Guerra Comercial 2.0: Trégua entre EUA e China e impactos no mercado de soja; confira análises da Hedgepoint Global Markes
A “guerra comercial 2.0”, iniciada em abril pelo governo norte-americano de Donald Trump, trouxe grandes impactos para os mercados ao longo de 2025, com alterações importantes nos fluxos comerciais ao redor do mundo. A aplicação de tarifas sobre produtos de inúmeros países ampliou os alvos norte-americanos em relação à guerra comercial anterior, que tinha apenas a China como alvo. Mas, da mesma forma que na anterior, o país asiático voltou a ser o principal foco das tarifas norte-americanas.
Isso levou a China a aplicar tarifas recíprocas sobre produtos norte-americanos, incluindo a soja, o maior produto agrícola dos EUA importado pelo país asiático. Tal fato inviabilizou a compra de soja norte-americana por importadores chineses, o que levou a uma queda importante nas exportações dos EUA, resultando em especulações e pressão sobre os preços em Chicago.
"A guerra comercial 2.0 trouxe volatilidade significativa para os preços agrícolas, especialmente para a soja. A interrupção das compras chinesas pressionou as cotações em Chicago e gerou incertezas sobre o equilíbrio global de oferta e demanda", afirma Luiz Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint.
Esse cenário se estendeu até o final de outubro, quando os presidentes dos EUA e da China se encontraram na Coreia do Sul, selando uma “trégua comercial” que reduziu tarifas de ambos os lados. Segundo o governo norte-americano, a trégua (ou suposto acordo) envolveu o comprometimento da China em comprar 12 milhões de toneladas de soja dos EUA até o final de fevereiro, além de pelo menos 25 milhões de toneladas anualmente em 2026, 2027 e 2028.
A partir daí, as compras chinesas de soja norte-americana voltaram a ocorrer, com novas vendas de soja dos EUA para a China sendo anunciadas pelo USDA, após várias semanas de ausência.
"Apesar da trégua anunciada entre EUA e China, o mercado segue cauteloso. As metas de compra são ambiciosas, mas ainda há dúvidas sobre a capacidade chinesa de cumprir esses volumes no curto prazo", complementa.
Diante disso, o mercado voltou a esboçar reação em Chicago, com os preços encontrando suporte no retorno da demanda chinesa. De qualquer forma, as especulações voltaram a ocorrer nas últimas semanas, com o mercado levantando dúvidas em relação ao verdadeiro potencial das compras chinesas atingirem seus objetivos.
"Esse cenário reforça a importância de monitorar não apenas os acordos políticos, mas também os movimentos efetivos de compra. A dinâmica comercial continua sendo um fator-chave para a formação de preços em 2026", conclui.
Segundo o relatório semanal do USDA de “Vendas para Exportação”, até o dia 27 de novembro a China havia comprado 3,015 milhões de toneladas de soja para entrega na temporada 2025/26 (que compreende o período entre setembro/25 e agosto/26). Para comparação, em mesmo período do ano anterior o acumulado de vendas para a China chegava a 16,483 milhões de toneladas.
Em relação às vendas para os chamados “destinos desconhecidos”, que na maioria das vezes tornam-se China no momento do embarque no portos norte-americanos, até o dia 27 de novembro haviam sido registradas vendas de 2,689 milhões de toneladas. Para comparação, em mesmo período do ano anterior o acumulado de vendas para destinos desconhecidos para chegava a 6,226 milhões de toneladas.
Somando os volumes para China e destinos desconhecidos até 27 de novembro, chegamos a um total de 5,704 milhões de toneladas para 2025/26. Em mesmo período do ano anterior, o volume alcançava 22,708 milhões de toneladas.
Entretanto, para termos uma melhor ideia dos volumes acumulados até este momento (19 de dezembro), devemos utilizar, também, os dados do USDA relacionados às vendas diárias (ou “flash sales”), que compreendem todas as vendas superiores a 100 mil toneladas em um mesmo dia que obrigatoriamente devem ser declaradas ao USDA pelos exportadores privados norte-americanos.
Nesse ponto, entre os dias 28 de novembro e 19 de dezembro, foram anunciadas vendas de 1,906 milhão de toneladas para a China e 796 mil toneladas para destinos desconhecidos.
Somando os volumes registrados até dia 27 de novembro com os volumes anunciados entre os dias 28 de novembro e 19 de dezembro, chegamos a um total de 4,921 milhões de toneladas para a China e 3,485 milhões de toneladas para destinos desconhecidos, o que resulta em um acumulado de 8,406 milhões de toneladas (China + destinos desconhecidos).
“Tal volume representa aproximadamente 70% do volume teoricamente acordado entre os países para compras chinesas até fevereiro (12 milhões de toneladas). Diante disso, entendemos ser possível e provável a China atingir o volume acordado. Mas, é importante lembrar que não existe clareza em relação aos termos desse suposto acordo, visto que apenas o lado norte-americano fez comentários sobre o mesmo, com o lado chinês não confirmando nenhum compromisso em relação aos volumes e prazos até o momento”, explica.
“Além disso, o mercado especula, também, com relação a entrada da próxima safra brasileira, que trará uma maior oferta e preços mais competitivos para os chineses a partir de fevereiro, o que pode ‘atrapalhar’ o ritmo de vendas dos EUA para a China. A principal dúvida ainda é: o quanto a China irá comprar, de fato, de soja norte-americana ao longo de 2026?”, explica.
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