O legado de Darwin (Artigo)

Publicado em 12/02/2009 11:59 e atualizado em 04/03/2020 20:39

"Nada na biologia faz sentido exceto sob a luz da evolução." Essa declaração, feita pelo geneticista ucraniano Theodosius Dobzhansky em 1964, não deixa margem para dúvidas sobre a importância da teoria da evolução. Hoje, os benefícios que o conhecimento evolutivo traz para a nossa sociedade se encontram por toda parte a ponto de ter sido descrito pelo ecologista inglês Richard Dawkins como "a mais importante ideia que ocorreu à mente de um homem". E é do homem que teve essa brilhante ideia - Charles Darwin - que o mundo celebra hoje 200 anos de nascimento. Temos muito a reverenciar.

Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809 na casa dos pais, em Shrewsbury, no Condado de Shropshire, na Inglaterra. Cresceu em uma família de médicos, advogados e empresários da pequena nobreza fundiária inglesa. O pai esperava que Darwin seguisse a carreira de médico, mas ele acabou se formando clérigo na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Darwin se interessava mesmo era pela biologia e geologia.

A participação de Darwin na segunda viagem do navio Beagle foi o marco divisor no desenvolvimento do pensamento evolutivo. Durante a volta ao mundo, Darwin fez importantes descobertas geológicas e estudou minerais, plantas e animais. Ainda que tenha saído da universidade convencido de que a complexidade e a perfeita relação entre os indivíduos e seus ambientes eram provas irrefutáveis da ação de Deus, de acordo com o pensamento da época, Darwin terminou a viagem do Beagle cético em relação à imutabilidade bíblica das espécies.

Acredita-se que ele se tenha tornado evolucionista em 1837, menos de um ano depois do retorno à Inglaterra. Porém, apenas em 1859, após a famosa pressão ocasionada pela descoberta do mesmo processo evolutivo pelo biólogo Alfred Russell Wallace, Darwin escreveu e publicou seu livro A origem das espécies, no qual relata magnificamente a teoria da evolução por seleção natural. As reações foram imediatas. "Completamente falso e desagradavelmente malicioso", comentou seu ex-professor de geologia, o reverendo Adam Sedgwick, em carta a Darwin.

O legado do livro, porém, não tem limites. O conhecimento evolutivo abriu as portas para a criação de pesquisas médicas, para explicar o surgimento de doenças e os mecanismos de resistência a antibióticos ou antivirais. Também para o progresso da farmacologia. Orientou o conhecimento para o melhor controle de pragas na agricultura, para compreender as relações entre plantas e animais domésticos com os parentes selvagens, e para o desenvolvimento de tecnologias para o melhoramento de plantas e animais.

Permitiu-nos conhecer o mecanismo molecular das células, a herança de doenças geneticamente transmissíveis, as similaridades entre o homem e seus parentes primatas e a reconhecer a universalidade da vida na Terra. Mais: o conhecimento evolutivo permite compreendermos aquilo de errado que fizemos nos milhares de anos de nossa existência na Terra e o que deveríamos fazer para evitar futuro sombrio.

As ideias de Darwin ainda inspiraram o pensamento da ciência, das humanidades e das artes. A revolução darwiniana é, portanto, considerada por muitos o mais importante evento em toda a história do intelecto humano. Mas a teoria da evolução foi utilizada por alguns setores da sociedade em apoio a posições filosóficas que promoveram o racismo e a discriminação por meio de interpretações grotescas e equivocadas sobre os mecanismos evolutivos.

A teoria da evolução tem sido apoiada pela ciência desde o lançamento do livro A origem das espécies em 24 de novembro de 1859. Hoje é aceita por praticamente todos os cientistas na face da Terra. Porém, mesmo em pleno século 21, continua sendo a teoria científica preferida para ser rejeitada e atacada por um segmento da sociedade, principalmente pelos fundamentalistas religiosos. A sociedade precisa da teoria da evolução. Ela é a gramática do mundo natural e o meio pelo qual podemos lê-lo e compreendê-lo. Nossa sociedade e nosso sistema educacional estarão mais bem servidos se continuarmos ensinando ciência nas escolas e não pseudociência de base religiosa. Esse detalhe pode determinar o desenvolvimento tecnológico e seus efeitos no futuro do nosso país.


Fonte: Correio Braziliense - DF

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