Leilão de áreas de petróleo arrecada recorde de R$ 2,8 bi

Publicado em 15/05/2013 06:50 e atualizado em 15/05/2013 10:47
Petrobras se associou com estrangeiras e teve participação tímida; OGX e Petra fizeram lances agressivos. Há cinco anos sem chances de comprar novas regiões para explorar óleo e gás, setor pagou ágio de 797%.

Há cinco anos sem oportunidade de comprar novas áreas para exploração de petróleo e gás, o setor mostrou ontem, na 11ª rodada de licitações da ANP, que estava com apetite.

A agência arrecadou R$ 2,8 bilhões, recorde entre os leilões já realizados, com a venda de 142 dos 289 blocos ofertados. O ágio obtido sobre o preço mínimo estabelecido para a concessão das áreas foi de 797%.

Os leilões da ANP oferecem às empresas petrolíferas a possibilidade de adquirir o direito de procurar e explorar a produção de petróleo e gás em determinada área -os chamados blocos.

Desta vez, diferentemente do que aconteceu nos leilões anteriores, a Petrobras foi às compras de forma tímida.

Confirmando a expectativa de analistas, a estatal se associou com empresas estrangeiras para a compra de blocos, quase sempre como minoritária. Adquiriu participações em 27 dos blocos ofertados e comprou, sozinha, outras sete áreas. No total, os blocos comprados pela Petrobras (em parceria ou sozinha) custaram R$ 1,5 bilhões.

Já duas empresas brasileiras de menor porte, a OGX, do empresário Eike Batista, e a Petra, mostraram agressividade nos lances.

Mesmo atravessando uma má fase, com prejuízos acumulados, a OGX gastou R$ 374,5 milhões no leilão. "Estamos muito felizes com o resultado", disse o presidente da OGX, Luiz Carneiro.

Já a Petra, em parceria com a estreante canadense Niko Resources e com a Queiroz Galvão, levou oito dos dez blocos da bacia Pernambuco-Paraíba, por R$ 3,4 milhões, mais investimentos previstos de R$ 48,2 milhões.

ESTRANGEIRAS

O leilão trouxe de volta ao país a gigante americana Exxon e consolidou a presença das britânicas BG (principal sócia da Petrobras no pré-sal) e BP, duas gigantes do setor.

A americana Chevron, envolvida em um acidente em 2011 e até hoje negociando a sua volta à operação no campo de Frade, também surpreendeu ao comprar um bloco na bacia do Ceará, com a colombiana Ecopetrol.

Apesar do sucesso de arrecadação, apenas metade dos blocos foi vendida. O fato foi considerado "normal" pela diretora-geral da ANP, Magda Chambriard. "Os números mostram um sucesso assombroso, grandioso", disse, ressaltando o grande interesse em blocos terrestres.

Os blocos não vendidos serão reavaliados e poderão voltar em futuros leilões, como é praxe nas licitações.

"É normal não vender tudo. No futuro, com novas tecnologias e mais informações sobre as bacias, essas áreas podem se tornar interessantes", disse João Carlos De Luca, presidente do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo).

Chambriard comemorou o lance de R$ 345,9 milhões feito pelo consórcio liderado pela francesa Total (40%) junto com a Petrobras (30%) e BP (30%) por um bloco na bacia da Foz do Amazonas -que, ao todo, arrecadou R$ 803 milhões, se tornando a mais atrativa das bacias.

O lance bateu o recorde anterior, da 9ª rodada, em 2007, feito por Eike por um bloco na bacia de Santos que até hoje não entrou em produção.

O interesse pela Foz do Amazonas cresceu nos últimos anos após descobertas feitas na Guiana Francesa, país próximo aos blocos que foram colocados à venda.

Vermelho histórico

                                                     Resultado ruim

Até março, a balança comercial do petróleo e derivados, bateu o recorde negativo: um déficit de 3,9 bilhões de dólares.

Neste ritmo, o Brasil chegará em dezembro amargando um vermelho de 15 bilhões de dólares na conta-petróleo.

Nos últimos quinze anos, o pior resultado ocorreu em 2000: 5,5 bilhões de dólares.

Por Lauro Jardim (Veja.com.br)

Energia americana muda o jogo

O Estado de S.Paulo

Uma revolução energética iniciada nos Estados Unidos pôs em alerta grandes produtores e exportadores de petróleo e gás, já afeta decisões de investimento de amplos setores industriais, desvia recursos do mercado brasileiro para o americano e impõe um duro desafio aos formuladores da política brasileira de energia. Uma tecnologia econômica de exploração do gás de xisto derrubou o preço do gás nos Estados Unidos de US$ 8,9 por milhão de BTU em 2008 para US$ 2,7 em 2012 (o BTU, British Termal Unit, corresponde a 252,2 calorias e é medida usada internacionalmente).

O novo preço corresponde a um quinto do encontrado no Brasil, onde indústrias muito dependentes do gás - dos setores de cerâmica, vidro e petroquímica, por exemplo - perdem competitividade, paralisam planos de expansão ou reorientam investimentos para fora do País, além de aumentar as importações.

Autoridades brasileiras finalmente reagiram às novas condições de preços e às perspectivas de grandes mudanças no mercado. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) decidiu incluir a exploração do xisto no próximo leilão de blocos de gás, previsto para os dias 30 e 31 de outubro. A licitação deverá incluir as Bacias do Parecis (MT), do Parnaíba (entre Maranhão e Piauí), do Recôncavo (BA), do Paraná (entre PR e MS) e do São Francisco (entre MG e BA). A ideia é usar a técnica de fraturamento das rochas de xisto usada nos Estados Unidos.

Com a exploração do gás de xisto, os Estados Unidos poderão tornar-se independentes - ou muito menos dependentes - do petróleo importado, segundo previsões correntes entre especialistas. De qualquer forma, há perspectivas de grandes mudanças no mercado de hidrocarbonetos e isso já incomoda os grandes produtores e exportadores, como a Rússia. Em janeiro, na reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, representantes do governo russo foram forçados a discutir publicamente os efeitos dessa mudança na economia de seu país.

No Brasil, o assunto foi virtualmente ignorado nas discussões públicas até recentemente. A decisão da Agência Nacional do Petróleo de leiloar a exploração de gás de xisto só foi noticiada em meados de abril. As reservas brasileiras, estimadas em 6,4 trilhões de metros cúbicos, estão em décimo lugar na classificação internacional. A China detém as maiores reservas (36,1 trilhões de metros cúbicos), seguida pelos Estados Unidos (24,4 trilhões) e pela Argentina (21,9 trilhões).

Com essa novidade, as empresas do setor de petróleo e gás deverão dar importância, novamente, às atividades em terra, deixadas em segundo plano desde as primeiras descobertas de hidrocarbonetos no mar, nos anos 70. A concentração de recursos na exploração de reservas marítimas ainda se intensificou a partir da descoberta do pré-sal. Desde o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ação da Petrobrás foi orientada como se a exploração do pré-sal pudesse mudar amplamente as condições do mercado internacional em poucos anos, convertendo o Brasil em uma das principais potências petrolíferas.

A exploração de reservas em águas muito profundas é, sem dúvida, promissora, mas nenhum planejador deveria menosprezar as dificuldades e incertezas tecnológicas, os custos enormes, a insegurança quanto aos prazos e, naturalmente, o desenvolvimento de novas técnicas e de outras fontes de energia.

O governo brasileiro assumiu um risco muito grande ao concentrar suas fichas nas possibilidades do pré-sal, deixando em plano inferior até os objetivos imediatos de produção, essenciais para o atendimento do mercado e até para a geração de caixa da Petrobrás, reconvertida em grande importadora de combustíveis.

A nova exploração do gás de xisto nos Estados Unidos é um claro exemplo dos riscos ignorados ou desprezados na política energética brasileira. E é também - é sempre útil lembrar - um exemplo instrutivo das vantagens da flexibilidade econômica americana. Enquanto os outros choravam as dores da crise econômica, os americanos viravam o jogo no mercado de recursos energéticos.

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Fonte:
FSP + Estadao

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