NA VEJA: Pesquisa retrata país em clima de Copa – apesar de tudo...

Publicado em 11/05/2014 13:18 e atualizado em 11/05/2014 18:24
Uma sondagem realizada pelo site de VEJA indica que os brasileiros pretendem acompanhar o Mundial e até participar do evento (mas sem ufanismo ou euforia)..., por Giancarlo Lepiani.

A imagem da Copa do Mundo continua muito ruim – mas ainda assim o brasileiro quer participar dela, de um jeito ou de outro. Desde o início do ano, diversas pesquisas de opinião mostraram a insatisfação das pessoas com os problemas associados ao evento: gastos excessivos, planejamento malfeito, promessas descumpridas. Em fevereiro, o site de VEJA realizou uma sondagem com seus leitores sobre o assunto, e nove entre cada dez participantes disseram acreditar que o Mundial deixará uma marca negativa. A um mês do início do torneio, porém, o brasileiro vai entrando no clima de Copa, admitindo que pretende acompanhar a festa do futebol e planejando como fazer parte do evento que deverá parar o país durante um mês, entre 12 de junho e 13 de junho. As decepções não foram esquecidas. Isso não quer dizer, entretanto, que a população do país-sede ficará indiferente. O brasileiro quer ver e viver a Copa – ainda que deixando de lado as manifestações de ufanismo e o clima de euforia.

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Para identificar o comportamento do torcedor nestas semanas que antecedem a abertura da competição, VEJA promoveu uma nova pesquisa com seus leitores, desta vez perguntando o que eles pretendem fazer durante o Mundial. O levantamento, realizado pelo Departamento de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Editora Abril, registrou as impressões de 2.384 pessoas de todas as regiões brasileiras, que responderam a dez questões ligadas ao evento entre os dias 5 e 8 de maio. Em 100% dos questionários preenchidos, os respondentes afirmaram que pretendem acompanhar a Copa. A grande maioria, aliás, afirmou que pretende assistir não apenas aos jogos da seleção brasileira, mas também a outras partidas. Para mais de um terço dos participantes, o objetivo é ver o maior número possível de duelos. Um entre cada dez acompanhará pelo menos um jogo ao vivo num dos doze estádios da Copa, e 7% disseram que estão de viagem marcada para assistir às partidas fora de suas cidades.

Sem euforia - Os resultados da pesquisa mostram, no entanto, que o incômodo provocado por alguns dos problemas mais espinhosos da organização do evento – as melhorias tímidas nos aeroportos e na mobilidade urbana e o risco de violência em protestos nas cidades-sede, por exemplo – não são esquecidos pelo brasileiro. Para 12% dos participantes da sondagem, a superlotação de torcedores, turistas, patrocinadores, jornalistas e cartolas motivou planos de escapar das cidades-sede no período da Copa – residem numa das doze capitais que receberão os jogos, mas devem viajar para outros pontos do país ou até mesmo para o exterior. Mais marcante ainda é a rejeição às manifestações patrióticas que costumam acontecer em tempos de Copa. Oito em cada dez entrevistados disseram que não têm planos de decorar sua rua, sua casa ou seu carro com as cores do Brasil. Questionados sobre o motivo, os participantes da pesquisa usaram termos como "vergonha" e "decepção", citando sua insatisfação com a forma como o evento foi organizado, seu descontentamento com o governo e sua desilusão com o país.   

"Não consigo me empolgar. O país sofre um colapso moral", escreveu um dos respondentes. "Apesar de gostar de futebol, a organização da Copa frustou toda a sociedade", disse outro. "Estou mais preocupado com a dívida que a Copa vai nos deixar para pagar com os impostos", lembrou mais um. Em outra questão, 20% dos leitores que responderam à pesquisa disseram que compraram ou pretendem comprar uma camisa do Brasil para torcer no Mundial, e outros 17% afirmaram que não comprarão uma porque já têm uniforme da seleção no guarda-roupas. Mas a maioria, 63%, diz que não pretende vestir as cores do Brasil durante a Copa – mau sinal para os comerciantes que fizeram estoque de camisas amarelas para junho. Outra pergunta referente aos hábitos de consumo tratou de uma tradição para muitos torcedores: aproveitar a Copa (e suas promoções) para comprar uma TV nova. Em 91% dos casos, essa despesa está descartada. Um hábito mais barato, colecionar as figurinhas oficiais do Mundial, teve uma adesão maior: 15% dizem estar à procura dos cromos que faltam para completar o álbum. É mais uma forma de participar da contagem regressiva para a festa – ainda que, de acordo com os números da pesquisa, o brasileiro não pareça tão convencido de que há motivos para comemorar.  

Ney Matogrosso: “Se existia tanto dinheiro disponível para gastar na Copa, por que não resolver os problemas do nosso país?”

Atualizado às 10h30

Pouco mais de duas semanas depois do ex-presidente Lula exaltar as conquistas do Brasil Maravilha numa entrevista à emissora portuguesa RTP, o cantor Ney Matogrosso escancarou, durante um programa no mesmo canal, algumas verdades do Brasil real. Ao ouvir do apresentador Vítor Gonçalves a pergunta “Como está o Brasil?”, um dos maiores artistas do país responde. “Existe um enorme desconforto”, começa. “O governo brasileiro está gastando bilhões de reais para fazer estádios, enquanto nos hospitais públicos as pessoas estão sendo jogadas no chão, em cima de um paninho”.

A partir daí, Ney fala sobre educação, transporte público, Bolsa Família e corrupção antes de fazer a pergunta que todos os brasileiros decentes se fazem há meses: “Se existia tanto dinheiro disponível para gastar na Copa, por que não resolver os problemas do nosso país?”.

 

 

O que ficou só na promessa para o Mundial

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Estádios privados

mane-garrincha-brasilia-20130907-size-620.jpgO Estádio Nacional de Brasília: o custo se aproxima dos 2 bilhões de reais em verba pública

O ministro do Esporte do governo Lula prometia uma Copa totalmente privada, sem uso de dinheiro público nas arenas. Entre as doze sedes do Mundial, porém, só três (São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) são empreendimentos particulares - e mesmo essas obras dependem de financiamento de bancos estatais e generosos incentivos públicos.

JUCA KFOURI/NA FOLHA DESTE DOMINGO:

Plebiscito para megaeventos

O mundo avançado consulta a população antes de levar adiante a ideia de sediar Copas ou Olimpíadas

A CONSCIÊNCIA nacional de que megaeventos são muito bons para quem os detêm e, salvo exceções, ruins para quem os recebe, deve ser o maior legado da Copa do Mundo.

Se essa conscientização resultar em pressão para que se faça no país uma lei que exija consulta popular antes que se decidam candidaturas, teremos avançado em nosso processo civilizatório.

Lembremos que em Saint Moritz, na Suíça, em Munique, na Alemanha, e em Estocolmo, na Suécia, plebiscitos resolveram que as três cidades não deveriam pleitear ser sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022.

RETRATO CONVOCADO

Felipão é gaúcho autêntico, daqueles que se orgulham dos pampas, mas não convocou nenhum jogador da dupla Gre-Nal.

José Maria Marin é paulista, representante do que há de pior na política do Estado, bairrista empedernido e, mesmo assim, não há ninguém do futebol de São Paulo na seleção.

Também porque não é de hoje que se deu a quebra de vínculos entre torcedores e a seleção, apesar de a Copa das Confederações, no bojo das manifestações de junho, tê-los reatado de forma surpreendente.

O problema está em que o torcedor brasileiro não sabe bem quem são os jogadores que compõem boa parte da seleção: Maicon, Maxwell, Fernandinho, Luiz Gustavo, seja franco, se você encontrá-los na rua os reconhecerá? Nenhum deles saiu do Brasil com o cartaz feito, assim como também Hulk, Dante, Willian.

Pé de obra exportada, fruto da falência do modelo de gestão que há décadas infelicita o futebol cinco vezes campeão mundial --e que pode ser hexa apesar dele, jamais por causa.

Então é isso: Felipão terá de religar a torcida ao time, coisa que já mostrou saber fazer aqui e em Portugal. Não serão as campanhas publicitárias de padrão Fifa, as novas marchinhas, nada disso. Será pelo futebol, mesmo que mais o da ralação do que o da inspiração, porque no grupo equilibrado que ele montou sobram vontade e jogadores competentes, mas falta brilho, não por sua culpa.

Neymar é a andorinha solitária e nem por isso faz sentido, com todo tempo que tiveram para ganhar um lugar, pedir por Ronaldinho, Robinho ou Kaká, experientes e talentosos, de fato, mas no bagaço.

Neste aspecto, Luiz Gustavo é o símbolo deste time, capaz de trocar o conforto do enorme Bayern de Munique pelo médio Wolfsburg, onde tinha certeza de que jogaria.

Se cabe ao Felipão e aos jogadores a parte mais difícil, cabe ao povo brasileiro a mais fácil: mobilizar-se para exigir uma legislação que impeça, seja para quando for, que nos imponham goela abaixo novos megaeventos.

Que fazem alegria da Fifa, do COI, das empreiteiras, agências de propaganda, grupos de mídia etc., mas, em regra, fazem mal aos países e às cidades.

Editorial: Explodir ou 'bombar'

 
O Brasil não vai explodir em 2015, vai "bombar", declarou a presidente na semana que passou.

O sentido e os termos extravagantes da previsão importam bem menos do que mais essa reafirmação de que Dilma Rousseff (PT) tem poucas dúvidas sobre o rumo que deu ao país, apesar dos resultados sofríveis de seu governo e das perspectivas pouco animadoras.

Desde o pronunciamento do 1º de Maio, a petista tem feito promessas de manter políticas centrais de sua administração. Refuta correções de rumo. Em suma, deu indícios claros de que vai insistir em ações que reduzem a poupança do governo, alimentam a inflação e desestimulam investimentos.

Mais ainda, Dilma afirmou que não vê problemas em controlar ou manipular preços, como o de combustíveis e o de energia elétrica.

A presidente acredita ser possível segurar a inflação por meio desses expedientes artificiais e historicamente fracassados; não quer prejudicar os trabalhadores com redução da atividade econômica. Esse resultado adverso, no entanto, virá mais tarde e em intensidade maior se a política econômica não mudar rapidamente.

Pelo menos em público, a petista diz que a insegurança econômica do eleitorado é em grande parte reflexo de campanhas negativas. Onde há desempenho ruim, ela vê, ou ao menos é o que sugere, uma fase de incubação do sucesso.

Por exemplo, assevera que as obras de infraestrutura em breve ficarão prontas e eliminarão alguns dos principais fatores de insatisfação com serviços públicos. Quanto ao restante, seria só alegria, por assim dizer: a renda sobe, o desemprego é historicamente baixo e há mais benefícios sociais.

Longe da retórica presidencial, contudo, diminui a probabilidade de que a economia brasileira desabroche. A confiança de empresários e consumidores decresce faz quase dois anos e cai aos níveis de 2009, após a crise mundial.

A arrecadação de impostos federais sobe devagar, retida pelo ritmo fraco do PIB e pela seca de outras fontes de aceleração da receita, como a formalização da economia.

Com menos impostos, torna-se impossível ou irresponsável manter o progresso de programas sociais. Consumidores e empresários inseguros solapam a alta do investimento produtivo. Intervenções equivocadas do governo na economia provocam desordem e desânimo adicionais no setor privado.

Este é o Brasil real: não é explosivo, mas em nada se assemelha ao país "bombado" da presidente. Não se espera que um governante em campanha reconheça seus fracassos. Porém, não apresentar caminhos para uma transição transparece alheamento da realidade.

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Fonte:
veja.com.br + Folha

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