Para governo, a única opção da Sadia é ser comprada pela Perdigão

Publicado em 18/03/2009 09:20
BNDES só deve ajudar empresa se operação de venda à concorrente ficar garantida. Analistas estimam que prejuízo de 2008 fique em torno de R$ 6 bi, devido às perdas no mercado financeiro

A avaliação do governo federal é que não há mais salvação para a Sadia, uma das maiores multinacionais brasileiras. O Executivo vê na venda dos ativos para a Perdigão a única saída para evitar danos à economia nacional. Segundo projeções que circulam no mercado, a Sadia deverá registrar prejuízo em 2008 na casa de R$ 6 bilhões. Ele é fruto das perdas com operações de derivativos, que vieram à tona com o agravamento da crise financeira global, a partir de setembro.

Especula-se que o prejuízo seria equivalente a quase nove vezes o lucro líquido consolidado de 2007, de R$ 689,016 milhões.

Este, por sua vez, fora 82,9% maior do que os R$ 376,588 milhões apurados em 2006.

- O governo não será hospital de empresa - garantiu uma fonte.

A Sadia tem cerca de 60 mil funcionários e unidades em pelo menos quatro estados, em torno das quais gravitam muitos frigoríficos pequenos. Sexta maior exportadora brasileira em 2008, com US$ 2,424 bilhões em embarques, a Sadia tem como presidente do Conselho de Administração Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula. A Perdigão ficou em 11o, com US$ 1,841 bilhão.

Apesar disso, o governo descarta a priori um resgate da companhia. O BNDES só irá ajudar se os controladores das empresas se entenderem e houver a aquisição - clara - da Sadia pela Perdigão. A princípio, essa é a única solução, pois não haveria outros potenciais compradores do mesmo porte.

- A Sadia errou demais e não cabe ao governo salvá-la. Devemos salvar o que ela representa, e isso poderá e deverá ser feito garantindo a compra pela Perdigão - disse outra fonte.

Observadores da gestão da Sadia apontam que, na tentativa de salvar o negócio, houve muitos erros. O mais grave foi dificultar as conversas com a Perdigão, insistindo em uma fusão por troca de ações. Ela seria precedida de uma capitalização bilionária da Sadia - quando entraria o BNDES, mas disso o governo não quer ouvir falar.

Além disso, a Sadia deixou a decisão sobre os próximos passos para perto da divulgação do balanço anual. As duas empresas devem fazê-lo na próxima semana.

Isso, para interlocutores do governo, pode depreciar ainda mais seu valor de mercado, pois a tendência é que detalhes das negociações com a Perdigão sejam conhecidos só quando o prejuízo efetivo for divulgado.

Já a Perdigão, quase dois anos e meio depois de ver a rival tentar adquirir o seu controle, cresceu com aquisições e tornou-se maior que a Sadia, que apostou no crescimento orgânico, com investimentos em novas fábricas.

Nos nove primeiros meses de 2008, as receitas líquidas da Perdigão somavam R$ 8,3 bilhões, contra R$ 7,7 bilhões da Sadia - quando tentou comprar a rival, seu faturamento superava em mais de R$ 2 bilhões o da Perdigão.

A isso somam-se as perdas da Sadia com operações de câmbio no mercado futuro, que devem resultar em desembolsos de mais de R$ 2 bilhões este ano. As perdas só em setembro, de R$ 700 milhões, fizeram a Sadia acumular prejuízo de R$ 443 milhões em nove meses, contra lucro líquido de R$ 128 milhões da Perdigão.

As empresas não quiseram comentar o assunto ontem.

- O mercado de alimentos está muito ruim para todo mundo, mas a Perdigão está muito melhor que a Sadia. O caminho mais viável seria a fusão - disse Rafael Cintra, analista da Link Corretora.

Apesar da avaliação sobre a Sadia, o governo vê sem alarme a situação dos frigoríficos nacionais.

Por isso, o Executivo diz que uma eventual ajuda ao segmento será pelos programas normais, sem um pacote específico.

O setor está pressionando. Em audiência no Senado, o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, disse que 50 empresas já deixaram de abater bovinos por causa da escassez de crédito e algumas unidades fecharam. No total, os frigoríficos que estão com as atividades paralisadas abatem 30 mil cabeças de gado por mês e respondem por 15 mil empregos.

- O governo está analisando os impactos da crise para encontrar o melhor caminho, não só para o setor de carne bovina, como para os de suínos e aves - disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes


Fonte: O Globo

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