POLÍTICA: No olho do furacão, por Ruy Fabiano

Publicado em 23/02/2014 18:58

 

O maior adversário do governo Dilma não é a oposição – inerte, sem discurso ou proposta -, mas a própria base aliada, à esquerda, em que despontam, sobretudo, partidos oriundos do PT, como PSOL e PSTU, sem esquecer o próprio, a nave mãe.

As franjas radicais do partido – MST, ONGs indígenas, Black Blocs, CUT e que tais – agem, por meio de seus ativistas, de dentro do próprio governo, com destaque para a figura cada vez mais óbvia do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o braço direito de Lula.

O objetivo é acelerar o movimento revolucionário, o que implica o desgaste da presidente e de seu governo, de modo que sua candidatura perca competitividade e justifique o retorno de Lula. Dilma seria uma espécie de Kerensky, primeiro-ministro russo, que governou após a queda da monarquia e não conseguiu evitar a Revolução de outubro de 1917.

 

Kerensky, como Dilma, era acusado pelos revolucionários, dos quais se julgava companheiro, de manter alianças espúrias à direita e acabou deposto por eles próprios. Teve que se exilar na Europa e, posteriormente, nos EUA.

O que Lênin e Trotsky disseram a respeito de Kerensky é o mesmo que há dias Pedro Stédile (MST) disse de Dilma:

“A Dilma pessoalmente é uma coisa, mas outra coisa é o governo Dilma. É um governo de composição e lá dentro tem os banqueiros, os empresários, a classe média; tem até a Kátia Abreu no governo Dilma.”

E deu o mapa da mina, mostrando de onde vem a sabotagem:

“Mas tem também companheiros de esquerda e companheiros que defendem a reforma agrária, que temos que valorizar; não podemos botar tudo no mesmo balaio. Mas é um governo de composição de forças antagônicas – e num governo assim é difícil avançar.”

A palavra-chave é esta: “avançar”, que Gilberto Carvalho, no final de 2012, traduziu por “o bicho vai pegar”. Pegou – e continua pegando. Stédile faz sua parte. Incentiva a retomada da invasão de terras e avisa aos companheiros:

”Não pense que a burguesia vai se assustar com nosso congresso (aquele, em Brasília, que feriu 30 PMs, oito em estado grave); ninguém bota na imprensa. A burguesia vai se assustar com nós (sic) quando voltarmos a fazer ocupação com mil famílias, com 2 mil famílias. A burguesia vai se assustar quando nós ocuparmos a Monsanto, quando ocuparmos usinas. Aí, vão nos respeitar.”

O quadro que se delineia é o de sublevação geral. Nas ruas dos centros urbanos – em especial, no eixo Rio-São Paulo e agora já se fala em Brasília -, a ação predadora dos black blocs.

Na área rural, MST e milícias indígenas (fenômeno inédito desde Pedro Alvares Cabral) matam pequenos agricultores, considerados “intrusos” pelas demarcações truculentas da Funai.

O mais grave, no curto prazo, é o propósito de inviabilizar a Copa do Mundo – ou, ao menos, de criar um ambiente hostil à sua realização. Quem paga o pato da impopularidade pelo desgaste que tudo isso ocasiona é o governo Dilma – e, portanto, sua candidatura à reeleição. São esses grupos “aliados” que comandam, desde dentro do governo, esse processo.

Esta semana, Gilberto Carvalho, com a maior cara de pau, tentou ressuscitar o 2º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH), rejeitado em 2009 pela opinião pública, por sua índole totalitária, provocando o compromisso da candidata Dilma de jamais acolhê-lo.

O 2º PNDH, entre outras aberrações, previa censura à imprensa e, em casos de invasão de terras, impunha a mediação com o invasor, arbitrada por uma comissão da sociedade civil, antes de a vítima ter o direito postular a reintegração de posse.

Pois Carvalho, na quinta-feira, veio à cena expor as conclusões de um estudo da Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, segundo o qual “a cultura da judicialização de conflitos fundiários não é eficaz e deve ser superada”.

O invasor, segundo esse estudo, adquire direitos de coproprietário, passando a “negociar” a posse da terra em condições de igualdade com a vítima, antes que esta tenha o direito de recorrer ao Judiciário, que também aí é enxovalhado.

E não só: acusa o Judiciário – vejam só! – de estar “tomado por uma postura legalista”, como se outra pudesse ter, já que lhe cumpre exatamente zelar pela ordem jurídica e pela aplicação da Justiça. O contrário disso é a conivência com o crime.

Carvalho lamenta que o próprio governo de que faz parte “se posicione claramente contra tudo que é insurgência e reivindicação de direitos”. Que outra posição pode ter um governo, fruto da democracia e da Constituição?

Os conflitos fundiários no Brasil têm sido artificialmente alimentados por grupos ativistas radicais, estimulados por declarações levianas como estas. Quem paga o desgaste (na verdade, já está pagando)?

Acertou quem disse Dilma Rousseff.

O que resultará objetivamente se a presidente perder competitividade eleitoral? Acertou outra vez quem disse: a volta de Lula. A oposição, até aqui espectadora silente, certamente investirá contra Dilma; é, afinal, seu papel. E se somará ao discurso de alucinados como Stédile, que, em tempos normais, fala sozinho, mas em tempos conturbados encontra audiência – e seguidores.

 

Ruy Fabiano é jornalista.

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