No EL PAÍS: “Marina pode ganhar de Dilma no segundo turno”, diz irmão de Eduardo

Publicado em 17/08/2014 00:47 e atualizado em 17/08/2014 17:56
Antonio Campos, foi o primeiro a defender o nome da ex-senadora para substituir o de Eduardo Campos na disputa (por AFONSO BENITEZ, do El País.com.br)

P. O senhor foi o primeiro a tomar a iniciativa de defender o nome de Marina para substituir Campos. Por qual razão o senhor a defende?

R. Eduardo fez uma aliança programática com ela, e a escolhe para ser sua vice. Na declaração dele, na véspera de sua morte, ele fala fortemente sobre Marina. Então, na ausência dele, quem tem densidade política, eleitoral e liderança para, nesse momento segurar a bandeira do PSB é a Marina Silva. O Eduardo incorporou ao discurso dele algumas ideias de Marina e Marina, nesses dez meses de convivência intensa diz que aprendeu a confiar em Eduardo, acredito que ela tem maturidade suficiente para incorporar também o discurso de Eduardo. Acho que ela consegue também fazer um debate para o Brasil, não para discutir só eleição, mas também os problemas brasileiros.

P. Como foi a escolha dela para a aliança. Foi uma longa discussão?

R. Não. Foi o destino. Quando o TSE não homologou a Rede, interlocutores dos dois colocaram eles para conversar e de uma maneira rápida ele abrigou a Rede dentro do PSB como uma transição. Fez uma aliança nova para a política brasileira. A morte de Eduardo nessas circunstâncias vai fazer uma diferença nessa etapa da eleição.

P. Que diferença vai fazer?

R. Essa terceira via vai levar a eleição para o segundo turno. Não sei prever o que vai acontecer. Acabei de ver uma pesquisa telefônica do PSB que coloca Marina empatada no primeiro turno com o Aécio Neves e no segundo turno vencendo Dilma Rousseff.

P. Mas que pesquisa foi essa, que não foi divulgada?

R. É uma sondagem telefônica, com 30 mil ligações, que foi feita entre quinta e sexta-feira. É uma pesquisa preliminar. Não tenho mais detalhes. O Datafolha deve vir na próxima semana com outro levantamento mais detalhado.

P. Nacionalmente, Marina é mais conhecida que Eduardo. Como foi essa negociação para ela ser a vice, não a cabeça de chapa?

R. Ela aceitou a aliança, a vice foi no momento que ela passou a confiar no Eduardo. Ela queria sentir o Eduardo por algum tempo. Construíram ao longo da convivência.

P. Como o senhor vê a possibilidade de Marina vencer a eleição pelo PSB e logo em seguida mudar de partido?

R. Não acredito que isso vá ocorrer já. A permanência de Marina no PSB, embora tenha o direito de fazer a Rede, é possível. Os dois grupos podem conviver um tempo juntos. Mas dentro de nosso compromisso ela tem o direito de fundar a rede.

P. Na noite de sexta-feira os caciques do PSB decidiram que Marina seria a candidata. Eles chegaram a pedir para ela não interferir nos acordos estaduais que a desagradaram, como em São Paulo?

R. Na política, tem que se fazer alianças. A Marina terá de respeitar, ela terá o amadurecimento de respeitar as alianças costuradas por Eduardo. Acho que ela tem de se preocupar mais com o núcleo do que com questões específicas.

P. E o programa de governo? Ela vai respeitá-lo?

R. O programa está praticamente pronto. Foi feito pelos dois, juntos. É um programa desenvolvimentista, com foco em sustentabilidade e em desenvolvimento social. Também com um forte compromisso com equilíbrio fiscal, transparência de contas.

P. O senhor mesmo citou dessa habilidade política de Eduardo e eu ouvi isso outras vezes de que ele se dava muito bem até com adversários. Marina, por sua vez, não tem tanto traquejo. Como ela governaria?

R. Pelo que eu vejo, Marina fará uma grande aliança com o povo brasileiro e o eleitorado. A governabilidade ela tentaria costurar uma aliança com o apoio de alguns quadros mais experientes do PSB. É o que Eduardo faria. Eles eram dois políticos complementares. Ele tinha a habilidade política com bom diálogo e grande visão social e a outra uma líder reconhecida internacionalmente. A Marina saberá também buscar o diálogo sem abdicar de suas convicções.

P. Ele contava com o horário eleitoral para ganhar espaço?

R. Sim, era o momento para ele defender suas propostas. Ele defendia que o Brasil tem a riqueza do agronegócio assim como a dos recursos naturais. E as coisas não são antagônicas. Ele queria ser uma ponte também do desenvolvimento sustentável. Acho que com o falecimento dele, inverte a chapa. Marina que era a defensora dos ambientalistas assume a cabeça e o PSB indica um vice mais ligado ao partido.

P. Quem seria esse político para ocupar o cargo de vice?

R. Já há três ou quatro nomes que têm sido discutidos internamente. Certamente será alguém do âmbito político. Alguém com experiência nesse diálogo e do grupo de Eduardo, o que é justo. Ele praticamente sacrificou uma vida por uma bandeira.

P. Há analistas que dizem que essa campanha dele seria um trampolim para 2018, já que Dilma ainda tem mais chances de ganhar com o apoio do ex-presidente Lula. Ele pensava assim?

R. Ele sabia o tamanho do desafio de se candidatar à presidência num partido pequeno, com estrutura modesta diante do PT e do PSDB. Ele era um político ousado e corajoso. A candidatura dele era para tentar ganhar a eleição. Ele via nas pesquisas qualitativas e quantitativas que havia um vácuo a ser preenchido ainda nessa eleição e se o discurso dele soubesse se comunicar, ele poderia surpreender nessa eleição. Ele não achava impossível obter êxito já em 2014.

P. As alianças firmadas nacionalmente eram apenas com partidos pequenos. Como o PSB vai governar sem contar com o PMDB, a legenda que há décadas faz parte dos governos?

R. O que Eduardo dizia era que ele não fazia campanha contra as pessoas. Ele dizia que havia gente boa em todos os partidos. O trabalho seria o de dialogar e buscar os melhores quadros. Seu objetivo seria criar um concurso para as agências reguladoras, retirar as indicações políticas. Buscaria garantir a governabilidade no Congresso Nacional. Pode-se conversas com forças heterogêneas desde que não abra mão de suas bandeiras. Não se pode partidarizar estatais. Isso tudo ele mudaria.

P. Eduardo tentou colar uma frase de que a Dilma será a única presidenta a entregar um país pior do que ela recebeu. O senhor acha que esse será o mote de qualquer campanha?

R. São os números que dizem isso. A gente sente na rua, nas pesquisas, nas conversas, que a Dilma não conseguiu melhorar o Brasil nem abrir um diálogo. Ela não conversa com a classe política, com a artística, com as ruas, com os pensadores, com estudantes, com os produtores.

P. Acidentes envolvendo políticos sempre acabam gerando suspeitas. O senhor acha que esse foi uma mera fatalidade?

R. Não descarto que tenha havido uma sabotagem, mas acho improvável. Já temos um advogado para acompanhar as investigações. Além disso, tem duas equipes de investigadores dos Estados Unidos analisando também. Vamos esperar para ver.

(NO EL PAÍS).

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na folha de s. paulo deste sabado - ELEIÇÕES 2014

PSB sela acordo para lançar Marina no lugar de Campos

Novo presidente aceita inversão da chapa; Beto Albuquerque deve ser vice

Ex-ministro de Lula, Roberto Amaral afirma que Marina 'contempla' o partido; aliado diz que ela está 'à disposição'

O PSB superou as divergências internas e selou acordo para lançar Marina Silva à Presidência da República no lugar de Eduardo Campos. Ela concordou com a inversão da chapa e deverá ser anunciada oficialmente na próxima quarta-feira (20).

O novo presidente do PSB, Roberto Amaral, era visto como último entrave ao acerto. Sob forte pressão de correligionários, ele se convenceu a apoiar Marina, que disputou o Planalto em 2010 pelo PV.

O PSB agora discutirá a indicação do novo vice na chapa presidencial. O deputado gaúcho Beto Albuquerque, hoje candidato ao Senado, é o mais cotado para a vaga.

"A candidatura de Marina contempla nosso projeto. Será uma solução de continuidade. O PSB indicará o novo vice", disse Amaral à Folha.

Depois de uma reunião com Marina, o coordenador da Rede Sustentabilidade, Bazileu Margarido, confirmou à reportagem que ela aceita disputar a Presidência.

"Com o OK do PSB, ela está à disposição para ser a candidata", disse.

Por respeito à memória de Campos, o anúncio oficial da nova chapa só deverá ser feito três dias depois do enterro, programado para o domingo (17), em reunião da executiva nacional do PSB.

A negociação se acelerou após Marina receber apoio público da família do ex-governador de Pernambuco. Segundo aliados, ela se sentiu revigorada ao conversar com a viúva Renata Campos, que a incentivou a concorrer.

Ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula e considerado próximo ao PT, Roberto Amaral visitou Marina na tarde desta sexta (15). Com seu aval, começou a consultar os governadores do PSB sobre a inversão da chapa.

Ele quer dar caráter coletivo à decisão e agora buscará entendimento sobre o vice até a reunião da executiva. "Vou fazer um trabalho de afunilamento. O ideal é chegar com dois nomes. Ou um", disse.

Além de Albuquerque, que se aproximou de Marina desde que ela aderiu à candidatura de Campos, são vistos como alternativas o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o ex-deputado Maurício Rands (PSB-PE) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), ex-ministro da Integração Nacional no governo Dilma Rousseff.

Marina sinalizou ao PSB que respeitará as duas principais exigências do partido: respeitar os acordos regionais fechados à sua revelia, em Estados como Rio e São Paulo, e incorporar o discurso desenvolvimentista.

A ex-senadora disse a pessoas próximas que pretende conduzir a campanha da mesma forma que Campos a conduziria, atuando como líder de uma coligação, e não apenas da Rede, o futuro partido que ela quer criar.

Embora tenha se recusado a falar publicamente sobre política, em respeito ao luto pelo ex-governador, repetiu a aliados que era preciso manter o projeto da chapa.

Ela disse que o PSB foi generoso ao abrigar a Rede em 2013, quando a Justiça Eleitoral negou registro ao partido, e agora é a hora de retribuir.

No ESTADÃO: 

Núcleo de campanha de Dilma aposta em Marina colada em Aécio

por VERA ROSA - O ESTADO DE S. PAULO

Dirigentes do PT acreditam que reviravolta causada por morte de Eduardo Campos levará disputa eleitoral para segundo turno

Marina Silva deverá aparecer nas próximas pesquisas de intenção de voto "colada" em Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência que hoje ocupa o segundo lugar na disputa. A avaliação foi feita nesta sexta-feira, dia 15, no Palácio da Alvorada, na primeira reunião do núcleo da campanha de Dilma Rousseff após o acidente aéreo que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB).

Em três horas de conversa com Dilma, que ontem também gravou cenas para o programa de TV em um estúdio montado no Alvorada, ministros e coordenadores da campanha avaliaram que Marina subirá por causa da comoção nacional provocada pela morte de Campos, na última quarta-feira. O ex-governador ocupava o terceiro lugar nos levantamentos de opinião, atrás de Aécio. Dilma lidera todas as sondagens, mas dirigentes do PT acreditam que agora, com a reviravolta no cenário eleitoral, a disputa pela Presidência será em dois turnos.

Ministros e dirigentes do PT que participaram da reunião no Alvorada não têm dúvida de que Marina substituirá Campos e já estabeleceram um cronograma de trabalho para a próxima semana, após o sepultamento do ex-governador. O objetivo é atrair os descontentes do PSB para o palanque de Dilma ou, no mínimo, conseguir a neutralidade da maioria dos governadores e prefeitos do partido, que era comandado por Campos.

Onda. A preocupação da campanha de Dilma está em segurar rapidamente o provável crescimento de Marina para evitar uma "onda" de mudança no País. No diagnóstico dos participantes do encontro no Alvorada, Marina passa uma imagem de renovação na política, que precisa ser desconstruída.

O temor do Planalto é que a ex-ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva atraia os votos de protesto "contra tudo o que está aí", daqueles que participaram das manifestações de junho de 2013, dos indecisos, dos jovens e das mulheres -- dois segmentos onde Dilma não vai bem e enfrenta dificuldades para crescer.

Com essa avaliação, o comando da campanha petista pretende lançar dúvidas sobre a capacidade de Marina liderar um País tão complexo, nesse momento de percalços na economia.

"Uma coisa era ela ser vice do Eduardo. Outra é ser candidata a presidente", disse um ministro ao Estado, sob a condição de anonimato, ao afirmar que os quase 20 milhões de votos obtidos por Marina, na eleição presidencial de 2010, podem não se repetir agora, porque o cenário é outro. "Será que a classe média vai querer arriscar tudo, tão perto da eleição? As pessoas vão pensar: vale a pena mudar nesse momento de tensão? E os setores do agronegócio, que gostavam do Eduardo, mas têm várias divergências com ela?"

Para o comitê de Dilma, Marina enfrentará "uma guerra" no PSB de Campos e será prejudicada no dia a dia por causa da relação conflituosa entre a legenda e a Rede Sustentabilidade -- partido que será sua prioridade após a eleição. Na noite desta sexta-feira, coordenadores da campanha de Dilma disseram a ela que, se o PT não der um tiro no pé, o racha no PSB poderá acabar beneficiando a sua candidatura.

Lula e ministros do PT, como Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), iniciarão as negociações com o PSB após o sepultamento de Campos, previsto para domingo. A estratégia consiste em reforçar o assédio ao antigo aliado para impedir a ascensão da terceira via na política. Para os petistas, a polarização de Dilma com Aécio é mais fácil e mais previsível porque reedita a estratégia do "nós contra eles".

Ao analisarem os palanques nos Estados, auxiliares de Dilma observaram que a situação mais complicada para Marina acertar os ponteiros com o PSB será em São Paulo. No maior colégio eleitoral do País, o deputado federal Márcio França, presidente do PSB paulista, é o candidato a vice da chapa do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que concorre ao segundo mandato. "Não temos dúvida de que Marina será a candidata, mas a vida dela não será fácil no PSB", comentou um ministro.

Marina não será alvo do PSDB — pelo menos por enquanto

Aécio Neves e Dilma Rousseff se cumprimentam durante velório de Eduardo Campos no Recife

Aécio Neves e Dilma Rousseff se cumprimentam durante velório de Eduardo Campos no Recife (Paulo Whitaker/Reuters)

A estratégia tucana na primeira fase da campanha presidencial começa a ser redefinida, agora que já é certa a candidatura da ex-senadora Marina Silva pelo PSB no lugar de Eduardo Campos. Os principais nomes do PSDB estiveram em Recife neste domingo para prestar homenagem ao político pernambucano morto tragicamente e confortar sua família. Saíram antes do final da missa com destino ao aeroporto, sem falar em público sobre política, mas deixaram com seus interlocutores pistas do discurso a ser adotado por Aécio Neves nos próximos dias — a propaganda eleitoral gratuita começa nesta terça-feira. Marina, neste momento inicial, não será alvo de ataques diretos de Aécio. A artilharia será toda usada contra a petista Dilma Rousseff. Avalia-se que Marina, por enquanto, está blindada pela comoção causada pela morte do socialista. Além disso, os tucanos não querem dar margem nenhuma para que o abismo eleitoral entre PT e PSDB aumente no Nordeste. É melhor que nenhum voto nordestino migre da candidatura peessebista para Dilma — daí a necessidade de manter o foco de ataques no PT. (Laryssa Borges, de Recife) 

 

No Estadão: As diferenças de ideias da substituta,

por ROLDÃO ARRUDA - de O ESTADO DE S.PAULO

 

Marina diverge de Campos em temas como economia, política de alianças e de meio ambiente; ela promete manter planos da aliança

O ex-governador Eduardo Campos e a ex-ministra Marina Silva vinham limando aos poucos as arestas políticas e ideológicas que separavam seus modelos de País. A morte do pernambucano na quarta-feira passada pôs fim a esse processo e agora, com Marina à cabeça da chapa - seu nome será oficializado nos próximos dias -, as diferenças podem voltar à tona.

Os dois divergiam sobre temas relevantes, que vão da macroeconomia à política, do meio ambiente a questões sociais. Falavam coisas diferentes sobre independência do Banco Central, mudança do fator previdenciário, Código Florestal, agronegócio, imposto sobre grandes fortunas, política de alianças partidárias, entre outros assuntos.

No caso do Banco Central, tanto Marina quanto Campos defendiam maior independência da instituição em relação ao governo. A diferença é que, enquanto ele queria aprovar uma lei capaz de cimentar a autonomia da autoridade monetária e torná-la invulnerável à troca de comando no Planalto, a ex-ministra dizia não ver necessidade da mudança legal. Segundo suas explicações, o BC desfrutou de independência no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso e na primeira parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva sem nenhuma lei especial.

Previdência. Campos sustentava que o fator previdenciário, criado na gestão FHC para desestimular aposentadorias precoces, devia ser extinto ou revisto (como desejam as centrais sindicais). Marina, por sua vez, já havia dito em 2010 que, se fosse eleita presidente e uma lei dessas chegasse às suas mãos, vetaria.

O fator previdenciário era uma das divergências que os dois procuravam minimizar em público. A equipe econômica que assessora Marina é favorável à austeridade fiscal, rígido controle dos gastos públicos e revalorização do tripé econômico que marcou a economia do País sobretudo entre 1998 e 2006 (aquele mesmo período com FHC e Lula): metas de inflação, câmbio flutuante e superávits fiscais fortes.

Campos também defendia publicamente a austeridade fiscal e o tripé. Mas tinha ainda um forte viés desenvolvimentista. Abriu espaço para grandes indústrias e grandes obras de infraestrutura em Pernambuco e seu discurso nem sempre combinava com o estilo sóbrio das falas sobre desenvolvimento sustentável da ex-ministra.

"Campos, até por traço de personalidade, fez um certo amálgama entre projetos sociais mais ousados, na direção do lulismo, e gestão econômica e administrativa mais conservadora, mais próximo do choque de gestão do tucano Antonio Anastasia em Minas ", observa o cientista político Rudá Ricci.

Agronegócio. Ainda em Pernambuco, Campos manteve uma política firme de estimulo ao agronegócio e bom relacionamento com usineiros e pecuaristas. Segundo Jaime Amorim, coordenador do Movimento dos Sem Terra no Estado, ele também se dava bem com pequenos agricultores. "Não via contradição entre o modelo agroexportador e um projeto de inclusão dos camponeses produtores de alimentos e a reforma agrária. Servia bem ao agronegócio e realizava políticas públicas para a agricultura familiar."

Marina sempre teve atritos com o agronegócio. Ela acredita que o setor poderia ser mais produtivo e menos agressivo para a biodiversidade. Já observou que enquanto no País se produz uma cabeça de gado por hectare, na Argentina, são três.

Ao atender a um convite para uma sabatina na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), dias atrás, em Brasília, Campos fez questão de levar a tiracolo a candidata a vice, para amenizar tensões. Durante a sabatina, também foi cuidadoso, ao falar sobre o Código Florestal, aprovado em 2012 com o apoio da CNA. Disse que a preocupação de seu governo será por a lei em andamento.

Marina, que ouvia na primeira fileira do auditório, liderou um movimento de oposição à aprovação do código, que considera até hoje "um grave retrocesso".

Na avaliação de Juan Jensen, economista da Tendências Consultoria, as principais diferenças entre Campos e Marina nunca foram fortes no terreno da macroeconomia. "Eles divergiam em questões pontuais, como o agronegócio. O ex-governador fazia contrapeso na chapa, procurando um ponto de equilíbrio com a agenda verde de Marina."

No campo político, a diferença mais notável envolvia as alianças políticas e partidárias. Campos era um político pragmático. Elegeu-se governador em 2006 com o apoio de 17 partidos e políticos tradicionais que não tinham nada a ver com a renovação política que defendia. Marina, por sua vez, sempre impôs restrições às alianças. "Campos era um homem de diálogos mais amplos e não tinha as demarcações ideológicas plantadas por Marina", diz o sociólogo Aldo Fornazieri.

Em seu acordo com o PSB, a ex-ministra prometeu não desrespeitar o programa de Campos. A campanha colocará à prova a promessa.

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EL PAÍS + Folha + Estadao

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