Safra 22/23 de cana começa atrasada, mas expectativa é de recuperação na produção
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A safra de cana 2022/23, que começou neste mês de abril no Centro-Sul do Brasil, está atrasada ante a anterior, segundo fontes ouvidas do setor. A esperança é que a cana ganhe mais tempo para recuperar o desenvolvimento fisiológico, após canaviais afetados pelo clima em 2021/22.
"Há algumas unidades que começaram a colher reportando baixos índices de produtividade, mas isso era esperado uma vez que a cana de início de safra foi a mais castigada pela seca do ano passado", disse ao Notícias Agrícolas o analista da Datagro, Bruno de Freitas.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) também afirmou ao Notícias Agrícolas que o número de usinas que iniciaram a colheita da nova temporada ainda é muito pequeno.
"Já tem informações de início de safra, mas com uma produtividade baixíssima, e uma qualidade da matéria-prima também baixíssima. A cana vegetou e não concentrou o teor de sacarose", disse Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica.
Segundo Pádua, informações mais claras sobre a nova temporada devem ser divulgadas no final de abril. Com esse atraso já no início de safra, a entidade acredita que a nova temporada não deve ser de um incremento tão forte na oferta de cana no novo ciclo produtivo.
"A partir de imagens de satélite, de uma melhor avaliação das condições, é que nós vamos ter uma expectativa de quanto de fato deve crescer a oferta de cana e produtos. Há sim uma expectativa de um incremento. O canavial está muito bonito, com muita biomassa, mas não tem colmo suficiente para iniciar a colheita", afirma Pádua.
A Datagro projeta a moagem de cana na nova temporada em 562 milhões de toneladas, ante a safra anterior, que registrou 523 milhões de t. Ainda assim, carregando os reflexos do clima adverso em 2021, o volume processado neste ciclo fica distante do recorde de 605 milhões de t de 2020/21.
"As chuvas de abril e maio, caso ocorram dentro da normalidade, ainda farão uma grande diferença para as condições dos canaviais de 22/23", destacou Freitas sobre a importância das chuvas nas próximas semanas para confirmação das expectativas inicias de safra.
A consultoria vê a produção de açúcar neste ciclo em 33 milhões de t, ante as 32 milhões de t da temporada anterior, mas este número ainda está pode ser revisado caso o preço do etanol permaneça alto, incentivando as usinas a direcionar mais o caldo da cana para o biocombustível.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP) acrescenta que, além do número ainda pequeno de usinas em atividade da safra 2022/23, chuvas recentes também limitaram a entrada de máquinas no campo para a retirada da cana-de-açúcar no ciclo 2022/23.
CENÁRIO ATUAL E TENDÊNCIA DE PREÇOS
Na visão da Safras & Mercado, esse atraso na safra brasileira tem dado suporte aos preços do açúcar na Bolsa de Nova York, que retomaram o patamar de 20 cents/lb nos últimos dias. Além disso, o etanol voltou a subir em todo o Brasil e já perdeu competitividade para a gasolina.
"Geralmente, quando inicia a safra a oferta aumenta e o preço tem que cair. Mas essa safra nova está extremamente peculiar. Até a primeira quinzena de abril, nós teríamos cerca de 150 usinas em operação e nós temos pouco mais de 26. Espera-se que mais entrem em operação na segunda quinzena", diz Maurício Muruci, analista da Safras.
Na visão de Muruci, a expectativa é que tanto os preços do açúcar quanto do etanol recuem com o avanço da safra.
"Em maio devemos ver uma 'tempestade perfeita'. Mais usinas no mercado, a cana mais propícia ao açúcar, que vai derrubar os preços do adoçante. Além disso, devemos ter uma oferta maior de etanol hidratado e a queda na demanda nas bombas porque os preços estavam altos em abril", afirma o analista da Safras.
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