentença ter transitado em julgado, quando ainda cabe recurso. E agora dirão que o tribunal está impedido de cassar o mandato de parlamentares que, caramba!!!, perderam seus direitos políticos??? Ora, sem os ditos-cujos, uma pessoa não pode se candidatar, mas pode ser representante do povo? Não nos façam, senhoras ministros e senhores ministros, passar essa vergonha no mundo!

“Ah, mas a Câmara pode cassar!” É… Mas também pode não cassar. E aí? Num outro tema e apelando a outras leis, há o risco de vivermos a situação estapafúrdia do caso do assassino Cesare Battisti, que acabou ficando no Brasil – Tarso Genro talvez achasse que não temos homicidas em número suficiente circulando por aí… O Supremo decidiu, por maioria, que a concessão de asilo que lhe foi dada era ilegal. Ora, se ilegal, então o asilo não vale; se não vale, então ele teria de ser extraditado. Mas entrou a cascata de que extradição é prerrogativa do presidente da República. É, MAS ELE TEM DE AGIR SEGUNDO A LEI. Aconteceu, então, o inusitado: se a Justiça decidiu que o asilo era ilegal, mas se a extradição, mesmo nessa circunstância, é ato soberano do presidente, então temos um presidente acima da lei. Ora, se o Supremo cassou – e cassou!!! – os direitos políticos dos três deputados (consequência de sua condenação em última instância) e se a Câmara vai conservar o mandato de quem não tem direitos políticos, então teremos uma Câmara acima da lei.

A Revolução Francesa…
Os momentos mais profundos do ministro Ricardo Lewandowski são aqueles em que ele abandona a lei e faz digressões soltas, assim como quem está diante de guarnições de frango com polenta. Na quarta, ele refletia sobre a pena supostamente longa de alguns réus… Dizia, com ar de desconsolo, que eram excessivas e simplesmente ignorava o fato de que há gente lá que foi condenada por oito crimes, por seis crimes. A extensão da pena é decorrência do número de transgressões. Se o ministro acha que assim não pode ser, que não se deve atribuir pena a cada crime cometido (segundo a sua natureza), a hora é agora: renuncie ao Supremo, candidate-se a um cargo no Legislativo e vá lutar pelo Código Penal dos seus sonhos.

Nesta quinta, falando sobre a independência dos Poderes e coisa e tal, Lewandowski resolveu fazer uma leitura criativa da Revolução Francesa, afirmando que nem ela cassou mandatos e coisa e tal… Uau! O Terror  francês cassava mandatos junto com a cabeça de seus titulares. E nem o tarado do Robespierre – à diferença de Niemeyer, ele não era só um teórico do assassínio – escapou. O historiador Lewandowski é uma lástima. Já atribuiu a Fídias o que o escultor jamais dissera. E agora, vemos, inventa um Revolução Francesa de veludo…

Tese perigosa
Mas não falei ainda – só esbocei em outro post — o melhor do seu pior. Na quarta, depois de Marco Aurélio ter inventado a sua jabuticaba penal – quase todos os crimes de mensalão estariam em mera continuidade delitiva, inclusive lavagem de dinheiro, o que é um assombro! –, ministros especularam sobre o efeito desastroso que isso poderia ter na primeira instância, por exemplo, muito especialmente, alertou o ministro Gilmar Mendes, nos vários processos derivados do, digamos, processo-mãe.

E aí Lewandowski falou um troço realmente do arco da velha. Segundo disse, o processo do mensalão era tão diferente e se deixava pautar por tantas heterodoxias (isso é falso) que ele achava que o que se decidisse ali pudesse virar jurisprudência! Custa-me crer que tenha dito isso. Ora, e não viraria por quê? Isso não depende da opinião que ele tem a respeito. Mas o pior vem agora: fosse como ele diz, aí, sim, observou o jurista Miguel Reale Jr., estaríamos diante de um julgamento de exceção.

Nunca antes da história da Galaxia!

Por Reinaldo Azevedo

 

“Economist” chama Dilma de “intrometida-chefe”, chama crescimento brasileiro de “moribundo” e sugere a demissão de Mantega

Como na cantiga infantil,  ”o que era doce se acabou”. Texto da revista britânica The Economist chama o crescimento brasileiro de “moribundo”, acusa o intervencionismo malsucedido do governo Dilma e sugere a demissão de Guido Mantega, ministro da Fazenda. Leia texto da VEJA.com a respeito.
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A sucessão de declarações desastradas, a perda de confiabilidade perante os analistas financeiros e a condução desastrosa da política econômica são credenciais suficientes para que a presidente Dilma Rousseff – que quer ser vista como uma competente gestora – demita seu ministro da Fazenda, Guido Mantega. Uma decisão como essa a ajudaria a reconquistar a tão necessária confiança do mercado no país. Os conselhos são da tradicional revista britânica The Economist, que dedicou três matérias à economia brasileira – a qual recebeu o nada elogioso adjetivo de “moribunda” – na edição desta semana.

Na reportagem intitulada “Quebra de confiança: Se quer mesmo um segundo mandato, Dilma Rousseff tem mudar a equipe econômica”, a Economist literalmente “pede a cabeça” de Mantega. “Ela insiste que é tão pragmática. Se é mesmo, deveria demitir Mantega, cujas previsões exageradamente otimistas implicaram a perda de confiança dos investidores”, diz. A Economist acrescenta: “Dilma deve designar uma nova equipe econômica capaz de conquistar a confiança do mercado”.

Novos desafios
A revista relembra seus leitores que a presidente iniciou seu mandato em 2011 com uma economia em forte expansão. De lá para cá, o cenário mudou radicalmente. Após uma forte desaceleração no ritmo de crescimento ao longo do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encontra-se paralisado em 2012 e custa a recobrar vigor – a despeito dos esforços do ministro da Fazenda, que encerrará este ano com uma renúncia fiscal de 45 bilhões de reais, transformados em estímulos à produção.

A Economist destaca que os motores do crescimento brasileiro na última década estão se esgotando. “Os preços das exportações de commodities, embora continuem elevados, não estão mais em trajetória ascendente. Os consumidores hoje usam mais a sua renda para pagar dívidas por meio das quais conseguiram comprar carros e televisões [do que para continuar consumindo]”, explica. A reportagem argumenta que, diante deste cenário, o Brasil deveria lutar para melhorar sua produtividade e taxa de investimento. Mas aí reside o problema. Mantega e sua equipe  parecem perdidos quando o assunto é promover a tão sonhada “redução do custo Brasil”.

A matéria reconhece que Dilma Rousseff tem se mostrado preocupada em ampliar a competitividade brasileira e conseguir desenvolvimento econômico por meio da atração de investimentos – elemento necessário para expandir e aperfeiçoar a capacidade produtiva nacional. Elogia, inclusive, alguns esforços para estimular o crescimento, como o corte na taxa de juros para sua mínima histórica, de 7,25%; as desonerações das folhas de pagamento das empresas; os planos de investimento em infraestrutura etc.

“Intrometida-chefe”
Contudo, a Economist não poupa críticas à forma com que Dilma tem conduzido seu governo, com excesso de intervencionismo estatal, fechamento da economia, entre outras medidas pouco ortodoxas. “A preocupação é que a presidente seja, ela própria, uma intrometida-chefe”, ironiza a reportagem. “Um bom exemplo é o aparente desejo de Dilma de reduzir o retorno sobre o investimento na ‘base do porrete’, não só para bancos, mas também para as empresas de energia elétrica e fornecedores de infraestrutura”, em referência à insistência do Palácio do Planalto em querer convencer empresários a investir ao mesmo tempo em que lhes nega um retorno adequado para participar dos investimentos.

“Ainda mais do que Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff parece acreditar que o estado deve direcionar as decisões do investimento privado. Tais microintervenções derrubam a confiança na política macroeconômica”, sentencia a Economist. Caso ela e seu ministro da Fazenda – com quem parece compartilhar das mesmas ideias – prossigam com a intenção de intervir em tudo, o “espírito animal” do empresariado não retornará. Assim, o que o Brasil mais precisa atualmente, que são investimentos para melhoria da competitividade, não virá nem por milagre.

Reeleição em risco
A Economist finaliza sua reportagem relembrando que Dilma espera ser reeleita em 2014 graças a um cenário de pleno emprego e salários reais em alta. Mas há um risco nessa aposta. Para a revista, essas conquistas podem ser comprometidas se a presidente não for capaz de proporcionar um crescimento econômico mais vigoroso. “Os eleitores terão de julgar se, na tentativa de conciliar tantas ‘bolas econômicos’, ela não teria deixado cair a maioria delas”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Amigo de fé, irmão, camarada – Indiciado é avalista de aluguel de chefe da AGU

No Estadão:
O ex-advogado-geral-adjunto da União José Weber Holanda, indiciado por corrupção passiva pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, é o avalista de um contrato de aluguel da casa em que vive o ministro Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União (AGU). Na prática, Weber poderia ser considerado responsável pelas dívidas de Adams, caso ele deixasse de fazer algum pagamento ao proprietário do imóvel. O ministro da AGU mora na quadra QI 9 do Lago Norte, em Brasília.

A informação foi divulgada ontem à tarde no blog do jornalista Gerson Camarotti, no site G1. A AGU confirmou o fato e disse que Adams pediu à imobiliária a substituição de Weber como avalista depois do escândalo. A participação de Weber em um contrato de aluguel de Adams revela uma proximidade entre o advogado-geral da União e seu adjunto – que foi exonerado no dia 26 de novembro depois que a Polícia Federal o acusou de beneficiar empresas de aliados de Paulo Vieira, apontado como chefe do esquema desmantelado na Operação Porto Seguro.

Em nota enviada ao Estado, Adams informou que chegou a frequentar a casa de Weber, mas alegou que a relação entre os dois era “profissional”. “Eu conheci o Weber trabalhando na AGU. Durante esses dez anos de convivência, cheguei a frequentar a casa dele em alguns momentos. No entanto, na maioria das vezes a minha relação com ele era técnica e profissional”, afirmou o ministro.

Anteontem, no Senado, o advogado-geral da União disse que confiava em Weber, mas afirmou que se sentiu traído depois que foi descoberta a participação de seu adjunto no esquema de fraude de pareceres técnicos. “Eu levei um técnico, uma pessoa que acreditava que cumpria uma função, mas infelizmente ele quebrou a confiança e a quebra da confiança é algo que não se recompõe”, afirmou Adams.

A Polícia Federal acusa Weber de ter recebido dinheiro e duas passagens de navio do grupo de Paulo Vieira para beneficiar processos do ex-senador Gilberto Miranda na AGU. O ex-advogado-geral-adjunto nega que tenha recebido propina e diz que pagou pelos bilhetes.

Weber teria mantido contato com Paulo Vieira de abril a novembro de 2012, segundo as investigações. Ele teria produzido pareceres que fundamentariam dois empreendimentos de Miranda em terrenos que pertenciam à União, em São Paulo.
(…) 

Por Reinaldo Azevedo

 

Paulo Vieira pede demissão de diretoria da ANA

Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Apontado como chefe da quadrilha desmontada pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal, Paulo Rodrigues Vieira enviou nesta quinta-feira à Presidência da República pedido de demissão do cargo de diretor de hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA). A exoneração deverá ser publicada nesta sexta no Diário Oficial da União.

De acordo com as investigações da PF, Vieira integrava uma quadrilha infiltrada em órgãos do governo federal que praticava tráfico de influência e fraudava pareceres técnicos. Ele estava afastado do posto desde o estouro da operação policial, no dia 23 de novembro. Também faziam parte do grupo Rosemary de Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rubens Vieira, diretor afastado da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e o número dois da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber Holanda.

Seis pessoas foram presas, e dezenove, indiciadas pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de influência, violação de sigilo funcional, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e corrupção ativa e passiva.

Influência - Nesta quinta-feira, durante audiência no Congresso, o presidente da ANA, Vicente Andreu, afirmou descreveu Paulo Vieira como uma pessoa “ambiciosa”, que almejava cargos no governo e carreira política, mas desprovida de conhecimentos técnicos para ocupar a diretoria de hidrologia do órgão. 

Segundo Andreu, Vieira tinha temperamento “difícil” e tinha o hábito citar o nome de Rosemary de Noronha e do ex-ministro José Dirceu. “Era do tipo de pessoa que queria alçar outros voos. Falava muito em ser candidato, tinha pretensões eleitorais, chegava a mencionar que estava sendo cotado para ser ministro. Esse tipo de arroubos que a gente tinha que lidar”, disse. “[Vieira] Mencionava constantemente seu desejo de ser candidato a deputado estadual por outro partido. Mas ele sempre manifestou que ele concorreria por um partido que não era o PT.

Por Reinaldo Azevedo

 

Homem que denunciou esquema cita ajuda de Sarney a esquema de pareceres

Por Fábio Frabrini e Bruno Boghossian, no Estadão:
Delator do esquema de venda de pareceres em órgãos federais, o ex-auditor Cyonil Borges disse que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), teria posto sua influência a favor dos interesses da organização no Tribunal de Contas da União (TCU). Em denúncia enviada ao Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira teria conseguido alterar a tramitação de processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney. O senador nega.

De acordo com o inquérito da Operação Porto Seguro, Vieira fazia lobby no TCU para beneficiar a Tecondi em auditoria que discutia irregularidades em contrato de arrendamento de áreas do Porto de Santos. A Polícia Federal sustenta que o ex-diretor ofereceu propina de R$ 300 mil para que Cyonil elaborasse parecer favorável à empresa.

Em 2007, o ex-auditor se manifestou contra a permanência da Tecondi no terminal paulista. O processo foi remetido ao gabinete do então relator, Marcos Vinícius Vilaça, hoje aposentado. Entre 2008 e 2010, Vieira teria operado para que o TCU determinasse nova inspeção pela Secretaria de Controle Externo (Secex), em São Paulo. Com isso, haveria a chance de outro parecer, favorável à empresa, ser elaborado.

Na representação, de 15 de fevereiro de 2011, Cyonil relata conversas com Vieira, nas quais o ex-diretor teria citado o senador. “Paulo Vieira disse que pediria a José Sarney, que indicara, à época, o ministro Vilaça, para reencaminhar o processo à secretaria de São Paulo e, assim, autorizasse a inspeção.” Rejeitado pelo Senado, Vieira só foi nomeado para a diretoria da ANA após manobra de Sarney.

Vilaça relatou o processo até junho de 2009, quando se aposentou. No primeiro semestre daquele ano, o ministro enviou o caso a São Paulo para que técnicos se pronunciassem sobre informações apresentadas pelo Ministério Público e pela Companhia Docas de São Paulo (Codesp), responsável pelo porto.

Nova inspeção. O caso voltou a Brasília. Em outubro, José Múcio assumiu a relatoria e determinou a inspeção em São Paulo. Pelos registros do TCU, houve nova manifestação da Codesp, o que teria motivado a remessa para o Estado para avaliar as condições “atualizadas” do contrato. A inspeção ficou a cargo de Cyonil, que, segundo a PF, recebeu propina para elaborar o relatório. No documento, ele muda de posição: defende a manutenção do contrato com a Tecondi e abre brecha para que a empresa assuma novas áreas no porto.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

O DEBATE DESTA QUINTA SOBRE O MENSALÃO – Ou: Contra a continuidade diversionista

 

Por Reinaldo Azevedo

 

Ao vivo

Estamos ao vivo em mais um programa sobre a sessão de hoje do julgamento do Mensalão. Assista aqui e participe pelo twitter @VEJA.

Por Reinaldo Azevedo

 

Niemeyer, a obra e o pensamento. Ou ainda: Por que ser “poeta da curva” é superior a ser “poeta da linha reta”?

Que coisa!

Quando Oscar Niemeyer fez 99 anos, publiquei um post neste blog sobre tão notável personagem. E expliquei ali por que o considerava metade gênio e metade idiota. Isso foi em 15 de dezembro de 2006 – no primeiro ano do blog. O texto foi bastante comentado e coisa e tal, mas os jegues militantes, tudo indica, não o haviam descoberto até agora. O que fiz ontem, no primeiro texto, foi escrever uma pequena introdução e anunciar que repetia aquele texto. Qualquer pessoa que o tenha lido sabe que fiz um elogio à obra de Niemeyer. Mais do que isso: sustentei que a qualidade do trabalho de um homem e a qualidade de seu pensamento nem sempre andam juntas, são proporcionais ou têm o mesmo sentido.

Num segundo texto, sustentei, e sustento, que, na raiz da ambiguidade que eu apontava, estavam, sim, as escolhas ideológicas que fiz. Um liberal conservador, acho eu, tem de, nesse particular também, pensar e se comportar diferentemente das esquerdas, que demonizam artistas – isso é histórico – por conta, eventualmente, de seu pensamento ou de suas escolhas ideológicas. Não raro, basta que ele não seja um militante e se dedique apenas à sua obra para ser considerado um “reacionário”.

Notem: não toquei na obra de Niemeyer, QUE, NÃO OBSTANTE, NÃO ESTÁ ISENTA DE CRÍTICAS POR SUA PRÓPRIA NATUREZA. É perfeitamente possível, legítimo e intelectualmente desafiador que se tentem, por exemplo, estabelecer relações entre o que criou e sua ideologia. É perfeitamente possível que se leia a sua obra à luz de suas relações com governos – ele sempre foi um arquiteto do poder: no Brasil e fora. O “comunista” Niemeyer sempre foi um cortesão.

Independentemente disso, reconheci, é autor de uma grande obra. E até fiz algumas considerações sobre a proximidade ente arte e poder. Boa parte dos que me atacam o faz movida por ignorância. Não têm a menor ideia dos assuntos de que tratei.

Inaceitável
Inaceitável, aí sim, é que se fale da obra de Niemeyer ignorando quem ele era, ainda que seja para fazê-lo como fiz: para distinguir uma coisa de outra; para estabelecer a fronteira entre o arquiteto e o ideólogo. Lembro que Niemeyer, vejam que mimo!, defendeu o golpe dado pela burocracia comunista contra Gorbachev!!! Tenham paciência!

Mas atenção! EU, REINALDO AZEVEDO, O QUE CLASSIFICOU NIEMEYER DE METADE GÊNIO E METADE IDIOTA, O QUE REAFIRMO, SEPAREI O SEU COMUNISMO DE BEIRA DE PISCINA DE SUA OBRA. O que leio por aí, no entanto, é outra coisa.

Delinquentes intelectuais das mais variadas colorações e com variados teores de convicção, ASSOCIAM SUA IDEOLOGIA À SUA OBRA. Acham que a propaganda comunista que fazia era parte das suas utopias, que teria sido expressa também em sua obra. Qual a diferença, em essência, no que concerne ao humanismo, entre o comunismo e o fascismo? Nenhuma! Qual a diferença na espécie? O comunismo matou muito mais.

Ora, então Niemeyer morre, e até o comunismo passa a ser coisa boa? Então Niemeyer morre, e até a sua ideologia homicida se torna parte de sua grandeza? Quando Leni Riefenstahl morreu, felizmente não li – se houve, desconheço – nenhum artigo sustentando algo assim: “Alto lá! Afirmar que ela serviu ao nazismo corresponde a não reconhecer a qualidade de sua obra”… Ora, vão plantar batatas! Niemeyer, uma personalidade, com efeito, conhecida no mundo inteiro emprestou seu apoio a tiranos, a notórios homicidas.

E eu lembrei isso TAMBÉM, tendo o que considero o bom senso, reitero, de preservar a sua obra, que, INSISTO, NÃO ESTÁ ISENTA DE UM EXAME CRÍTICO POR AQUELES QUE DELA NÃO GOSTAM. E HÁ MUITOS.

Amor pela tirania
Eu estou me lixando para o que zurram a meu respeito. Os meus leitores sabem que não sou movido nem mesmo a elogios. Fiquei quase isolado aqui quando me opus ao aborto de anencéfalos ou quando fiz restrições à pesquisa com embriões. Muitos leitores que costumam gostar do que escrevo disseram: “Ah, Reinaldo, nessa você errou…” E eu não mudei de ideia, embora fossem ponderações gentis, generosas, humanistas, sim… Imaginem se, agora, vou me intimidar porque algumas bestas ao quadrado resolveram que o “comunismo” de Niemeyer era parte de sua genialidade. Não vejo nada de genial em defender um modelo que matava por indústria.

Mas entendo, claro… Este é, afinal, um país em que um tirano como Getúlio Vargas, cuja polícia matou e torturou nos porões, foi transformado em herói nacional porque, mais tarde, metendo o país numa crise institucional, resolveu dar um tiro no próprio peito. E por que o amor ao tirano? Ah, porque as esquerdas e os nacionalistas decidiram transformá-lo num herói anti-imperialista. Vão caçar sapo!

Niemeyer era metade gênio e metade idiota. E há, por óbvio, inclusive no Brasil, quem o achasse cem por cento idiota. E, como se vê, muitos pensam que era cem por cento gênio. Estão calados porque os “democratas” do debate decidiram que é possível, sim, discutir a sua obra e o seu pensamento, desde que se concorde com ambos.

Poeta da curva
Entendo todas as metáforas sobre a sua obra como o “poeta da curva”. Só noto que isso nem mesmo chega a ser um juízo de valor. É só um brocado retórico. Até porque se pode ser também um poeta da linha reta. E o juízo de valor estaria em dizer por que o poeta da curva é estética ou moralmente superior ao da linha reta.

Encerro
Escrevi ontem um texto sobre a Irmandade Muçulmana. Vejam lá. Eu não me intimido com irmandades… Tampouco com a Irmandade Petralha.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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