Clima limita produção de rosas no Rio Grande do Sul
“A maioria dos zoneamentos agroclimáticos existentes no Brasil se refere aos grandes cultivos agrícolas, como a soja, o milho e a cana-de-açúcar”, diz Wollmann. “Há poucos estudos sobre produtos agrícolas cultivados em áreas mais restritas por agricultores familiares e que apresentem grande fragilidade às condições climáticas, como a roseira, que ao mesmo tempo tem grande importância comercial”. O Rio Grande do Sul é apenas o quarto Estado produtor de rosas no Brasil, mas registra o maior consumo (estimado em R$ 25,00 por ano por habitante, contra R$ 5,00 na média nacional). A produção do Estado atende aproximadamente 30% da demanda.
O Estado foi dividido em oito regiões, nas quais foram analisados 11 elementos do clima e sua influência no cultivo: precipitação pluviométrica, umidade relativa, temperatura média do ar, temperatura máxima média, temperatura máxima absoluta, temperatura mínima média, temperatura mínima média, temperatura mínima absoluta, horas de frio — com temperaturas abaixo de 10 graus centigrados (°C) —, radiação solar e insolação. Apesar de a temperatura média não ser elevada (em torno de 20°C), os extremos máximos e mínimos são muito grandes, variando entre 35°C e 40°C no verão, muito úmido, até próximo de 0°C no inverno, com ocorrência de geadas e precipitação de neve.
“As temperaturas extremas são uma condição de inaptidão para a produção de roseiras, pois em um mesmo dia registra-se grande amplitude térmica que pode ser superior a 20°C”, aponta o pesquisador. A umidade relativa do ar elevada durante o ano todo também é prejudicial, por atrair fungos e pragas que podem atacar as rosas. “Essas plantas precisam ser cultivadas ao sol, não se desenvolvendo bem à sombra ou em locais com baixa condição de luminosidade”, diz o geógrafo. “O Rio Grande do Sul apresenta condições menos favoráveis do ponto de vista da radiação solar, que não são ideais para o plantio”.
Produtividade
De acordo com Wollmann, as regiões mais propícias ao cultivo de rosas no Rio Grande do Sul são aquelas que já apresentam a maior produtividade: o Vale do Rio Caí (municípios de São Sebastião do Caí, Capela de Santana, Pareci Novo, Harmonia, Feliz, Montenegro, Salvador do Sul, Vale Real, Portão, Barão e Bom Princípio), a Serra Gaúcha (Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Antônio Prado, Ipê, Campestre da Serra, São Marcos, Veranópolis, Garibaldi, Guaporé e Nova Prata), a “Região das Hortênsias” (Ivoti, Nova Petrópolis, Dois Irmãos, Gramado, Canela, São Francisco de Paula, Taquara, Rolante, Três Coroas e Igrejinha), e a Região do Planalto (Erechim, Chapada, Aratiba, Passo Fundo, Sarandi, Sertão, Selbach, Sananduva, Lagoa Vermelha, Marques de Souza, Ilópolis, Fortaleza dos Valos, Erval Grande, Marau, Marcelino Ramos, Ronda Alta e São Valentim). “É preciso lembrar que não há dados concretos sobre a produção de flores no Brasil. Os números são todos baseados em estimativas”, observa.
São Paulo, Minas Gerais e Ceará são os Estados que apresentam a maior produção de rosas. O Rio Grande do Sul vem logo em seguida, à frente do Rio de Janeiro. O geógrafo aponta que a melhor maneira de adequar a produção ao consumo seria a utilização de estufas. Atualmente 85% dos cultivos de roseiras no Estado são feitos ao ar livre. “Nessa condição, o produtor está a mercê do que o clima determina”, observa. “Em um ambiente protegido, é possível controlar as condições climáticas para o cultivo”.
A maior parte das roseiras são cultivadas por agricultores familiares, que não possuem acesso ao crédito agrícola. “Uma estufa com um hectare de área custa cerca de R$ 40 mil, um preço elevado para esse tipo de produtor, embora haja a possibilidade de financiamento por meio do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf)”, afirma Wollmann. “Um alternativa mais viável seria a reunião de vários agricultores em cooperativas para implantar as estufas”.
A pesquisa faz parte da tese de Doutorado de Cássio Arthur Wollmann apresentada em 29 de junho, no Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da FFLCH. O trabalho foi orientado pelo professor Emerson Galvani. Cássio é geógrafo formado pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.