O pecado capital do petismo (análises)

Publicado em 16/09/2010 14:26

O pecado capital do petismo

A sequência dos lances que culminaram na demissão da ministra-chefe da Casa Civil confirma um traço grotesco da política brasileira no governo Lula.  Erenice Guerra não foi demitida porque ocupou o cargo com postura incompatível com a função que exercia. Caiu porque tornou-se um incômodo à Presidência e ao partido às vésperas de uma eleição que pode selar a permanência do aparato petista no poder.

A revelação da história de Israel Guerra por VEJA não causou constrangimento ao governo. Desencadeou apenas uma mobilização partidária voltada à blindagem de Dilma Rousseff.

O próprio presidente assumiu as rédeas da espinhosa missão de afastar a candidata do caso – como se fosse possível separar a conduta de Erenice, auxiliar de fidelidade canina, da maneira como Dilma conduzia a Casa Civil. Afinou o discurso com a equipe e costurou a proteção à candidata. Não contava com a incompetência da ministra. Erenice selou seu próprio destino ao assinar nota virulenta e tola, que atacava o adversário José Serra e recolocava o escândalo na esfera eleitoral.

Tivesse submetido o texto ao crivo da Secretaria de Comunicação do governo, zelosa do favoritismo de Dilma nas pesquisas e ciente da necessidade de esfriar a temperatura do episódio, Erenice poderia ter escapado à guilhotina. Mas cometeu o pecado capital do petismo. A falha moral passou batida, mas a nota que pôs uma pedra no caminho da manutenção do poder foi castigada com rapidez exemplar.

ERENICE SAI PARA DESVINCULAR LOBBY DA CAMPANHA, por João Bosco Ribeiro (Estadão)

Como previsto, ficou insustentável a permanência da ministra Erenice Guerra no cargo. O governo acaba de anunciar sua demissão que, como sempre, será registrada “a pedido”.

Foi assim com José Dirceu e todos os que caíram por denúncias indefensáveis. Erenice foi avisada que não seria possível preservá-la, mas que o ideal era que  entregasse o pedido de demissão. Assim o fez.

A nota de Erenice em reação às denúncias foi a gota d’água, por anular o esforço do Planalto em desvincular o episódio da campanha eleitoral.

Ao atribuir a denúncia a José Serra e chamá-lo de “aético e candidato derrotado”, Erenice fez exatamente o contrário do que o governo desejava.

Erenice diz que sai para se defender fora do cargo. Dificílmente conseguirá fazê-lo sem afetar a campanha, a menos que o faça após as eleições. Seus algozes – os empresários extorquidos -, vincularam a cobrança a campanha de Dilma.

De toda forma, o governo tomou a unica providência possível, porque Erenice ficaria sangrando no posto e comprometendo a campanha de sua ex-chefe que, depois de prestigiá-la a ponto de fazê-la sua sucessora, diz que não se responsabiliza pelos seus atos.

Erenice sai, portanto, antes que a Casa Civil volte a ser identificada como uma central de arrecadação de campanha.

Mas isso foi só a gota d’água.

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Fonte:
Veja e Estadão

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