Análise de mercado do açúcar

Publicado em 26/10/2009 11:14

FUNDOS TOMAM LUCRO

Mais de um-terço das empresas que compõe o S&P500 nos Estados Unidos divulgaram seus resultados do 3º trimestre e na maior parte os números bateram as expectativas dos analistas. Os pessimistas de plantão dizem que os analistas propositalmente têm previsto resultados mais baixos para provocar um otimismo maior quando se confirma números melhores. Os otimistas dizem que o pior já passou - apesar da divulgação de deflação dos preços praticados no atacado, do desemprego estar bastante elevado e da melhora nos balanços das empresas ter sido provocada não por crescimento de faturamento mas sim pela diminuição das despesas.

Independente disto as atenções continuam sendo voltadas para os mercados emergentes, que têm performado muito melhor do que as economias maduras, liderados pelo bloco apelidado de BRIC (Brasil, Rússia, India e China). Para reforçar o otimismo, saiu na quinta-feira a notícia de que o crescimento do PIB chinês no ano acumula 8.9%, enquanto economias como a britânica recuaram 0.4% no 3º trimestre.

O Brasil, com receio de ver sua moeda apreciar muito mais e causar um deterioramento de suas contas e indústrias, implementou uma taxação de 2% para o capital estrangeiro que entre no país para aplicar em rendas fixas e variáveis. O efeito não durou muito e o real encerrou a semana "apenas" 0.43% mais fraco, depois de sofrer uma queda de mais de 2% no dia que começou a valer a nova regra.

Pudera! Os mercados emergentes neste ano atraíram até agora nada menos do que US$ 63.1 bilhões de dólares dos fundos de ações, nível acima do recorde anterior de US$ 52.7 bilhões em 2007. Ao mesmo tempo os países desenvolvidos tiveram retiradas de US$ 75.6 bilhões por este tipo de fundo.

A percepção de risco para países em desenvolvimento se modificou muito, e no caso do Brasil as contas públicas, o perfil de exportador de commodities, e a estabilidade política entre tantos outros fatores colaboraram para que o país conquistasse o sonhado "grau-de-investimento" pelas principais agências de classificação de risco, abrindo o mercado para fundos de pensões que antes não podiam deter papéis do país. Mais do que isto, o investimento direto contribui tremendamente para o fluxo de dinheiro que contribuiu para a firmeza do real que estamos vendo neste ano.

Em poucas palavras, o dinheiro não parece, por enquanto, que parará de fluir para o país, e com o dólar sendo usado como moeda de financiamento (dado o seu custo baixo) parece que o governo brasileiro não conseguirá conter a enxurrada de entrada de recursos, até que vejamos uma mudança de política monetária nas economias mais ricas - e assumindo que o governo não cometerá nenhum outro ato de restrição de entrada de capital no Brasil.

Isto tudo é o tal de "decoupling", ou desconexão entre as economias ricas e emergentes que vem se falando há tanto tempo.

Bem, vamos ao que leitor se interessa, o café.

Neste cenário de recuperação forte dos preços de ativos e aposta de crescimento, mais dinheiro entrou em commodities. Prova disto é o aumento dos contratos em aberto e da subida de preços que tem acontecido recentemente. Porém quanto tempo isto durará? É complicado imaginar que comprando commodities no mercado futuro o investidor está se protegendo de inflação, principalmente em mercados que tem o bendito - para os os produtores - carrego, aonde o mês presente é sempre mais baixo do que os meses futuros. Cada vez que se rola uma posição de um vencimento curto para o outro mais longo, um naco de "ganho" real ou potencial vai para o ralo.

Sem contar que por enquanto não estamos vendo sinais de inflação e sim de deflação, pois o consumo continua retraído nas principais economias que sofrem com taxas de desemprego altas e crédito retraído.

A puxada de preços que acompanhamos nos preços futuros de café até a quinta-feira pareciam estar em linha com o fundamento dos cafés finos, que continuam apertados e relativamente caros.

A disponibilidade atrasada dos suaves, as chuvas no Brasil, o plano de opções brasileiro e a fraqueza da moeda americana, apontavam que mais altas deveriam acontecer. Mas quando os fundos pararam de comprar e resolveram liquidar um pouco de suas posições a bolsa desmorou na sexta-feira, e a indústria respira mais aliviada com a queda.

Nova iorque fechou a semana com queda de US$ 7.54 por saca, São Paulo com perdas de US$ 5.20 por saca e Londres US$ 5.82 mais baixa.

O principal fator de falta de suporte no mercado - quando os fundos decidem parar de comprar - é a resistência dos torradores em elevarem seus níveis de fixação.

A queda de braço com as origens ainda não está complicada para os indústrias pois os intermediários são os que estão sofrendo com a dificuldade de originar os cafés que venderam a preços que acreditavam ser interessantes. Isto porquê também se acreditava que a florada no Brasil iria ser exemplar e que em função disto haveria pressão de venda grande no mercado. Junta-se a expectativa do fluxo de café de América Central e Colômbia, e o quadro esperado era negativo. Só que tudo isto está demorando muito para acontecer, e poucos tinham previsto em suas planilhas um dólar tão baixo.

Mesmo assim a indústria não se assusta, e espera por preços mais baixos (tanto para bolsa quanto para o FOB).

O preço do café NY em reais está em R$ 239.51 centavos por libra-peso depois da queda de sexta-feira, patamar bastante inferior do que os R$ 283.76 centavos / libra que vimos no dia 3 de junho deste ano, quando as origens tinham mais interesse de vender. O nível de preço atual está há "apenas" R$ 17.76 centavos/ libra da mínima vista no dia 4 de setembro (R$ 221.75), por isso que a venda não tem sido tão pesada por parte do Brasil. Para tentar compensar um pouco, os diferenciais ao invés de estarem negociando com desconto de US$ 26 centavos estão em US$ 19 centavos.

Isto é o que o produtor brasileiro vê.

Já o importador europeu não acha o preço da bolsa atrativo em euros pois o mesmo está agora em EUR 93.16 centavos por libra, relativamente próximo dos EUR 100.00 centavos que o mercado sempre tem dificuldade de se manter acima por muito tempo. Olhando para trás o mesmo importador vê que já comprou NY à EUR 81.18 centavos por libra, portanto não se anima em entrar comprando com grande volume nos atuais patamares (ainda).

Com o quadro fundamental apertado no curto-prazo talvez vejamos Nova Iorque encontrar suporte próximo de US$ 130.00, quando os fundos provavelmente terão liquidado um pouco mais da sua nova posição comprada, que de acordo com o boletim do COT está em 8.5 milhões de sacas (30,234 contratos).

Apertem os cintos!

Tenham todos uma ótima semana e muito bons negócios.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting


Este relatório foi preparado pela Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda para uso exclusivo do destinatário, podendo, no entanto, ser reproduzido ou distribuído por este a qualquer pessoa desde que citada a fonte. Este relatório é distribuído somente com o objetivo de prover informações e não representa, em nenhuma hipótese, uma oferta de compra e venda ou solicitação de compra e venda de qualquer instrumento financeiro ou serviço. As informações contidas neste relatório são consideradas confiáveis na data na qual este relatório foi publicado. Entretanto, as informações aqui contidas não representam por parte da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda garantia de exatidão das informações prestadas ou julgamento sobre a qualidade das mesmas, e não devem ser consideradas como tal. As opiniões contidas neste relatório são baseadas em julgamentos e estimativas, estando, portanto, sujeitas a mudança.
® 2009 Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.

Publicado em 25/10/2009

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