Reuters: Dilma tem difícil tarefa de bater adversário em debates para frear onda pró-Aécio

Publicado em 14/10/2014 18:44
(Em VEJA: TSE nega pedido de Dilma e mantém 'carne por ovo' na TV)

BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição pelo PT, tem a difícil tarefa de bater seu adversário no segundo turno da eleição presidencial, Aécio Neves (PSDB), nos debates de TV dos próximos dias para interromper a onda favorável ao tucano que ganhou força depois do dia 5.

Para Dilma, o bom desempenho nos confrontos diretos com o tucano é mais valioso do que para Aécio, na avaliação de analistas ouvidos pela Reuters. Na campanha petista, essa é uma das apostas para reacender o ânimo da militância e dar mais confiança à própria candidata. O primeiro debate é nesta terça-feira, na Band TV, e o segundo no SBT, na quinta-feira.

"Agora é mais militância na rua e um bom desempenho da presidente nos debates, que é o que estamos prevendo", afirmou o presidente do PT e coordenador da campanha, Rui Falcão, na segunda-feira.

Na disputa de três semanas de campanha no segundo turno, Dilma começou patinando, e Aécio teve uma primeira semana acima de suas próprias expectativas, acumulando apoios de vários partidos, de Marina Silva e da família de Eduardo Campos, candidato do PSB que morreu tragicamente em um acidente aéreo durante a campanha eleitoral. [nL2N0S42TR]

Esses apoios deram força ao discurso do candidato do PSDB, que tem se apresentado como representante do desejo de mudança dos brasileiros e, agora, conseguiu reunir quase todos os outros projetos de oposição do primeiro turno.

Para o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília, Dilma precisa sair vencedora desses debates, mas o escândalo da Petrobras dificulta isso.

"É crucial para ela (vencer os debates) para tentar a retomada, mas o problema é que eles (do PT) estão desesperados com o escândalo da Petrobras", argumentou.

Desde a semana passada, a campanha petista enfrenta mais denúncias a serem respondidas. Após vazamento de alguns trechos, a Justiça Federal divulgou áudios do depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa detalhando um suposto esquema de pagamento de propina envolvendo a estatal que teria abastecido os cofres do PT, PP e PMDB. [nL2N0S42DC]

Para o cientista político Benedito Tadeu Cesar, do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (Inpro), esse cenário de pressão pode encorajar Dilma.

"A Dilma costuma ir melhor sob pressão. Ela não é muito boa em debates, mas quando está sob pressão me dá a impressão que ela se sai melhor", afirmou Tadeu Cesar.

Uma outra fonte da campanha ouvida pela Reuters, que também aposta que Dilma pode retomar o favoritismo no segundo turno por intermédio dos debates, lembra do embate com o candidato José Serra, do PSDB, em 2010 no primeiro confronto do segundo turno.

À época, o clima na campanha petista era de incerteza depois que a disputa não foi vencida no primeiro turno por uma margem pequena de votos e se temia uma virada de um candidato mais experiente sobre Dilma, uma novata em disputas eleitorais.

A presidente entrou no debate com um tom forte, que assustou Serra, o chamou de "Serra mil caras", impôs o ritmo do jogo e saiu claramente como vitoriosa da disputa.

 

ESTRATÉGIA

Mas há dúvidas entre os analistas se Dilma deve adotar a mesma postura de ataque nesta eleição, muito mais disputada e com um cenário econômico bem mais difícil do que em 2010.

"Agora é um pouco diferente, o ambiente e o debatedor", disse Fleischer. "Ele é um político muito diferente do Serra, é um mineirinho que gera simpatia. A Dilma vai ter que tomar cuidado para apertar o Aécio", acrescentou.

A julgar pelas recentes entrevistas da presidente, no entanto, ela parece disposta a partir para o ataque contra o adversário tucano.

Na segunda-feira, em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, Dilma citou problemas na prestação de contas de Aécio quando ele era governador de Minas Gerais, criticou a gestão econômica do governo do PSDB e do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que foi anunciado como futuro ministro da Fazenda de Aécio, caso ele vença as eleições, e estava afiada para comparar os projetos diferentes de PT e PSDB.

"O problema do discurso dela é se ela assumir uma postura arrogante e soberba. Essa postura atrapalha a Dilma e não sei se ela consegue fazer coisas diferentes. A soberba faz parte dela, é difícil o marqueteiro mudá-la", avaliou Fleischer.

Tadeu Cesar também avalia que Dilma deve tomar cuidado com a postura de ataque. Segundo ele, a presidente deveria ter uma postura mais estratégica para delimitar o eleitorado que foi beneficiado pelas políticas de governo e, com isso, garantir esses votos.

"Me parece que a possibilidade de crescimento do PT é demarcar muito bem os campos. O campo do Aécio tem uma coisa ideologicamente definida, mas tem muito do entusiasmo", argumentou.

Segundo Tadeu Cesar, o tucano consegui atrair também aqueles que ascenderam e não estão satisfeitos com serviços públicos, que estão sendo conquistados pelo discurso de renovação.

"Ela precisa demarcar esse terreno para recuperar parte desse eleitorado, mas sem hostilização", disse Tadeu Cesar. "Para ele, se sair com um empate do debate não é ruim."

O debate de hoje na Band e o que importa

O tucano Aécio Neves e a petista Dilma Rousseff se encontram hoje à noite, no debate da TV Bandeirantes, em São Paulo, marcado para começar às 22h15. É o primeiro do segundo turno. Haverá mais três: na quinta, dia 16, o confronto acontece no estúdio do SBT, num evento também promovido pela Jovem Pan e pelo UOL. No domingo, 19, será a vez do debate da TV Record. No dia 24, antevéspera da eleição, há o embate final na TV Globo. Vou fazer comentários aqui, em tempo real.

Já não era sem tempo de os candidatos se enfrentarem para valer. Fazendo as contas, haverá a partir de hoje quase cinco horas de confronto entre os dois. No primeiro turno, em razão das exigências absurdas da Lei Eleitoral, que invadem o terreno da censura, os então dois principais candidatos pouco puderam se questionar: o embate direto somou, ao todo, apenas 19 minutos. Vale dizer: até o dia 26, esse tempo será multiplicado por 15. Melhor assim.

Jornalistas não participarão dos confrontos. Não é o melhor procedimento, acho eu, mas é evidente que isso não elimina o mérito do embate. Entregues apenas às próprias estratégias, os candidatos poderão, eventualmente, esgrimir com mais largueza números criativos, sem a intervenção neutra da imprensa. Ainda assim, os eleitores têm muito a ganhar.

Tendemos a achar que o eleitorado não sabe votar quando nos contraria e é um verdadeiro sábio quando vota de acordo com o que consideramos o melhor. Essa questão nunca vai abandonar a democracia. E, no dia em que abandonar, então democracia não será mais. À direita e à esquerda, fanáticos ficam pensando maneiras de tornar as escolhas populares irrelevantes: uns tentam criar regras que excluam o povo; outros se esforçam para criar mecanismos que controlem o povo, de sorte que ele acredite ser livre sem ser. Quando supostos “movimentos sociais”, por exemplo, falam em nome da população, estamos diante de uma fraude. Estão é falando em defesa dos próprios interesses.

Uma sociedade livre sempre sabe votar, gostemos ou não do resultado. É claro que o processo político tem de se encarregar de não oferecer como opções possíveis alternativas que destruam o próprio sistema. Sim, leitores, uma democracia que permite que notórios inimigos das liberdades atuem livremente está marcando um encontro com o caos. Mas comentarei esse assunto outra hora.

Espero que este primeiro dos quatro encontros marcados dê início ao caminho virtuoso do debate de propostas, o que não exclui, é evidente, a crítica ao que não anda bem no país. Afinal, só se pode mudar — e tanto Aécio como Dilma prometem mudanças — o que não está bem.

“Ah, mas será que eles têm de falar de Petrobras?” Claro que sim! A corrupção na maior empresa brasileira, uma estatal, é peça-chave, se querem saber, para a definição do nosso futuro. Até quando o estado gigante será a fonte de nossas misérias e de nossa miséria? É importante punir os bandidos que lá atuaram. Mas é ainda mais importante impedir que o descalabro se repita.

Assistam a esse e aos demais debates. Convençam seus amigos a fazer o mesmo. Todos os votos são legítimos. Mas vota melhor quem se informa melhor.

Por Reinaldo Azevedo, de veja.com

Em VEJA: TSE nega pedido de Dilma e mantém 'carne por ovo' na TV

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Laryssa Borges, de Brasília
'Troca de carne por ovos' vira trunfo de Aécio contra PT

'Troca de carne por ovos' vira trunfo de Aécio contra PT (Reprodução/YouTube/VEJA)

O ministro Tarcisio Vieira, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negou nesta terça-feira pedido da campanha da presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) e permitiu que a equipe do adversário Aécio Neves (PSDB) continue a explorar na propaganda eleitoral a “sugestão” feita pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Rolland, para que a população troque carne por ovos e assim se proteja da inflação. Ontem, tentando conter o desgaste, Dilma classificou a declaração como “extremamente infeliz”, e o vice-presidente, Michel Temer, disse que na gestão petista a população pobre passou a consumir iogurte e chocolate.

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Para o TSE, o PSDB pode discutir o tema na propaganda partidária de Aécio Neves, e o PT não tem direito de resposta. “O exercício do direito de resposta viabiliza-se apenas quando for possível extrair, da afirmação apontada como sabidamente inverídica,  ofensa de caráter pessoal a candidato, partido ou coligação”, diz o ministro, para quem a discussão sobre o episódio do ovo é apenas “exposição de fatos e contundente crítica política, inerentes ao debate democrático, ainda que ácido e belicoso”.

Nos embates judiciais protagonizados por PT e PSDB no segundo turno, o tribunal também rejeitou, em decisão individual do ministro Admar Gonzaga, pedido de direito de resposta do PSDB por supostas ofensas à honra de Aécio e de seu partido. No dia 12 de outubro, o PT alegou, na propaganda da presidente-candidata Dilma Rousseff, que “o PSDB tem problema de corrupção lá no metrô de São Paulo”. “Até hoje não foi resolvido, né? Tá engavetado ainda”, diz trecho da peça publicitária.

Em outra representação, o ministro Admar Gonzaga, provocado por processo movido pelos petistas, rechaçou irregularidade na propaganda de Aécio, que exibiu imagens gravadas no interior do museu Memorial JK, em Brasília, local, segundo os petistas, vedado porque as despesas do Memorial seriam custeadas pelo Poder Público.

 
 
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