Inflação em alta é desafio a novo BC
O IPCA-15 de novembro levou os analistas a elevar para 5,8% as projeções para o IPCA em 2010, bastante acima do centro da meta, de 4,5%. Impedir a continuidade da piora das expectativas de inflação é um dos argumentos usados pelos que defendem a elevação dos juros. No regime de metas, elas têm grande peso, diz o economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, que vê um IPCA de 5,8% neste ano e de 5,2% em 2011. Se o BC perde o controle sobre as expectativas, cumprir as metas fica mais difícil, argumenta o economista.
A inflação dificulta a gestão da política monetária no começo do novo governo porque ressurge num momento em que a atividade está menos robusta e o câmbio valorizado abre espaço para um forte aumento das importações. A alta também desafia a visão do Banco Central, que apostou em um cenário mais tranquilo para os preços em 2010 e 2011, baseado nos resultados próximos a zero dos indicadores entre julho e agosto.
Para o economista Maurício Molan, do Santander, outro motivo para elevar a taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano, é evitar que a pressão dos alimentos e combustíveis se transmita a outros bens e serviços. Para ele, o BC deveria aumentar os juros já em dezembro, mas não vai fazê-lo porque adotou uma visão benigna sobre a inflação em seus últimos documentos. Assim, a alta deverá ocorrer em janeiro.
Os economistas que ainda não consideram inevitável a volta do aperto monetário lembram que o cenário econômico do começo de 2011 diverge do de outros anos. O aumento real do salário mínimo será menor e, em consequência, um dos estímulos à demanda será menos intenso. Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o governo pode reagir à inflação de 5,8% em 12 meses controlando outros estímulos ao consumo. Segundo ele, o ideal é que se combine um forte aperto fiscal com restrição ao crédito. Para Fábio Romão, da LCA Consultores, os preços dos alimentos e bebidas começarão a ceder nos próximos meses.