O recomeço dos pontapés na verdade avisa que o espetáculo da canalhice não vai parar
Sempre favorecido pela mudez pusilânime da oposição oficial, o ex-presidente Lula retomou a rotina dos socos e pontapés na verdade, agora para remover da biografia as patifarias e bandalheiras que sublinharam a política externa brasileira nos últimos oito anos. O novo ato da farsa começou em 8 de fevereiro, quando Lula desembarcou no Senegal com pose de conselheiro do mundo. O que estava achando da rebelião que ameaçava o reinado de Hosni Mubarak?, alguém quis saber.
“Há muito tempo, todo o mundo sabia que era preciso voltar à democracia no Egito”, fantasiou o maior dos governantes desde a chegada das caravelas. “O que está acontecendo no Egito é simples: água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Chegou uma hora em que o povo falou: ‘Eu existo, quero participar’”. Nenhum repórter cobrou-lhe o falatório despejado durante a visita ao ditador companheiro em dezembro de 2003. “O presidente Mubarak é um homem preocupado com a paz no mundo, com o fim dos conflitos, com o desenvolvimento e com a justiça social”, derramou-se Lula no meio da discurseira.
Como nenhum político oposicionista se lembrou de desmascará-lo publicamente, o farsante entrou em março pronto para comentar a situação na Líbia de Muammar Kadafi com cara de quem conheceu só de nome o psicopata que qualificou de “amigo, irmão e líder”. Era previsível que, na semana passada, a metamorfose malandra começasse a apagar a história dos oito anos de relações promíscuas com o companheiro Mahmoud Ahmadinejad.
Um jornalista perguntou-lhe por que só agora o governo brasileiro resolveu votar a favor da apuração de denúncias de violações de direitos humanos no Irã. “Porque não houve votação, a votação foi só agora”, mentiu o ex-presidente que sempre se curvou à vontade dos aitolás atômicos. Sem ficar ruborizado, interrogou o entrevistador e respondeu por ele: “Por que você não fez essa pergunta antes? Porque só pode fazer agora”.
É muito cinismo, comprovam alguns trechos do post publicado neste espaço em 20 de novembro de 2010, reproduzidos abaixo em negrito:
Foi aprovada por 80 votos a resolução da ONU que expressa “profunda preocupação” com as violações dos direitos humanos promovidas pelo governo do Irã, critica a pena de morte e rejeita a violência contra a mulher. Trata-se de mais uma tentativa de salvar Sakineh Ashtiani, condenada a morrer apedrejada — e de colocar o regime dos aiatolás no caminho que leva para longe da Idade da Pedra.
Os 44 países que votaram contra a resolução se tornaram comparsas confessos de uma ignomínia assim justificada pelo embaixador iraniano, Mohammad-Javad Larijani:”O apedrejamento significa que você deve fazer alguns atos, jogando um certo número de pedras, de uma forma especial, nos olhos de uma pessoa. Apedrejamento é uma punição menor que a execução, porque existe a chance de sobreviver. Mais de 50% das pessoas podem não morrer”. Como optou pela abstenção, o governo brasileiro acha que a argumentação faz sentido. Por omissão, transformou-se em cúmplice do horror.
“A maneira pela qual algumas situações de direitos humanos são destacadas, enquanto outras não, serve apenas para reforçar que questões de direitos humanos são tratadas de forma seletiva e politizada”, miou em nome do Itamaraty o diplomata Alan Sellos. “Eu, pessoalmente, sou contra, mas não posso dizer a quem tem isso na sua cultura que seja contra”, emendou o ministro da Defesa e comerciante de aviões Nelson Jobim. No caso do Irã, o jurista de araque só autoriza discurseiras federais a favor dos aiatolás atômicos e de eleições fraudadas. Haja cinismo.
Jobim e o resto da turma sabem que a falsa neutralidade só reafirmou que o presidente Lula não hesita em envergonhar a nação para curvar-se à vontade do companheiro Mahmoud Ahmadinejad. Dilma Rousseff, que logo depois de eleita qualificou o apedrejamento de “uma barbárie”, não deu um pio sobre a abstenção pusilânime. A política externa da cafajestagem ao menos é coerente. Tão coerente, aliás, quanto o silêncio dos líderes oposicionistas, que entre uma e outra derrota eleitoral mergulham no recesso de quatro anos. Como está em férias, a oposição oficial não teve tempo para indignar-se com mais um ultrajante tapa na cara do país que presta.
O espetáculo da canalhice não pode parar.
O ex-presidente nega ter feito o que acabou de fazer sem ser aparteado por um único senador, deputado ou vereador. O silêncio estrepitoso da oposição oficial avisa que o espetáculo da covardia também não tem prazo para terminar.
Em Lisboa, Lula recebe prêmio e nega divergências com Dilma
E não só isso: deu dicas para Portugal sair para a crise
Por Luisa Belchior, na Folha Online:
Acompanhado da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na manhã desta terça-feira o prêmio do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, em uma cerimônia no Parlamento português com o presidente do país, Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, José Sócrates. A visita de Dilma a Portugal nesta semana é uma promessa que ela havia feito ao seu antecessor de acompanhá-lo quando ele ganhasse um prêmio internacional. A afirmação é do próprio Lula, que vai receber três homenagens no país. “Ela tinha prometido que quando eu recebesse o primeiro prêmio internacional ela viria, e está cumprindo”, declarou Lula, que negou qualquer divergência com a presidente. “Não há a menor hipótese [de divergências]. Porque o dia que tiver uma divergência entre eu e a Dilma, ela está certa. Obviamente que tem gente torcendo para que haja qualquer coisa, mas não haverá nada entre Dilma e Lula. Temos uma relação ideológica e política muito forte.”
Aplaudido de pé, o ex-presidente brasileiro deu “dicas” para Portugal sair da crise econômica e criticou a atuação do FMI (Fundo Monetário Internacional), que deve socorrer a economia portuguesa. Ele defendeu também a redução das taxas de juros de bancos europeus em Portugal. “A crise mundial tem responsáveis diretos: é um sistema financeiro especulador. Eles têm que agir com mais rapidez. Por que o FMI ficava dando palpite quando a crise era na América Latina e agora demora para agir na Europa?”, questionou o ex-presidente, que aconselhou Portugal a investir no mercado interno, como disse ter feito em seu governo. Lula voltou também a defender uma reforma na ONU (Organização das Nações Unidas), que está “estagnada em meados do século 20″, mas reafirmou que não quer fazer parte do organismo.
Holofotes
Apesar de receber nesta terça-feira visita oficial da presidente Dilma, Portugal colocou os holofotes na agenda do ex-presidente Lula, que, além do prêmio do Conselho da Europa, receberá, na quarta-feira, uma distinção da Confraria do Vinho do Porto e o título de doutor honoris causa da faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
A visita do ex-presidente a Portugal é destaque nos principais jornais e noticiários televisivos do país nesta terça-feira. O jornal “Diário de Notícias” afirma, em título de uma seção especial dedicada à visita do ex-presidente, que “Lula vem a Portugal apresentar a camarada Dilma”. No texto, prioriza os detalhes da visita de Lula à de Dilma, que, segundo a publicação, “acompanha-o nessas homenagens”.
A seção, com linhas e título em vermelho, expôs uma foto ocupando o centro de duas páginas de Lula e Dilma, com a camisa do PT, de mãos dadas e erguidas. A entrevista que a presidente Dilma Rousseff concedeu a uma cadeia portuguesa no Palácio do Planalto, transmitida em Portugal na noite de segunda-feira, é repetida várias vezes nas redes de televisão do país ao longo desta terça-feira.
Soma de exotismos: uma presidente no gargarejo no dia em que o Apedeuta vira doutor
Naquele encontro que teve com o cordão de puxa-sacos das luluzinhas do cinema, Dilma Rousseff avisou que é besteira investir num confronto entre ela e Lula. Não vai acontecer. E acho que a presidente tem razão: não vai acontecer! Logo chegamos a 2012, ano das eleições municipais, e o PT precisa arreganhar os dentes em palanque. Não será Dilma porque não é de sua natureza. Então será Lula.
Ela própria já se encarrega de dar sinais de que não quer nem mesmo estimular fofoca nos bastidores. Favor não confundir marquetagem com escolhas políticas. Foi a Portugal para ser platéia na homenagem que a Universidade de Coimbra presta a Lula. Trata-se de uma soma de exotismos: uma presidente como coadjuvante na festa em que o Apedeuta vira doutor. Dilma foi para demonstrar subordinação.
E ele não se faz de rogado, não! Referindo-se à crise portuguesa, sugeriu ao governo daquele país que peça ajuda a Dilma e, como se ainda estivesse na cadeira presidencial, anunciou: “Tudo o que pudermos fazer para ajudar, vamos fazer. Portugal merece a compreensão do Brasil”.
Não adianta! É inútil supor que um dia ele aprenderá a ter limites. E também é uma besteira, Dilma tem razão, acreditar que haja entre os dois grandes contradições. Na semana passada, escrevi aqui: a presidente operou algumas correções de rumo que, no fim das contas, não são assim tão relevantes para o petismo.
Se querem saber se Dilma é mesmo um “outro” em relação a Lula, perguntem a Roger Agnelli, da Vale.
PS - FHC também tem o título que Lula recebe hoje. Imagino seu discurso íntimo: “Aquele lá precisou estudar tanto pra isso, e eu consegui a mesma coisa sem terminar de ler nem o romance do Chico Jabuti…”
Parolagem de Lula contra o FMI é pura bobagem
A parolagem de Lula em Portugal contra o sistema financeiro internacional e o FMI é o que é: bobagem. Não há dificuldade que aquele país enfrente que não derive de escolhas feitas por seu governo. Mas é certo que o Apedeuta não perderia essa oportunidade, não é mesmo?
Aliás, essa “luta contra o FMI” é uma das farsas mais bem-sucedidas do petismo. Exceção feita aos dois últimos anos de governo — quando Lula enfiou o pé na jaca dos gastos —, não há escolha que o Brasil tenha feito que o FMI não endossasse.
O Fundo só andou divergindo na reta final do governo Lula, quando apostou justamente a deterioração da situação fiscal, o que deixou Guido Mantega muito bravo. Veio a presidente Dilma e mandou capar R$ 50 bilhões do Orçamento, o que deve ter deixado o pessoal do Fundo bastante satisfeito!
2011 - Liberdade é escravidão, ignorância é força
O caso que relato abaixo, da entidade que foi obrigada a se retratar por ter criticado o MST, já reflete uma escala superior da censura à liberdade de expressão. Notem que a associação foi levada a falar sobre o movimento o contrário daquilo que pensa. Estamos num universo orwelliano mesmo, do “1984″, em que “liberdade é escravidão”, e “ignorância é força”.
Alguns indagariam: “Qual é o problema de obrigar alguém a dizer o que não pensa desde que sejam coisas boas?”
Pois é…
Tags: liberdade de expressão, MST
29/03/2011
às 19:23Ditadura maoísta imposta pelo Ministério Público em pleno Pernambuco de 2011!
Ocorreria a alguma democracia do mundo punir um indivíduo ou uma associação por exprimir um ponto de vista sobre uma luta de caráter político? Não! Isso é coisa de ditaduras. Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida:
Por Angela Lacerda, da Agência Estado:
“Reforma agrária - esperança para o campo, comida na sua mesa”. A afirmação, tendo como fundo fotos de trabalhadores cultivando a terra, ilustra 20 outdoors que foram afixados hoje em avenidas de Recife e região metropolitana e rodovias estaduais, como forma de retratação da Associação dos Militares do Estado de Pernambuco (AME) e da empresa Stampa que, em 2006, foram responsáveis pela veiculação de outro tipo de outdoor. Eles diziam: “Sem-terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como tudo isso vai parar?”.
A atitude, considerada preconceituosa, difamatória e de criminalização dos trabalhadores sem- terra, provocou a reação de entidades de defesa dos direitos humanos que recorreram ao Ministério Público do Estado de Pernambuco (MPPE) visando a impedir a continuação da campanha e a buscar uma punição.
O MPPE fez a mediação e o resultado foi um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual ficou acordado a veiculação dos outdoors favoráveis à reforma agrária e de reconhecimento à luta dos trabalhadores por acesso à terra. Além dos outdoors, que permanecerão expostos por duas semanas, a AME também irá publicar em seu site e em um jornal corporativo uma nota de desagravo redigida pelas entidades de direitos humanos.
“É uma reparação importante para a cidadania dos trabalhadores que lutam por justiça e ajudam a colocar alimento na nossa mesa”, comemorou Manoel Morais, da coordenação executiva do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) - uma das entidades signatárias do desagravo, ao destacar o “ineditismo” da decisão do MPPE, que considerou “histórica”.
Comento
É claro que se trata de uma violência, sim! Contra a associação! Um movimento que fez o quem na Cutrale ou na Aracruz é ou não “sem lei, sem respeito e sem qualquer limite”? Uma associação está proibida de emitir seu ponto de vista sobre uma agenda política, claramente ideológica, como é a do MST? A única postura possível, nesse caso, é concordar com o sr. João Pedro Stedile?
É o fim da picada! Quanto ao cartaz de agora, se tivemos os fatos como referência, será preciso dizer: o que leva comida ao prato dos brasileiros é o agronegócio. Aliás, leva comida até ao MST, que recebe cestas básicas do governo: verdade ou mentira?
Eis aí: o ministro Ayres Britto talvez dissesse que estamos diante de um caso em que o “direito individual não pode esvaziar o direito coletivo”. Nesse caso, o suposto direito coletivo esvazia o individual, não? Digo que é “suposto” porque o MST é um grupamento de caráter político. Eles representam uma leitura da questão agrária no país, não “a” questão agrária.
O que se viu acima é coisa típica dos tempos da revolução cultural maoísta, quando os “inimigos do povo” eram obrigados a se ajoelhar em praça pública, portando cartazes em que confessavam seus crimes ideológicos.
É o fim da picada! Creio que a tal associação não decidiu levar a coisa adiante! Duvido que uma aberração como essa passasse pela maioria do Supremo - ainda que o tribunal já tenha sido tocado pelo populismo.
Se fosse eleito deputado, o assassino confesso continuaria a serviço da nação