No Estadão: Exportadores investem em logística na Amazônia

Publicado em 25/03/2014 15:36
EDITORIAL de O Estado de S.Paulo, publicado na edição desta terça-feira, 25 de março de 2014

Está em curso um ambicioso programa de investimentos privados destinado ao escoamento, pelos portos da região amazônica, de grande parte da safra de grãos - soja, milho e farelo de soja - produzida no Centro-Oeste, segundo reportagem de Lu Aiko Otta publicada no Estado de domingo.

O objetivo é superar, a médio prazo, os gargalos no transporte ferroviário, rodoviário e hidroviário presentes nas Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que ameaçam a competitividade do agronegócio brasileiro, principal pilar das contas externas, com superávit comercial anual de cerca de US$ 80 bilhões. 

Os principais grupos exportadores de grãos (Bunge, Cargill, Maggi e Dreyfus) e a Estação da Luz Participações (EDLP) desenvolveram o projeto Pirarara, que prevê investimentos de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões para criar três ramais ferroviários: entre Sapepal, em Mato Grosso, e Porto Velho, em Roraima, para embarque na hidrovia do Rio Madeira; entre Sinop, em Mato Grosso, e Miritituba, no Pará, onde será usada a hidrovia do Rio Tapajós; e entre Água Boa, em Goiás, e Campinorte, em Mato Grosso, onde está a Ferrovia Norte-Sul.

O projeto depende do governo federal, pois contempla uma mudança no programa federal de concessões, que prevê, atualmente, apenas um ramal no Estado de Mato Grosso, ligando Lucas do Rio Verde a Campinorte, onde se integrará com a Norte-Sul. A EDLP pretende encurtar o trajeto em 500 km, permitindo reduzir em R$ 40,00 por tonelada o custo do frete.

Investimentos para viabilizar o transporte multimodal já estão em curso, mostrou reportagem recente do jornal Valor. A Bunge já investiu R$ 700 milhões numa estação fluvial de transbordo de cargas e um terminal portuário em Miritituba, prevendo escoar 2,5 milhões de toneladas de grãos nesta safra e 4 milhões de toneladas na safra 2014/2015. Hoje, para chegar a Miritituba, as cargas têm de ser transportadas pela BR-163, em mau estado de conservação, o que onera o custo do deslocamento da safra. Outras empresas já investem pesadamente em Miritituba, como Cargill, Hidrovias do Brasil, Cianport, Unirios, Chibatão Navegações e Reicon.

Até 2020, os investimentos nesses projetos de logística deverão permitir o escoamento de 50 milhões de toneladas de grãos por ano, propiciando uma grande economia em relação ao transporte hoje dependente de rodovias ruins e portos lotados, como Santos e Paranaguá.

Novo eixo exportador valoriza terras

No Norte e no Centro-Oeste, expectativa de escoamento mais barato da safra elevou preços em até 25% em 2013, acima da média nacional


Márcia De Chiara - O Estado de S.Paulo

As terras agrícolas do Norte e do Centro-Oeste foram as que mais se valorizaram no último ano, influenciadas pela perspectiva de melhoria da infraestrutura, que deve tornar viável, a médio prazo, a exportação de grãos pela região Norte do País.

Pesquisa sobre o mercado de terras da consultoria Informa Economics/FNP, obtida com exclusividade pelo Estado, mostra que o preço do hectare subiu quase 25% no Norte entre janeiro e dezembro de 2013. Nas terras do Centro-Oeste, a alta beirou 18%. Em ambas as regiões os aumentos superaram a valorização média das terras no Brasil, de 15% no período.

"O Centro-Oeste e o Norte estão se estruturando para abandonar a tragédia logística que é colocar a safra para rodar em caminhão por mais de 2 mil quilômetros e embarcar os grãos pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR)", diz o diretor da consultoria e responsável pela pesquisa, José Vicente Ferraz.

Ele explica que essa perspectiva de melhoria na logística é que está puxando para cima os preços das terras cortadas pela BR 163. A rodovia liga o Sul, o Centro-Oeste e o Norte do País, e vai até Santarém, no Pará. As terras agrícolas de Santarém, por exemplo, registraram valorização de 51% no ano passado, uma das maiores altas entre os 133 regiões pesquisadas. Lá o preço do hectare saltou de R$ 2.576 em janeiro para R$ 3.900 em dezembro de 2013.

"As terras de Santarém são aptas à agricultura, mas não estavam sendo exploradas pela falta de infraestrutura", afirma Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística, que reúne dez associações do Estado do Mato Grosso e é capitaneado pela Aprosoja, que congrega produtores.

Do Mato Grosso, o maior Estado produtor de soja, até o distrito de Miritituba, no Pará, há 182 quilômetros de rodovia sem pavimentação. As obras de pavimentação devem ser concluídas até o ano que vem, prevê Ferreira.

Em Miritituba, conta ele, não existia nada. Agora há terminais de transbordo, que permitem embarcar a carga em barcaças pelo Rio Tapajós até o Porto de Santarém. De lá os grãos seguem pelo Rio Amazonas até o Porto de Vila do Conde e são transportados em navios para o exterior, via Canal do Panamá. Nas contas de Ferreira, o escoamento da safra pelo Norte do País pode reduzir em 34% o custo de transporte, comparado com o trajeto rodoviário feito até Santos ou Paranaguá.

"O fundo do quintal está virando a porta da frente para os escoamento dos grãos", afirma o diretor executivo do movimento Pró-Logística. Na análise de Ferraz, a valorização das terras do Norte e do Centro-Oeste está antecipando a melhoria da infraestrutura que virá com a criação de novo eixo de exportação do País.

Já na região batizada de "Mapitoba", que engloba áreas para plantação de milho, soja e algodão de quatro Estados (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), o principal fator de que puxou para cima o preço da terra foi o fato de a região ser extremamente favorável à produção de grãos, explica Ferraz. O hectare de terra em Urussuí (PI), avaliado em R$ 8,5 mil, subiu 24% no último ano. Em Porto Afonso (TO), a alta foi de 23% em igual período.

Sul. Um resultado surpreendente foi a forte valorização das terras do Sul, cujas cotações subiram 17% em 2013. "Como a região tem os preços mais elevados do País, esperávamos um amortecimento", diz Ferraz. De 2011 para 2012, as terras do Sul já tinham subido 18%. De acordo com a pesquisa, a terra agrícola mais cara do Brasil é a de Jaraguá do Sul (SC): o hectare de várzea vale R$ 48 mil.

O diretor do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná, Francisco Carlos Simioni, tem uma explicação para esse resultado: "a fronteira agrícola está esgotada na nossa região e a disputa mais acirrada pela terra fez o preço subir". Ele acrescenta que a forte valorização da soja, com o preço passando de R$ 70 a saca, puxou a cotação da terra. Outro fator de valorização da região é a proximidade do Porto de Paranaguá (PR).

Já as terras do Sudeste tiveram em 2013 valorização 10,8%, abaixo da média nacional. "Os negócios não estão aquecidos no Estado de São Paulo primeiro por causa da época do ano, segundo em razão do mau momento da cana", diz Attilio Benedini, sócio da imobiliária que leva o seu nome. Laranja em São Paulo e café em Minas contribuíram para fraco resultado.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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