Desabafo de um industrial de fertilizantes: ...basta analisar os últimos balanços das empresas do setor e constatar o quanto é
Publicado em 10/09/2012 17:29
e atualizado em 04/03/2020 16:06
Por Aquiles Pio Franceschtte, diretor da Ourofertil
Prezado Sr. João Batista, cordiais saudações.
Fiquei preocupado com o comentário realizado pelo Senhor e pelo analista da
Scott Assessoria, com relação ao aumento do preço dos fertilizantes, afirmando
que o nitrogênio (N) subiu 4,8%, o fósforo (P) 4% e o potássio (K) 9%.
Sou produtor rural na região de Lagoa Vermelha e proprietário da Ourofertil
Fertilizantes Ltda, empresa que importa, industrializa e comercializa fertilizantes
na Região Sul e Nordeste do Brasil.
Há cerca de dois anos o preço das matérias primas vem subindo no mercado
internacional, sendo que o Sul do Brasil importa de 90 a 100% do que consome.
No primeiro semestre deste ano, as empresas subsidiaram o preço para os
agricultores, pois havia estoque com menor custo e a taxa do dólar estava mais
baixa. Agora, no segundo semestre, as empresas estão apenas tentando repassar o
o aumento, mas não estão conseguindo, razão dos enormes prejuízos que estão
tendo.
Inclusive, em virtude da situação do mercado, a expectativa é que ocorra a falta de
fertilizantes, devido a importação ser menor que a demanda. As empresas só
conseguem sobreviver tendo algum lucro mínimo.
Criticam as empresas do setor de fertilizantes e o preço dos insumos, mas mesmo
tempo comemoram o aumento da produtividade e a valorização das commodities.
Da forma que são feitos estes comentários, as empresas de fertilizantes ficam
expostas de maneira negativa perante o produtor, como se estivessem ganhando
fortuna em cima da venda, o que não é verdade;
Com relação ao lucro das empresas de fertilizantes no Brasil, basta analisar os
últimos balanços das empresas do setor e constatar o quanto é enorme o prejuízo
financeiro, que se repete a cada ano, acumulado em milhões de reais.
A tradicional publicação do FMB, revista internacional que serve de referência de
preço para a venda de matérias primas no mundo todo, comprova o aumento de
preço ocorrido, bem como as faturas comerciais em anexo.
No Rio Grande do Sul, tradicionais empresas do ramo de fertilizantes, em sua
maioria, quebraram ou foram vendidas. Após o ano de 2008, as multinacionais
dominam o setor, detendo em torno de 80% do mercado, e pouco se importam
com o produtor, o qual com certeza logo mais vai pagar a conta.
As matérias primas utilizadas na formulação dos fertilizantes são importadas e o
preço de custo esta atrelado diretamente a taxa do dólar, assim como as
commodities.
Em 15/08/11 o dólar estava cotado a R$ 1,5956, e um anos após, em 15/08/12 em
R$ 2,0234, ou seja, aumentou 27%, refletindo diretamente no preço dos
fertilizantes. O preço das matérias primas de um modo geral, também subiu muito
no mercado internacional.
O cloreto de potássio, uma das principais matérias primas usada na fabricação do
adubo, custava US$ 451,00 a tonelada em fevereiro de 2011, e US$ 520,00 em
agosto de 2012.
Além do aumento do dólar e do preço das matérias primas, ocorreu ainda este ano
o acréscimo das despesas de importação, como a estadia (demurrage) dos navios,
(atraso no tempo de atracação/descarga), a qual importa em US$ 20,00 a US$
30,00 por tonelada, e é cobrado pelos armadores, donos dos navios.
Só para ilustrar, no porto de Paranaguá os importadores de fertilizantes irão pagar
este ano cerca de US$ 140.000.000,00 (centro e quarenta milhões de dólares) de
demurrage, pelo atraso na descarga dos navios.
Para se construir um porto marítimo se gasta em torno de US$ 120.000.000,00
(centro e vinte milhões de dólares), mas os governantes e seus órgãos
fiscalizadores como o IBAMA, preferem não licenciar os investimentos.
Em seu comentário, afirmou que deveríamos ter produção nacional de matérias
primas.
Se convidarmos o diretor comercial da Petrobrás Fertilizantes para dar
uma entrevista e pedirmos para o mesmo abrir a planilha de custo, ele vai dizer
que não tem, pois o preço da Petrobrás é formado com base no preço
internacional, mais despesas de nacionalização. Ainda, comprando uréia da
Petrobrás e da Vale Fertilizantes por ser venda interestadual incidirá o ICMS de
8,4%, custo este repassado no preço de venda.
A Vale Fertilizantes utiliza a mesma política da Petrobrás, sendo inviável comprar
destas empresas, pois o preço de custo é baseado no mercado internacional, o que
resulta em desvantagem para o comprador.
A burocracia e o aumento das despesas, principalmente relacionado a folha de
pagamento, energia e transporte (novas normas do frete) oneram muito mais as
empresas do que o percentual de 4,8% de aumento, dito em seu comentário.
Quando menos se espera, os órgãos responsáveis pela fiscalização e liberação das
importações, como a Receita Federal, Anvisa, Ministério da Agricultura, etc, entram
em greve, atrasando ainda mais a liberação das mercadorias, restando o ônus para
os importadores, que tentam repassar os custos para o comprador, nem sempre
sendo possível.
Temos ainda que contar com a ajuda de São Pedro, para que não ocorra a
tradicional seca, a exemplo que vem se repetindo nos últimos anos, a qual por falta
de um programa sério de irrigação, faz com que o Estado perca bilhões de reais em
divisas, e todos pagamos a conta.
Realmente, fazer parte do setor que produz comida neste país é um ato de
heroísmo. Pouco se pode contar com o Governo, quer a nível Estadual ou Federal.
Somente a partir do momento que faltar comida na mesa do trabalhador, quem
sabe o produtor e o setor agropecuário sejam mais valorizados
É necessário pensar muito bem antes de opinar contra ou a favor de determinado
setor da economia, tendo amplo conhecimento da realidade, pois do contrário, a
sociedade é enganada pela falta da verdade.
Muito obrigado pela atenção.
Aquiles Pio Franceschtte
(54) 9976.2344.
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Fonte:
NA
1 comentário

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Tiago Oliveira da Rosa Caseiros - RS
Meus parabénz Sr.Aquiles, esta é a realidade do setor produtivo no Brasil,muito diferente do setor politico,"que tem que levar algum em qualquer situação"