"Argumento de Putin para atacar Ucrânia não engana ninguém", diz Obama (VEJA)

Publicado em 04/03/2014 17:47 e atualizado em 05/03/2014 05:43
Em Kiev, secretário John Kerry diz que, se Rússia mantiver agressão, EUA terão de agir para isolar o país “política, diplomática e economicamente”. (Veja.com.br)

O presidente Barack Obama voltou a falar nesta terça-feira sobre a crise na Ucrânia e defendeu o direito de o país decidir seu próprio futuro. “Putin (presidente da Rússia) pode dizer muitas coisas, mas os fatos indicam que ele não está respeitando esse princípio”, disse Obama, acrescentando que a Ucrânia marcou eleições presidenciais para maio e que todos deveriam investir em “eleições livres e justas” no país.

Durante entrevista concedida em Washington, Obama criticou a “intromissão” da Rússia na Crimeia, para onde o Kremlin enviou tropas sob a alegação de que é preciso defender a população de etnia russa que vive na república autônoma. Para o presidente americano, essa “intromissão” afastaria outros Estados de Moscou.

Ele acrescentou que o argumento de Putin para sua incursão na Crimeia “não está enganando ninguém”. “Há uma forte percepção de que a ação da Rússia viola as leis internacionais. O presidente Putin parece ter um grupo diferente de advogados fazendo interpretações diferentes. Mas, na minha opinião, ele não está enganando ninguém”, disse.

"A comunidade internacional condenou a violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia. Nós condenamos a intervenção russa na Crimeia. E fazemos um apelo por um recuo na situação e pelo envio imediato de observadores internacionais. Todo mundo reconhece que, mesmo que a Rússia tenha interesses legítimos sobre o que se passa em um país vizinho, isso não lhe dá o direito de recorrer à força para exercer sua influência". 

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Em Kiev, o secretário de Estado John Kerry voltou a demonstrar o apoio americano “ao povo ucraniano”. “Os Estados Unidos reafirmam seu comprometimento com a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Com base na lei internacional, condenamos o ato de agressão da Rússia”, disse, acrescentando que o governo russo tenta fazer com que se acredite que suas ações são legítimas. “O ponto principal é que a diplomacia, não a força, é capaz de resolver disputas como esta no século XXI”.

Sanções – Segundo Kerry, como o país escolheu não recuar, os Estados Unidos e seus aliados “não teriam escolha” a não ser agir para isolar o país “política, diplomática e economicamente”. As palavras fazem eco à advertência de Obama na véspera, quando também ameaçou isolar Moscou. “Não é apropriado invadir um país e, com o cano de uma arma, ditar o que você está tentando alcançar”, ressaltou, em declarações reproduzidas pelo jornal The New York Times.

Em entrevista a uma emissora italiana, a ex-premiê ucraniana Yulia Tymoshenko fez um apelo às potências ocidentais para que imponham sanções contra a Rússia. “Esforços diplomáticos não são suficientes. Eu acho que é preciso impor sanções econômicas contra a Rússia. Especialmente se houver uma escalada de violência”, disse ao SkyTG24. 

Enquanto os EUA ameaçam impor as sanções, a União Europeia tenta evitar que elas sejam necessárias. Nesta terça, a chefe da diplomacia do bloco, Catherine Ashton, disse ter tido “conversas proveitosas” com o chanceler russo Sergei Lavrov durante um encontro em Madri. Também salientou que a ameaça de sanções contra o país era “contraprodutiva”.

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A Rússia, por sua vez, avisou que vai retaliar qualquer sanção imposta pelos Estados Unidos. “Teremos de responder”, disse Alexander Lukashevich, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. “Como sempre em situações como esta, provocadas por ações imprudentes e irresponsáveis de Washington, ressaltamos: esta não é uma escolha nossa”.

Telecomunicações – O chefe de segurança ucraniano, Valentin Nalivaichenko, disse que o sistema de telecomunicações do país foi alvo de ataque a partir de um equipamento instalado na Crimeia para interferir nos telefones celulares, o que afetou alguns serviços telefônicos e de internet. Segundo ele, o ataque teve parlamentares como alvo específico. A empresa de telecomunicações Ukrtelecom confirmou que algumas de suas instalações na Crimeia foram invadidas na sexta-feira. 

Putin, sobre a Ucrânia: 'Uso da força não está descartado'

Presidente russo concedeu coletiva sobre a situação no país vizinho nesta terça. Afirmou que governo interino do país é resultado de um golpe

Putin chega a região perto de Leningrado para acompanhar manobras militares

Putin chega a região perto de Leningrado para acompanhar manobras militares (Reuters/Ria Novosti)

No dia em que ordenou o retorno aos quartéis de 150.000 soldados que haviam sido deslocados na quarta-feira passada para exercícios militares perto da fronteira ucraniana, o presidente russo Vladimir Putin concedeu uma entrevista coletiva em Moscou. E afirmou que o governo interino da Ucrânia é resultado de um golpe. O chefe do Kremlin voltou a dizer que o presidente deposto Viktor Yanukovich é o líder legítimo da nação. Disse ainda que, por ora, não há necessidade de enviar tropas para a Ucrânia – mas não excluiu a possibilidade de fazê-lo. O presidente russo afirmou que se reserva o direito de utilizar quaisquer recursos para proteger os cidadãos ucranianos. Segundo ele, o uso da força não está descartado como “último recurso”.

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"No que se refere ao envio de tropas, isso não é necessário no momento, mas a possibilidade existe", afirmou. Putin aproveitou a entrevista concedida nesta terça-feira para fazer duras críticas ao presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov. Segundo ele, a ação dos militantes mergulhou o país no caos. Afirmou, ainda, que o Parlamento ucraniano é “parte legítimo”, mas aquele que age como presidente do país não é.

 

 
 

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Soldado da força aérea ucraniana descansa sobre sacos de areia na base militar de Belbelk, na Ucrânia

Soldado da força aérea ucraniana descansa sobre sacos de areia na base militar de Belbelk, na Ucrânia - Viktor Drachev/AFP

 

Em defesa de Yanukovich, acusado de comandar o banho de sangue na capital Kiev, Putin afirmou que não partiu do ex-presidente a ordem para atirar contra os manifestantes. Yanukovich deixou Kiev quando a tensão na capital atingiu o ponto mais alto em três meses de protestos contra seu governo, com cerca de 100 mortos em confrontos entre manifestantes e policiais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caio Blinder: Putin não tem bala para invadir vizinho

Em novembro, Yanukovich abriu mão de um acordo de livre-comércio com a União Europeia e optou por se aproximar do Kremlin, recebendo apoio financeiro dos cofres da Rússia. Para os ucranianos, ao dar as costas para o bloco europeu, ele desperdiçou a oportunidade de tornar a Ucrânia uma nação de fato independente, transparente e democrática.

Um dia depois da assinatura do acordo, no entanto, Yanukovich fugiu do país e o Parlamento o destituiu. Na sequência, um mandado de prisão foi emitido contra o ex-presidente, que passou a ser considerado foragido. Um governo interino foi formado pelas lideranças políticas dos protestos. Mas a situação está longe da estabilidade, com a região autônoma da Crimeia – por onde Yanukovich passou antes de ir para Rostov – transformando-se no principal palco de disputa em um país dividido entre a população pró-Europa e pró-Rússia.

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Sobre o envio de tropas para a Crimeia, Putin afirmou que a Ucrânia é um vizinho fraterno da Rússia - e que as tropas de lá têm muito em comum. Ele também disse que as forças russas não dispararam um tiro desde que cruzaram a fronteira para Crimeia.

Leste europeu

Estratégia equivocada de Putin na Ucrânia deve expor fragilidade russa

Forças militares russas não podem ser medidas tecnicamente com as ocidentais

O presidente russo, Vladimir Putin, fala sobre a crise na Ucrânia durante entrevista coletiva

O presidente russo, Vladimir Putin, fala sobre a crise na Ucrânia durante entrevista coletiva  (EFE/Alexey Nikolsky-Ria Novosti Kremlin)

A Rússia vem aumentando sua presença militar na região da Crimeia, enquanto países ocidentais deixam clara sua preocupação a respeito. Mas a investida na Ucrânia, que poderia ser uma demonstração de força, pode acabar ressaltando a fraqueza de Moscou, como apontou o colunista de política internacional do Washington Post, David Ignatius. Em artigo, ele afirma que “quanto mais a Rússia prossegue com dificuldade em sua estratégia revanchista, piores se tornam seus problemas”. O colunista faz referência à nostalgia da Rússia pelo passado soviético e à falta de entendimento de que “o centro de gravidade da ex-União Soviética mudou para o oeste”.

Caio Blinder:
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Propaganda russa é subproduto do aparato dos tempos do comunismo  

Ignatius adverte que o erro de cálculo de Putin ainda pode piorar o cenário, com as tropas russas sendo levadas mais para dentro da Ucrânia, preparando o terreno para uma guerra civil. “Esse é o tipo de erro que pode levar a consequências catastróficas”, escreveu o colunista, destacando que americanos e europeus devem interromper a violação russa à “ordem internacional” (leia a íntegra, em inglês).

O professor Evert Vedung, especialista em União Europeia e professor emérito de ciência política da Universidade de Uppsala, na Suécia, diz que o Kremlin não tem força para iniciar uma guerra com o Ocidente – que também não quer um conflito com a Rússia. “Nos últimos anos, Putin deu início a um considerável rearmamento das forças russas, mas esse rearmamento começou de um ponto muito baixo. As forças russas não podem ser medidas tecnicamente com as ocidentais. A Rússia não tem capacidade de iniciar uma guerra”, diz Vedung ao site de VEJA.(Continue lendo o texto)

 

 
 

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Soldado da força aérea ucraniana descansa sobre sacos de areia na base militar de Belbelk, na Ucrânia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na avaliação do especialista, o pior que poderia ocorrer neste momento seria as tropas russas tentarem invadir a região da bacia de Donetsk, no extremo leste da Ucrânia. “Esta região é altamente industrializada. Foi muito importante nos tempos soviéticos para todo o país. [Uma invasão] aumentaria o risco de uma guerra aberta”, diz Vedung.

 

Nesta terça-feira, Putin concedeu uma entrevista coletiva em que cogitou o uso da força como “último recurso”. Mas o líder russo não deve dar um passo muito arriscado, avalia Tatiana Kastouéva-Jean, especialista em Rússia do Instituto Francês de relações internacionais. Em entrevista ao jornal Libération, ela disse que o presidente russo ocupa a Crimeia “para obter algo e assim poder negociar”. A especialista lembra que a Rússia foi contra a intervenção militar na Síria com base na defesa da soberania dos Estados. “Mudar de doutrina pela Crimeia colocará Putin em uma contradição que poderá se voltar contra ele no futuro."

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