Mercado de café: Queda de consumo e estoques elevados??

Publicado em 01/04/2012 18:47 e atualizado em 06/06/2013 17:33
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

O primeiro trimestre de 2012 fechou com altos ganhos para os principais índices de ações no mundo, com destaque para o desempenho positivo do Nasdaq de 18.67%, seguido pela alta de 17.78% da bolsa alemã (DAX), do S&P500 + 12%, e pela Bovespa que ganhou 13.67%.


Dentre os índices de commodities apenas o GSCI teve ganhos expressivos, enquanto o DJAIG e o CRB estão virtualmente no mesmo patamar que encerram 2011. Por outro lado se dermos um “zoom” nos componentes das cestas, notaremos que a gasolina subiu 19.35%, a soja 17.69% e a prata 16.33%. Os grandes perdedores foram o gás natural com baixa de 39.78%, o café em NY que caiu 19.79% e o níquel que escorregou 4.73%.

A queda do gás se justifica pelo inverno ameno nos Estados Unidos e pela oferta abundante do produto em função da extração via “fracking”, e o café, tem algum fundamento por trás?

Como fui um participante convidado para fazer palestra e moderar um painel na última semana no encontro da NCA (National Coffee Association) aqui nos Estados Unidos, muito me surpreendeu a opinião de alguns analistas que vieram conversar comigo e que estão bastante baixistas para nosso mercado. No painel que moderei, um membro apontou para a queda da demanda nos Estados Unidos, Europa e Japão. Em papos pelos corredores e em reuniões, muitos apontaram para um estoque grande como o motivo das baixas do terminal. Outros finalmente vêem um prognóstico de aumento forte na produção mundial.

Claro que não são unânimes estas opiniões, mas acho excelente o debate de idéias tão diferentes, pois isto nos força a fazermos exercícios que nos deixem mais seguros em nossos pensamentos, ou simplesmente nos façam mudar de lado/opinião.

Então vamos lá: no que se refere a diminuição de consumo, informação para lá de difícil de ser coletada, as importações das regiões mencionadas não indicam que isto tenha ocorrido – com exceção do Japão que em função do triste tsunami e dos vazamentos radioativos em Fukushima provocaram uma grande queda da atividade econômica do país. 

Olhando para os estoques mundiais, outro dado impreciso, o aumento que pudemos visualizar foi dos cafés certificados da LIFFE, que por sinal estão desaparecendo ainda mais rapidamente do que aumentaram. Os outros estoques, assunto para debate infindável e não-conciliatório, sofreram queda (foram utilizados) em função da alta dos preços, principalmente nos destinos. Nas origens, leia-se Brasil, aparentemente os estoques eram/são um pouco maiores do que se imaginava, mas dizer que há uma folga é exagero.

O último ponto dos baixistas, que mencionam aumento de produção, notou-se apenas em dois ou três países, enquanto nos demais ou estão estáveis ou caíram ainda mais – como no caso da Colômbia. Dirão que é efeito do ciclo da commodity, o que pode ser verdade, mas se a área plantada não incrementou significativamente de onde virá tanto café? Ganho de produtividade pode ser a resposta, esta sim de resposta mais rápida dada uma maior utilização de insumos/adubos, permitida pelo preço da saca que estava negociando a níveis vantajosos para os produtores – entretanto o efeito já está aí na colheita de safras maiores recentes, não é?!

Há um fator que surpreendeu negativamente a todos, inclusive a mim, que foi uma migração do consumo (ainda maior) para cafés de qualidades menos-nobres. O motivo é um melhor aproveitamento de cafés especiais em “pods” e cápsulas (que diminuem o desperdício) e também é fruto de uma aceleração do consumo em países que tomam o solúvel ou que não ainda não tenham um paladar “sofisticado”. Uma última explicação, complementar, é a maior participação de produtos com “private-label” que talvez tenham um menor comprometimento com as misturas.

Outro ponto que podemos culpar pelas baixas recentes é a consequência do comportamento do mercado futuro nos últimos 2 anos, que foi de altas constantes e que se sustentaram como nunca antes ocorrido no café. Isto fez com que os produtores tenham acertado em segurar seus cafés e venderem mais tarde, pois cada mês que passava maiores eram os preços. Quando então a queda aconteceu muitos mantiveram a calma, entretanto outros tantos acharam mais prudente se desfazer logo de suas “poupanças em grãos” antes que fosse tarde demais, o que fez com os diferenciais caíssem junto com a queda da bolsa – algo um tanto atípico.

Em suma, não creio que os baixistas estão certos em enunciar queda de consumo, estoques altos e perspectiva alta de produção como pano de fundo para apostar na continuação da queda do “C”. Acredito que os fundos vendidos em volume recorde, segundo o relatório CIT do CFTC, é um sinal de que estamos mais próximos do piso do que do teto.

Mas ao mesmo tempo teremos que ter paciência para ver os preços próximos de US$ 220 centavos por libra-peso, o que acho que só volta a acontecer no último trimestre deste ano.

Aproveito o espaço para me desculpar por não ter postado meu comentário na semana passada por motivos de viagem e agenda profissional cheia. É bom saber que muitos sentiram falta do relatório.

Tenham uma excelente semana e muito bons negócios,

 

Rodrigo Costa* 
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Fonte:
Archer Consulting

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