Minc terá de se explicar hoje a ambientalistas
Os ambientalistas acusam o ministro de fazer seguidas concessões ao lobby ruralista, e vão entregar um manifesto em que condenam seu apoio ao plantio de espécies exóticas, como o dendê, em áreas desmatadas da Amazônia. Ontem, Minc negou que seu aval à liberação de novas áreas de plantio de cana - em acordo com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes - ponha em risco a proteção do Pantanal.
De acordo com Minc, o novo zoneamento da cana, que permitirá o plantio em terras do Planalto Pantaneiro, não ameaça as riquezas naturais da região.
- O Pantanal não vai virar canavial. Não vai haver nenhuma nova usina de cana no Pantanal - afirmou Minc.
O ministro negou que o acordo atenda a interesses da bancada ruralista no Congresso, como acusam as ONGs. Ele disse que o plantio da cana só será liberado em áreas hoje ocupadas por pastagens e outras lavouras.
Minc contestou trechos de reportagem publicada sábado no GLOBO, informando que o presidente Lula assinará, nos próximos dias, um decreto com novas regras para o plantio de cana no Pantanal e na Amazônia.
- Isso ainda não está decidido.
Pode ser um decreto ou uma portaria conjunta entre mim e o Stephanes - disse.
Ainda segundo Minc, serão respeitadas leis estaduais e uma resolução de 1985 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) que proíbe a instalação de novas usinas nas bacias hidrográficas do Pantanal. O ministro disse que só haverá plantio de cana sem agrotóxicos, e prometeu dar novos esclarecimentos amanhã, em entrevista ao lado de Stephanes.
- Em relação à situação atual, vai haver mais proteção do Pantanal, e não menos.
Na sexta-feira, o Ministério da Agricultura informou que o novo zoneamento da cana está pronto e já teria sido entregue à Casa Civil. A assessoria da pasta confirmou que o plantio será liberado na região do Planalto Pantaneiro, em áreas de pastagens ou de outras lavouras.
Para Michael Becker, coordenador do programa Pantanal para Sempre da ONG WWF Brasil, a plantação de cana no Pantanal é perigosa. Ele diz que o vinhoto, líquido liberado na fabricação do álcool, é poluente e pode contaminar rios da Bacia do Alto Paraguai, descer para a planície e levar à extinção de espécies do Pantanal.
- O risco de contaminação é real, a não ser que o ministro revogue a lei da gravidade.
Defensor das usinas, o deputado ruralista Dagoberto Nogueira (PDT-MS) afirma que não há risco de vazamento, porque a indústria da cana usa o bagaço para produzir energia. Plínio de Sá Moreira, especialista em saneamento ambiental, discorda: - Um litro de vinhoto polui o mesmo que 300 litros de esgoto sanitário.
Fonte: O Globo