Silagem de cana é opção de volumoso para bovinos no inverno

Publicado em 10/08/2013 09:36 e atualizado em 10/03/2020 12:55

Produtores de gado de corte podem utilizar, durante o inverno, a silagem de cana-de-açúcar de alta digestibilidade como alternativa de volumoso na alimentação de bovinos. Pesquisa do médico veterinário Dannylo Oliveira de Sousa mostrou que a silagem mantêm a digestibilidade da fibra da variedade IAC86-2480.

Animais confinados em Pirassununga receberam quatro tipos de dieta

Outra constatação é que os animais que receberam uma dieta composta por 40% de volumoso de silagem de cana-de-açúcar de alta digestibilidade de fibra e 60% de concentrado apresentaram uma maior taxa de passagem do alimento do rúmen para o intestino. “Com menos alimento no rúmen, o boi come mais. Isso é indicativo de um maior desempenho animal: quanto mais come, mais ele engorda”, explica Sousa.

A safra da cana ocorre no inverno, quando os pastos estão secos e, por isso, ela se torna atrativa ao produtor. “Mas um dos problemas relacionados com a oferta da cana comum para os bovinos é a baixa digestibilidade: como tem muita fibra de baixa qualidade, a cana permanece mais tempo no rúmen e o animal come menos”, esclarece.

O estudo foi realizado no Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, em Pirassununga. Um outro estudo realizado no mesmo departamento pelo médico veterinário Bruno de Souza Mesquita analisou a variedade IAC86-2480, que é de alta digestibilidade da fibra, e comprovou que a oferta da cana fresca desta variedade para o gado não interfere no desempenho dos animais.

Oferecer a cana fresca para o gado pode se tornar um problema operacional, devido a necessidade diária de corte: apenas um único animal pode consumir de 15 a 20 quilos (kg) de volumoso por dia na fase de terminação (quando o boi está pesando mais que 380 kg). Ao chegar neste peso, o animal vai para confinamento com o objetivo de atingir, mais rapidamente, o peso mínimo exigido pelos frigoríficos para o abate: 450 kg.

 

Processo de ensilagem da cana: Uma tonelada de silagem de milho custa, em média, R$100,00, contra R$60,00 da cana

 

Por isso, Sousa decidiu estudar se a oferta de silagem da cana poderia ser uma alternativa economicamente viável para o produtor e nutricionalmente adequada para os animais. A ensilagem consiste em picar a cana fresca e depois submetê-la a uma prensagem com o uso de um trator. Depois, o material permanece vedado por cerca de um mês, quando então poderá ser aberto e utilizado. Com este processo, a silagem pode ser armazenada por um período superior a um ano. “Uma tonelada de silagem de milho custa, em média, R$ 100,00. Já a da cana custa R$ 60,00, aproximadamente”, compara o pesquisador. Outra vantagem é que, uma vez plantada, a cana pode ser colhida por até cinco anos, sem a necessidade de ser replantada.

Quatro tratamentos
Na pesquisa, Sousa analisou oito animais canulados no rúmen, com o objetivo de possibilitar a coleta e análise dos alimentos que ali estivessem. Foram oferecidos quatro tipos de volumoso: cana fresca de alta e de baixa digestibilidade, e silagem de cana de alta e de baixa digestibilidade.

De acordo com o veterinário, há duas formas de limitar o consumo de alimentos nos bovinos. A primeira é pelo enchimento físico do rúmen, quando o boi come muita fibra. A outra, é quando ele ingere alimentos com alto teor energético e ocorre um pico de ácidos no rúmen que ativam um mecanismo de regulação interna que sinaliza para o animal a saciedade.

No caso da cana fresca, que apresenta teor de 60% de açúcar, não houve diferença de consumo entre as variedades de alta e baixa digestibilidade de fibra. “Devido ao alto teor de açúcar, o animal parou de comer devido à saciedade metabólica”, conta o pesquisador. Entretanto, na silagem, que apresenta 45% de açúcar, a saciedade ocorreu devido ao enchimento do rúmen e os animais comeram uma quantidade maior de alimentos. No caso da silagem de cana de alta digestibilidade de fibra, o consumo foi ainda maior. “O consumo alimentar é um bom indicador do ganho de peso do animal”, lembra o pesquisador.

A taxa de passagem da silagem da cana de alta digestibilidade de fibra foi de 4% por hora, contra 3% das outras três modalidades de dieta, uma diferença de 25% entre elas. Para calcular a taxa de passagem, o conteúdo do rúmen foi retirado e pesado duas horas após a alimentação, e posteriormente colocado de volta. No dia seguinte, duas horas antes de receberem nova refeição, o conteúdo do rúmen passou pelo mesmo processo.

 

Os bovinos receberam cânulas. Com isso, foi possível calcular a taxa de passagem do alimento do rúmem ao intestino

 

Maior desempenho
“Esse resultado pode ser explicado pela alta digestibilidade da fibra da cana ensilada. Por ser de boa qualidade, ela ficou menos tempo no rúmen para ser digerida e passou para o intestino mais rápido, abrindo espaço no rúmen para um novo alimento. Assim, o animal come mais e, quanto mais come, mais engorda”, finaliza o pesquisador.

A dissertação de mestrado Consumo, cinética e ecossistema ruminal de tourinhos alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) fresca ou ensilada, com alta ou baixa digestibilidade da fibra foi apresentada no último dia 5 de julho, sob a orientação do professor Luis Felipe Prada e Silva.

Imagens cedidas pelo pesquisador

Mais informações: email [email protected] ou[email protected], com o médico veterinário Dannylo Oliveira de Souza

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Fonte:
Ag. USP de Noticias

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