A dura recuperação de um cafeeiro desfolhado, por José Donizeti Alves
A folha é o órgão responsável pela capitação da energia luminosa e sua transformação em energia química. Esta energia é a responsável pela manutenção da vida da planta e pelos crescimentos vegetativo e reprodutivo. Sem as folhas, a parte aérea murcha; os ramos secam; as folhas, botões florais e frutos caem; as flores abortam e as raízes morrem, entre outros distúrbios fisiológicos.
De uma maneira geral, de cada 100 botões florais somente 20 chegam como frutos na colheita. O restante é perdido pela queda de botões florais, abortamento das flores (sem que haja tempo para a sua transformação em ovário e posteriormente chumbinho) e queda de frutos em decorrência de constantes estresses ambientais e limitações agronômicas. Esse é o diagnóstico das lavouras desfolhadas, comumente encontradas em importantes regiões cafeeiras do Brasil. Os entraves explicam o porque da produção real estar sempre distante da produção potencial cafeeira e os distúrbios fisiológicos apontados acima levarão à menor longevidade da lavoura e provocarão quedas acentuadas na produção, havendo então a necessidade de poda precoce. Uma vez Instalado esse caos, o cafeeiro irá passar por um duro processo de recuperação, tão logo as chuvas voltem com intensidade e periodicidade adequadas e o solo restabeleça sua capacidade de campo.
Nesta fase de recuperação, que provavelmente iniciará em meados de outubro, os ramos plagiotrópicos lançarão a cada 15-20 dias, novos pares de folíolos que atingirão a maioridade depois de 25-30 dias. Somente neste estádio é que as folhas estarão fisiologicamente maduras e passarão da condição de dreno à fonte, produzindo carboidratos com energia suficiente para a manutenção de seu metabolismo e em quantidades adequadas para serem exportados para os drenos - frutos, flores, ramos, caule e raízes.
Em um cálculo simplista, os novos folíolos-drenos surgidos em outubro passarão à condição de fonte de carboidratos durante todo o mês de novembro. Nesta ocasião, os frutos formados a partir dessa florada em setembro, estarão com 12 semanas, aproximadamente, em uma fase denominada de “chumbão”, com volume já definido. Nesse período, botões florais e frutos de uma segunda ou terceira florada também estarão presentes. Em um cenário de desfolha como esse, o número de folhas fisiologicamente maduras (recém-formadas nesta estação), sem o auxilio das folhas adultas (formadas na estação passada), será insuficiente para sustentar as partes vegetativa e reprodutiva que estarão convivendo e crescendo simultaneamente. Esse desequilíbrio entre fonte e dreno - síntese e degradação de energia - implicará em competição entre um e outro, o que, no final, acabará comprometendo ambos. Em outras palavras, em função do atual quadro de desfolha e do desequilíbrio estabelecido entre fonte e dreno, deverá aparecer uma série de anormalidades fisiológicas nos frutos que resultarão e queda de produção nessas lavouras. Diante desse quadro, talvez devesse mudar o titulo dessa matéria para “a dura e lenta recuperação de um cafeeiro desfolhado”.
Prof. José Donizeti Alves - Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Vegetal - UFLA
0 comentário
Onda de calor no Brasil consolida ganhos do café arábica no fechamento desta 6ª feira (26)
Após Natal, preços do café arábica trabalham em campo misto em NY nesta 6ª (26)
Mais da metade do café analisado em compras públicas no Paraná apresenta fraude, aponta fiscalização
Dedicação e resiliência: Desafios climáticos não conseguiram abalar a qualidade dos cafés brasileiros
Após fortes oscilações, mercado cafeeiro fecha sessão desta 3ª feira (23) em lados opostos nas bolsas internacionais
Preços do café robusta sobem em Londres na manhã desta 3ª feira (23) diante demora nas vendas no Vietnã