Análise Datafolha: Chance de segundo turno é cada vez maior

Publicado em 01/10/2014 15:11
por MAURO PAULINO, DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA e ALESSANDRO JANONI, DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

As oscilações dentro da margem de erro na nova pesquisa Datafolha em intervalo de poucos dias podem causar a falsa ideia de estabilidade no quadro sucessório para presidente da República.

Mas a manutenção das tendências das curvas deMarina e Aécio e o patamar alcançado por Dilmareforçam duas percepções –aumenta a probabilidade da ocorrência de segundo turno e projeta-se uma possível disputa acirrada entre os candidatos da oposição por uma vaga na final contra a presidente.

  Editoria de Arte/Folhapress  

Pela intensidade, o crescimento do apoio à reeleição de Dilma Rousseff na pesquisa anterior insinuava a possibilidade de uma eventual vitória no primeiro turno. Com os resultados de hoje, essa chance diminui.

O maior peso do refluxo atual de eleitores para Aécio Neves pode configurar uma reação de regiões mais ricas, Sul e Sudeste, à recente ascensão de Dilma. A desconstrução de Marina enfraqueceu o discurso da "nova política" e em alguns estados de tradição antipetista, foi o suficiente para parte do eleitorado resgatar o PSDB como adversário.

Exemplo disso é São Paulo onde, nos últimos dias, Aécio cresceu quatro pontos percentuais. Em pouco menos de um mês, o aumento do apoio ao tucano entre os paulistas totaliza dez pontos enquanto a intenção de voto em Marina caiu nove.

Em um estado que responde por 22% da composição do eleitorado brasileiro e onde, antes de votar para presidente, 49% dos eleitores pretendem digitar 45 para governador, a ordem de votação e a tradição, mais do que nomes ou santinhos, podem influenciar o resultado.

Com esse cenário, vale o monitoramento do desempenho dos eleitores na urna eletrônica. Entre a intenção de votar no candidato e a concretização desse desejo, existem variáveis que até o dia da eleição agirão sobre o eleitorado. Em disputas acirradas, detalhes fazem a diferença.

Além de ser a mais prejudicada pelo desconhecimento de seu número, Marina sofre revés quando os que pretendem elegê-la demonstram mais dificuldade em transformar a intenção verbalizada em voto de fato.

Na simulação de urna eletrônica, aplicada pelo Datafolha por meio de um aplicativo em tablet, cerca de 12% de seus eleitores acabam anulando o voto, votando em branco ou digitando algarismos de outros candidatos.

O quadro de indefinição lança nova luz sobre o último debate entre os presidenciáveis, que acontecerá na noite de quinta-feira. Para tentar liquidar a fatura com antecedência, falar para os "filhos da inclusão" é fundamental para Dilma.

Para a oposição, a candidatura cuja proposta melhor equacionar tradição e protesto deve ser finalista. Pelos cálculos de variabilidade do Datafolha, Dilma deve chegar para o confronto com taxa de intenção de voto entre 36% e 43%, Marina entre 22% e 28% e Aécio entre 18% e 23%.

Militante pago da presidente votará na rival Marina

por PATRÍCIA BRITTO, ENVIADA ESPECIAL DA FSP  A SANTOS (SP)

Na manhã desta terça (30), Jackson Bernardo dos Santos recebeu uma bandeira com fotos da presidente Dilma Rousseff (PT) e de seu vice, Michel Temer (PMDB). Colou no peito um adesivo de campanha e entrou num ônibus com destino a Santos.

O metalúrgico aposentado, de 65 anos, foi um dos militantes profissionais que trabalharam no comício de Dilma na cidade do litoral paulista. Mesmo assim, diz que não votará na petista.

"Eu não voto, sinto muito, mas nela eu não vou votar porque fiquei muito sentido", disse à Folha. "A gente fica choramingando, sofrendo, ganhando uma migalha que não dá nem para um varredor de rua. Eu vou ser sincero, dia 5 eu vou dar meu voto contra ela. Vou votar na Marina, disse.

  Patrícia Britto/Folhapress  
O metalúrgico aposentado Jackson Bernardo dos Santos, de 65, eleitor de Marina Silva
O metalúrgico aposentado Jackson Bernardo dos Santos, de 65, eleitor de Marina Silva

O militante reclama que os R$ 1.266 que recebe de aposentadoria não são suficientes para arcar com seus gastos e cobra reajuste no valor do benefício.

"A gente tem despesa, paga imposto, tem que comer, paga luz, paga água, tem que comprar calçado, roupa, e a aposentadoria não dá, está defasada. Eles têm que fazer as correções", criticou.

Para ele, os R$ 820 que recebe por mês para balançar bandeiras e fazer volume nos eventos de campanha significam um complemento à renda, e não têm relação com a escolha do voto.

  Patrícia Britto/Folhapress  
Jackson Bernardo dos Santos, com bandeira da campanha à reeleição de Dilma Rousseff
Jackson Bernardo dos Santos, com bandeira da campanha à reeleição de Dilma Rousseff

"Eu trabalho pelo dinheiro. Estou dizendo pra senhora que a minha aposentadoria não dá pra nada, é uma aposentadoria falida."

Contratado pela campanha do candidato a deputado estadual Cássio Navarro, do PMDB, Santos tem trabalhado em comícios mesmo sem a participação do vice-presidente e de Paulo Skaf, candidato peemedebista ao governo de São Paulo.

Agora desiludido com o governo Dilma, o aposentado diz ter votado na petista em 2010, e no ex-presidente Lula nas eleições anteriores.

"O Lula é um grande companheiro. Só que eu queria falar pra ele, e ele devia falar pra Dilma também, como é que passam os idosos, jogados por aí", disse.

Senhores do universo, por Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - A pesquisa Datafolha dos dias 29 e 30 mostra Dilma Rousseff (PT) com 40% contra 25% de Marina Silva (PSB). Aécio Neves (PSDB) está em terceiro lugar, com 20%.

Foi muito bem sucedida a estratégia petista de ataque a Marina. Numa eleição tão cheia de incertezas, ninguém duvida da presença de Dilma Rousseff no segundo turno.

Mas o cenário é mais sofisticado. Dilma e seu marqueteiro, João Santana, transformaram-se nos "senhores do universo" desta eleição, para usar a metáfora de Tom Wolfe no livro "A Fogueira das Vaidades".

A dupla tem o poder de modular o processo de desossar Marina. Pode decidir quem passará ao segundo turno ao apertar um pouco mais o botão ou ao suavizar a "Blitzkrieg". Aécio fica ali embaixo com uma bacia coletando os votos que desabam da prateleira marinista.

Ocorre que parece ter chegado a um limite o benefício direto da estratégia para Dilma. Ela tem hoje os mesmos 40% registrados no último dia 26. Seus comerciais vitriólicos na TV fazem os votos perdidos por Marina deslizarem para Aécio.

Se os "senhores do universo" Dilma e Santana desejarem, podem pisar no acelerador e catapultar Aécio ao segundo turno. A alternativa é reduzir a guerrilha, permitindo que Marina passe à rodada final de votação. A decisão será tomada depois de ponderar a respeito de quem seria o adversário mais fraco contra Dilma numa disputa mano a mano.

A julgar pelo demonstrado até agora pelo Palácio do Planalto, Marina é uma candidata muito mais indesejada do que Aécio. Ela (ainda) incorpora o sentimento de mudança mais do que o tucano.

E assim chegamos à reta final. Dilma e seu marqueteiro comandam a situação a ponto de poderem escolher quem preferem enfrentar. E por que Marina não reage? Essa é uma pergunta que renderá quilômetros de análises depois da eleição, se a pessebista de fato for ejetada da disputa.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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