Complexo logístico vai trazer R$ 3 bi à economia de Ilhéus
Publicado em 27/11/2009 14:59
Paisagem de Ilhéus: cidade terá o maior impacto do projeto que integra ferrovia, aeroporto, ZPE e gasoduto
O complexo logístico produtivo do sul da Bahia é uma das obras estruturantes mais importantes do plano do governo estadual. Sua concepção envolve a construção da Ferrovia da Integração Oeste-Leste, que receberá investimentos de R$ 4,5 bilhões só no trecho baiano - saindo de Luís Eduardo Magalhães (no oeste) e chegando a Ilhéus -, e a instalação de um porto offshore, a três quilômetros da costa.
O empreendimento ambiciona a abertura de um novo eixo de desenvolvimento, integrando o sul da Bahia à economia nacional. O maior impacto será absorvido por Ilhéus, que abrigará o Porto Sul, complexo que integra a ferrovia, um novo aeroporto internacional, uma área industrial, uma zona de processamento de exportação (ZPE) e dará passagem ao gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene).
Essas obras irrigarão o município com R$ 3 bilhões nos próximos anos. Há tempos a região sul da Bahia não recebe aportes de tal magnitude. As instalações do porto e da área logística agregada ocuparão uma área de 1.771 hectares na localidade da Ponta da Tulha, no norte de Ilhéus. "Existe um decreto delimitando as áreas para a construção do complexo. Ainda aguardamos a análise ambiental e é preciso definir o plano diretor da cidade", afirma José Nazal Soub, secretário de governo da Prefeitura de Ilhéus.
Na cidade, a grande expectativa está na geração de empregos, principal preocupação dos munícipes. Em todas as pesquisas que realizou nos últimos anos, a prefeitura detectou que a falta de trabalho é a primeira queixa dos ilheuenses, que convivem com uma taxa de desemprego de 24,8%. "Com 31% das respostas, a ausência de trabalho supera itens como segurança, educação e saúde", explica Soub.
De acordo com o secretário, 20% dos habitantes conhecem bem o projeto. Desse grupo, 80% acreditam que o Porto Sul trará desenvolvimento econômico para a região. "Como estamos tratando de uma área de reserva ambiental, bem conservada, é natural que haja questionamento em relação aos impactos à natureza", afirma Soub.
O projeto prevê a criação de extensas áreas ambientais de conservação e amortecimento ecológico ao redor do empreendimento. Entre as ações planejadas estão a requalificação e valorização das unidades de conservação ambiental existentes, como a área de proteção ambiental (APA) da lagoa Encantada e do rio Almada e o Parque Estadual do Conduru. Segundo o governo do Estado, até 2019 essas áreas receberão inversões de R$ 30 milhões - no entanto, o dinheiro está condicionado à implantação do complexo. O projeto também pretende respeitar o segmento do turismo. A opção pela construção longe da costa tem o objetivo de minimizar impactos visuais e ambientais. "Além do projeto do Porto Sul, temos de investir na cidade para abrigar as obras", afirma Soub.
A preocupação faz todo sentido. Até agora, o governo estadual e o federal têm dado o tom do projeto, mas o município alega não ter recebido detalhes suficientes para preparar um plano diretor. Ilhéus conta com cerca de 220 mil habitantes e há vinte anos sofre com as perdas econômicas da lavoura do cacau. A quebra desse pilar econômico culminou na queda da receita dos produtores e foi um golpe duro nas contas municipais. O cacau ainda é importante segmento na região e emprega cerca de 90 mil pessoas em sua cadeia produtiva, mas não tem força suficiente para fazer crescer o orçamento do município.
Com a falta de verbas, a infraestrutura urbana de Ilhéus está deficiente - demandando obras para atender a população atual e apresentando problemas em áreas como saneamento básico e mobilidade urbana. "O escoamento do material necessário paras as obras na cidade será fatal para o trânsito local, as vias não estão preparadas para o tráfego intenso de caminhões", diz Soub.
Com 73% de sua população vivendo na zona urbana, o município coleta 46% do esgoto que produz. Do total recolhido, trata menos da metade. O abastecimento de água chega a 80% das casas. "Se a população aumentar rapidamente, a situação do saneamento ficará mais caótica, com riscos de poluição da costa, dos rios, dos mangues e dos lençóis freáticos", argumenta Soub.
Outro problema existe na ocupação territorial. O déficit habitacional de Ilhéus está na casa de 25%. Será difícil evitar a invasão de áreas. A prefeitura terá de montar um plano para fiscalizar e impedir o crescimento desordenado. O objetivo é fugir da criação de bolsões populacionais que podem no futuro se traduzir em áreas de pobreza. Além disso, a tendência é a conurbação com Itabuna e outros municípios vizinhos, como Uruçuca e Itacaré, criando de fato uma grande região metropolitana. "Não sabemos ao certo qual será a oferta de emprego após as obras. Durante a construção, Ilhéus deve atrair muita gente. Temos de entender como ficará depois. É hora de pensar nas contrapartidas para a cidade."
Ilhéus apresenta déficit de recursos para formar mão de obra qualificada para as obras e operação do porto. A cadeia produtiva da ZPE também exigirá melhor formação. Na cidade, a taxa de analfabetismo é de 20,6%. "Nosso receio é de que Ilhéus infle por conta das oportunidades de empregos e nossos moradores não consigam se colocar no mercado de trabalho. Neste cenário, a situação da pobreza pode piorar", expõe Soub.
O sucesso do complexo e o desenvolvimento da região não podem depender só da operação do porto. Instrumento do governo para promover o crescimento econômico, a ZPE deve atrair indústrias com benefícios fiscais e infraestrutura propícia ao desenvolvimento de cadeias produtivas. Em contrapartida, os ilheuenses devem ganhar empregos qualificados. Edmundo Ramos, coordenador da ZPE Bahia, afirma que o potencial representado pelo Porto Sul é enorme. Atualmente 37,3% do PIB de Ilhéus vem da indústria, portanto há horizonte para crescimento. "Acredito no desenvolvimento de segmentos como indústria alimentícia e moveleira", afirma Ramos.
De acordo com as projeções do coordenador, a atração de indústrias para a região de Ilhéus tem o potencial de, em 15 anos, criar 20 mil postos de trabalho. "O complexo ainda pode atrair segmentos como siderurgia e indústria automotiva." A integração do litoral sul com o oeste baiano vai criar um corredor de desenvolvimento por conta da ferrovia. Obras nas estradas da região também prometem melhorar o escoamento. "Hoje não beneficiamos nossos produtos. Somos deficientes até na produção de chocolate. É preciso mudar esse cenário", avalia Ramos.
Um bom exemplo que traz alento para os ilheuenses é o polo de informática, que une empresas montadoras de microcomputadores. De acordo com Soub, o polo, formado por 52 empresas, já chegou a montar 23% dos computadores do país, mas hoje fornece 18% deles. "Falta logística. Nosso aeroporto não é capaz de atender à demanda do polo."
A deficiência na infraestrutura está fazendo com que empresas do segmento deixem o Estado, de acordo com informações do Sindicato das Indústrias de Eletroeletrônicos de Ilhéus. A queixa é que está difícil ser competitivo sem atrair empresas de suporte, como fabricantes de placas, plástico, papelão e de desenvolvimento de software. Ilhéus está aprendendo que manter empresas é mais difícil que atraí-las. "Uma nova estrutura industrial será fundamental para melhorar a articulação das cadeias produtivas. É preciso colocar a região de Ilhéus na logística nacional e isso será possível com o Porto Sul", afirma Ramos.
A construção de um aeroporto internacional é bem-vinda. Atualmente, a cidade não opera voos noturnos, o que está atrapalhando os negócios do turismo. Além disso, o aeroporto Jorge Amado não dará vazão à demanda industrial. "O projeto do aeroporto é antigo. Ilhéus demanda essa infraestrutura há mais de dez anos", reclama Soub.
O complexo logístico produtivo do sul da Bahia é uma das obras estruturantes mais importantes do plano do governo estadual. Sua concepção envolve a construção da Ferrovia da Integração Oeste-Leste, que receberá investimentos de R$ 4,5 bilhões só no trecho baiano - saindo de Luís Eduardo Magalhães (no oeste) e chegando a Ilhéus -, e a instalação de um porto offshore, a três quilômetros da costa.
O empreendimento ambiciona a abertura de um novo eixo de desenvolvimento, integrando o sul da Bahia à economia nacional. O maior impacto será absorvido por Ilhéus, que abrigará o Porto Sul, complexo que integra a ferrovia, um novo aeroporto internacional, uma área industrial, uma zona de processamento de exportação (ZPE) e dará passagem ao gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene).
Essas obras irrigarão o município com R$ 3 bilhões nos próximos anos. Há tempos a região sul da Bahia não recebe aportes de tal magnitude. As instalações do porto e da área logística agregada ocuparão uma área de 1.771 hectares na localidade da Ponta da Tulha, no norte de Ilhéus. "Existe um decreto delimitando as áreas para a construção do complexo. Ainda aguardamos a análise ambiental e é preciso definir o plano diretor da cidade", afirma José Nazal Soub, secretário de governo da Prefeitura de Ilhéus.
Na cidade, a grande expectativa está na geração de empregos, principal preocupação dos munícipes. Em todas as pesquisas que realizou nos últimos anos, a prefeitura detectou que a falta de trabalho é a primeira queixa dos ilheuenses, que convivem com uma taxa de desemprego de 24,8%. "Com 31% das respostas, a ausência de trabalho supera itens como segurança, educação e saúde", explica Soub.
De acordo com o secretário, 20% dos habitantes conhecem bem o projeto. Desse grupo, 80% acreditam que o Porto Sul trará desenvolvimento econômico para a região. "Como estamos tratando de uma área de reserva ambiental, bem conservada, é natural que haja questionamento em relação aos impactos à natureza", afirma Soub.
O projeto prevê a criação de extensas áreas ambientais de conservação e amortecimento ecológico ao redor do empreendimento. Entre as ações planejadas estão a requalificação e valorização das unidades de conservação ambiental existentes, como a área de proteção ambiental (APA) da lagoa Encantada e do rio Almada e o Parque Estadual do Conduru. Segundo o governo do Estado, até 2019 essas áreas receberão inversões de R$ 30 milhões - no entanto, o dinheiro está condicionado à implantação do complexo. O projeto também pretende respeitar o segmento do turismo. A opção pela construção longe da costa tem o objetivo de minimizar impactos visuais e ambientais. "Além do projeto do Porto Sul, temos de investir na cidade para abrigar as obras", afirma Soub.
A preocupação faz todo sentido. Até agora, o governo estadual e o federal têm dado o tom do projeto, mas o município alega não ter recebido detalhes suficientes para preparar um plano diretor. Ilhéus conta com cerca de 220 mil habitantes e há vinte anos sofre com as perdas econômicas da lavoura do cacau. A quebra desse pilar econômico culminou na queda da receita dos produtores e foi um golpe duro nas contas municipais. O cacau ainda é importante segmento na região e emprega cerca de 90 mil pessoas em sua cadeia produtiva, mas não tem força suficiente para fazer crescer o orçamento do município.
Com a falta de verbas, a infraestrutura urbana de Ilhéus está deficiente - demandando obras para atender a população atual e apresentando problemas em áreas como saneamento básico e mobilidade urbana. "O escoamento do material necessário paras as obras na cidade será fatal para o trânsito local, as vias não estão preparadas para o tráfego intenso de caminhões", diz Soub.
Com 73% de sua população vivendo na zona urbana, o município coleta 46% do esgoto que produz. Do total recolhido, trata menos da metade. O abastecimento de água chega a 80% das casas. "Se a população aumentar rapidamente, a situação do saneamento ficará mais caótica, com riscos de poluição da costa, dos rios, dos mangues e dos lençóis freáticos", argumenta Soub.
Outro problema existe na ocupação territorial. O déficit habitacional de Ilhéus está na casa de 25%. Será difícil evitar a invasão de áreas. A prefeitura terá de montar um plano para fiscalizar e impedir o crescimento desordenado. O objetivo é fugir da criação de bolsões populacionais que podem no futuro se traduzir em áreas de pobreza. Além disso, a tendência é a conurbação com Itabuna e outros municípios vizinhos, como Uruçuca e Itacaré, criando de fato uma grande região metropolitana. "Não sabemos ao certo qual será a oferta de emprego após as obras. Durante a construção, Ilhéus deve atrair muita gente. Temos de entender como ficará depois. É hora de pensar nas contrapartidas para a cidade."
Ilhéus apresenta déficit de recursos para formar mão de obra qualificada para as obras e operação do porto. A cadeia produtiva da ZPE também exigirá melhor formação. Na cidade, a taxa de analfabetismo é de 20,6%. "Nosso receio é de que Ilhéus infle por conta das oportunidades de empregos e nossos moradores não consigam se colocar no mercado de trabalho. Neste cenário, a situação da pobreza pode piorar", expõe Soub.
O sucesso do complexo e o desenvolvimento da região não podem depender só da operação do porto. Instrumento do governo para promover o crescimento econômico, a ZPE deve atrair indústrias com benefícios fiscais e infraestrutura propícia ao desenvolvimento de cadeias produtivas. Em contrapartida, os ilheuenses devem ganhar empregos qualificados. Edmundo Ramos, coordenador da ZPE Bahia, afirma que o potencial representado pelo Porto Sul é enorme. Atualmente 37,3% do PIB de Ilhéus vem da indústria, portanto há horizonte para crescimento. "Acredito no desenvolvimento de segmentos como indústria alimentícia e moveleira", afirma Ramos.
De acordo com as projeções do coordenador, a atração de indústrias para a região de Ilhéus tem o potencial de, em 15 anos, criar 20 mil postos de trabalho. "O complexo ainda pode atrair segmentos como siderurgia e indústria automotiva." A integração do litoral sul com o oeste baiano vai criar um corredor de desenvolvimento por conta da ferrovia. Obras nas estradas da região também prometem melhorar o escoamento. "Hoje não beneficiamos nossos produtos. Somos deficientes até na produção de chocolate. É preciso mudar esse cenário", avalia Ramos.
Um bom exemplo que traz alento para os ilheuenses é o polo de informática, que une empresas montadoras de microcomputadores. De acordo com Soub, o polo, formado por 52 empresas, já chegou a montar 23% dos computadores do país, mas hoje fornece 18% deles. "Falta logística. Nosso aeroporto não é capaz de atender à demanda do polo."
A deficiência na infraestrutura está fazendo com que empresas do segmento deixem o Estado, de acordo com informações do Sindicato das Indústrias de Eletroeletrônicos de Ilhéus. A queixa é que está difícil ser competitivo sem atrair empresas de suporte, como fabricantes de placas, plástico, papelão e de desenvolvimento de software. Ilhéus está aprendendo que manter empresas é mais difícil que atraí-las. "Uma nova estrutura industrial será fundamental para melhorar a articulação das cadeias produtivas. É preciso colocar a região de Ilhéus na logística nacional e isso será possível com o Porto Sul", afirma Ramos.
A construção de um aeroporto internacional é bem-vinda. Atualmente, a cidade não opera voos noturnos, o que está atrapalhando os negócios do turismo. Além disso, o aeroporto Jorge Amado não dará vazão à demanda industrial. "O projeto do aeroporto é antigo. Ilhéus demanda essa infraestrutura há mais de dez anos", reclama Soub.
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Fonte:
Valor Online
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