Na Folha: Banco BNP Paribas estima que, com a saída de divisas, cotação do dólar pode subir para R$ 2,30 em 2014

Publicado em 07/05/2013 05:09 e atualizado em 07/05/2013 15:30
Mercado prevê piora das contas externas e pressão maior no câmbio. Bancos calculam deficit de até US$ 90 bilhões neste ano, ante projeção do BC de US$ 67 bilhões.

A queda acelerada do saldo comercial, mais intensa que o esperado, levou especialistas a elevarem suas projeções para o deficit do país em suas transações com o resto do mundo.

Como mais deficit significa menos moeda forte à disposição, já se fala também em elevação da cotação do dólar --o que pode pressionar a inflação e comprometer a incipiente recuperação do crescimento econômico.

Na ponta mais pessimista do mercado, o banco BNP Paribas divulgou relatório no qual estima perda de US$ 90 bilhões neste ano e de US$ 100 bilhões no próximo nas relações de comércio e serviços do Brasil com o exterior.

Decorrente de despesas com importações, viagens internacionais, gastos com cartão de crédito internacional, pagamento de juros e remessas de lucros, essa saída de divisas elevaria o dólar para R$ 2,30 até 2014, estima-se.

"Olhar para as contas externas do Brasil nos dá uma sensação de angústia", diz o documento do BNP Paribas.

Ainda que a maioria dos analistas seja menos pessimista, a projeção do Banco Central de um deficit de US$ 67 bilhões tem cada vez menos credibilidade.

O Bradesco elevou sua projeção de US$ 66 bilhões para US$ 73,5 bilhões; o Safra, de US$ 72 bilhões para US$ 77 bilhões; a consultoria Rosenberg & Associados, de US$ 65 bilhões para US$ 70 bilhões.

Pelas explicações de economistas como Felipe Salto, da Tendências Consultoria, Andréa Damico, do Bradesco, e Carlos Kawall, do Safra, o Brasil vive uma queda de suas exportações não reversível a curto prazo.

Tradicionalmente são as vendas de mercadorias para o exterior que seguram as contas externas do país, deficitárias nas demais modalidades. O saldo comercial, no entanto, está desabando.

"As quantidades exportadas vêm se reduzindo e a recuperação dos preços para os principais produtos da pauta [de exportação] não veio", diz Salto. Os motivos, diz Kawall, são as barreiras da Argentina a produtos brasileiros e a freada da economia global.

A expansão do deficit torna o país mais dependente de capital externo, ou seja, de empréstimos, aplicações financeiras ou investimentos de empresas multinacionais.

Como o BC tem cerca de US$ 400 bilhões em reservas, não há risco visível de insolvência, mas o dólar fica mais escasso. Salto diz que um câmbio de US$ 2,40 comprometeria o crescimento do país.


Brasil "perde" US$ 6 bi em exportações

Valor corresponde ao que o país deixou de vender para China, EUA, União Europeia e Argentina no 1º bimestre

Esses quatro mercados são destino de mais de metade dos produtos brasileiros enviados para o exterior

RENATA AGOSTINI

DE BRASÍLIA

O Brasil vem perdendo espaço em todos os seus principais mercados no exterior e a fatura dessa presença cada vez mais tímida tem sido alta para as contas do país: só neste ano, já deixou de ganhar pelo menos US$ 6 bilhões com exportações.

O valor corresponde ao que o país teria vendido para China, Estados Unidos, União Europeia e Argentina nos dois primeiros meses deste ano caso tivesse mantido a mesma participação nas importações totais desses blocos em 2012.

Os quatro mercados são destino de mais de metade dos produtos brasileiros que seguem para o exterior.

O cálculo feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) a pedido da Folha considera dados bimestrais diante da ausência de informações de todos os países estudados para o quadrimestre.

O montante apurado representaria um forte alívio à balança comercial (diferença entre importações e exportações), que até abril registra um resultado negativo histórico de US$ 6,2 bilhões.

A derrapada no desempenho se repete em todos os mercados. Na China, principal parceiro comercial do país, a fatia brasileira caiu de 2,4% no primeiro bimestre de 2012 para 1,9% do total neste ano, com redução das compras de petróleo, soja e ferros-ligas, entre outros. No total, o Brasil deixou de faturar US$ 3 bilhões.

A participação do país nas compras feitas pelos EUA encolheu de 1,6% para 1,2% do total, custando US$ 1,6 bilhão em exportações. Houve retração, por exemplo, nas vendas de motores, petróleo e café.

A União Europeia reduziu suas compras externas no período, mas o corte no consumo de produtos brasileiros foi mais intenso. Com isso, a fatia do país caiu de 1,93% para 1,71%, quase US$ 1 bilhão de vendas perdidas.

Já na Argentina, o espaço de produtos brasileiros regrediu de 27,1% das importações totais para 25,4%. No mesmo período, os chineses ampliaram sua fatia de 14,9% para 16,6%. A retração representou menos US$ 200 milhões em exportações para o Brasil.

Entre as razões para a derrocada brasileira no exterior, estão a baixa produção da Petrobras, o atraso de embarques devido a problemas logísticos e a baixa competitividade dos manufaturados.

Fabrizio Panzini, especialista da CNI, afirma que a pauta de exportações brasileira é pouco diversificada e muito dependente dos produtos básicos, cujas vendas, em queda, não têm conseguido compensar o fraco desempenho dos manufaturados. "Neste ano, temos os dois caindo. É o pior cenário possível."


Maioria dos serviços sobe mais que inflação

Levantamento mostra que 62% dos itens tiveram reajustes acima da média; 91% ficaram mais caros em 12 meses

Sem concorrência de importados e com renda em alta, profissionais do setor repassam aumentos de custo

PEDRO SOARES

DO RIO

Não apenas a alimentação é a vilã da inflação. Os serviços seguem pressionados e com reajustes mais disseminados, atingindo nove a cada dez itens pesquisados.

Levantamento da Folha com base em dados do IPCA-15 (prévia do índice oficial do país, o IPCA), do IBGE, mostra que 91% dos serviços ficaram mais caros no acumulado em 12 meses até abril. Dos 45 analisados, 62% aumentaram acima da inflação no período (6,51%).

Sem a concorrência de importados --que seguram reajustes de produtos, inclusive de alguns alimentos-- e beneficiadas pelo mercado de trabalho aquecido, as empresas do setor tiveram espaço para reajustes.

Segundo Reginaldo Nogueira, professor de economia do Ibmec, a renda se mantém em alta e o país vive uma situação de quase pleno emprego, o que permite aos prestadores de serviços recomporem as suas margens de lucro e repassarem aumentos de custo, especialmente da mão de obra que ficou mais cara.

"O custo do trabalho continua a crescer e a pressionar a inflação principalmente no caso dos serviços, que sobem com o próprio aumento das mercadorias e das tarifas, mas cujo principal impacto é o reajuste da mão de obra."


SALÁRIOS

Segundo dados do Dieese, 86% dos aumentos salariais de 93 categorias subiram acima da inflação neste ano.

Não por acaso, o fisioterapeuta teve a maior alta entre os serviços (14,52%). Com aumentos acima de 10%, também surgem empregado doméstico (11,32%), médico (10,81%) e psicólogo (10,51%).

O empregado doméstico, porém, havia subido mais nos 12 meses até abril de 2012: 13,46%. O motivo é que o salário mínimo teve uma alta mais branda neste ano, de 9%, ante 14% em 2012.

Os aumentos dos serviços, que avançam além da inflação, já afetam o consumo e levam à substituição por opções mais baratas.

Vendedora autônoma de roupas e cosméticos, Valesca Amancio sentiu os seus clientes mais retraídos neste ano e viu o seu rendimento cair.

Resultado: cortou despesas. "Passei a sair menos à noite. Também tenho ido menos vezes ao cabeleireiro e à manicure e procurei um salão mais em conta."


ALÍVIO

Segundo Elson Teles, economista do Itaú, os serviços, de um modo geral, sobem no mesmo ritmo do início de 2012, mas "a queda da passagem aérea trouxe um alívio para a inflação neste ano".

Segundo o IBGE, as passagens aéreas caíram de preço graças a promoções --sinal de queda da procura.

Em 12 meses até abril, o item acumula retração de 13,21%. No mesmo período de 2012, elas lideravam as altas de serviços, com 45% de reajuste. Hotéis e excursões também subiram menos.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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